Gênesis 3.1-7
Série expositiva no Livro de Gênesis • Sermon • Submitted
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· 85 viewsO homem se rebelou contra o senhorio de Deus, e as consequências foram ativadas à luz das ameaças contidas no pacto.
Notes
Transcript
“São estas as gerações ...” (Gênesis 10.1).
Gênesis 3.1-7
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
À luz de tudo o que foi visto no sermão anterior, o livro de Gênesis estabelece uma sequência entres os episódios da criação do cosmos, onde progressivamente o homem vai ser centralizado, fazendo com que a narrativa sirva de parâmetro ao relacionamento de Deus com o povo de Israel. Agora, no capítulo 3, iniciaremos o que parece ser uma quebra no fluxo, não do ponto de vista idealístico (o que sugeriria que os planos de Deus foram frustrados), mas em termos da perturbação do estado de perfeição estabelecido pelos textos anteriores que compreendem a perfeita harmonia do homem para com Deus em sua relação pactual.
Elucidação
Já ficou claro propósito da criação do homem de servir ao SENHOR no cuidado da criação, razão que o define enquanto criado à imagem de YHWH, isto é, é a partir do respeito a supremacia de Deus e do cumprimento aos seus mandamentos (Gn 2.1-3; 15-17), que o homem viverá de maneira bem-aventurada e encontrará a satisfação e o fim de sua existência.
A partir da seção exposta, haveremos de constatar uma quebra nesse fluxo principiológico com a desobediência do homem às ordens do SENHOR, através da intromissão de um antagonista na narrativa (Cap. 3). Trata-se de uma nova seção, ou ato, mas que está intimamente ligado ao pontos trabalhados nos capítulos anteriores. Esta seção, é o marco que faz divisão entre a narrativa de Gênesis em seus primeiros capítulos, dando explicações para toda as ações e episódios que se seguem deste ponto em diante. Se Gênesis 1 e 2 apresentam Deus como o Criador e Senhor de todas as coisas, ao qual todas as criaturas devem obediência e adoração, conforme explica Raymond Dillard: “Gênesis 3 – 11 apresenta cada narrativa de modo a realçar o pecado e a rebelião das criaturas de Deus”.
O trecho que lemos, compreende então as primeiras cenas da queda do homem em pecado, ao ter desobedecido à ordem divina. É preciso compreender esse texto à luz de tudo aquilo que já foi trabalhado, para que se compreenda a profundidade daquilo que é narrado.
A ordem expressa de Deus ao homem em Gn 2.15-17, enfatiza dois aspectos, sendo todo o relacionamento entre o homem e Deus representado ou contido no segundo: 1) o homem foi criado para um fim específico: glorificar a Deus servindo-o guardando e cultivando o jardim. Ao permitir a entrada de um estranho e manter diálogo com ele, o homem estava assim quebrando esse compromisso, não reconhecendo a supremacia e autoridade do SENHOR Deus sobre si. É um ato de rebelião. 2) Tal ato é configurado ou consumado, quando ele nitidamente cobiça e come o fruto que lhe fora proibido. A aliança entre Deus e o homem consistia na observância de todos os princípios aqui expostos, sendo embasados nesta última ordem direta: “não coma do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mau”. Temos pelos menos três determinações a serem observadas pelo homem, desde Gn 2: a) O princípio sabático; b) a guarda e cultivo do jardim; e por fim e principalmente c) a proibição do fruto proibido. Esses aspectos ou princípios são relacionados como “princípio focal e geral da aliança da criação” e configura todo o quadro que estabelece o relacionamento de Deus com o homem.
O teste ao qual o homem foi submetido foi o de se submeter a excelência e soberania do seu Criador. Por outro lado, a proposta destilada por Satanás consiste em fazer brotar no coração do homem uma cobiça ou desejo de não somente se rebelar contra o SENHOR Deus, mas de ser “igual a Deus”, isto é, soberano e independente.
A narrativa inicia-se com a intromissão de um personagem controverso no ambiente criado por Deus. Se no final do capítulo 2 tudo está em paz e em ordem – o homem está satisfeito por ter agora um auxiliadora correspondente; por agora poder operar de maneira perfeita para a glória e serviço do SENHOR – o adversativo conjuntivo que inicia o capítulo 3 (“ וְהַנָּחָשׁ֙... hb. trsl. “vehanarrash” = e a serpente)”, anexa e ao mesmo tempo contrasta os atos fazendo a transição de cenário e preparando o leitor para o fato por vir.
