Gálatas 5.16-26: VIVENDO NO ESPÍRITO

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INTRODUÇÃO

Ao longo da carta aos Gálatas, Paulo vem defendendo a liberdade cristã. Esta, no entanto, pode facilmente ser confundida com a libertinagem. Por esse motivo, no capítulo 5, versículos 13 ao 16, o apóstolo nos ensina o que é a liberdade cristã, mostrando-nos que ela deve ser usada para servir o nosso próximo em amor. Mas, como é possível homens caídos viverem corretamente a liberdade cristã? Este texto nos ensina que isso só é possível por meio do Espírito Santo.
Portanto, para que vençamos nossa natureza caída, devemos viver no Espírito.
O que Paulo tem a dizer sobre esse novo modo de vida no Espírito? Quais são os conflitos internos que os cristãos enfrentam? Isso é o que, a partir de agora, veremos.
PROPOSIÇÃO: para vencer os seus desejos carnal, o crente deve viver no Espírito.

I: O CRENTE DEVE VIVER NO ESPÍRITO PARA NÃO SER ESCRAVO DA CARNE (17,18)

Paulo inicia o seu argumento demonstrando que o crente ou é dominado por sua natureza carnal pecaminosa ou é dominado pelo Espírito de Deus.
Naturezas contrárias, desejos opostos (17)
“… a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro...”
Primeiramente precisamos diferenciar “carne” de “Espírito” neste texto. O sentido de “carne” aqui é de “natureza humana pecaminosa”. Nossa carne é responsável pelos nossos desejos pecaminosos. Já o Espírito não se trata do espírito humano, mas sim do Espírito Santo que habita no crente e o habilita a vencer seus desejos.
Agora, estamos prontos para falar da natureza oposta de ambos os termos apresentados. Depois da Queda no Éden, o homem passou a ter sua natureza caída. Quero dizer que ele, desde o seu nascimento, nasce pecador. Ele não é pecador porque peca, mas peca porque é pecador. Em seu grande amor, Deus enviou seu Filho para pagar pelo pecado do homem, visto que ele mesmo não poderia quitar sua dívida. Para que o homem tenha a vida eterna, é preciso que ele confie a sua salvação a Cristo. Uma vez salvo, o homem recebe o Espírito de Deus. A obra do Espírito de Deus em sua vida é a santificação, não à toa o seu título é “Espírito Santo”. Tudo quanto a natureza pecadora do homem deseja é oposto ao que o Espírito Santo quer. Ambos estão em guerra. A versão atualizada diz que “a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne”.
Escravidão do Espírito ou escravidão da carne (17)
“de modo que vocês não fazem o que desejam”
Aquele que entregou a sua vida a Cristo, mesmo salvo, ainda não se libertou totalmente de sua natureza pecadora. A doutrina da santificação nos ensina que existe um aspecto passado, presente e futuro. No passado, o Espírito habita o crente santificando-o. No presente, o crente deve santificar-se livrando-se de todo pecado. No futuro, a santificação é perfeita, pois Cristo nos libertará deste corpo corruptível transformando-o em incorruptível. Todavia, enquanto o crente não se encontra no estado de perfeição, se não viver pelo Espírito, torna-se escravo do pecado.
A liberdade da Lei para os que são guiados pelo Espírito (18)
“Se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da Lei”.
A Lei a que Paulo se refere, obviamente, é a Lei de Moisés, que era amplamente defendida pelos falsos mestres judaizantes como meio de salvação.
Estar debaixo da Lei era exatamente o contrário do que Paulo estava pregando - a liberdade cristã.
O que Paulo está dizendo é que aqueles que são conduzidos pelo Espírito Santo não precisam ser guiados pela Lei. Aliás, ele vai deixar claro no versículo 23 que os que possuem as características do fruto do Espírito, não há lei contrária às suas ações.
Síntese
As ações da nossa natureza carnal é oposta às ações da natureza do Espírito Santo. Para não sermos escravos dos nossos pecados precisamos ser guiados pelo Espírito.
Ilustração
Assim como um fio positivo encostado num fio negativo entra em colapso, a carne e o Espírito também. As ações de nossa natureza carnal são sempre negativas, enquanto que as ações do Espírito são sempre positivas. Imagine a carne e o Espírito como forças elétricas e você como um fio de cobre. O fio de cobre por si só não pode produzir energia, mas é certamente energizado. Nesse caso, a energia que queremos é a energia do Espírito que nos fortalece para vencermos a força da nossa natureza carnal.
Aplicação
Deixe que o Espírito Santo conduza a sua vida. Apesar de Todo-Poderoso, o Espírito de Deus não te invadirá contra a sua vontade.
Examine e avalie a todo o tempo o seu comportamento. Às vezes nosso velho homem está nascendo outra vez e não estamos percebendo.
O bem e o mal, Deus e o Diabo e o Espírito e a carne não são forças equivalentes. Portanto, a disputa é favorável a você. Não fique dizendo que não consegue!

