Deus te encoraja 4

Exposição de Zacarias   •  Sermon  •  Submitted
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1. Texto

Zacarias 3.1–10 NAA
1 Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, que estava diante do Anjo do Senhor; mostrou também Satanás, que estava à direita de Josué, para o acusar. 2 Mas o Senhor disse a Satanás: — Que o Senhor o repreenda, Satanás! Sim, que o Senhor, que escolheu Jerusalém, o repreenda! Não é este um toco de lenha tirado do fogo? 3 Ora, Josué estava diante do Anjo vestido com roupas muito sujas. 4 O Anjo tomou a palavra e disse aos que estavam diante dele: — Tirem as roupas sujas que ele está usando. E a Josué ele disse: — Eis que tirei de você a sua iniquidade e agora o vestirei com roupas finas. 5 Então eu disse: — Ponham um turbante limpo na cabeça dele. Puseram um turbante limpo na cabeça dele e o vestiram, na presença do Anjo do Senhor, 6 que disse a Josué: 7 — Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se você andar nos meus caminhos e observar os meus preceitos, você julgará o meu templo e guardará os meus átrios. Eu lhe darei livre acesso entre estes que aqui se encontram. 8 Portanto, escute, Josué, sumo sacerdote, você e os seus companheiros que estão sentados diante de você, porque estes homens são um sinal do que há de vir: eis que eu farei vir o meu servo, o Renovo. 9 Porque eis aqui a pedra que pus diante de Josué; sobre esta pedra única estão sete olhos. Eis que eu gravarei nela uma inscrição, diz o Senhor dos Exércitos, e tirarei a iniquidade desta terra num só dia. 10 Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, cada um de vocês convidará o seu próximo para sentar-se debaixo da videira e debaixo da figueira.

2. Desenvolvimento

Introdução

Baseado no livro de Catherine Ryan Hyde de mesmo nome, o filme Pay It Forward, traduzido em português como “A corrente do Bem”, captura a imaginação do público ao traçar o esquema simples, mas utópico, de um menino de onze anos, Trevor McKinney.
Quando o Sr. Simenot, seu professor de história, desafia a classe com uma tarefa de crédito extra (“Pense em uma ideia para mudar nosso mundo - e coloque-a em ação”), o ingênuo Trevor o leva a sério e invoca o seguinte plano: pessoas que recebessem uma boa ação, deveriam pagá-la a três outras pessoas.
Da mesma forma, Zacarias 3 nos incentiva a um esquema que, em última instância, transformará o mundo - um esquema ensinado por Deus, possível por Jesus, capacitado pelo Espírito Santo e executado pela comunidade de fé.
Sendo abençoados por Deus, precisamos também ser abençoadores dos nosso próximo.
Recorde comigo...

Contextualização histórico-literária

A quarta e a quinta visões, ou seja, a que estamos vendo hoje, e a que, se Deus quiser veremos domingo que vem, diferem significativamente das visões um a três - que vimos em outros domingos - em vários aspectos distintos.
Por exemplo: se você olhar cuidadosamente para essas passagens, vai perceber que a fórmula introdutória, “Eu olhei para cima e vi”, comum às visões anteriores, não aparece aqui na quarta ou quinta visões;
E também, meu irmão, nenhum intérprete angelical surge para explicar o significado desta quarta visão, também ao contrário das visões anteriores, onde um anjo auxilia nessa tarefa interpretativa.
Além disso, queridos, o próprio Zacarias funciona como um participante ativo nas visões quatro e cinco, enquanto ele tinha permanecido em segundo plano nas três primeiras visões.
Por fim, o conteúdo da quarta e da quinta visões é relativamente simples quando comparado às visões anteriores, pois elas descrevem pessoas e objetos, enquanto que nas primeiras três visões nós temos figuras e símbolos sendo mais utilizados.
Queridos, estudiosos vão apontar para o fato de que essas diferenças indicam modificações históricas no texto sagrado, mas essa afirmação é completamente injustificada, e coloca o autor bíblico em uma camisa de força literária.
Quer dizer que com um conteúdo um pouco diferente, sua forma de escrita não pode mudar?
Nenhuma evidência bíblica apoia tal conclusão.
As visões um, dois e três garantem ao povo vacilante que Deus manterá as promessas de um templo restaurado que havia feito a Ezequiel (caps. 40–48), cumprindo finalmente essa grande profecia.
O nosso texto de hoje, a quarta visão - “O sumo sacerdote Josué -, aborda a questão de um Deus santo que deseja realizar grandes coisas por meio de seu povo pecador.
E estrutura do texto é bem simples:
(1) os vv. 1–5 revelam a visão que Zacarias teve,
(2) enquanto os vv. 6–10 revelam a explicação da visão.
Vejamos então cada uma dessas partes, sendo a primeira delas...

