Série Natividade: O cântico de Isabel (Lc 1.39-45)

Texto:

39 Naqueles dias, dispondo-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, 40 entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. 42 E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! 43 E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? 44 Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. 45 Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor. 1

1 Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Lc 1.39–45.

Contexto. O texto está dividido nessa perícope - a maior indo até o verso de número 56. O texto está conectado com o relato anterior, de 26 a 38, onde um anjo do Senhor anuncia que a jovem e virgem Maria conceberá do Filho de Deus, Jesus Cristo. Este será o Messias, o grande rei prometido (28-33). À princípio, Maria teve um temor com o anúncio do anjo - mas consolada pelo anjo buscou entender como Deus realizaria sua promessa, entendendo que Deus o faria através do Espirito Santo (35). O anjo expressa que Maria poderia crer na promessa pois um sinal seria que sua parente Isabel, já velha em idade e reportada como estéril, teria concebido um filho, pois para Deus não há impossíveis (37). Ou seja, Deus já trabalhara para conduzir seu plano perfeito preparando aquele que anunciaria o Messias, endireitando-lhe o caminho (7). E Maria creu e se colocou totalmente à disposição da vontade de Deus (38).

Exposição.

Versículo 39. “Naqueles dias, dispondo-se” remete que durante aquele mesmo período, logo após o anúncio do anjo, maria se preparou e saiu em busca de sua parente. Maria foi não porque duvidara e queria colocar à prova as palavras do anjo, mas foi justamente porque creu (45) - ela foi com grandes expectativas e fé. Como quem vai ver e testemunhar o poder de Deus. Maria, como uma jovem e virgem (provavelmente com cerca de 14 a 16 anos), fora para a casa de Isabel (Elisabete) também em busca de encorajamento. Numa sociedade cheia de estigmas, dizer que estava grávida do Espírito Santo seria um grande desafio - inclusive o foi, a princípio, para José (Mt 1.18-25). Ela precisava também de apoio, de suporte.

“região montanhosa, a uma cidade de Judá” Não há limites para a comunhão que propicia a edificação mútua. Maria, provavelmente a pé [alguns dizem que era uma caminhada de dias], sobe para as regiões arriscadas das montanhas do sul da Palestina para visitar Zacarias e Isabel. O ímpeto de seu coração lhe abreviara o caminho.

Isabel, que não sabia da gravidez de Maria, responde com confirmação, agindo de forma profética (42, 43): aprendemos portanto sobre o poder da comunhão. Ela pode remover a ansiedade, renovar as expectativas, promover a troca de experiências (visto que Isabel era mulher de idade avançada). Maria ficou cerca de três meses com Isabel (56).

Versículo 40. há alguma discussão acerca do que teria sido a saudação de Maria à Isabel. Que talvez ela tenha anunciado tudo o que ouvira do anjo e, por isso, Isabel sabia do que se tratava sua visita. Que Maria queria anunciar que estava grávida do Salvador do mundo. Mas essa teoria não é forte dentro do texto: saudação deve ser entendido pelo seu sentido natural, ou seja, o cumprimento com amigos acompanhado de palavras de paz. Além disso, os versos 42 e 43 nos ensinam que tudo que Isabel falou só assim o fez por causa do Espírito Santo, como se pode notar no verso 41

Versículo 41. Observe que Isabel foi encorajada: “quando ouviu a saudação de Maria”. Ao ouvir a saudação, ou seja, por meio dela, a criança de cerca de seis mesmes estremeceu e Isabel foi tomada pelo Espírito santo. Maria estava com Cristo em seu ventre, e com palavras de bênção viu sua parente ser cheia do Espírito Santo. Essa é a comunhão abençoadora que os crentes devem desfrutar: cheios do Espírito e de Cristo poderem falar da Palavra (Ef 5.19) e confirmar mutuamente a fé (45). Observemos, portanto, que pelo Espírito Santo Isabel pode ter revelado a si mesma que Maria estava grávida e quem era o seu filho.

Versículo 42. Nesse verso inicia-se o cântico de Isabel. É o primeiro de uma série de cinco cânticos: Beatitude - o cântico de Isabel (42); Magnificat - o cântico de Maria (46-55); Benedictus - o cântico de Zacarias (68-79); Gloria in excelsis Deo - o cântico dos anjos (2.14); Nunc Dimits - o cântico de Simeão (2.29-32). O natal é a época dos cânticos. Uma das marcas do cristianismo é a musicalidade. Deus rompe o silêncio (desde Malaquias) dando ao seu povo um novo cântico. Percebamos que por causa de Cristo a igreja se torna o local dos cânticos, e o primeiro cântico registrado por Lucas vem de Isabel (Lc 1.36). E ele vem em alta voz - com vibração.

Aqui temos um cântico belíssimo, nessa perícope cheia de termos femininos. No poema em específico, possui paralelismos com bendita, bendito, bem-aventurada.

Versículo 43. Qual a explicação para aquela visita? É certo que fora pela revelação do anjo. A ideia também é de “de onde vem esse privilégio”, pois Isabel percebeu o peso daquele que chegara junto à Maria - Isabel se alegria em ver Cristo no outro! Chegara o seu Senhor - o Rei. Que lição de humildade: uma senhora idosa se alegrando com a jovem; a que teve sua vida marcada pela esterilidade se alegrando na jovem grávida; a grávida se alegrando no filho da outra (1Co 13.4 é o Cântico do amor de Isabel).

Versículo 44. O estremecimento de João Batista foi de alegria. Vejamo que toda a alegria ali está baseada em Cristo. Isabel se alegra nele, o salvador [bendito o fruto - o meu Senhor]. Maria é bendita por causa de Cristo. Não é uma gravidez qualquer, mas a mais especial dentre as mulheres. João Batista, o bebê, se alegrou. Vejamos que a percepção de Isabel sobre a visita de Jesus se deu pela alegria que foi manifestada. Maria é uma anunciadora, por ser a portadora do Messias, mas os presentes também se tornam anunciadores alegres.

Versículo 45. Ao contrário de Zacarias, Maria creu desde o princípio. Bendita é aquela que creu [em tudo] - aquela mulher de fé (Jo 20.29).

Aplicações:

i. Você tem sido fonte de apoio aos seus irmãos na fé?

ii. Você tem participado da comunhão? reuniões, orações, visitas, telefonemas, ofertas, canoras, palavras santas, testemunho… e entre idades diferentes?

iii. Cuidado para não cair no oposto da mariolatria.

iv. quando o Espírito nos revela Cristo, brota alegria.