II: O CRENTE DEVE VIVER NO ESPÍRITO PARA HERDAR O REINO DE DEUS (19-24)

Paulo agora vai contrastar as obras da carne com o fruto do Espírito. Seu argumento será que os que vivem na carne serão condenados ao inferno, enquanto que os que vivem no Espírito tem as característica de seu fruto e que, por fim, herdarão o Reino de Deus.
As obras da carne (19-21)
A seguir, Paulo passa a listar as obras da carne e contrastá-la com o fruto do Espírito. É necessário que se diga que isto não é uma lista completa.
As obras da carne estão divididas em quatro grupos: pecados sexuais, pecados religiosos, pecados no relacionamento pessoal e pecados alimentares.
Pecados Sexuais (19)
Imoralidade Sexual
Porneia também é traduzida em outras versões como “prostituição”. Ela se refere a inúmeros pecados sexuais relacionados a relações sexuais ilícitas, como: adultério, fornicação, etc.
Impureza
Impureza também é um outro termo utilizado para pecados sexuais. Tem a ver com imoralidade.
Libertinagem
Algumas versões traduzem por “lascívia”, mas, creio que a melhor tradução é da Bíblia Almeida Século 21, a qual é “indecência”. Este termo designa indulgência no prazer sensual desenfreado por convenção ou moralidade; falta de autocontrole que envolve uma conduta que viola todos os limites do que é socialmente aceitável.
Pecados Religiosos (20)
Idolatria
Adoração de uma representação material de uma divindade.
Feitiçaria
Esta palavra é a tradução do termo grego “pharmakeia” e significa “feitiçaria especialmente exercida através da mistura de substâncias para fazer poções; frequentemente encontrado em conexão com a idolatria e estimulado por elas.
Pecados No Relacionamento Pessoal (20)
Ódio
Termo traduzido por “inimizades” na RA e na RC. Significa “hostilidade; oposição objetiva e verdadeiro conflito”.
Discórdia
Também traduzido por “porfias”, “rixas”, “rivalidades” e “brigas”. É um conflito amargo; contenda; disputa.
Ciúmes
Na RC o termo é traduzido por “emulações”. Significa “desejo ganancioso ou orgulhoso por algo que pertence a outro, mesmo algo intangível como uma habilidade.
Ira
Sentimento de intensa raiva.
Egoísmo
Em outras versões é traduzido por “discórdias” (RA) e “pelejas” (RC). É um tipo de ambição egoísta; uma forte motivação para o sucesso pessoal sem inibições morais; intriga por um ofício.
Dissensões
São discórdias que dividem um grupo.
Facções
A versão corrigida é literal aqui e traduz o termo “hairesis” por “heresias”. O sentido é “um círculo de pessoas com um propósito comum que divergem de outro grupo”. Gosto da Bíblia Almeida Século 21, que traduz o termo por “partidarismo”.
Pecados Alimentares (21)
Embriaguez
Estado temporário resultante do consumo excessivo de álcool.
Orgias
Comumente traduzido por “glutonarias”. O termo aqui é “komos” e era uma festa onde havia muita comida, bebida e, normalmente, libertinagem moral.
Primeira Advertência (20)
“…Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus”
Os que praticam “essas coisas”, isto é, as obras da carne não podem herdar o Reino de Deus. Por quê? Porque não vivem sob o Espírito, mas sim sob o jugo da carne. São, ou libertinos ou legalistas.
O fruto do Espírito (22-23)
Na contramão dos que são guiados pelas suas paixões pecaminosas estão os que são guiados pelo Espírito. Por serem guiados pelo Espírito, logo, dão do fruto do Espírito. Este fruto revela as características de Cristo no crente.