A serpente se interpõe no ambiente sagrado e de imediato estabelece uma conversa com a mulher. Walter Kaiser, analisando o caráter desse personagem sugere:
A serpente consistentemente falava por conta própria no diálogo com a mulher; não era representante de outra pessoa. Estava ciente do que Deus dissera; de fato, com seu próprio conhecimento, sabia as possíveis alternativas e eventualidades.
À luz dessa descrição entende-se que a proposta feita pela serpente à mulher fora orientada a fim de despertar nesta um sentimento que até então não lhe havia ocorrido: a insatisfação com a restrição do Criador. A resposta da mulher à serpente, se analisada com cuidado, reflete a falta de contentamento em obedecer a ordem do SENHOR Deus, quando adiciona algo ao mandamento. A adulteração do decreto indica que a intenção da serpente em fazer com a mulher se rebele contra seu Soberano está logrando êxito:
[A mulher] ficou ofendida com a limitação distorcida que a serpente atribuía a Deus e à liberdade restrita do primeiro casal. A serpente queria dizer que era grosseiramente injusto que Deus lhes negasse o privilégio de comer de alguma árvore do jardim.
É importante que nesse ponto se perceba que não se trata mais de uma simples insatisfação com a ordem de Deus, o sentimento que agora tenta adentrar o coração da mulher é a rebelião contra o SENHOR. O levante contra o Soberano parece ser uma via interessante, e é nisso que consiste o pecado aqui apresentado. Se todo o relacionamento entre Deus e o homem consistia na submissão deste àquele por meio dos princípios já destacados, resumidos na proibição à árvore do conhecimento do bem e do mal, comê-la nada mais é do que a quebra da aliança, a violação do pacto, o protesto contra a soberania de Deus sobre a criação, e por fim, a cobiça de ser “como Deus” (v. 5).
A essência do pecado é a rebeldia contra Deus. Não é simplesmente um mal moral, mas um mal moral com conotações religiosas. [...] Pecado, no Antigo Testamento, não é a perturbação do status quo da natureza ou uma aberração que destruiu a harmonia dos eventos no estado cósmico. É a violação da comunhão, a traição do amor de Deus e a revolta contra o seu senhorio.
É digno nota também a covardia e morosidade de Adão em proteger sua esposa e a criação como um todo da invasão do inimigo à propriedade do Rei. Adão estava presente durante toda a conversa, mantendo-se omisso àquela situação de perigo iminente. Porém, isso não deve ser encarado como passividade da parte de Adão, mas sim, como sua intenção em aquiescer à proposta da serpente. O homem, que ao invés de cumprir seu mandato de cultivar e guardar (Gn 2.15), abraça o lisonjeiro alvitre diabólico de se rebelar contra seu Suserano. O pecado bateu à porta do coração de Adão antes do de Eva.
O ser humano incorreu num levante proposto pela serpente. O que antes lhe trazia paz e propósito, agora lhe parece causar indignação, e assim, o pecado foi gerado em seu coração, e a motivação foi a de se tornar como Deus a fim de destroná-lo de seus corações. Contudo, é importante também destacar como o pecado veio a existir, isto é, que instrumento foi utilizado para tal.
Deus criou todas as coisas através de sua palavra, ao qual chama a existência aquilo que não existe, e também por meio da fala submete todas as coisas ao seu controle soberano. É a palavra de Deus que gera a vida, que ordena, que cria, que dá forma, e somente ela pode gerar tais efeitos. Frente a isso, o estratagema satânico é perverter as palavras do Criador, alterar sua forma, distorcer seu sentido. Se Deus cria e usa a linguagem para a vida e a ordem; Satanás a usa para trazer confusão e morte: “foi assim [que] disse Deus: “não comam de toda árvore do jardim?”. E aderindo ao comportamento diabólico, a mulher segue o mesmo caminho, adulterando o mandamento: “E disse a mulher à serpente:[...] disse Deus: “não comam dele e não toque nele...”.
Tudo aqui gira em torno daquilo que foi dito por Deus. Ser fiel ao dito do SENHOR significa estar submisso a sua vontade; amá-lo verdadeiramente guardando a aliança e suas estipulações. O contrário também é verdade: perverter, manchar, adulterar a palavra do Todo-poderoso significa desonrá-lo, ignorá-lo, rebelar-se contra ele.
Definindo o conceito de pecado, Ralph Smith o classifica da seguinte forma:
O pecado pode ser classificado de quatro maneiras: 1) pessoal, rebelião contra Deus; 2) moral, como desvio de uma norma externa; 3) monista, de alguma forma ligado à natureza física ou à condição de criatura do ser humano; e 4) dinâmico, em que o pecado é a transgressão de um tabu.
