Da Morte para a Vida Mediante a Obra de Jesus
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Transcript
Da morte para a vida mediante a obra de Jesus
Efésios 2. 1-10
Ilustração
Entre os anos de 1954 e 1955 o poeta recifense João Cabral de Melo Neto escreveu o poema regionalista chamado Morte e Vida Severina que retrata a trajetória do retirante Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Em sua jornada Severino tem como companheira constante a morte e chega à conclusão de que ela é uma inimiga que a ninguém poupa e que paradoxalmente só pode ser vencida pela vida. Em um momento de sua jornada como retirante Severino pensa em suicídio atirando-se ao Rio Capibaribe, mas é contido por um carpinteiro chamado José, que fala do nascimento de seu filho. A renovação da vida em meio ao contexto da morte sempre presente é uma alusão clara Jesus Cristo, a própria fonte da vida que se encarnou, venceu a morte e ressuscitou, resgatando da morte o seu povo.
Introdução
William Hendriksen, um dos mais renomados comentaristas bíblicos da nossa época, não haveria um momento mais propício para a escrita dessa carta. Segundo o autor, os dias nos quais Paulo escreveu sua epístola à igreja na cidade de Éfeso eram dias maus. Segundo o relato do próprio apóstolo Paulo, não apenas na epístola aos efésios, mas também na epístola aos romanos, o mundo encontrava-se mergulhado em uma repulsiva perversidade que era visível nas práticas daqueles que são chamados de filhos da desobediência, cujo coração encontra-se endurecido e sobre os quais a ira de Deus se revelava desde os céus.
Nesse contexto um dos propósitos principais do apóstolo nessa epístola era descrever a gloriosa graça de Deus que torna possível a salvação dos seus eleitos. Dadas as semelhanças entre os dias em que vivemos e os dias em que Paulo escreveu sua epístola aos Efésios, essa mensagem é extremamente relevante ainda hoje.
Proposição
Diante de todo o exposto até o momento, gostaria de chamar agora sua atenção para o tema da nossa reflexão nessa noite: Da morte para a vida mediante a obra de Jesus, que será estruturado a partir de três argumentos, dos quais o primeiro nos permite afirmar que:
1. Em seu estado natural o homem encontra-se sob o poder da morte (v. 1-3)
À exceção do Cristianismo bíblico, todas as religiões bem como todas as escolas filosóficas, sustentam o argumento de que o homem é basicamente bom e pode aperfeiçoar a si mesmo a partir de seus esforços. As Escrituras, no entanto, afirmam de maneira clara que após a queda o homem encontra-se, inevitavelmente, em um estado de depravação, alheio em relação a Deus e completamente incapaz de salvar a si próprio ou de realizar qualquer ação que o coloque em uma posição favorável diante do Senhor.
No texto em que lemos e que serve como objeto de nossa reflexão nessa noite o apóstolo Paulo apresenta de maneira muito clara a condição de todos os homens após a queda. É interessante que o próprio Paulo, embora trabalhe de maneira pastoral com a igreja dos efésios, não excluiu a si mesmo dessa condição. Isso é notável pela utilização, de maneira intercambiável dos pronomes “vós” e “nós” em toda a perícope. O fato de Paulo localizar a si no mesmo patamar em que os crentes efésios andaram outrora lança luz a realidade de que distantes de Deus todos os homens, independentemente de sua condição, de sua posição social, de sua vocação, encontram-se naturalmente na mesma condição, escravizados pela morte.
Paulo apresenta tal condição descrevendo-a no v.1 como a morte nos delitos e pecados. O apóstolo emprega o adjetivo νεκρός – nekrous, para caracterizar esse estado. O significado básico de nekrous é de fato “morto” ou “mortos”. Embora esse termo seja usualmente aplicado para se referir ao processo de morte física, Paulo claramente o aplica em um sentido metafísico, espiritual. Assim, aqui no contexto de Efésios 2, o estado natural do homem é de morte espiritual, no qual não há qualquer disposição ou potência que o capacite a se dedicar ou ao menos a reconhecer a Deus. Joseph Thayer, no dicionário que leva seu nome, explica essa condição afirmando que nesse estado de morte o homem encontra-se completamente indiferente à salvação que lhe é oferecida mediante o Evangelho.
