JEREMIAS - VIVENDO A MISSÃO DE MODO PERSEVERANTE (Jr 1.1-10)

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Mesmo sob as circunstâncias mais pessimistas e duras, Jeremias cumpriu fielmente a sua missão. Ele teria muitas razões para desistir, mas perseverou. Ele falou a Palavra de Deus, combateu as iniquidades e chamou a nação ao arrependimento. Em nenhum momento, recuou. Mostrou-se, em tudo, um autêntico homem de Deus.

Notes
Transcript

INTRODUÇÃO:

Jeremias começou seu ministério profético no décimo terceiro ano do reinado de Josias (1.2,3), o último dos reis justos de Judá (reino do Sul). Ele exerceu seu ministério no período que antecedeu o cativeiro babilônico e se estendeu até alguns poucos anos depois da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor.
A introdução do livro de Jeremias na Bíblia “A Mensagem” diz que
A vida atribulada de Jeremias coincidiu com um dos períodos mais problemáticos da história hebraica, as décadas que conduziram à queda de Jerusalém, em 587 a.C., seguida pelo exílio babilônico. Tudo que podia dar errado deu errado. E Jeremias estava bem no meio da tormenta, orando, pregando, sofrendo, trabalhando, escrevendo e crendo em Deus. Ele sobreviveu a tempestades intensas de hostilidades e ondas de dúvidas amargas. Cada músculo de seu corpo foi forçado ao limite pela fadiga; cada pensamento seu foi questionado; cada sentimento passou pela prova de fogo da ridicularização. E ele suportou todas essas forças opostas, agonizou, mas escreveu sua experiência de maneira magnífica.
O nome Jeremias significa “o Senhor dispara” ou “o senhor lança”. Jeremias nasceu durante o reinado do rei Manassés, o pior e mais cruel rei de Judá (2 Rs 21:1-18). Jeremias era filho do sacerdote Hilquias (1.1) e cresceu num tempo em que a idolatria prosperava em Judá. Viveu na pequena cidade de Anatote, situada no território da tribo de Benjamim (1.1), e que tinha sido designada aos levitas. Anatote estava localizada a cerca de 5km a nordeste de Jerusalém. Era um pequeno assentamento de casas de pedra cinza, situado em uma encosta e cercado de figueiras, olivais e campos de grãos.
Por ser de linhagem sacerdotal poderia ter exercido este ofício, que lhe teria proporcionado prestígio e segurança, visto que, segundo o historiador judeu Flávio Josefo, em Israel os sacerdotes eram honrados como se pertencessem à nobreza.
Jeremias exerceu um ministério direcionado, na maioria das vezes, ao seu próprio povo de Judá, mas algumas vezes, se estendeu a outras nações. Ele profetizou durante 40 anos, no período mais crítico de Israel. Suponho que não haja um tempo no qual seja fácil servir a Deus, mas alguns períodos da história são especialmente difíceis para o ministério espiritual, e Jeremias viveu numa dessas épocas.
Jeremias é o profeta predileto de muitos de nós, especialmente quando passamos por momentos difíceis e queremos uma ajuda confiável sobre o que pensar, como orar e como seguir avante, apesar dos desafios.