Exposição

1. A visão da purificação do sacerdote Josué - o tribunal celeste e investidura do sacerdote (vv. 1-5)

Zacarias 3.1–5 NAA
1 Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, que estava diante do Anjo do Senhor; mostrou também Satanás, que estava à direita de Josué, para o acusar. 2 Mas o Senhor disse a Satanás: — Que o Senhor o repreenda, Satanás! Sim, que o Senhor, que escolheu Jerusalém, o repreenda! Não é este um toco de lenha tirado do fogo? 3 Ora, Josué estava diante do Anjo vestido com roupas muito sujas. 4 O Anjo tomou a palavra e disse aos que estavam diante dele: — Tirem as roupas sujas que ele está usando. E a Josué ele disse: — Eis que tirei de você a sua iniquidade e agora o vestirei com roupas finas. 5 Então eu disse: — Ponham um turbante limpo na cabeça dele. Puseram um turbante limpo na cabeça dele e o vestiram, na presença do Anjo do Senhor,
A visão tem início com a frase ambígua "ele me mostrou", no original.
Embora o anjo intérprete tenha escoltado o profeta nas visões anteriores, ele deixou a cena em 2:3.
Então, conforme escolheu o nosso tradutor da ARA, ou da NAA, provavelmente, o sujeito aqui é o próprio Senhor, cuja entrada foi anunciada em 2:13.
Então, meus irmãos, o que acontece é que o Senhor revela a Zacarias uma cena em aparece Josué, aquele personagem que já conhecemos, desde a nossa exposição no livro de Ageu (ver Ageu 1: 1–11), e que é narrado também no livro de livros de Esdras (Esdras 3; 5: 1–2).
Ele é o sumo-sacerdote nesse período do retorno do cativeiro babilônico.
Falamos em ocasiões passadas que a linhagem de Josué pode ser traçada de seu pai Jozadaque, ao grande sacerdote Zadoque e, finalmente, a Aarão, irmão de Moisés e primeiro sumo sacerdote de Israel.
Pastor, quem é mesmo Zadoque?
Zadoque serviu com Abiatar como sacerdote sob o reinado Davi (2 Samuel 15:24), e quando Abiatar se juntou à rebelião de Adonias contra Davi (1 Reis 2: 26-27, 35), Zadoque assumiu o controle exclusivo dos deveres sacerdotais em Jerusalém.
Então ele foi alguém muito importante...
E o que nos chama a atenção, meus irmãos, é que o profeta Ezequiel elogia os sacerdotes zadoquitas - ou seja, os descendentes de Zadoque - por sua fidelidade durante o exílio (Ezequiel 44: 10–16, especialmente v.15).
De acordo com Esdras e Ageu, Josué surge com Zorobabel como os principais líderes (sacerdotal e real) na segunda fase da restauração do templo.
Então, é justamente esse Josué, que é o foco de uma reunião do conselho celestial na qual o Senhor está rodeado por seus mensageiros angelicais.
Agora acontece que, nessa reunião de um tribunal celeste, o profeta Zacarias também está presente.
A presença de Zacarias não é estranha meus irmãos, porque os profetas no Antigo Testamento muitas vezes tiveram acesso ao tribunal divino (1 Reis 22: 19–21, o profeta Micaías; Isaías 6; Jeremias 23: 16–22; Ezequiel 1–3; Amós 3: 7).
E o que Zacarias viu?
O profeta Zacarias viu Josué “diante” do anjo do Senhor.
A expressão “diante” é usada no Antigo Testamento para descrever
(1) os participantes de uma corte real (1 Samuel. 16: 21–22; Jeremias 52:12), bem como
(2) uma assembleia legal (Números 5:16, 18, 20; 27: 2; 35:12; Deuteronômio 19:17).
Aqui, em Zacarias 3, esses dois contextos não podem ser distinguidos porque a corte real funcionava no antigo Oriente Próximo como um tribunal legal.
Então note que estamos em meio a um tribunal em andamento...
Nesse tribunal, no lado direito de Josué, está "satanás".
A presença de satanás na corte celestial também não é incomum no Antigo Testamento
Por exemplo, vemos que no Salmo 109, que alguém é acusado por um śaṭan (“acusador”) à direita (Salmo 109: 6), que traz uma acusação e busca um veredicto de culpa (Salmo 109: 6-7; cf. vv. 4, 20, 29).
Em nosso texto (Zacarias 3), Satanás, está no tribunal legal celestial é um ser angelical que desempenha o papel de advogado de acusação para os fins do tribunal.
Nós não sabemos qual é o conteúdo dessas acusações...
No entanto, os procedimentos da corte celestial sugerem fortemente que as acusações feitas contra Josué enfocam a indignidade do sumo sacerdote para cumprir seus deveres.
Agora, meus irmãos, o que chama muito a atenção é que, em vez de negar as acusações feitas por satanás…
… o Senhor repreende, não ao réu, mas ao acusador, declarando a intenção divina de mudar a deplorável condição do sumo sacerdote Josué por causa de sua eleição com relação a Jerusalém!
Lembre-se que isso foi prometido nas visões noturnas anteriores (Zc 1:17; 2:12).
Zacarias 1.17 RA
17 Clama outra vez, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: As minhas cidades ainda transbordarão de bens; o Senhor ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém.
Zacarias 2.12 RA
12 Então, o Senhor herdará a Judá como sua porção na terra santa e, de novo, escolherá a Jerusalém.
Perceba, meu irmão, que a condição do sumo sacerdote é explicada pelo fato de que ele é "um tição retirado do fogo", uma alusão à recente libertação do sacerdote do exílio na Babilônia (Amós 4:11, usa exatamente essa expressão).
Pense aqui um pouco nessa imagem… nessa ilustração, de “um tição retirado do fogo”… ela é um lembrete
(1) tanto da punição passada
(2) quanto da graça futura.
O versículo 3 sinaliza uma nova fase no processo legal ocorrido no tribunal celeste: o veredicto.
O texto diz que “as roupas de Josué são sujas
De fato, meus irmãos, a expressão sujas (ṣoʾim), que é uma hapax legomena, ou seja um termo exclusivo para este versículo no Antigo Testamento,
Esta palavra está intimamente relacionado a dois substantivos no hebraico (ṣeʾah, Deuteronômio 23:14; Ezequiel. 4:12; ṣoʾah, 2 Reis 18:27; Isaías 28: 8) usados ​​para excrementos humanos e também para vômito.
Josué não estava apenas sujo, irmãos… ele estava como que cheio de excrementos, ele estava tão sujo quanto poderia estar… imundo.
Essa impureza é obviamente inadequada para qualquer pessoa, especialmente para um sumo sacerdote, na presença de Deus.
