Sermão em Mateus 18.21-35: LIÇÕES SOBRE O PERDÃO

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INTRODUÇÃO

No capítulo dezoito de Mateus, a partir do versículo quinze, Jesus ensina aos seus discípulos como lidar com a ofensa de um irmão que pecou. O assunto ali era a disciplina eclesiástica.
Diante das palavras de Cristo, Pedro tem uma dúvida: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?”
O que Pedro está dizendo é: se um irmão errar eu devo perdoar. Mas até quando? Os rabinos ensinavam o perdão de maneira limitada. Eles diziam que deviam perdoar alguém até três vezes. Desta forma, Pedro ia além, ele devia presumir que estava sendo generoso.
A resposta de Jesus à esta pergunta não pode ser lida de forma literal. Jesus disse: “Não até sete, mas até setenta vezes sete”. Em outras palavras, Jesus dizia: você deve perdoar alguém sempre.
A partir de então Jesus conta uma parábola que exprime a ideia de que movido pela gratidão, todo servo tem o dever de perdoar a todos assim como Deus o perdoou de uma dívida impagável.
Esta parábola pode ser dividida de duas formas, vejamos:

I: O QUE DEUS FEZ POR NÓS (23-27)

Identificando as personagens
Rei = Deus, a quem todos devem prestar contas.
Servos = os crentes
Dívida = pecados
Uma dívida impagável
Exposição
“uma enorme quantidade de prata […] não tinha condições de pagar” (24,25)
A versão corrigida, traduzindo de maneira mais literal, diz que este servo devia 10 mil talentos.
1 talento equivalia a 6 mil diárias de um trabalhador comum. Como este servo devia 10 mil talentos, logo, sua dívida era o equivalente a 60 milhões de dias trabalhados.
Todos os impostos da Judeia, Pereia, Samaria e Galileia durante um ano somavam 800 talentos. Dez mil talentos representavam todos os impostos da nação por treze anos.
Jesus estava usando uma hipérbole para expressar uma dívida impagável. Apenas para ilustrar a magnitude da dívida, Herodes antipas recebia cerca de 200 talentos por ano.
A venda da família para quitar a dívida
Exposição
“…o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida” (25)
Jesus recorre provavelmente a costumes pagãos, pois um israelita não poderia ser vendido para saudação de dívidas.
O texto em questão também não ensina que Deus cobra de outros pelo erro de um. A questão aqui é levantada por dois motivos: (1) era um costume antigo, ainda que pagão, venda por escravidão para quitação de débito; (2) reforçar a ideia de que era uma dívida que precisava ser paga.
A atitude do servo
Exposição
“O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’” (26)
Obviamente o servo não tinha como pagar a dívida, mas, diante do aperto, ele tenta ganhar tempo.
A atitude do senhor
Exposição
“O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir” (27)
Não há melhor definição de perdão do que esta: cancelamento de dívida.
Três características do perdão:
Só é realizado por um coração compassivo.
O perdão liberta do aprisionamento.
O perdão deve ser total (Sl 103.12).
Síntese
A dívida do homem para com Deus era impagável, por isso, o Senhor enviou seu Filho para saudá-la.
Ilustração
Deus não é como um agiota que requer cada centavo pago e usa meios cruéis para atingir o objetivo. Também não é um banco que se utiliza de juros abusivos. Nesta toada, podemos dizer também que Deus não age como as instituições financeiras que negocia dívidas com parcelamentos e facilitamentos. Não. Deus não é assim. Ele é como um Pai que se compadece do sofrimento do filho, ainda que ele o mereça. Ele não negocia dívidas, Ele as cancela.
Aplicação
Antes de tudo é preciso ter consciência de sua dívida para com Deus (Rm 3.23). A consciência da dívida torna o coração mais humilde e faz o homem mais tolerante com o erro alheio.
Não adianta ter consciência da dívida para com Deus, é preciso saber que ela era impagável. Por sua graça, Deus enviou seu Filho para saudar nossa dívida que, fatalmente, nos condenaria ao Inferno.
Recapitulação e frase de ligação
Movido pela gratidão, todo servo tem o dever de perdoar a todos assim como Deus o perdoou de uma dívida impagável. Vimos até aqui o perdão de Deus para conosco. Agora veremos o que Deus espera que façamos pelo nosso próximo