Mas o que conduz o homem a esse estado de morte? Segundo o próprio texto de Efésios a causa ou a origem da morte são os delitos e pecados. Mais uma vez o apóstolo utiliza termos intercambiáveis, delitos e pecados, indicando todos os atos ou sentimentos que transgridem o limite moral exigido pela lei ou pelo caráter de Deus. Esses delitos e pecados tem ingresso a vida do homem já em sua concepção, como a herança recebida de nosso primeiro pai, Adão, que no Éden nos representou federativamente. Na queda Adão relegou toda a humanidade a uma condição deplorável, que João Calvino descreve como a privação de vida, que é como uma herança transferida entre as gerações, pois como podemos concluir a partir da fala de Davi no Sl. 51. 5: todos nós nascemos no pecado e fomos concebidos na iniquidade.
A consequência da morte espiritual do homem é clara em Efésios 2. Paulo nos explica que nesse estado de morte espiritual todo homem invariavelmente anda segundo o curso do mundo e seguindo a inclinação da própria carne e dos pensamentos. Para compreender as implicações desse estado, podemos analisar o ensino de Paulo à luz do que nos João afirma (cf. 1Jo. 5. 19) ao dizer que o mundo jaz no maligno. Analisando os argumentos de Paulo e João em paralelo, podemos concluir todos os homens em seu estado natural, ou seja, em sua morte espiritual encontram-se com seus usos, costumes, valores e volições em uma posição de harmonia com o mundo e consequentemente em rebeldia contra Deus. A morte espiritual do homem é manifesta no sentido de que todos os desejos, todas ações, todas as volições do homem, encontram-se escravizadas e, portanto, dominadas pelo príncipe da potestade do ar, ou seja, pelo próprio Satanás. Nesse estado que é corretamente chamado de morte, o homem não se encontra apenas em rebelião contra Deus, antes, como explica William Hendriksen, em sua morte espiritual o coração do homem encontra-se ativamente comprometido com o Diabo, que foi conforme a própria Escritura desobediente e homicida desde o princípio e faz desses, os seus próprios filhos.
Para Teologia Reformada, esse estado de morte espiritual, em que o homem se encontra rebelado em relação à Deus e escravizado por Satanás é conhecido como depravação total. O homem depravado está completamente cego e com o seu coração endurecido. Encontra-se também completamente incapaz de entender as coisas do alto, de buscar a Deus e de fazer o bem, são, portanto, cheios de maldição e amargura e consequentemente objetos da ira de Deus.
Transição
Essa é sem dúvidas a situação mais desesperadora na qual o homem pode se encontrar e que somente pode ser revertida através da ação graciosa e misericordiosa de Deus. Isso ocorre na obra redentora do Senhor Jesus Cristo, o que nos leva ao segundo ponto de nossa reflexão nessa noite, a partir do qual podemos concluir que:
2. Mediante a obra de Jesus o homem é vivificado (v. 4-6)
Um dos momentos mais emocionantes do ministério terreno de Jesus foi relatado por João em seu Evangelho, quando ele nos fala do milagre realizado por Cristo ao ressuscitar seu amigo Lázaro, que já estava morto há quatro dias. A ressurreição de Lázaro ilustra muito bem o que Cristo faz em favor dos seus eleitos mediante a sua obra, os retirando de uma situação de incapacidade e ausência de vida, para uma nova e privilegiada posição diante do Deus de toda a terra.
Como o intuito do apóstolo a partir do v. 4 é apresentar a mudança no estado do homem, da morte para a vida, ou da condenação para a salvação, ele elabora um estrutura lógica que facilita essa compreensão. No v. 4 Paulo ensina aos crentes de Éfeso qual é o fundamento da obra redentora do Messias. Para tanto utiliza dois atributos, ou perfeições do Ser de Deus, a saber, sua misericórdia e amor.
