O Traidor é Indicado Jo 13.18-30

Exposições no Evangelho de João   •  Sermon  •  Submitted
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Texto

18- Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura:
Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar.
19- Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU SOU.
20- Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou.
21- Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá.
22- Então, os discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se referia.
23- Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem ele amava;
24- a esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere.
25- Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?
26- Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
27- E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa.
28- Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto.
29- Pois, como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres.
30- Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite.

Introdução

‘Até tu Brutus” é uma frase imortalizada em nossa cultura quando queremos, de forma irônica, demonstrar surpresa com a ação de alguém! Geralmente essa frase é creditada ao grande General Romano, Júlio César. Júlio César havia sido proclamado Ditador Vitalício de Roma, porém cerca de 60 senadores, temendo uma possível tirania, tramaram o assassinato do general. Eles marcaram uma reunião no senado Romano e em meio a reunião cercaram o general e de repente todos começaram a apunhalar Júlio César, reza a lenda que em meio aos 60 senadores estava Marco Júnio Bruto, filho adotivo de Júlio César. Quando Júlio César viu seu filho ele, supostamente, havia proferido essa frase. “Até tu, Bruto, meu filho?”. Apesar de toda a romantização e representação dessa frase nesse contexto, a verdade é que Júlio César nunca disse isso, essa frase é uma criação de William Shakespeare, na Tragédia de Júlio César, escrita em 1599.
Enfim, a frase pegou, está aí e é usada até hoje simbolizando essa surpresa em relação a algo que acontece, mais no sentido de ironia do que de “surpresa” propriamente dita.
O que isso tem a ver com nossa mensagem de hoje? Bem, ninguém espera ser traído ou gosta de ser traído. Geralmente quando pensamos em traição sempre temos em mente o contexto do casamento onde marido e mulher prometem serem fiéis um ao outro e a traição é exatamente o não cumprimento dessa promessa. É algo triste, doloroso e que traz consigo consequências sérias e desastrosas pra ambos os lados.
No entanto, não é somente no contexto do casamento que podem ocorrer traições, o caso de Júlio César é um exemplo claro, segundo o romance de Shakespeare foi o filho adotivo quem o havia traído, e essa foi a razão de seu espanto.
Podemos afirmar claramente que ele se sentia mal sim por estar sendo apunhalado pelos senadores, porém, ver o rosto do próprio filho em meio a multidão foio que o forçou a esboçar uma frase, foi o que lhe chamou a atenção, porque senadores que não tinham nenhum vínculo especial com ele o apunhalarem não seria considerado traição, porém um filho é bem diferente. E a traição está ligada à quebra dessa relação que existe entre as pessoas e a quebra de alguma promessa ou algum vínculo existente.
Pensando dessa forma, pode haver traição entre marido e mulher, irmãos, amigos, etc.