E de repente, meus irmãos, olhe o que acontece:
O anjo do Senhor dirige o veredicto “aos que estavam diante dele” (ou seja, outros membros do tribunal celestial) e os instrui a remover as roupas sujas do sacerdote.
E então imediatamente o anjo se volta para Josué e declara que ele removeu seu “pecado”, um termo que aparece nos rituais de vestimenta do sumo sacerdote descritos em Êxodo 28: 36-38 (“culpa”) e Números 18: 1 (“responsabilidade por ofensas”).
Esta conexão entre a remoção da culpa e as roupas do sumo sacerdote sugere que Josué não só é retratado como um mordomo do palácio do templo de Deus, mas também representa toda(!) a comunidade remanescente.
Em seguida, irmãos, o anjo ordenou que vestissem Josué com "roupas finas" ("vestes de ricos"), e o profeta Zacarias ordenou aos assistentes que coloquem um "turbante limpo" (ṣanip) na cabeça de Josué.
Aqui queridos, precisamos no lembrar que do turbante que o sumo sacerdote usava no AT.
O AT mostra que o turbante se junta a vários outros itens de roupas especiais, fabricadas com os melhores materiais para o sumo sacerdote em sua ordenação (Êxodo 28 e 39).
Na cerimônia de ordenação (investidura), o turbante era a última peça de roupa a ser vestida, antes que a unção com óleo fosse aplicada (Exodo 29: 6-7; cf. Levitico 8: 9-12).
O turbante também é mencionado em outro contexto ritual no AT, o Dia da Expiação (Levítico 16: 4).
O Dia da Expiação era o único dia no calendário ritual em que o sumo sacerdote tinha permissão para entrar no Lugar Santíssimo e, nesse dia, ele fazia expiação pelos pecados da comunidade israelita.
Então, esses dois eventos no AT, fornecem um pano de fundo para as imagens e rituais encontrados aqui em Zacarias 3.
(1) Ambos destacavam o ato de vestir o sumo sacerdote e estavam relacionados com a remoção da “culpa” (Êxodo 28:38; Lev. 16:21; Zacarias 3: 4, 9).
(2) Ambas as cerimônias possibilitaram ao Senhor habitar com seu povo por meio de um mediador consagrado (Ex. 29: 44-46) e de um santuário (Lev. 16:16 para o tabernáculo; cf. 16:18 para o altar),
Isso nos lembra o que vimos no sermão passado, sobre a teologia da aliança - relacionamento, pessoas e terra.
Zacarias 3 anuncia um novo período para Josué, quando ele é limpo da mancha do Exílio e empossado como sacerdote do templo, instrumento para remover a culpa da comunidade.
Mas irmãos, isso tudo é apenas metade da história, pois embora a imagem evoque as vestimentas do sumo sacerdote, as palavras reais usadas para as novas roupas e turbante de Josué podem ser atribuídas a Isaías 3:16-4:6.
Isaías 3.16–4.6 NAA
16 O Senhor disse: “Visto que são orgulhosas as filhas de Sião e andam de pescoço erguido, com olhar despudorado, dando passos curtos e fazendo tinir os enfeites dos tornozelos, 17 o Senhor fará com que apareça sarna na cabeça das filhas de Sião; o Senhor fará com que se veja a nudez delas.” 18 Naquele dia, o Senhor tirará os enfeites que elas têm nos tornozelos, as toucas e os ornamentos em forma de meia-lua; 19 os pendentes, os braceletes e os véus esvoaçantes; 20 os turbantes, as correntinhas para os tornozelos, os cintos, as caixinhas de perfume e os amuletos; 21 os anéis e as joias pendentes do nariz; 22 os vestidos de festa, os mantos, os xales e as bolsas; 23 os espelhos, as roupas finíssimas, os enfeites para a cabeça e os véus. 24 Em vez de perfume haverá cheiro podre; em vez de cinto, uma corda; em vez de belos penteados, cabeça rapada; em vez de vestidos luxuosos, roupa feita de pano de saco; e marca de fogo em lugar de formosura. 25 Os homens de Jerusalém cairão à espada, e os valentes serão mortos na guerra. 26 Os portões da cidade chorarão e estarão de luto; Sião, desolada, se assentará no chão. 1 Naquele dia, sete mulheres hão de agarrar um só homem, dizendo: “Nós providenciaremos a nossa comida e as nossas roupas; apenas queremos ser chamadas pelo seu nome; livre-nos da nossa vergonha.” 2 Naquele dia, o Renovo do Senhor será de beleza e de glória; e o fruto da terra será o orgulho e a glória para os de Israel que forem salvos. 3 Os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão chamados santos, isto é, todos os que estão inscritos em Jerusalém, para a vida. 4 Naquele tempo, o Senhor lavará a impureza das filhas de Sião e limpará Jerusalém da culpa do sangue que há no meio dela, com o Espírito de justiça e com o Espírito purificador. 5 Sobre todos os lugares do monte Sião e sobre todas as suas assembleias, o Senhor criará uma nuvem durante o dia e fumaça e um clarão de fogo aceso durante a noite. Porque sobre toda a glória se estenderá uma proteção. 6 E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva.
Este texto, que lemos em nossa liturgia, começa falando das orgulhosas “filhas de Sião” e promete julgamento tipificado pela remoção de seus muitos luxos (incluindo roupas luxuosas e turbantes!).
No final de Isaías 3, essas mulheres tornaram-se indistinguíveis da cidade de Jerusalém personificada nelas.
Uma reversão, no entanto, ocorre em Isaías 4: 2-6, que continua a imagem das "filhas de Sião" (4:4), cuja "sujeira" (ṣoʾah, - mesma palavra veste suja em nosso texto!) é removida pelo "espírito de fogo” (cf. tição retirado do fogo em Zc 3).
Então o texto de Isaías diz que o “Renovo [ṣemaḥ] do Senhor” será lindo e glorioso, a mesma palavra usada duas vezes nos oráculos em Zacarias 3, para falar de uma figura vindoura que inaugura um período de bênção.
Ou seja, meus irmãos, essa visão deliberadamente reproduz Isaías 3:16-4:6, mostrando como o Deus “que escolheu Jerusalém” promete um novo período para seu povo.
Agora que vimos “1. a visão da purificação do sacerdote Josué - o tribunal celeste e a investidura do sacerdote (vv.1-5), vejamos também...
Agora que vimos “1. A visão da purificação do sacerdote Josué - o tribunal celeste e investidura do sacerdote (vv. 1-5)”, vejamos também...