Em Gênesis 3.1-7 nós temos o pecado abarcando todas essas classificações, pois: a) o ser humano se rebelou contra o senhorio de Deus (“e serão como Deus” (v. 5)), e essa foi a principal motivação do seu ato; b) quebrou a aliança, o mandamento claro do senhor (“tomou-lhe do fruto e comeu e deu também a seu marido, e ele comeu” v. 6); c) se insatisfizeram contra a própria natureza, almejando serem algo mais do que aquilo que Deus os criou para ser (“e serão como Deus... ” (v.5); e d) fizeram pouco caso daquilo que foi estabelecido por Deus como sentença certa diante de uma transgressão (“É certo que não morrereis!”... (v. 4.).
Mais uma vez enfatizamos a centralidade da palavra como introdutora de ações, como é claro nesses três primeiros capítulos do livro de Gênesis. No capítulo 1, a palavra de Deus cria e dá vida a todas as coisas. No capítulo 2, é a palavra do SENHOR que estabelece a aliança que é o meio relacional entre Criador e criatura. No capítulo 3, por não atentar às palavras do SENHOR, e dar ouvidos a distorções (“É assim que Deus disse...” v.1) e até a tentativa de desacreditá-la (“É certo que não morrereis!” v. 4) que o homem cai de seu estado de harmonia e comunhão com o Criador.
A primeira consequência da rebelião do homem é demonstrada imediatamente após terem inflado seu coração contra o SENHOR Deus: “e, percebendo que estavam nus... (v.7)”. O constatador claro de sua alienação ao estado no qual foram criados, e dessa forma, da relação com Deus, é a humilhação e descaracterização do homem enquanto ser portador da imagem do Criador. Aquilo que lhe conferia dignidade ímpar e peculiar tornando-o apto estar na presença do próprio Rei, fora desfigurado e manchado, lhe sobrando apenas vergonha e vexame. Agora são conhecedores do bem e do mal, mas de maneira experimental, o que os lega a uma condição de distância com o SENHOR.
Toda a Escritura aponta para esse episódio como os primeiros passos da humanidade, que infelizmente, são marcados pela insurreição do homem contra seu Criador e Rei. A apresentação da serpente, como antagonista ou inimigo de Deus, é feita por exemplo também no último livro do cânon, Apocalipse 12.9: “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e satanás, o sedutor de todo o mundo”. “Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás ...” (Ap 20.2). “O príncipe da potestade dos ares, a antiga serpente que é o Diabo e Satanás, se envolveu em uma campanha cósmica para derrubar o Senhor do mundo, tirar de Deus Pai aquilo que, por direito, pertence somente a Ele”.
O opositor se apresenta na narrativa bíblica. Aquele que lutará contra os servos de Deus é caracterizado por tentar os homens, agora portadores da corrupção do pecado, a se afundarem cada vez mais em seu estado (agora natural) de rebelião contra o SENHOR. O que temos nesse relato do livro de Gênesis, é o estado pressuposto pela Escritura de todo homem após o lapso de Adão e Eva. Como realidade perene ao homem, todo Texto Sagrado se desenvolverá a partir dessa tensão criada no referido texto, caminhando para um clímax que evidencia a provisão do SENHOR em salvar o homem do seu estado de queda e perdição em que caiu, por ignorar as palavras do Criador quebrando seus mandamentos e ignorando sua aliança.
Explicando a “omissão” de Adão, o texto sagrado salienta nas palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: “E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (ITm 2.14). À luz do cânon, o homem pecou cobiçando a posição de “deus de sua própria vida”, e senhor sobre si. A rebelião do homem foi ativa.
No livro do profeta Oséias, há um comparativo feito entre Israel, que pecou contra o SENHOR, se “portando rebelde” (Os 6.7). A queda de Adão é não somente tomado como fato histórico, mas também como parâmetro para o pecado no qual incorreu o povo.
À luz do relato de Gênesis 3.1-7, Israel, que caminhava para a terra prometida, deveria entender não somente a causa da maldade no mundo; do porquê de ter experimentado o cativeiro egípcio, mas de maneira enfática, deveria também entender quais as consequências de quebrar a aliança com o SENHOR, de forma que têm-se aqui não somente a narração de um evento, mas também o uso desse evento como advertência para que o povo se mantivesse fiel à aliança que Deus estabeleceu com eles.