Judas Iscariotes

Judas Iscariotes fazia parte do grupo de apóstolos que o próprio Jesus escolheu seu nome é derivado, provavelmente, da aldeia de onde morava, veja:
Lucas 6.12–16 RA
12 Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. 13 E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor.
Havia a multidão que acompanhava Jesus, geralmente formada de pessoas da região onde Jesus estava passando.
Haviam os discípulos, seguidores regulares de Jesus, não sabemos contabilizar o número certo deles, mas eram muitos.
E haviam os apóstolos, aqueles escolhidos a dedo por Jesus e que faziam parte do círculo mais próximo de Jesus. Todos foram escolhidos por Jesus após uma noite de jejum e oração. Esse homens acompanhavam Jesus em praticamente tudo o que Jesus fazia. Aprendiam com Jesus, foram os homens escolhidos para eternizar os ensinamentos de Jesus. Judas era um desses.
Judas acompanhou Jesus desde o início. Ele estava presente em todos os ensinamentos que Jesus proferiu, ele viu as curas e milagres poderosos que Jesus realizou, acompanhou tudo o que os outros acompanharam. Porém, o evangelho de João já nos mostra um caráter bem suspeito nesse homem. Quando Jesus é ungido em Betânia, o texto diz que:
João 12.4–6 RA
4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: 5 Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? 6 Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava.
Veja que desde aqui João já nos informa que Judas era um ladrão. Sua aparente preocupação com os pobres não passava de fingimento e o texto inspirado nos informa isso.
Em Marcos somos informados que é Judas quem vai até as autoridades judaicas para entregar Jesus. E a partir do momento em que oferecem dinheiro a ele ele logo procura a ocasião certa para cometer seu terrível ato de traição.
Marcos 14.10–11 RA
10 E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes, para lhes entregar Jesus. 11 Eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe prometeram dinheiro; nesse meio tempo, buscava ele uma boa ocasião para o entregar.
Porque a traição é tida como terrível? Como já disse, só podemos falar de traição se houver uma relação de confiança! Não tem como, por exemplo, eu dizer que o frentista no posto de gasolina me traiu, eu não tenho vínculo algum com ele. Não existe proximidade entre nós. A traição é repugnante por se tratar dessa quebra de confiança e por se tratar dessa falsa mensagem de segurança. E podemos afirmar claramente que havia sim uma relação de vínculo próximo entre Judas e Jesus. Veja o texto que Jesus usa pra introduzir o contexto da traição de Judas. “Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar” (Vs. 18). A ideia aqui é daquele que, mastigando o pão que lhe foi dado, de repente começa a dar coices violentos em quem lhe deu aquele pão.
Jesus fala claramente do traidor
João 13.21 RA
21 Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá.
O texto aqui nos informa que Jesus angustiou-se. Isso deixa claro para nós o desconforto e a tristeza de Jesus ao declarar que havia um traidor entre eles. Até o momento Jesus vinha falando em enigmas, deixando a situação encoberta, agora, porém, ele fala abertamente, e detalhe, ele está triste. (O fato de Jesus falar abertamente mostra que tudo o que vai acontecer está sob o controle dele. Ele não é pego de surpresa quando Judas aparece com os soldados, antes, ele sabe do fim desde o começo, e tudo isso está acontecendo e cumprindo profecias do A.T.).
João 13.22 RA
22 Então, os discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se referia.
Assim que Jesus faz essa afirmação os discípulos começam a se olhar sem saber do que Jesus está dizendo. Até então Jesus só falara por enigmas e eles não haviam compreendido. Agora que Jesus coloca todas as cartas na mesa eles seguem sem entender. Mas, ainda assim, isso precisava ser dito a eles e por isso Jesus o faz.
João 13.23 RA
23 Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem ele amava;
Esse “Discípulo a quem Jesus amava” é o próprio João autor deste relato. Ele não cita a si mesmo pelo nome, ele quer que Cristo brilhe e não ele. A exemplo de João o Batista Jo 3.30, ele quer falar de Cristo e não de si mesmo. (Como as coisas seriam totalmente diferentes hoje em dia se os homens almejassem a glória de Deus ao invés de suas próprias glórias. Como seriam mais felizes se os homens promovessem o nome de Cristo e não o seu próprio nome).
João 13.24–25 RA
24 a esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere. 25 Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?
Pedro neste momento faz sinal a João para que João perguntasse ao Senhor quem era esse traidor. João num movimento para trás, deita-se no peito de Jesus e lhe faz a pergunta. (Vale mencionar aqui a diferença entre a cultura desse povo nessa época, e a nossa cultura hoje. Pra nós ocidentais é muito estranho homens terem contato físico entre si, na cultura oriental as coisas são bem diferentes, por isso não há problema algum em João se deitar “literalmente” no peito de Jesus para lhe fazer uma pergunta).
João 13.26 RA
26 Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