2. A interpretação e as implicações da purificação e da investidura do Sacerdote Josué (vv. 6-10)

Zacarias 3.6–10 NAA
6 que disse a Josué: 7 — Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se você andar nos meus caminhos e observar os meus preceitos, você julgará o meu templo e guardará os meus átrios. Eu lhe darei livre acesso entre estes que aqui se encontram. 8 Portanto, escute, Josué, sumo sacerdote, você e os seus companheiros que estão sentados diante de você, porque estes homens são um sinal do que há de vir: eis que eu farei vir o meu servo, o Renovo. 9 Porque eis aqui a pedra que pus diante de Josué; sobre esta pedra única estão sete olhos. Eis que eu gravarei nela uma inscrição, diz o Senhor dos Exércitos, e tirarei a iniquidade desta terra num só dia. 10 Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, cada um de vocês convidará o seu próximo para sentar-se debaixo da videira e debaixo da figueira.
Amados irmãos, até este ponto em Zacarias 3 o foco estava na cena vista por Zacarias, com necessidades mínimas de interpretação (apenas 3:4).
Agora, a partir do versículo 7, como nas outras visões, estamos diante de um oráculo, que se relaciona com a cena que foi vista nos versículos (Zc 3: 1-6).
O discurso profético (“Assim diz o Senhor dos exércitos” 3:7; “Diz o Senhor dos exércitos”, 3:10) é introduzido pelo verbo “deu este comando” (Hiphil de ʿwd), um verbo no AT em conexão com fortes avisos entregues
(1) por um humano (por exemplo, Gênesis 43: 3),
(2) por Deus (por exemplo, Êxodo 19:21, 23),
(3) ou por um profeta (por exemplo, Jeremias 6:10).
A questão irmãos, é que no AT, os destinatários da expressão hebraica traduzida aqui “deu este comando”, estão todos sendo advertidos...
Então, isso aqui em Zc 3, revela uma transição de uma disposição positiva na interpretação em Zacarias 3: 4, que declarou a remoção da culpa de Deus, para uma nuance dura, lembrando ao sacerdote que este novo status não pode ser tido como certo.
Este tom mais negativo fica claro em Zc 3: 7:
Zacarias 3.7 NAA
7 — Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se você andar nos meus caminhos e observar os meus preceitos, você julgará o meu templo e guardará os meus átrios. Eu lhe darei livre acesso entre estes que aqui se encontram.
Perceba a condicional “se”.
Em contraste com o primeiro discurso a Josué em 3: 4, este segundo inicia com uma série de cláusulas condicionais, delineando expectativas para o sumo sacerdote.
Existem quatro orações condicionais, divididas em dois grupos –
- as duas primeiras falando em geral e
- as duas últimas em termos específicos.

1° - O anjo chama Josué para “andar nos caminhos... observar os preceitos”.

(1) A frase “andar nos meus caminhos” é um termo geral para andar na fidelidade da aliança a Deus expressa através da obediência à Lei (por exemplo, Deuteronômio 8: 6).
(2)Observar os meus preceitos” também pode se referir à fidelidade geral à Lei (por exemplo, Levítico 18:30), mas na literatura sacerdotal geralmente se refere ao serviço realizado por um sacerdote (por exemplo, Levítico 22: 9).
Esta frase aparece em dois outros contextos relevantes para Zacarias 3.

O primeiro contexto em “observar os preceitos” de Zc 3 aparece é o seguinte:

Uma das últimas instruções no dia da ordenação do sumo sacerdote era a exortação para permanecer na porta Tenda da Congregação durante os sete dias do ritual e “observar as prescrições do SENHOR”, ou seja, “fazer o que o SENHOR requer” (Levítico 8:35; lit., “cumpra as minhas exigências”).