II: O QUE DEVEMOS FAZER PELO PRÓXIMO (28-35)

Uma dívida irrisória
Exposição
“Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários” (28)
Um denário era equivalente a um dia de trabalho. Este conservo devia ao servo impiedoso uma dívida de 100 dias de trabalho. Se comparada à dívida do servo impiedoso (60 milhões de dias trabalhados), era uma dívida irrisória.
A atitude do servo impiedoso
Exposição
“Agarrou-o e começou a sufocá-lo dizendo: ‘Pague-me o que me deve!’” (28)
Parece que o servo impiedoso agarrou o seu conservo pelo gogó, haja vista que “começou a sufocá-lo”.
A atitude do conservo e a decisão final do servo impiedoso
Exposição
“Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’. Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida” (29,30)
As palavras do conservo ao servo impiedoso têm muita semelhança com as palavras deste para com o rei, porém com uma grande diferença: Esta era uma dívida que facilmente seria paga ao contrário da outra.
Apesar das palavras do conservo ser semelhante às palavras do servo impiedoso, a atitude deste é muito diferente da do rei. Enquanto o rei cancelou a dívida e deixou o servo impiedoso ir, este mandou que o seu conservo fosse lançado na prisão para que se pagasse a dívida.
A atitude final do Rei
Exposição
“Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia” (31-34)
Duas observações a serem feitas:
Onde não há perdão há tristeza. Muitas pessoas são amarguradas; carregam dentro de si tristeza profunda, muitas vezes pela falta de perdão. Os servos ficaram entristecidos porque a falta de perdão manchava a imagem benevolente do Rei.
A falta de perdão é uma ingratidão. Tendo em vista o grande perdão de Deus, a falta de clemência revela um coração ingrato. As palavras do rei devem soar aos nossos ouvidos como um alerta: “Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você?”
Desfecho
Exposição
“Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão” (35)
Pedro havia feito uma pergunta racional a Jesus: “quantas vezes deverei perdoar… Até sete vezes?” A parábola nos ensina que perdão não é uma questão de mente, e sim de coração. Não se trata de quantas vezes perdoar, mas de como perdoar.
A consequência lógica era que se os discípulos não perdoassem aos seus irmãos, também Deus não os perdoaria.
Síntese
Assim como Deus nos perdoou, devemos perdoar a todos quanto nos ofenderem.
Ilustração
O mundo nos ensina a pagar o mal com a mesma moeda. A razão disso é que o foco está em como as pessoas agem com você. Diante disto, o mundo nos ensina: trate-as conforme elas o trata. Para Deus não é assim que devemos pensar. O foco não deve estar em como as pessoas nos tratam, e sim em como Deus nos trata. Não é a medida dos homens que devem pautar nossas ações, mas o agir de Deus por nós.
Aplicação
Deus espera que perdoemos o próximo assim como Ele nos perdoou.
Não importa quem errou, o dever de reconciliar é sempre seu (Mt 5.23,24). Lembre-se que nós ofendemos a Deus, mas foi Ele quem providenciou a reconciliação.
Quanto mais meditamos no perdão de Deus e o entendemos, tanto mais estamos propensos a perdoar quem nos magoou.

CONCLUSÃO

Conforme aprendemos, o perdão não está limitado a números, não é uma questão de mente, mas de coração. O entendimento sobre nossa ofensa a Deus deve nos ajudar a ter um coração mais humilde e propenso a perdoar o nosso próximo. Nós temos uma dívida impagável para com Deus: fomos perdoados e libertos do sofrimento eterno. Diante disto, Deus espera que tenhamos a mesma atitude de compaixão que Ele, pois, doutra forma, não haverá espaço para nós em sua presença.
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