Segundo o teólogo Batista D.A. Carson: “Geralmente, em uma festa, o anfitrião (cuja função aqui é preenchida por Jesus) molhava em uma vasilha comum um pedaço saboroso que ele dava para um convidado como sinal de honra ou amizade. Esse pedaço Jesus passou para Judas Iscariotes”.
Veja como Jesus está lidando com Judas. Jesus sabe que Judas vai traí-lo. Jesus conhece o caráter de Judas. Ainda assim, na hora de homenagear alguém, na hora de fazer algo que denota honra ou amizade, Jesus não direciona isso a Pedro ou a João, ele faz isso a Judas. E Jesus não está sendo cínico ou irônico, Jesus faz isso com o coração e com verdade.
Por outro lado, imagine a cabeça de Judas com tudo isso!
Ele acabou de ver esse Jesus que ele está tramando traí-lo lavar-lhe os pés em um grande sinal de humildade.
Ele acabou de ouvir esse Jesus citar o salmo que fala sobre “Aquele que come do meu pão levantou o calcanhar contra mim”.
Ele acabou de ouvir esse Jesus de forma angustiada e triste afirmar, claramente, que um deles o trairia.
Ele acabou de receber das mãos de Jesus aquele pedaço saboroso de pão molhado em ervas especiais, como forma de honra e amizade.
É de se esperar que Judas vai cair aos prantos arrependido aos pés do Senhor Jesus pedindo perdão e desistindo de sua má intenção! Porém, isso não acontece. Veja:
João 13.27 RA
27 E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa.
Repare que o texto é claro ao afirmar: “Após o bocado, imediatamente entrou nele Satanás”. Após esse vários indícios de amor, honra e amizade direcionados a Judas, ainda assim Judas se mostra irredutível em seu intento, e neste momento Satanás se apossa dele.
Aplicação: Você precisa tomar muito cuidado para que sua rebeldia, sua constante indiferença em reconhecer seu pecado e sua constante recusa em mudar naquelas áreas pecaminosas que o Senhor tem te dado a chance de mudar não criem ocasiões para que o diabo se aposse de você.
João 13.28–29 RA
28 Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto. 29 Pois, como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres.
É grande a probabilidade de que Jesus havia falado baixo para João quem era o traidor, isso explica o fato de que quando Jesus diz para Judas fazer rápido o que tinha de fazer, os discípulos ficarem sem entender onde Judas estava indo. O próprio João parece não compreender que o momento da traição de Judas se daria naquela hora.
João 13.30 RA
30 Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite.
O texto termina com uma nota obscura. Judas logo sai, já é noite, nesse momento ficam no recinto somente Jesus e seus verdadeiros discípulos. Jesus vai proferir suas últimas palavras antes de morrer. Será seu último discurso e desta vez de portas fechadas, restrito apenas ao seu círculo mais íntimo de amigos.
Aplicações
A principal coisa que este texto nos ensina é o controle de Deus sobre todas as coisas. O Senhor sabia da conduta de Judas, O Senhor sabia do caráter de Judas e mesmo assim o escolheu. Estava nos planos de Deus que alguém deveria trair Jesus. Mas isso não significa dizer que Judas então não tinha escolha, já que isso era plano de Deus? De forma nenhuma. Deus não pegou um homem bom, de caráter ilibado e fez com que esse homem, contra a sua vontade, traísse Jesus. Judas era ladrão desde o início. Judas seguiu Jesus por achar que receberia algo em troca, quando percebeu que a coisa não era como ele pensou ele resolver correr pra onde dava mais lucro! Porque você tem seguido Jesus? O que te motiva?
As pessoas nos decepcionarão! As maiores frustrações das pessoas só acontecem porque as pessoas criam expectativas erradas! Isso significa então que não devemos confiar em ninguém e nem esperar nada de ninguém? De forma nenhuma! Veja Jesus. Foi Jesus quem escolheu Judas, foi Jesus quem apontou o dedo e disse “Você, me siga”. Mas o fato é, as expectativas de Jesus não estavam em Judas. Ou na fidelidade de qualquer outro apóstolo. Judas o traiu, Pedro o negou, ou outros que sobraram fugiram e e o deixaram sozinho e o que ele fez? Amou a todos e seguiu confiando em Deus. Então aprenda, as pessoas vão te decepcionar. As pessoas, mais cedo ou mais tarde, vão te fazer sofrer. Mas você não deve sair por aí reclamando pelos quatro canto do mundo, ou tampouco ficar sentado chorando pelos cantos, seja forte. Se levante, enxugue as lágrimas, balance a poeira e siga em frente, não se lamente, não se desespere. Confie em Deus.
Você vai decepcionar as outras pessoas! Se por um lado devemos lidar com a realidade de que nos decepcionaremos com os outros, por outro, precisamos viver com a realidade de que um dia estaremos na outra ponta da corda! Isso em mente nos ajuda a não acharmos que somos bons demais, evoluídos demais. E assim como ansiamos por perdão e misericórdia quando erramos e traímos os outros, devemos agir com o mesmo perdão e a mesma misericórdia quando somos traídos.
Não endureça o seu coração! Satanás entrou em Judas pelos tantos endurecimentos de coração de Judas. Se a palavra de Deus falou com você: Mude? Se a palavra de Deus tocou seu coração: Arrependa-se! Se a palavra de Deus te colocou contra a parede, peça perdão a Deus. Mas não dê lugar ao diabo. Pode ser um caminho sem volta. Lembre-se do fim de Judas!
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