O segundo contexto em “observar os meus preceitos” de Zc 3 aparece é o seguinte:

O profeta Ezequiel usa esta frase para se referir ao ministério fiel da linha sacerdotal à qual Josué pertencia (zadoquitas; Ezequitas Ezequiel 40:45, 46; 44: 8, 14, 15, 16; 48:11), uma linha contrastada com outros levitas que participaram da idolatria (Ezequiel 44:10).
Essas conexões sacerdotais com a frase “cumprir meus preceitos” sugerem fortemente que o anjo está se referindo geralmente ao serviço sacerdotal fiel.
Do chamado mais geral à fidelidade pactual e ritual, as próximas duas próximas condições se concentram em ações mais específicas

2° - O anjo diz que Josué “julgará, governará…” “ter responsabilidade”) dentro de uma área prescrita (“meus átrios, minha casa... meus tribunais”).

Irmãos, prestem atenção aqui... verbo hebraico dyn (“governar”) é geralmente traduzido como “julgar” (Salmos 7: 8), e a frase “minha casa” se refere ao local onde essa justiça era dispensada, uma vez que os procedimentos legais no santuário foram incluídos nos deveres sacerdotais (Deuteronômio 17: 8–13) e antecipados por Ezequiel para os sacerdotes zadoquitas restaurados (Ezequiel 44:24).
A referência subsequente a "tribunais" (ḥaṣer) refere-se aos pátios dentro do recinto do santuário (Êxodo 27: 9; Lev. 6: 9, 19; 1 Reis 6:36; 7:12), onde a atividade ritual ocorria, outra responsabilidade sugerida pela visão de Ezequiel do serviço sacerdotal zadoquita renovado (Ezequiel 44: 17-23; cf. cap. 40).
Agora veja: se tais condições de fidelidade à aliança em geral e aos deveres sacerdotais em particular fossem satisfeitas, o anjo promete ao sumo sacerdote “um lugar entre os que aqui estão”.
E quem são "entre os quais aqui estão"?
Claramente essas expressões se referem aos membros do conselho celestial.
Com a conclusão de 3:7, o anjo agora retorna ao tom incondicional, com a chamada à atenção: “Escute, Ouça”.
Corra seus olhos no v.8.
Como no versículo anterior, o anjo ainda está se dirigindo a Josué, mas agora expande a discussão para incluir "seus companheiros sentados diante de você", uma frase que descreve a relação entre uma figura religiosa e seus discípulos (2 Reis 4:38; 6: 1).
Quem são esses homens, pastor?
São os associados sacerdotais de Josué, que o ajudam com a justiça e o ritual do templo (cf. Esdras 3:2; Zacarias 6:9-15), uma referência à instituição do sacerdócio zadoquita no serviço sacerdotal.
O fato de que a questão mais ampla do sacerdócio zadoquita está em vista aqui é reforçado pela seguinte frase, que liga os “homens que simbolizam as coisas por vir” a “seus associados” (hebr.: “eles”) em vez de a Josué.
Mas de que maneira eles podem ser “homens que simbolizam as coisas que estão por vir”? Você certamente se perguntou...
Esta frase inteira “homens que simbolizam as coisas que estão por vir” consiste em apenas duas palavras no texto hebraico (ʾanše mopet).
A referência aqui é a revelação profética por meio de lições objetivas ou atos de sinais.
Mas o que são essas coisas? Lições objetivas ou atos de sinais?
Deixe-me exemplificar:
Dois exemplos proeminentes de atos de sinais (mopet) são:
(1) os atos de Ezequiel de empacotar seus pertences e cavar a parede (Ezequiel 12: 6, 11) e
(2) seu silêncio na morte de sua esposa (Ezequiel 24:24, 27).
Os atos-sinais são comportamentos. ações não-verbais... cujo propósito principal era comunicativo e interativo, de maneira semelhante à profecia verbal;
isto é, esse antos não-verbais, dão conselhos, expressam convicção, acusam, bem como predizem (por exemplo, Jeremias 13; Ezequiel 3).
Jeremias 13.1–11 RA
1 Assim me disse o Senhor: Vai, compra um cinto de linho e põe-no sobre os lombos, mas não o metas na água. 2 Comprei o cinto, segundo a palavra do Senhor, e o pus sobre os lombos. 3 Então, pela segunda vez me veio a palavra do Senhor, dizendo: 4 Toma o cinto que compraste e que tens sobre os lombos; dispõe-te, vai ao Eufrates e esconde-o ali na fenda de uma rocha. 5 Fui e escondi-o junto ao Eufrates, como o Senhor me havia ordenado. 6 Passados muitos dias, disse-me o Senhor: Dispõe-te, vai ao Eufrates e toma o cinto que te ordenei escondesses ali. 7 Fui ao Eufrates, cavei e tomei o cinto do lugar onde o escondera; eis que o cinto se tinha apodrecido e para nada prestava. 8 Então, me veio a palavra do Senhor, dizendo: 9 Assim diz o Senhor: Deste modo farei também apodrecer a soberba de Judá e a muita soberba de Jerusalém. 10 Este povo maligno, que se recusa a ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração e anda após outros deuses para os servir e adorar, será tal como este cinto, que para nada presta. 11 Porque, como o cinto se apega aos lombos do homem, assim eu fiz apegar-se a mim toda a casa de Israel e toda a casa de Judá, diz o Senhor, para me serem por povo, e nome, e louvor, e glória; mas não deram ouvidos.
Então, pastor, de que maneira, então, os sacerdotes estão envolvidos em um ato de sinais?
Não há razão para negar à cerimônia de vestir Josué o status de ato de sinal, especialmente considerando o envolvimento do profeta no procedimento.
Assim, a investidura de Josué como símbolo da entrega do sacerdócio zadoquita ("seus associados") é o ato de sinal que expressa a convicção da aprovação de Deus ao sacerdócio.
Mas também há um aspecto futuro para este ato-sinal comunicado em duas fases na seção que se segue.
Veja, meu irmão, que coisa linda… o anjo fala de alguém chamado “meu servo, o Ramo, o renovo, [ṣemaḥ]”.
Quem é esse indivíduo e como ele se relaciona com Josué e suas coortes sacerdotais?
Lembra do texto que mencionamos de Isaías 4: 2-6? Lá ṣemaḥ é usado como uma imagem geral de prosperidade, referindo-se à rica vegetação e um paralelo com “o fruto da terra” (Isaías 4:2).
Esta prosperidade é experimentada pelos “sobreviventes em Israel” (Isaías 4:2) e “aqueles que são deixados em Sião, que permanecem em Jerusalém” (Isaías 4: 3), frases que refletem a teologia do remanescente e da restauração.
Já observamos a influência de Isaías 3: 16–4: 6 em Zacarias 3, quando a visão entrelaça as roupas e a condição das “filhas de Sião” com as roupas e condição do sumo sacerdote.
Esta referência ao Renovo (ṣemaḥ) retorna uma última vez a Isaías 3: 16-4: 6 para falar de uma era vindoura de prosperidade tipificada por uma vegetação rica (cf. Zacarias 3:10).
Em Zacarias 3:8, entretanto, há uma transformação da imagem ṣemaḥ.
Considerando que em Isaías 4 o Renovo é um sinal de prosperidade, ao ligá-la a “meu servoZacarias 3: 8 identifica claramente ṣemaḥ como uma pessoa.
Fora de Zacarias 1–8, Jeremias 23: 5–6 e Jeremias 33: 15–16 são as únicas passagens que usam essa imagem para se referir a um ser humano - em ambos os casos, um descendente davídico.
Se o Renovo ṣemaḥ é um descendente davídico, então de que maneira esses sacerdotes são “símbolos das coisas que estão por vir”?
Um olhar mais atento em Jeremias 33: 15-22 revela como Jeremias vincula
a esperança da resistência da linhagem real de Davi em Judá com a resistência do serviço sacerdotal no templo.
Jeremias 33.15–22 RA
15 Naqueles dias e naquele tempo, farei brotar a Davi um Renovo de justiça; ele executará juízo e justiça na terra. 16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será chamada Senhor, Justiça Nossa. 17 Porque assim diz o Senhor: Nunca faltará a Davi homem que se assente no trono da casa de Israel; 18 nem aos sacerdotes levitas faltará homem diante de mim, para que ofereça holocausto, queime oferta de manjares e faça sacrifício todos os dias. 19 Veio a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: 20 Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo, 21 poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho que reine no seu trono; como também com os levitas sacerdotes, meus ministros. 22 Como não se pode contar o exército dos céus, nem medir-se a areia do mar, assim tornarei incontável a descendência de Davi, meu servo, e os levitas que ministram diante de mim.
Isso não passou despercebido por Zacarias, que revela que a passagem de Josué como sumo sacerdote prenuncia a era vindoura do Renovo (ṣemaḥ).
Zacarias 3.9–10 NAA
9 Porque eis aqui a pedra que pus diante de Josué; sobre esta pedra única estão sete olhos. Eis que eu gravarei nela uma inscrição, diz o Senhor dos Exércitos, e tirarei a iniquidade desta terra num só dia. 10 Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, cada um de vocês convidará o seu próximo para sentar-se debaixo da videira e debaixo da figueira.
Por fim, anjo fornece uma segunda fase de sua interpretação em Zacarias 3: 9–10, chamando a atenção para “a pedra que pus diante de Josué”.
Nos últimos anos, os estudiosos foram divididos entre várias opiniões, interpretando a pedra como
o projeto de reconstrução do templo,
o monte do templo,
a rocha do deserto (Números 20),
a placa de metal gravada no turbante (Êxodo 28:38),
ou as pedras gravadas no éfode das vestes do sumo sacerdote (Êxodo 28: 22–28).
Dessas visões, as duas últimas se encaixam melhor no contexto por causa das conexões com o vocabulário em textos que descrevem as roupas do sumo sacerdote (“pedra, gravura”) juntamente com a menção de tirar a “culpa” em “um dia”.
Esta pedra tem "sete olhos", que podem se referir
às facetas de uma gema,
às letras gravadas na placa de ouro (Êxodo 28: 36-38)
ou às quatorze pedras no peitoral / éfode do sumo sacerdote (Êxodo 28: 16-28).
Em qualquer um desses casos, a pedra está associada à natureza representativa do sumo sacerdote por suportar a culpa da nação, pois a frase final declara seu significado: “Eu removerei o pecado desta terra em um único dia”.
Esta referência à “remoção do pecado em um dia” alude ao papel do sumo sacerdote como representante de Israel que, por meio dos ritos do Dia da Expiação, fazia expiação pelos pecados do povo e pela contaminação do santuário.
Considerando que o Dia da Expiação foi designado para "expiar" a culpa e ritualmente "limpar" o povo e o santuário...
...o dia associado ao “Ramo, Renovo”, para o qual e para quem a investidura sacerdotal aponta, será um dia em que a "culpa" será removida permanentemente, tornando o Dia da Expiação obsoleto.
O versículo 10 conclui: "cada um de vós convidará ao seu próximo para debaixo da vide e para debaixo da figueira” ocorre em outros lugares no AT para a paz e prosperidade experimentadas sob um governante bem-sucedido, seja Salomão no passado (1 Reis 4:25) ou o Senhor no futuro (Mq 4: 4).
A expressão, no entanto, tem uma variação única aqui em Zacarias 3, pois sua orientação é expressamente comunitária: “Cada um de vocês convidará o seu próximo”.
A figura do futuro dará início a um novo período de segurança e prosperidade, caracterizado pela habilidade de cada membro da comunidade em oferecer hospitalidade.
Que promessa encorajadora para eles...