O apóstolo Paulo utiliza o substantivo grego ελεος – eleos, traduzido para o português como misericórdia para indicar a ação judicial de Deus agindo com clemência e compaixão em favor do homem no livre exercício de sua bondade, seguido pelo substantivo αγαπη – agape, traduzido como amor, designando uma livre e ativa escolha dos objetos que se tornam alvos de afeto e consideração, para apresentar à igreja, a base na qual sustenta-se a redenção, ou seja a vivificação do homem na obra de Jesus Cristo. Veja que a partir dos escritos paulinos não há espaço para a inferência qualquer perspectiva meritocrática ou sentimental na salvação. Em nosso estado natural estamos mortos e assim permanecemos até que Deus nos resgate em Cristo, nos concedendo vida. Dessa forma a apresentação da misericórdia e do amor como fundamentos da redenção pressupõe um estado completo de desgraça, incapacidade, tristeza e morte.
Embora a misericórdia seja o primeiro atributo de Deus citado por Paulo, William Hendriksen explica que o amor é o atributo superior em termos de abrangência. O amor de Deus é único, espontâneo, forte, soberano, eterno e infinito, e o Senhor o direciona ao homem em seu estado de miséria, na forma de sua graça oferecendo-lhe clemência e benevolência, no lugar da condenação e da morte. É impossível que aqui não nos lembremos da gloriosa declaração do evangelista João (cf. Jo. 3. 16) ao nos ensinar “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Assim embora o homem encontre-se na posição de um réu e seja merecedor da ira e da justiça de Deus, o Senhor que conforme explica Jeremias (cf. Jr. 31. 3) ama eternamente e atrai com benignidade, como cumprimento do protoevangelho (cf. Gn. 3. 15) oferece o caminho para a salvação, a fim de que os seus eleitos tenham vida.
Isso não quer dizer que a justiça de Deus na punição do pecado não tenha sido satisfeita. As Escrituras deixam claro que Jesus se tornou o mediador da nossa relação com Deus porque, conforme o próprio Paulo explica (cf. 2Co. 5. 21) embora o Salvador não tivesse pecado, Deus o fez pecado em nosso lugar. O Deus que é a própria fonte do amor, demonstra sua misericórdia e sua bondade, manifestando a sua graça na pessoa de Jesus Cristo para a salvação do homem. Dessa forma a declaração do apóstolo no v. 5 – Pela graça sois salvos – focaliza o amor de Deus na forma de sua graça sobre o culpado e indigno. O Deus que em sua misericórdia se compadece da condição miserável do homem, em sua própria graça, o perdoa. Isso ocorre não pelo mérito humano, mas pelo mérito de Cristo.
Em todos os sentidos essa é uma ação judicial, que culmina na mudança da posição do homem de condenado para salvo diante de Deus. Isso porque a condição de pecado que herdamos de Adão nos relegava à morte espiritual, já em Cristo na manifestação da graça de Deus somos salvos, ou seja, recebemos vida e somos ressuscitados. Segundo João Calvino, em Cristo nós somos transferidos do mais profundo inferno para o mais alto céu e embora, no que diz respeito a nós mesmo, a nossa salvação esteja oculta na esperança da vida futura, em Cristo Jesus já possuímos no presente momento a garantia da bem aventurada imortalidade e glória do porvir.
Todas essas conclusões são as mesmas a que chegaram os reformadores no Século XVI ao reafirmarem a crença de que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida na mediação de Jesus.
Transição
Se o estado de morte é marcado pela incapacidade do homem, o estado de vida, ao qual é transferido em Cristo é caracterizado por um novo proceder. A salvação transforma radicalmente a existência do homem, inclusive suas volições e seus atos, o que nos leva ao terceiro e último ponto de nossa reflexão nessa noite, pelo que podemos concluir que:
3. Mediante a obra de Jesus a vida do homem salvo glorifica a Deus (v. 7-10)
Todas as ações que realizamos possuem uma finalidade, ou seja, são destinadas a um fim. Por exemplo, quando nos alimentamos temos a finalidade de saciar a nossa fome e prover nosso organismo dos nutrientes necessários para o bom funcionamento do nosso corpo. Da mesma forma quando tomamos um medicamento a finalidade é curar uma doença ou fazer cessar um determinado desconforto. Da mesma forma a obra da salvação realizada por Deus mediante a pessoa de Jesus Cristo atingir um objetivo muito claro: a demonstração de sua graça, de maneira a glorificá-lo. A percepção a respeito da finalidade da salvação é visível a partir do v. 7. O apóstolo Paulo emprega a conjunção ινα – hina, traduzida para o português como, portanto Assim entre os v. 7-10, o apóstolo Paulo demonstra o chamado para a salvação dos eleitos em Cristo nas perspectivas de seu propósito, do meio em que se estabelece e de seu padrão de desenvolvimento durante a vida do homem.