A entrada do pecado no mundo ocorreu por meio da rebelião do primeiro casal contra Deus. Dessa forma, como também já mencionamos, a natureza mais básica do pecado é corromper as determinações do próprio Deus, desobedecendo-o: fazendo aquilo que foi proibido de fazer, ou não fazendo aquilo de foi ordenado fazer. O Catecismo Maior de Westminster, aplicando esse princípio hermenêutico explica que regras devem ser observadas para a boa compreensão por exemplo dos Dez Mandamentos:
Que onde um dever é prescrito, o pecado contrário é proibido; e onde um pecado é proibido, o dever contrário é prescrito; assim como onde uma Promessa está anexa, a ameaça contrária está inclusa; e onde uma ameaça está anexa a promessa contrária está inclusa.
Adão e Eva por sua vez incorreram em ambos os aspectos, quando não cuidaram de permanecer obedecendo e reconhecendo Deus como seu soberano, e assim, deixando de fazer o que lhes foi ordenado, e quando comeram do fruto que lhes tinha sido proibido.
A natureza do pecado então “é essencialmente a falha do homem em confiar em Deus, um ato ou estado de descrença, um afirmação de autonomia”.
Tradando da origem do pecado na raça humana, conforme declara esta seção analisada do texto de Gênesis, Louis Berkhof afirma:
Com respeito à origem do pecado na história da humanidade, a Bíblia ensina que ele teve início com a transgressão de Adão no paraíso e, portanto, com um ato perfeitamente voluntário da parte do homem. O tentador veio do mundo dos espíritos com a sugestão de que o homem, colocando-se em oposição a Deus, poderia tornar-se semelhante a Deus. Adão se rendeu à tentação e cometeu o primeiro pecado, comendo do fruto proibido. Mas a coisa não parou por aí, pois com esse primeiro pecado Adão passou a ser escravo do pecado. Esse pecado trouxe consigo corrupção permanente, corrupção que, dada a solidariedade da raça humana, teria efeito não somente sobre Adão, mas também sobre todos os seus descendentes. Como resultado da Queda, o pai da raça só pôde transmitir uma natureza depravada aos descendentes. Dessa fonte não santa o pecado flui numa corrente impura passando para todas as gerações de homens, corrompendo tudo e todos com que entra em contato.
Agora, o sentimento de rebelião e insurreição contra o senhorio do Criador será uma realidade presenta na natureza não somente de Adão, mas de toda a raça, em reflexo do ato hediondo que praticou contra a Coroa do universo.
Thomas Goodwin, um pastor puritano do século XVII (1600-1680), exemplifica a vileza do pecado em sua rebelião contra Deus dizendo que: “o conhecimento de um homem orgulhoso é o trono de Satanás em sua mente”. A arrogância e cobiça do homem o levaram a se tornar rebelde contra Deus e escravo do pecado, quando na proposta de Satanás, achou que poderia ser igual ao Criador (v. 6). Caiu em desgraça aquele que foi agraciado com a vida e presença constante do SENHOR.
A natureza do pecado revela-se ao homem: destrói sua comunhão com Deus na quebra da aliança; humilha-o e o sujeita a mazelas e vexame sem fim; desestabiliza sua relação com a criação e entre si; e por fim o faz morrer: é banido da presença graciosa e boa do Criador.
Transição
Somente através das palavras das Escrituras é possível descrever a malignidade do pecado. E somente através das Escrituras podemos entender suas implicações para nossas vidas. É nítido que a intenção do escritor de Gênesis nesse trecho, era mostrar o que acontece com aqueles que ignoram as palavras do SENHOR Deus: pecado, miséria e humilhação aguardam aqueles que se afastam do mandamento do Criador e de sua aliança. Porém há ainda outras considerações que devemos fazer em relação a aplicação desse texto à nossa vida:
Aplicações
1º Devemos nos manter alertas quanto às propostas do pecado, pois seu objetivo sempre será a quebra do pacto com Deus e da comunhão com ele.
O convite de Satanás foi envolvido numa distorção grotesca daquilo que falou o SENHOR ao homem. Como consequência de não ter atentado àquelas palavras conforme foram ditas, o homem se viu nu: despido de sua dignidade, de sua perfeição que o habilitava a estar na presença de Deus. Conosco não é diferente, o pecado agora presente dentro de nós, continua sendo usado pelo diabo como fraqueza que sempre pode ser usada para fazer com que nos rebelemos contra o SENHOR nosso Deus.