Conclusão

Em resumo, Zacarias 3 completa uma linha de argumentação que começou em Zc 2: 6.
Lá o profeta exorta o povo, chamado de “Sião” e “Filha de Sião”, a escapar do cativeiro na Babilônia e retornar à terra e cidade que Deus herdou, escolheu e prometeu habitar.
Isso prepara o caminho para a visão do capítulo 3, que usa a investidura de Josué como sumo sacerdote para dois propósitos.
(1) É uma oportunidade de falar com Josué como sumo sacerdote, assegurando-lhe a bênção de Deus e chamando-o à fidelidade em seus deveres.
(2) É também uma oportunidade de falar a Josué como representante de sua linha sacerdotal, que é um sinal de algo muito maior - uma nova era na história da redenção que culminará com a vinda de um governante real davídico.
A chave para esta nova era é a remoção da culpa da terra e a prosperidade de seus habitantes.

Sacerdote, profeta e rei

Exemplo de desordem política.
Essa desordem na liderança de uma nação, entretanto, do Brasil do século XXI, mas é evidenciada também na vida dos judeus do início do século VI.
Os dias finais do reino do sul (Judá) foram testemunhas da tensão e conluio entre os três “ramos” da liderança dentro da sociedade judia: os ramos real, sacerdotal e profético (cf. Miquéias 3:11).
Uma rápida olhada em Jeremias 37:3 revela o papel desempenhado por todos os três ramos:
Jeremias 37.3 RA
3 Contudo, mandou o rei Zedequias a Jucal, filho de Selemias, e ao sacerdote Sofonias, filho de Maaseias, ao profeta Jeremias, para lhe dizerem: Roga por nós ao Senhor, nosso Deus.
Nesse caso, o rei e o sacerdote se posicionaram contra o profeta enquanto a nação oscilava à beira da destruição.
O equilíbrio de poder que deveria preservar a nação, entretanto, foi prejudicado pela recusa de dois dos ramos em atender ao clamor do ramo profético.
Por causa dessa recusa, a nação acabaria no exílio e os vários ramos dispersos e dizimados por esta devastação.
A visão em Zacarias 3 é uma mensagem oportuna para a comunidade de Zacarias, pois proclama o ressurgimento desses mesmos ramos de liderança dentro da comunidade em restauração.
Embora claramente figuras sacerdotais, proféticas e reais tenham vivido durante o exílio, um sinal importante de que a restauração chegou para o povo foi o restabelecimento dessas figuras em funções oficiais no templo e no governo durante o período persa.
As figuras sacerdotais e reais, entretanto, demoraram a acertar o alvo, considerando que eram restritas no exercício de seu papel sem templo (sacerdote) ou palácio (rei).
Um olhar mais atento para as figuras sacerdotais, proféticas e reais em Zacarias 3 nos ajuda a identificar o significado da mensagem desta passagem para o público original de Zacarias e iniciar o processo de identificar seu significado para nós hoje.
Josué representa a casta sacerdotal de Israel.
A maioria dos sacerdotes nasceu em uma terra muito distante da terra sagrada de Israel e só ouviu falar dos deveres sacerdotais das gerações anteriores.
Mas, como esta passagem mostra com sua referência à purificação de toda a terra, Josué também representa toda a comunidade exílica quando eles retornam à terra.
Como aquele que vai servir na presença de Deus oferecendo sacrifícios e ofertas em nome do povo, o destino de Josué está entrelaçado com o do povo.
Como figura mediadora posicionada entre Deus e seu povo, Josué é essencial para que Deus cumpra sua promessa de retornar ao templo e para que o povo tenha acesso a essa presença.
A mensagem de Deus por meio dessa visão é clara: embora imundo pela mancha do exílio, representado pelas roupas imundas, Deus proclama sua graça ao sumo sacerdote.
A mancha será removida e novas roupas serão fornecidas a fim de sinalizar um novo começo para o sacerdócio e para o povo;
Isso abre o caminho para o retorno do Senhor ao seu templo.
Historicamente, irmãos, há poucas dúvidas de que esse restabelecimento ocorre no início do período persa e que o governo dos sacerdotes zadoquitas perdurará pelos próximos 350 anos até a ascensão dos hasmoneus.
Essencial para este novo começo para o sacerdócio e para as pessoas é o dom de profetas como Zacarias, que têm acesso ao conselho divino.
Esses porta-vozes da revelação de Deus surgiram ao longo da história do povo de Deus para guiar a comunidade nos caminhos do SENHOR.
As perguntas de Ageu aos sacerdotes em Ageu 2: 10-14 e o papel de Zacarias ao lado deles no templo em Zacarias 7: 3 mostram a relação estreita entre o sacerdote e o profeta no início do período persa, uma relação evidente também na era pré-exílica (Jeremias 26: 2, 7–8, 16; 23:16; 35: 4; Lamentações 2:20).
Ageu 2.10–14 RA
10 Ao vigésimo quarto dia do mês nono, no segundo ano de Dario, veio a palavra do Senhor por intermédio do profeta Ageu, dizendo: 11 Assim diz o Senhor dos Exércitos: Pergunta, agora, aos sacerdotes a respeito da lei: 12 Se alguém leva carne santa na orla de sua veste, e ela vier a tocar no pão, ou no cozinhado, ou no vinho, ou no azeite, ou em qualquer outro mantimento, ficará isto santificado? Responderam os sacerdotes: Não. 13 Então, perguntou Ageu: Se alguém que se tinha tornado impuro pelo contato com um corpo morto tocar nalguma destas coisas, ficará ela imunda? Responderam os sacerdotes: Ficará imunda. 14 Então, prosseguiu Ageu: Assim é este povo, e assim esta nação perante mim, diz o Senhor; assim é toda a obra das suas mãos, e o que ali oferecem: tudo é imundo.
Os livros de Ageu, Zacarias e Malaquias descrevem o importante papel que esses profetas desempenham na comunidade do período persa ao encorajar e advertir o povo. Da mesma forma, Esdras 5-6 destaca o papel da palavra profética dentro desta mesma comunidade:
Esdras 5.1–2 RA
1 Ora, os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel, cujo Espírito estava com eles. 2 Então, se dispuseram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesua, filho de Jozadaque, e começaram a edificar a Casa de Deus, a qual está em Jerusalém; e, com eles, os referidos profetas de Deus, que os ajudavam.
Esdras 6.14 RA
14 Os anciãos dos judeus iam edificando e prosperando em virtude do que profetizaram os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido. Edificaram a casa e a terminaram segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia.
Na primeira passagem, os profetas são colocados ao lado de Zorobabel e Josué como instrumentos na reconstrução do templo.
Na segunda passagem, a pregação dos profetas é colocada no mesmo nível dos “decretos de Ciro, Dario e Artaxerxes”, os imperadores persas.
Certamente nada enfatiza mais o papel fundamental que os profetas desempenham neste período formativo para a restauração.
Com acesso ao conselho divino, eles são canais essenciais de discernimento para esta comunidade, pois buscam a palavra de Deus e encorajam as pessoas em seus esforços.
Essa visão finalmente concentra uma atenção considerável no restabelecimento da linha davídica.
Representa uma mensagem ao grupo sacerdotal de que seu retorno aos pátios do templo prenuncia a vinda de ṣemaḥ (“Renovo”).
Eles deveriam prever um período de paz e prosperidade com os dois ofícios restaurados.
Esta esperança no ressurgimento da linha davídica é um elemento central da revelação e fé do Antigo Testamento.
Deus prometeu a Davi uma linha interminável de descendentes para servir como vice-regentes sobre seu povo e mundo (2 Samuel 7; Salmo 2).
Isso foi seriamente ameaçado quando o rei marchou para o exílio (2 Reis 24-25), mas as promessas de Deus se cumpriram quando ele preservou seu ungido entre as nações e, finalmente, retornou seu descendente à Terra Prometida.

Uma mensagem para a igreja

Zacarias 3 fala assim a uma comunidade há muito tempo e muito distante.
Seu foco na ordem sacerdotal em Israel é uma pedra de tropeço em potencial para muitos leitores cristãos hoje.
Os sacerdotes não recebem uma descrição positiva no Novo Testamento por causa de sua oposição ao ministério de Jesus.
Além disso, o livro de Hebreus subordina claramente o sacerdócio Aarônico e Levítico ao do sacerdócio de Cristo, destacando a maneira como o sacerdócio do Antigo Testamento fica aquém do ideal em Cristo.
Essas questões e outras mais mostram o quanto não é fácil nos apropriarmos do ensinos dessa passagem hoje.
Mas pense junto comigo...
O Novo Testamento identifica Jesus como o principal cumprimento da esperança davídica.
Nele e por meio dele as condições de Zacarias 3 podem ser realizadas.
Com base nisso, não podemos perder a mensagem oportuna deste capítulo para nós.
Estamos diante lindíssimo testemunho da busca contínua de Deus por seu povo.
Deus revela o seu desejo persistente de estar presente com a sua comunidade, prioridade apenas possível através da estrutura sacerdotal e do santuário.
Ele também revela sua contínua e graciosa provisão de salvação para seu povo, uma provisão que torna sua presença possível.
Esta passagem lembra a igreja da graça de Cristo, imerecida e ainda disponível por meio da fidelidade de Deus.
O acusador é preciso em suas acusações: Josué é uma visão lamentável e indigna de estar no acampamento de Israel, quanto mais no conselho divino.
Mas Deus declara um novo começo por sua graça, com base na qual somos chamados à fidelidade.
Ao ouvirmos o chamado de Josué, podemos ouvir um chamado para cada um de nós como uma comunidade de sacerdotes em nosso mundo.
A provisão de Deus da palavra profética no tempo de Josué é paralela à provisão da Palavra escrita hoje para a igreja.
As Escrituras são “vivas e ativas (eficaz)” (Hb 4:12), “vivas e perseverantes” (1 Pedro 1:23) e, portanto, são “inspiradas por Deus e úteis” (2 Timóteo 3:16) e “operam eficazmente no que crê ”(1 Tessalonicenses 2:13).
Desta forma, as Escrituras hoje nos concedem acesso ao conselho de Deus.
Os profetas, no entanto, não apenas transmitem a palavra de Deus ao seu povo, mas também são figuras mediadoras que trazem os pedidos de discernimento do povo ao conselho divino.
Desta forma, a provisão de Deus da palavra profética em Zacarias 3 é paralela à provisão de acesso imediato por meio de Jesus Cristo ao "trono da graça", isto é, ao conselho divino (Hb 4:16).
A chegada e o governo de Zorobabel em um nível cumprem o esperado restabelecimento da linha real.
Não se deve esquecer, porém, que isso não esgota as esperanças de Jeremias e Zacarias, pois Zorobabel só funciona como governador na província persa de Yehud, não como rei de um estado independente e próspero.
Depois de Zorobabel, a linha davídica continua sua conexão com o governo civil apenas por um curto período, através do casamento de sua filha com seu sucessor político.
As frustrações que o acompanham e as razões subjacentes ao fracasso em cumprir as promessas proféticas podem ser discernidas no sinal-ato profético de Zacarias 11 (que, com fé em Deus, veremos mais para frente em nossas próximas exposições).
Essas promessas dirigidas a Zorobabel não são cumpridas em seu tempo, mas aguardam a vinda de Alguém maior em sua linhagem familiar.
Assim, meus irmãos, a busca divina de estar presente com seu povo, para proporcionar limpeza, revelação, acesso e prosperidade, aguardava a chegada de outro: Jesus Cristo.
Zacarias 3 dá testemunho do grande plano de redenção de Deus e, por meio disso, nos envolve em nosso contexto atual.