No v. 7 Paulo apresenta o propósito desse chamado gracioso em Jesus, que é revelar a suprema graça de Deus. É interessante notar que mesmo na salvação do homem, o homem não é o centro da atenção. O foco primordial de Deus é demonstrar a sua graça, pois, nisso Ele mesmo é glorificado, afinal como afirma o apóstolo Paulo em Romanos (cf. Rm. 11. 36) “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente amém”. O propósito de Deus está além do homem, o propósito de Deus com a salvação é sua própria glória, pois da mesma forma como o filho é o resplendor da glória de Deus, como explica o escritor dos Hebreus (cf. Hb. 1. 3), a sua obra graciosa glorifica aquele que o enviou.
Igualmente o serviço realizado por Cristo na obra redentora não é para o homem, é um serviço prestado a Deus, a fim de que ele seja glorificado na demonstração de sua graça e de seu poder na transformação da existência do homem, conduzindo à uma nova vida que glorifica a Deus.
Por conseguinte, no v.8 o Apóstolo apresenta o meio pelo qual se efetiva esse chamado em Jesus, a graça de Deus. Há aqui uma clara retomada do ensino do v.5 que focaliza a salvação do homem como uma obra realizada de maneira exclusiva por Deus. No entanto a graça de Deus é apresentada no v.8 de com uma nuance completamente nova. O apóstolo utiliza a expressão incomparável riqueza de sua graça a fim de evidenciar a hiperbólica, a sobrepujante, a opulenta bondade de Deus manifestada em nosso favor na pessoa e na obra de Jesus. Paulo reitera aqui o ensino de que somos salvos unicamente mediante a manifestação da graça de Deus em Cristo. Esse ensino é abundante nas Escrituras. Em Atos (cf. At. 15. 11) o apóstolo Pedro afirma: “Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus”. Em Romanos (cf. Rm. 3. 24) o próprio apóstolo Paulo ensina a igreja que somos “justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus”. A medida dessa graça é incomparável ao ponto de fazê-la transbordante, de maneira que, (cf. Rm. 5. 20) “Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus”. É preciso destacar que da mesma forma como não podemos esperar nenhuma graça e nenhum amor de Deus a não ser por intermédio de Cristo, é impossível receber as bençãos da salvação conseguidas por Cristo a não ser pela fé. Nesse sentido Calvino afirma que “a fé, pois, põe diante de Deus um homem vazio, para que o mesmo seja enchido pelas bençãos de Cristo”. Assim torna-se evidente que a fé é um elemento primordial na Nova Aliança, tanto quanto era na Antiga. Ainda no início da formação do povo de Deus narrada no livro de Gênesis (cf. Gn. 15. 6 ), somos informados que “Abrão creu no Senhor e isso lhe foi creditado como justiça”. A fé que operou em Abrão em sua justificação é a mesma que opera hoje na vida do pecador arrependido que se curva ao Senhorio de Cristo e recebe o perdão de Deus. Não há, portanto, nenhuma possibilidade, não há qualquer fundamento para que o homem reivindique para si a glória ou o mérito para a salvação, pois como explica Abraham Kuyper até o exercício da fé necessária para que o homem receba as bênçãos de Jesus é uma concessão graciosa de Deus.