Entretanto, há uma palavra de esperança: Cristo Jesus é aquele que diferente de Adão, cumpriu as determinações do pacto, pois andou de acordo com a palavra do Pai, e sem vacilar, conquistou para nós a redenção e a restauração à comunhão com Deus. Agora, trazidos de volta ao colo do Pai, a luta contra o pecado continua, porém agora recebemos da parte do SENHOR forças para nos manter atentos e firmes em obediência a Deus. É nossa união com Cristo que garante uma relação reconstruída com Deus, e por isso, nosso dever é lutar contra toda e qualquer proposta diabólica que tente furtar de nós esse relacionamento maravilho que temos com nosso Deus.
2º Devemos lutar contra toda proposta que nos insurja contra o SENHOR, e entender que essa sempre será basicamente toda a tentativa do diabo que será feita a nós.
“Sereis como Deus”, o veneno da Serpente e de seus filhos ainda tem o mesmo teor e o mesmo efeito. A falta de contentamento, o desejo de ver-se livre de qualquer submissão às ordens do Criador, são artimanhas que não podem ser ignoradas por nós, pois é exatamente isso que deseja fazer o coração corrupto dos homens. Lembremo-nos que o pecado agora habita o nosso coração, ou seja, já há dentro de nós uma inclinação natural a sermos rebeldes contra o SENHOR. Por isso, devemos desconfiar sempre de nossas intenções, voltando-nos sempre aquilo que a Escritura Sagrada diz sobre qual é a vontade de Deus.
O pecado de Adão foi exatamente ter abandonado as palavra do SENHOR, que lhe traziam vida, virando-se cobiçosamente para a realização do seu desejo que foi ardilosamente orientado contra o Criador pelo diabo. Nosso dever como agentes do Reino de Deus e regenerados pela obra de Cristo no Espírito, é evitar que a cobiça dentro de nós cresça a tal ponto de nos levar achar que poderemos usufruir de algum bem-estar desobedecendo o SENHOR: o exemplo de Adão nos mostra claramente que não.
E não nos enganemos, ainda que estejamos agora a salvos em Cristo, quebrar os mandamentos do SENHOR trará consequências e julgamento, ainda que não de maneira definitiva, de sorte que percamos a salvação ou sejamos banidos outra vez da presença de Deus, contudo, o Criador mantém seu rigor e exigência ao cumprimento de suas normas, que agora podem de fato ser cumpridas, em Cristo. Nosso Rei nos disciplinará, caso demos lugar as propostas rebeldes do pecado em nosso coração.
3º Longe da presença de Deus só a morte e humilhação; lembremo-nos disso todas as vezes que o pecado bater à porta de nosso coração.
Tudo que o homem encontrou quando quebrou a aliança foi maldição e morte. Veremos isso em mais detalhes na próxima seção do texto, mas já há uma boa introdução das consequências de ceder ao convite maligno de nos afastar do SENHOR: “viram que estavam nus” (v.7). Fomos criados para a glória de Deus e seu serviço, longe disso, homens tornam-se tudo, menos de arautos da glória de Deus. É isso que quer? Pense bem se vale a pena de fato deitar-se com outra mulher; consumir pornografia; mentir; desobedecer aos pais, cada um desses e tantos outros comportamentos não demonstram outra coisa senão a degeneração do coração do homem, e isso o levará a ruína de todas as formas, sendo a mais grave: o afastamento da presença de Deus.
A vida está em Cristo Jesus, em seu pacto com Deus no qual fomos beneficiados graciosamente com a restauração de nossa alienação de Deus, como já abordamos. Devemos então entender que somente em Cristo pode haver algo de bom para desfrutarmos, somente nele podemos estar inteiramente convictos de que estaremos felizes e satisfeitos. O mundo e o diabo oferecerão sempre propostas que parecem “boas para comer, agradável aos olhos e desejável”, mas no fim, o abismo ao aguardará. Lembre-se então: o pacto lhe garante vida; o pecado, morte.
Conclusão
Assim como Israel, devemos entender que o pecado implica diretamente na quebra da aliança, o que imediatamente provocará a ativação das maldições que estão contidas na promessa feita por Deu a Adão: “no dia em comeres, certamente morrerás”. Não há alternativa ou uma terceira via. Graças, porém, a Deus por Cristo Jesus, que em nosso lugar cumpriu o pacto das obras e nos garantiu vínculo perpétuo ao pacto da graça, livrando-nos assim da derradeira sentença de morte sob a qual estávamos.
Louvemos, pois, ao SENHOR que mudou nossa sorte, trazendo-nos da morte para a vida.