O fruto do Espírito possui 9 características e podem ser separados em 3 classes: Fruto no relacionamento com Deus; fruto no relacionamento com o próximo e fruto no relacionamento consigo mesmo.
Fruto No Relacionamento Com Deus (22)
Amor
A palavra aqui é ágape e o amor a Deus deve ser demonstrado acima de todas as coisas.
Alegria
Também traduzida como “gozo” na RC, a alegria tem sua maior expressão na alegria em Deus. Quanto mais perto de Deus, mais alegre o crente é.
Paz
Apesar da paz ser possível com o próximo e consigo mesmo, sua maior paz está no fato do crente ter paz com Deus.
Fruto No Relacionamento Com O Próximo (22)
Paciência
Comumente traduzida por “longanimidade”. A paciência ou longanimidade é a capacidade de suportar a provocação.
Amabilidade
Também traduzida por benignidade, amabilidade é a qualidade de ser bondoso, atencioso, gentil, humano e solidário.
Bondade
Bondade é a qualidade de quem é caracterizado pelo interesse no bem-estar de outros.
Fidelidade
Traduzido por “fé” na RC, fidelidade é a qualidade de ser fiel; a qualidade daquele em que se pode depositar confiança.
Fruto No Relacionamento Consigo Mesmo (23)
Mansidão
Mansidão é humildade. É a capacidade de não ficar impressionado com o senso de auto-importância. É agir de forma gentil, suave e calma.
Domínio Próprio
A qualidade de controlar seus próprios desejos. Também traduzida por “temperança”.
Segunda advertência (23)
“Contra essas coisas não há lei”
Por mais que o crente não viva sob o domínio da Lei, até mesmo a Lei não condena o fruto do Espírito.
Perceba que aqueles que praticam as obras da carne não podem herdar o Reino de Deus (v. 21), no entanto, nem a Lei Mosaica, nem os padrões do NT podem condenar àqueles que vivem pelo Espírito.
Terceira advertência (24)
“Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos”.
Paulo usa a figura da crucificação para falar da renúncia dos seus desejos. Jesus falou sobre isso quando disse que cada um deve levar a sua cruz.
O cristão decidiu crucificar a sua carne no dia em que se entregou para Cristo. Ali morreu suas paixões e seus desejos vis. No entanto, este verbo está no aoristo e indica que deve haver uma ação contínua de renúncia, senão seus pecados podem reviver no velho homem.
Síntese
Àquele que vive pelo Espírito não pode ser reprovado nesta vida. Ele possui grandes virtudes que o conduzirá ao céu.
Ilustração
Ainda que a vida cristã não seja na esfera da meritocracia, isto é, não somos salvos pelo mérito, ou mesmo possuímos algum cargo na igreja por isso, há, todavia, algo a se fazer: precisamos ser aprovados. Paulo disse: “procura apresentar-te a Deus aprovado”. Neste sentido, a vida cristã é semelhante a de um estudante que, para ser aprovado no ano, precisa tirar notas boas. Ele se esforça para isso. Para não sermos reprovados, é preciso viver pelo Espírito renunciando nossas paixões e desejos carnais. Somente assim herdaremos o Reino de Deus.
Aplicação
Negue-se a si mesmo. Crucifique suas paixões e desejos diariamente na cruz de Cristo.
Peça auxílio ao Espírito Santo. Conte ao Senhor suas fraquezas. Ele o conhece e sabe de suas dificuldades. Por mais que tenhas que renunciar sua carne, lembre-se: isso só é possível pelo Espírito Santo.
Ao sofreres na renúncia dos seus desejos, no fim, verás que valerá a pena. Ouvirás as seguintes palavras: “fostes fiel no pouco, sobre o muito de colocarei”.