O CHAMADO

Antes do início do seu ministério, Jeremias se deparou com o chamado vocacional. Ele deveria ter sido um sacerdote, mas o Senhor tinha outros planos para a vida de Jeremias. Tendo em vista que servir como profeta era uma incumbência que exigia muito mais do que servir como sacerdote, não é de se admirar que Jeremias tenha apresentado objeções. A maioria de nós escolheria o sacerdócio! Uma vida mais fácil e tranquila, sem grandes riscos e com menos renúncia. O sacerdote tinha uma vida mais estável, em todos os sentidos, mas o profeta dependia inteiramente de Deus. Da mesma forma, ser missionário é se colocar inteiramente na dependência e cuidados de Deus.
Sendo ainda bem jovem, Jeremias foi chamado para o ministério profético. Profeta, segundo a Bíblia, é aquele que falar em nome de Deus, ou seja, um porta-voz de Deus. O ministério profético no Antigo Testamento tem muito em comum com o ministério missionário no Novo Testamento. Tal como o profeta no Antigo Testamento, o missionário leva a Palavra de Deus, chamando as pessoas ao arrependimento e a crerem no único Deus vivo e verdadeiro.
Deus deixa claro para Jeremias que o seu chamado não era casual, mas fazia parte do seu propósito eterno. O Deus de Jeremias é o Senhor soberano do universo, da natureza e das nações. Ele não está distante da história, mas ativo e responsável por ela, dirigindo-a para o seu objetivo e propósito.
Muito antes de Jeremias nascer, Deus já o tinha separado para a realização de sua vontade soberana, como diz o texto bíblico: “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” (1.5). A ideia de que Deus criou Jeremias para um propósito específico é muito clara no texto. O versículo apresenta quatro afirmações: “Eu te formei...”, “eu te conheci...”, “te consagrei...”, “te constituí...”. Além disso, o verbo hebraico (“yada ̀”), aqui traduzido como “te conheci” é usado para descrever os relacionamentos mais íntimos. Nas Escrituras, assim como na nossa língua, quando o verbo conhecer envolve um nome ou uma pessoa, e não um fato, o sentido é de um relacionamento pessoal, e não conhecimento de uma informação. Isso nos mostra que, o profeta ainda nem existia, mas já era conhecido por Deus e tinha sido consagrado ou separado para ser profeta às nações. O apóstolo Paulo igualmente afirma em Gálatas 1:15: “que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça”. Assim como Jeremias e Paulo, também somos chamados para fazermos parte da missão de Deus.
Embora tivesse sido separado desde o ventre, não sabemos a idade de Jeremias, quando Deus o chamou para o ministério profético. A Bíblia limita-se a dizer que por ocasião do seu chamado, ele se considerava uma criança (1.6). O termo hebraico (“na’ar”), traduzido como “criança”, significa um indivíduo do sexo masculino jovem, e pode se referir a uma criança (Ex 2.6), um menino (1Sm 2.11), um adolescente (Gn 21.12) ou um jovem (2Sm 18.5). Alguns comentaristas supõem que Jeremias tivesse entre 16-20 anos.
Ao ser chamado por Deus para tamanha responsabilidade, Jeremias hesitou. Ao olhar para o trabalho diante de si, para a perversidade a seu redor, e para as próprias fraquezas, convenceu-se de que não era o homem certo para tal desafio. Ele diz: “Ah! SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança” (v. 6). Aqui ele apresenta duas objeções: é jovem demais e também lhe falta fluência. Jeremias esforçou-se para se escusar com base na sua pouca idade e incapacidade para o trabalho. Ele sente-se incapacitado para tal missão e tenta recuar. F. B. Meyer diz que “Jeremias era muito jovem e tentou esquivar-se da grande missão a ele confiada. Os mais nobres sempre agem assim” (cf. Ex 4.10). Porém, como diz F. B. Meyer, “sempre que Ele [Deus] nos dá uma comissão, assume a responsabilidade da sua execução em nós, ou através de nós”.
A resposta de Deus para Jeremias foi: “Não digas: Não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás. Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR” (1.7-8). Em seguida o Senhor toca-lhe os lábios e diz: “Eis que ponho na tua boca as minhas palavras” (1.9). Vencido pela autoridade e chamado de Deus, Jeremias aceitou a tarefa, e a realizou com um inigualável zelo e fidelidade. Da mesma forma, o missionário é alguém chamado por Deus para fazer, não a sua vontade, mas a vontade daquele que o chamou.
Como bem coloca Warren Wiersbe: “Quando se trata de servir ao Senhor, em certo sentido ninguém é absolutamente adequado”. O apóstolo Paulo ao refletir sobre as responsabilidades do ministério faz a seguinte pergunta: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co 2.16). Ele responde à essa pergunta mais a frente: “não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2Co 3.5).
Jeremias não foi chamado para ser popular nem estava preocupado com a aceitação pessoal. Ele sabia que a voz do povo não era a voz de Deus. A voz de Deus era e continua a ser a Palavra de Deus – A Bíblia Sagrada.
Um dos grandes males do pós-modernismo é o relativismo da verdade e consequentemente a síndrome do politicamente correto. Assim, muitos têm sacrificado a genuinidade do Evangelho no altar do politicamente correto. Jeremias, assim como cada um de nós, foi chamado para ser autêntico e fiel, tendo como compromisso a proclamação fiel da Palavra de Deus, anunciando todo o conselho de Deus a todos os povos e nações.