Aplicações e implicações

A graça de Deus

A visão da graça de Deus em Zacarias 3 prenuncia a obra de Cristo para fornecer purificação para todos e acesso à santa presença de Deus.
Nós, como cristãos, enfrentamos o grande perigo de perder de vista a doutrina fundamental da graça em nossa caminhada com Deus.
Este perigo é particularmente grande dentro da doutrina da salvação.
Há uma tendência de criar distância (lógica e temporal) entre conversão / justificação / regeneração / adoção e santificação.
Essa geralmente não é a intenção daqueles que chamam a igreja para os valores da santidade.
A maravilha da doutrina da graça nunca deve ser perdida à medida que crescemos na vida cristã.
Colossenses 2: 6–7 nos lembra que devemos continuar a viver em Cristo ao “recebermos a Cristo Jesus como Senhor”.
Colossenses 2.6–7 RA
6 Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, 7 nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças.
A graça de Cristo é o fundamento de nossa fé do princípio ao fim;
não podemos deixá-la para trás à medida que amadurecemos na fé.
Não acrescentar, nem retirar, nada dela.
As exortações nas várias cartas de Paulo no Novo Testamento são sempre baseadas na teologia da graça por meio de Cristo.
Por exemplo, o chamado para andar em santidade em Efésios 4-6 ("viver uma vida digna do chamado que recebestes", 4:1) é baseado em todas as bênçãos que recebemos "em Cristo" em Efésios 1-3 (por exemplo, 1: 3).
Assim também a exortação de "oferecer seus corpos como sacrifícios vivos, santos e agradáveis ​​a Deus", que introduz uma série de mandamentos em Romanos 12-15, é baseada com segurança na "misericórdia de Deus" (12: 1), que é explicada em detalhes em Romanos 1–11.
Esse padrão não se restringe ao Novo Testamento; em vez disso, segue o exemplo do documento fundamental da aliança do Antigo Testamento: os Dez Mandamentos (Êxodo 20; Deuteronômio 5).
Antes de entregar o Decálogo ao seu povo, o SENHOR os lembra de seu gracioso ato de salvação: “Eu sou o SENHOR vosso Deus, que vos tirei do Egito, da terra da escravidão” (Êxodo 20: 2; Deuteronômio 5: 6).
Toda instrução em santidade, portanto, deve ser fundamentada em uma explicação da graça que recebemos por meio da morte, ressurreição e ascensão de Jesus.
Que tenhamos cuidado com moralismo morto, legalismo, e com o antinomismo, que é o outro extremo.
As Escrituras estão cheias de instruções morais e exortações éticas, mas a base e a motivação de todas elas são encontradas na misericórdia de Jesus Cristo, em sua graça.
As igrejas podem promover esse tom de graça entre seus membros, concentrando-se regularmente na graça em sua adoração e ensino.
Isso pode parecer surpreendente para alguns, mas existem ênfases teológicas que se concentram tanto nas exortações à pureza que a mensagem da graça é silenciada.
Ou que ensinam uma especie de preparação para a graça de Deus.
Zacarias 3 serviu de encorajamento para a comunidade do período persa de que Deus havia estendido sua graça a eles por meio de seu sumo sacerdote.
Isso foi apenas um prenúncio do tipo de graça e purificação que um dia Ele comunicaria a nós por meio de Jesus.

A graça de Deus e o acusador

É a escolha soberana e a provisão graciosa de Deus em Zacarias 3 que enfraquece os argumentos do acusador (śaṭan).
Pelo que podemos dizer desta cena, muito provavelmente, o acusador nesta cena está correto em suas alegações contra Josué e a comunidade que ele representa.
Recém-saídos do exílio, não estão qualificados para a presença de seu Santo Deus.
O ponto neste capítulo, entretanto, é que Deus aplica sua graça soberana a Josué; e que, somente isso, rejeita a acusação contra ele.
Este acusador aqui, claramente representa todas as tentativas, sejam de fontes espirituais ou humanas, para minar nossa confiança na graça de Cristo recebida por meio da fé.
Especialmente a satanás, a quem muitas vezes são atribuídas duas grandes mentiras.
(1) Antes de cairmos em pecado, ele sussurra em nosso ouvido que tal pecado não é de grande consequência -
(2) só depois se volta contra nós e nos lembra que o mesmo pecado nos tornou eternamente indignos para o reino de Deus.
Quem por uma, quer por outra, ele quer nos afastar da presença de Deus.
Zacarias 3 nos lembra da eleição soberana de Deus e da maravilhosa graça, garantindo a revelação de Deus que silencia o acusador de toda acusação.
Ainda sobre isso, lembremos do que vimos em nossa exposição de Apocalipse 12: 9-12:
Apocalipse 12.9–12 RA
9 E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos. 10 Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. 11 Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida. 12 Por isso, festejai, ó céus, e vós, os que neles habitais. Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta.
Cai o acusador, sobe o Defensor.

Chamado aos sacerdotes

Tendo respondido às acusações de satanás fornecendo sua graça e purificação, Deus chama Josué, o sumo sacerdote, para cumprir sua comissão.
Essa chamada opera em dois níveis.
(1) Em geral, ele é chamado a uma vida fiel de acordo com a Palavra de Deus.
(2) Em um plano mais específico, ele é ordenado a cumprir os deveres específicos do sumo sacerdote dentro do recinto do templo.
A igreja funciona de maneira semelhante aos representantes sacerdotais de Deus na terra (1 Pedro 2: 5, 9).
(1) Lembra que nós vimos que em Apocalipse 1: 6, é esta comunidade, “libertada ... dos nossos pecados pelo seu sangue”, que se torna “sacerdotes para servir a seu Deus e Pai” (cf. 5:10).
Somos chamados à fidelidade à nova aliança, a seguir os mandamentos de Cristo e seus apóstolos, que ecoam os temas da Lei e dos Profetas.
Este é o chamado fundamental de santidade e obediência.
(2) Também somos chamados a cumprir nossos deveres sacerdotais particulares.
Crentes individuais e comunidades são chamados a tarefas específicas dentro de seus contextos.
Para os indivíduos, isso será descobrir, celebrar, refinar e exercer seus dons dados por Deus na igreja e família, abençoando assim a sociedade.
A igreja deve ser um lugar de encorajamento para todos aqueles que buscam usar seus dons espirituais.
Da mesma forma, comunidades de fé são criadas dentro de sociedades em momentos específicos da história para falar ou agir como representantes de Cristo.
A liderança da igreja deve levar a sério este chamado e discernir como isso deve se desenrolar em seu contexto de ministério único.
O exercício desses chamados específicos, no entanto, deve fluir da fidelidade fundamental aos valores fundamentais de santidade de Deus, expressos nos sistemas de doutrinas dos credos e confissões reformados, o que só é possível pela graça de Deus em Cristo.