III: O CRENTE DEVE VIVER NO ESPÍRITO NÃO APENAS NA TEORIA, COMO TAMBÉM NA PRÁTICA (25,26)

A vida cristã não pode ser apenas de teorias, é preciso colocar em prática a fé que professamos. Nesse sentido, Paulo chama os crentes da Galácia para a responsabilidade de praticar o estilo de vida que o Espírito lhes concedeu.
A responsabilidade humana (25)
“Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito”.
O verbo “viver” aqui vem de “zao” e significa “vida sobrenatural”. Portanto, trata-se da vida gerada pelo Espírito e não a vida comum de todo homem.
Outro termo interessante é “stoicheo”, que foi traduzido como “andemos”. Este termo era usado para designar o andar numa fila como a marcha de um soldado; também, como “caminhar em ordem”. Aqui o sentido é de “andar em ordem, em harmonia”.
Podemos parafrasear este versículo do seguinte modo: “já que o Espírito Santo lhes deu uma nova vida, procurem andar em harmonia com a vontade dele”.
Portanto, o Espírito é o responsável por nos dar nova vida e direcioná-la, mas a decisão de andar no caminho certo é do homem.
Exortação final (26)
“Não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros”.
Uma das formas de como o crente deve se andar no caminho do Espírito é não sendo presunçoso, isto é, orgulhoso ou se enchendo de vanglórias. Esse termo indica aquele que tem autoconceitos exagerados de si mesmo. Alguém que acha que é o “tal”.
Assim como os cristãos da Galácia não deviam ser orgulhosos, eles também não deviam provocar uns aos outros. “Provocar” aqui sugere alguém que desafia outro para uma disputa.
Outra não recomendação do apóstolo é quanto a inveja. Nada é mais carnal na igreja do que ter inveja do posicionamento ou do talento do próximo.
Síntese
O crente que vive pelo Espírito demonstra na prática.
Ilustração
Quando eu era criança eu gostava de brincar com a planta dormideira. Você já viu uma? É uma planta pequena que, ao encostar em suas folhas, ela se fecha. Você sabe por que ela se fecha? Para defender-se dos predadores. Quando eles vêm devorá-la ela se fecha ficando mais difícil de comê-la e menos atrativa. Existe uma outra planta muito parecida com ela. Você arriscaria um palpite de como diferenciar a planta dormideira dessa outra planta? A planta dormideira se fecha ao toque e essa não. Assim como a planta dormideira pode ser reconhecida por sua ação, o crente também é reconhecido assim. Quando o mal tenta lhe atacar, ele demonstra na prática que vive pelo Espírito se fechando para o pecado.
Aplicação
Demonstre na prática que você é salvo e vive pelo Espírito. Tem uma porção de falsos crentes espalhados por aí.
Não basta dizer que é salvo, é preciso viver como salvo.
Demonstrar na prática que vivemos pelo Espírito não significa que em algum momento não falharemos, mas que, se colocarem nossa vida na balança verá que o fruto do Espírito pesa mais que as obras da carne.

CONCLUSÃO

A maneira como o crente pode vencer a sua natureza pecaminosa é vivendo no Espírito. Eles estão em oposição. Jesus não disse que seria fácil e Paulo também não falou. Contudo, é possível vencer.
O crente que vive no Espírito NÃO É ESCRAVO da sua natureza carnal.
O crente que vive no Espírito HERDARÁ o Reino de Deus.
O crente que vive no Espírito DEMONSTRA na prática as virtudes dele.
E você, vive na carne ou no Espírito?
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