O CORAÇÃO SENSÍVEL

Segundo o Comentário Bíblico Broadman: “Como pessoa, Jeremias era tímido e sensível, honesto e humano, um pouco impaciente e impulsivo, dado a tempos de exaltação e abatimento, corajoso e confiante, ainda que rasgado por uma sensação de inadequação e um conflito interno entre inclinação natural e uma sensação de divina vocação”.
Podemos notar muitas vezes a sua timidez natural e sua relutância para enfrentar o serviço proposto. Jeremias não era o homem que uma escolha humana teria preferido para uma missão tão difícil, mas Deus escolhe os fracos para seus instrumentos, para demonstrar que o sucesso vem de Deus e que a Ele pertence toda a glória. O apóstolo Paulo escreveu: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1Co 1.26-29).
Podemos ver no caráter de Jeremias, uma especial aptidão para a sua missão. Aquele coração terno e sensível podia entender e expressar melhor o amor de Deus, que tem prazer em perdoar os pecadores arrependidos. Jeremias era um homem com uma mensagem divina severa, mas de coração sensível e quebrantado. No cumprimento da nossa missão, precisamos ter o coração sensível de Jeremias e o mesmo sentimento de profunda compaixão que Cristo sentiu pelos perdidos. John Knox, o grande reformador escocês, orava: “Dá-me a Escócia, senão morrerei”. Ele sabia que se Deus não intervisse na história da Escócia, não lhe restaria esperança. A semelhança de Knox (e de Jeremias), devemos orar e chorar para que pessoas de todos os povos e nações venham para Cristo.

SUA ESPERANÇA

Embora conhecido como o profeta das lágrimas, devido aos seus muitos lamentos, Jeremias também pode ser considerado o profeta da esperança (14.8). Um dos momentos mais dramáticos de suas profecias dá-se quando Jeremias, olhando para o futuro de Israel, Ele une a esperança futura de Israel com a angústia presente da nação.
Deus nunca enviou seus servos para missões sem esperança. Mesmo sabedor que o Senhor traria o castigo sobre os israelitas, Jeremias também sabia que Deus era bondoso e misericordioso, e isto significava esperança. Ele profetizou a “restauração espiritual do seu povo” (30), a “Nova Aliança” (31 e 32), e o “retorno à Jerusalém” (33). Independentemente da situação, da desgraça gerada pelo pecado ou juízo que se imponha nessa vida, o servo missionário tem sempre uma mensagem divina de esperança firmada na graça bondosa do Senhor e um convite ao arrependimento.