Conselho profético

Josué recebeu a promessa de vozes proféticas que fornecerão acesso à vontade de Deus no conselho divino.
Para Josué, isso significava profetas como Ageu e Zacarias, que forneceram o incentivo e a exortação de Deus durante todo o projeto de reconstrução.
Ao longo da história de Israel, Deus deixou claro que a palavra profética era um dos dons mais importantes para sua comunhão.
Ele enviou sua palavra por meio desses mensageiros a fim de convidar seu povo a voltar à intimidade da Aliança (2 Reis 17: 7–23; Ne. 9: 26–32) e adverti-los das consequências de sua desobediência.
Assim também Deus levou a sério a santidade da palavra profética para seu povo.
Uma das profecias de julgamento mais severas é a profecia de Miquéias contra os falsos profetas de sua época (ver Miquéias 3).
Embora ele fale a todos os líderes em Israel (líder, sacerdote, profeta) no início e no final da mensagem (3: 1-4 e 9-12), Miquéias reserva a admoestação central para um grupo específico: os profetas.
Ele os avisa que porque eles usaram o ofício profético para seus próprios fins, seu julgamento será "trevas", um símbolo de silêncio de Deus: "Não há resposta de Deus."
Deus deu prioridade à palavra profética ao longo da história de sua interação com seu povo, e isso não será diferente entre a comunidade da restauração.
Para Josué, o acesso ao conselho divino por meio de figuras proféticas é a chave para o sucesso de sua função sacerdotal, bem como para a vitalidade espiritual de sua comunidade.
Assim também para nós, Deus providenciou sua voz por meio da fiel pregação das Escrituras.
Este precioso dom de revelação não somente deve ocorrer, mas também ser aceito como a Palavra de Deus para nossa geração.
Mas Deus não nos deixou sozinhos para interpretar sua Palavra.
Ele nos guia por seu Espírito, que ilumina esta Palavra para nossas mentes e corações.

III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.

IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.

V. Pelo Testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica ao nosso coração.

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas.

VII. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e aplicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

VIII. O Antigo Testamento em hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito às Escrituras e interesse por elas, e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, possibilite que as pessoas adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e pelo conforto das Escrituras.

IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.

Os credos e as confissões visam entregar uma teologia saudável, como padrões secundários, subordinados a Palavra, visando formar em nós um caráter semelhante ao de Cristo.
Um caráter semelhante ao de Cristo, entretanto, não é uma mercadoria que pode ser comprada; nem pode ser colocado e retirada à vontade.
É formado ao longo do tempo por meio da atenção disciplinada aos nossos pensamentos, palavras e práticas.
É por isso que nos que temos afirmado que nossa igreja precisa continuar sempre a estabelecer espaços nos quais os crentes possam ter seu caráter formado e informado por um verdadeiro conhecimento de Deus.
É por isso que a doutrina do Espírito Santo é a chave para interpretar a Bíblia.
E também que os credos e confissões nos são saudáveis.
Deus nos concede seu Espírito para iluminar nossas mentes finitas, abrindo-as para sua verdade infinita e abrandando nossos corações caídos para aceitar sua verdade autorizada.
Deus nos concede acesso à sua corte divina por meio das Escrituras
Hebreus 4.12 RA
12 Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.

Prosperidade real

A visão das roupas do sumo sacerdote não pode ser separada da profecia da futura remoção do pecado da terra.
O profeta tem uma visão de um futuro quando ṣemaḥ (“Ramo”) dará início a uma nova era em que o pecado será finalmente removido.
Esta era é a etapa final da história da redenção, na qual haverá prosperidade dentro da comunidade de Deus e paz entre seus membros.
O cumprimento desta profecia por Deus veio com a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Esse ato de sacrifício de fato “removeu o pecado desta terra em um único dia” de uma forma que transcendeu o Dia da Expiação do Velho Testamento.
Hebreus 10: 11-13 desenvolve isso de forma mais completa no Novo Testamento, quando afirma em relação aos sacrifícios diários:
Hebreus 10.11–13 RA
11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; 12 Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, 13 aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.
O escritor de Hebreus aqui combina a linguagem do sacerdócio (sacerdote) com a da monarquia (“assentou-se à direita de Deus ... até que seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés”).
A última frase é uma pista da intenção do escritor.
Jesus está sendo retratado aqui como o sacerdote-rei na ordem de Melquisedeque, uma ordem na qual a linha davídica tem suas raízes (Salmos 110: 1, 3; cf. Hb 1:13; 7: 1-8: 13).
Cristo, como sumo sacerdote, cumpre de uma vez por todas as cerimônias do Dia da Expiação.
Depois de descrever as cerimônias do Dia da Expiação em Hebreus 9: 1–10, o escritor apresenta a Cristo.
Hebreus 9.12 RA
12 não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção.
Este rei-sacerdote, o cumprimento da esperança ṣemaḥ de Zacarias 3, remove o pecado da terra “de uma vez por todas” por meio de “um único sacrifício”.
De acordo com Hebreus, esta remoção limpa "nossas consciências de atos que levam à morte, para que possamos servir ao Deus vivo" (Hb 9: 14b) e nos motiva a "aproximarmo-nos de Deus com um coração sincero em plena certeza de fé ”E“ apegar-se firmemente à esperança que professamos ”(10: 22-23).
Este último Dia da Expiação inaugurou o estágio final da história redentora, na qual já podemos desfrutar da prosperidade e paz destacadas no final de Zacarias 3.
A igreja ocidental tem frequentemente sido muito individualista em sua abordagem da salvação realizada por meio de Cristo.
Zacarias 3 nos lembra que a bênção do evangelho é de natureza comunitária, impulsionando-nos para fora para oferecer a bênção que recebemos a outros dentro da comunidade da aliança e além.
Também nos lembra que a salvação de Deus provê nossa prosperidade e bem-estar físico e espiritual.
Esta imagem idílica final de uma comunidade purificada por Deus por meio de Cristo e compartilhando sua prosperidade uns com os outros deve ter uma impressão duradoura nos leitores de Zacarias 3.
Ela nos encoraja a ver a igreja como um lugar onde a bênção de Deus é compartilhada uns com os outros - seja compartilhando sua abundância material, espiritual, emocional ou relacional.
Zacarias 3 nos mostra o poder da graça dentro da igreja, pois à medida que as pessoas recebem graça e prosperidade de Deus, elas por sua vez derramam isso na vida dos outros.
Sim, a “corrente do Bem”, do pequeno Trevor McKinney é possível para nós em Jesus Cristo, pois é um esquema ensinado por Deus, possível por Jesus, capacitado pelo Espírito Santo e executado pela igreja.
Que a maravilhosa graça de Jesus nos encoraje e nos faça frutificar.
Amém.
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