Finalmente nos v. 9-10 Paulo apresenta o padrão do desenvolvimento do chamado gracioso de Cristo para o homem na prática de boas obras sob a direção do próprio Deus, a fim de glorificá-lo. Nesses dois últimos versículos o apóstolo emprega o vocábulo grego εργον – ergon, obras, no sentido da realização de um dever moral ou legal em duas ocasiões em duas perspectivas distintas. Na primeira delas, εργον – ergon, ou as obras, são apresentadas a partir de uma perspectiva negativa, apontando para o fato de que para a salvação elas são ineficazes, desnecessárias e rejeitadas. As obras, a priori, mencionadas por Paulo são, como explica Hendriksen, uma resposta pastoral aos judeus que haviam se convertido ao cristianismo, mas que ainda buscavam justificar-se mediante o cumprimento da Lei Mosaica. Em outras palavras o que Paulo está ensinando é que a partir da vontade e da ação do homem não há nada que o coloque em uma posição favorável diante de Deus ou que satisfaça a sua justiça. Nesse sentido, a Lei, dada a incapacidade do homem em cumpri-la em sua totalidade, não pode nos salvar, pois diante da impossibilidade do homem de observá-la em perfeição, como explica o próprio Paulo em (cf. Rm. 3. 20) faz apenas com “que nos tornemos plenamente conscientes do pecado”, sem qualquer efeito redentivo.
A segunda perspectiva na qual Paulo focaliza as obras, é positiva e encontra-se no v.10. O apóstolo afirma que somos feitura de Deus, criados em Cristo, em uma clara alusão à obra da regeneração que restaura o homem que foi completamente afetado pelo pecado, com a finalidade de que Deus seja glorificado no cumprimento de sua vontade na vida do homem salvo, expressa na prática de boas obras. Assim a conclusão óbvia é que o eleito de Deus não realiza boas obras a fim de ser salvo, mas como uma consequência de sua salvação, pois, como explica o próprio apóstolo Paulo em sua epístola a Tito (cf. Tt. 2. 14) Cristo “se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”. Como o v. 10 do texto no qual estamos refletindo deixa claro, essas obras também foram criadas por Deus. Nesse sentido Calvino argumenta que a intenção do apóstolo Paulo ao reivindicar até mesmo as obras como autoria do Senhor é “mostrar que nada levamos a Deus pelo quê ele fique endividado em relação a nós; mostra ainda que até mesmo as boas obras que praticamos procedem dele. Daí se segue que nada somos, senão por sua graciosa liberalidade”. Assim se no estado de morte que antecede a salvação as lealdades do coração do homem encontram-se dominadas por Satanás, fazendo dele filho da desobediência, após a salvação em um estado de novidade de vida o homem tem sua vida e suas lealdades transformadas e direcionadas para o autor da salvação. Seu viver não mais é guiado pelas inclinações da carne ou pela vontade do pensamento, antes, vivendo a vida de Cristo, ele recebe do Espírito Santo a capacitação para se “aplicar às boas obras” (cf. Tt. 3. 8) nas quais Deus é glorificado.
Conclusão
Gostaria de retomar a ilustração do início dessa exposição. Assim como no poema de João Cabral de Melo Neto o retirante Severino parte da morte para a vida e vê seu vigor renovado diante da vitória da vida sobre a morte, a nossa alegria e a nossa esperança são revigoradas na certeza de que em Cristo nós fomos de fato e não de maneira ficcional retirados de um estado desesperador de morte espiritual e fomos conduzidos à vida, ao Reino de Deus, sendo necessário apenas o exercício da Fé, impulsionado pelo Espírito para que recebamos em nossa vida as benesses da salvação que nos foi graciosamente oferecida.
Aplicações
· Sejamos gratos a Deus pelo seu agir gracioso para conosco. Deus nos amou quando não podíamos retribuir esse amor. Ele nos salvou graciosamente nos dando o seu Filho para morrer por nós ali na cruz.
· Nos apliquemos dia a dia no conhecimento das Escrituras a fim de que cresçamos no entendimento sobre a graça de Deus. O entendimento da graça de Deus nos livra de legalismos, nos livra das noções de méritos da nossa parte. Quanto mais entendemos a graça de Deus mais apreciaremos a grande obra da salvação em nossas vidas.
· Vivamos de maneira digna da vocação para a salvação, para a qual fomos chamados em Cristo, mortificando dia após dia a nossa carne e os desejos do nosso coração, a fim de que Deus em tudo seja glorificado.
· Nos dediquemos incansavelmente no anúncio da graça de Deus a esse mundo. Como obreiros do Senhor devemos em todo tempo anunciar a maravilha da graça de Deus que vem ao encontro do pecador arrependido e o restaura em Cristo Jesus.