SUA PERSEVERANÇA

Jeremias é um grande exemplo de perseverança e dedicação. Ele viveu num período de extrema decadência espiritual, onde sofreu grande oposição, principalmente das autoridades de Judá. Ele tudo fez para reconduzir seus contemporâneos aos caminhos do Senhor. Suas advertências, infelizmente, não foram recebidas pelos seus contemporâneos judeus. Além disso, ele foi ameaçado, tentaram tirar-lhe a vida, foi colocado em cadeias, forçado a fugir do rei Eliaquim, humilhado publicamente por um falso profeta e lançado num fosso ou cisterna sem água.
A sua missão não era fácil, e muitos em seu lugar teriam desistido ou fugido, como fez Jonas. Entretanto, Jeremias colocou a vida na sua missão. Colocar a vida na missão significa colocar toda a nossa vida ao serviço de Deus, priorizar as prioridades de Deus, fazer sua vontade e viver para a glória de Deus. Da mesma maneira, seguir a Jesus é um projeto de vida, e cumprir a missão é moldar a vida para obedecer ao chamado de Deus.
Desde o começo, Jeremias sabia que o chamado de Deus não era uma proposta para apenas uma área ou atividade de sua vida, mas um projeto para a vida como um todo. Ele recebeu de Deus instruções para denunciar a idolatria do povo, a corrupção dos sacerdotes, as mensagens falsas preferidas em nome de Deus e ainda que o Senhor destruiria a cidade de Jerusalém através do império babilônico.
Perto da metade do seu ministério, Jeremias apresenta aquilo que poderíamos chamar de um relatório, quando ele exibe o sucesso da sua missão: “Durante vinte e três anos, desde o décimo terceiro de Josias, filho de Amom, rei de Judá, até hoje, tem vindo a mim a palavra do SENHOR, e, começando de madrugada, eu vo-la tenho anunciado; mas vós não escutastes.” (Jr 25:3). Mas isso, não o fez desanimar. Sua missão estava baseada na obediência a Deus e não na resposta do povo!
Jeremias foi um missionário contextualizado à sua cultura e povo. Entretanto, a sua principal característica ministerial foi a sua fidelidade e obediência a Deus, para cumprir a missão e agradar ao Senhor, mesmo quando isso não era agradável a si mesmo. Jeremias teve muitos motivos para desanimar e desistir, mas ele perseverou.
A parábola do semeador nos mostra a importância da perseverança para colhermos os frutos do trabalho missionário. No campo, muitas sementes cairão à beira do caminho, outras entre espinhos e pedregais, mas somente os que perseverarem poderão ver a semente cair em bom terreno e produzir frutos.
A obra missionária está intimamente ligada a perseverança. A história de missões também nos mostra muitos exemplos de missionários que souberam perseverar, apesar de todas as dificuldades e desafios:
William Carey (1761-1834) - o pai das Missões Modernas perdeu 10 anos de trabalho de tradução quando alguém ateou fogo em tudo, porém ele não desistiu. Ele conseguiu traduzir a Bíblia toda ou em partes para 37 línguas diferentes.
Robert Morrisson (1782-1834) - primeiro missionário protestante enviado à China. Traduziu toda a Bíblia para o chinês. Em mais de 25 anos de trabalho, só conseguiu batizar 11 convertidos.
Adoniran Judson (1788-1850) - missionário na Birmânia (Mianmar). Levou 5 anos de trabalho, para batizar o primeiro birmanês.
Alexandre Duff (1806-1878) - missionário na Índia. Levou 18 anos para ganhar 33 indianos.

CONCLUSÃO:

Mesmo sob as circunstâncias mais pessimistas e duras, Jeremias cumpriu fielmente a sua missão. Ele teria muitas razões para desistir, mas perseverou. Ele falou a Palavra de Deus, combateu as iniquidades e chamou a nação ao arrependimento. Em nenhum momento, recuou. Mostrou-se, em tudo, um autêntico homem de Deus.
Hoje vivemos tempos conturbados, mas não devemos nos abater nem esfriar na fé diante da decadência moral e espiritual deste século. Como Jeremias somos chamados para cumprir a missão que Deus nos confiou. Devemos agir com coragem e perseverança, buscando sempre agradar, em tudo, aquele que nos salvou e nos chamou para sermos fiéis testemunhas de nosso Senhor Jesus Cristo.
Que o exemplo de Jeremias inspire a presente geração a ter um compromisso maior com Deus, com Sua missão e com Sua Palavra. Oremos para que Deus levante homens como Jeremias, que não se amedrontem diante dos desafios e adversidades de nosso tempo. Homens que não estejam preocupados com a popularidade nem em agradar a si mesmos, mas sim em agradar a Cristo, nosso Salvador e Senhor, que se entregou por todos nós, e em cumprir a missão que recebemos do Senhor.
Como disse Edward M. Bounds, ministro metodista americano: “A Igreja está procurando por métodos melhores; Deus está buscando homens melhores”. O sucesso da obra missionária não está nos resultados, mas na fidelidade em transmitir o Evangelho de Cristo ao mundo. Como diz Ronaldo Lidório: “Missão, não é um empreendimento que pode ser medido pelos resultados alcançados, mas deve ser definido pela fidelidade na comunicação do amor de Deus ao mundo”.
Uma igreja missionária precisa ser perseverante em todo o processo missionário. Não apenas em uma ou outra ação de grande destaque, mas deve saber que a nossa responsabilidade missionária só terminará, quando o Senhor Jesus voltar. Até lá sejamos perseverantes! Como disse Jesus em Lucas 12.43: “Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim”.
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