SANTIDADE
13 Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. 14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; 15 pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, 16 porque escrito está:
Sede santos, porque eu sou santo.
somente é possível desafiar pessoas para uma conduta consagrada se elas já renasceram antes. Contudo, se não o fizeram, decorre desse fato a obrigatoriedade de uma nova configuração de vida. Quem alcançou a fé precisa ser impreterivelmente instruído para também viver uma vida que corresponda à fé.
Para as pessoas do século 1°., um chamado para cingir-se não costumava envolver uma atividade ou um processo mental. A metáfora é baseada nas roupas que as pessoas do século 1°. costumavam usar. Tanto homens como mulheres tendiam a vestir longas túnicas esvoaçantes. Até mesmo os soldados costumavam usar esse tipo de vestimenta. Mas, quando chegava a hora de ir à batalha, as longas túnicas impediam os soldados de se movimentarem com agilidade, de modo que cingiam suas roupas no quadril. Eles as levantavam sobre os joelhos e as prendiam com um cinto, o que liberava suas pernas para correrem para a batalha. Pedro usa essa metáfora simples para desafiar seus leitores a prepararem a mente para reflexões profundas.
Primeiramente por meio de uma ligação clara com o Senhor como filhos da obediência. Vida santa começa pela obediência (cf. o comentário ao v. 2). Na obediência expressa-se o vínculo do ser humano com Deus. Por isso a fé está estreitamente ligada à obediência (Jo 3:36; Rm 1:5). Somente na obediência pode ser cumprido o chamado para ser filho de Deus e servo de Deus. “Filhos da obediência” é um linguajar semita. Significa algo como: pessoas que são cunhadas integralmente pela obediência. Assim como um “filho da morte” é determinado pela morte, um “filho da ira” é determinado pela ira (Ef 2:3),51 assim os “filhos da obediência” são marcados pela obediência. Quem deseja obedecer, tem de ouvir. Somente pelo ouvir e obedecer constituem-se a abertura para Deus e a disposição de sermos determinados por ele e instruídos para uma vida santa
2. A SANTIDADE DE DEUS. A palavra hebraica para “ser santo”, qadash, deriva da raiz qad, que significa cortar ou separar. É uma das palavras religiosas mais proeminentes do Antigo Testamento, e é aplicada primariamente a Deus. A mesma ideia é comunicada pelas palavras hagiazo e hagios, no Novo Testamento. Disso já se vê que não é correto pensar na santidade primariamente como uma qualidade moral ou religiosa, como geralmente se faz. Sua ideia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa.
a. Sua natureza. A ideia escriturística da santidade de Deus é dupla. Em sentido original denota que ele é absolutamente distinto de todas as suas criaturas, e é exaltado acima delas em majestade infinita. Assim entendida, a santidade de Deus é um dos seus atributos transcendentais e às vezes é mencionada como a sua perfeição central e suprema. Não parece próprio falar de um atributo de Deus como sendo mais central e mais fundamental que outro; mas, se isso fosse permissível, a ênfase da Escritura à santidade de Deus pareceria justificar a sua escolha. Contudo, é evidente que, nesse sentido da palavra, a santidade não é realmente um atributo moral, que possa ser coordenado com outros, como o amor, a graça e a misericórdia, mas é antes uma coisa de amplitude igual à de todos os predicados de Deus e a eles aplicável. Ele é santo em tudo aquilo que o revela, em sua graça e bondade como também em sua ira e justiça. Pode-se lhe chamar “majestade-santidade” de Deus e passagens como Êx 15.11; 1Sm 2.2; Is 57.15 e Os 11.9 se referem a ela. É essa santidade de Deus que Otto, em sua importante obra sobre o Santo (Das Heilige),30 considera como aquilo que é mais essencial em Deus, e que ele designa como “o numinoso”.31 Ele a considera como parte do não-racional em Deus, em que não se pode pensar conceitualmente, e que inclui ideias como “inacessibilidade absoluta” e “domínio absoluto” ou “majestade temível”. Desperta no homem um sentimento de nulidade absoluta, uma “consciência” ou “sentimento de condição de criatura” que leva a um autorrebaixamento absoluto.
Mas a santidade de Deus tem também um aspecto especificamente ético na Escritura, e é nesse seu aspecto que estamos mais interessados nessa conexão. A ideia ética da santidade divina não pode ser dissociada da ideia da majestade-santidade de Deus. Aquela desenvolve-se a partir desta. A ideia fundamental da santidade ética de Deus também é a de separação, mas, neste caso, a separação é do mal moral, isto é, do pecado. Em virtude da sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado, Jó 34.10; Hc 1.13. Empregada nesse sentido, a palavra “santidade” indica a pureza majestosa de Deus, ou a sua majestade ética. Mas a ideia de santidade não é meramente negativa (separação do pecado); tem igualmente um conteúdo positivo, a saber, o de excelência moral, ou perfeição ética. Se o homem reage à santidade majestosa de Deus com um sentimento de completa insignificância e temor, sua reação à santidade ética revela-se num senso de impureza, numa consciência de pecado, Is 6.5. Otto reconhece também esse elemento na santidade de Deus, embora acentue o outro, e a respeito da resposta a ele diz: “O simples temor, a simples necessidade de refúgio face ao ‘tremendum’, elevou-se aqui ao sentimento de que o homem, em sua condição de ‘profano’, não é digno de ficar na presença do Santo, e de que a sua inteira indignidade pessoal poderia contaminar até mesmo a própria santidade”.32 Esta santidade ética de Deus pode ser definida como a perfeição de Deus, em virtude da qual ele eternamente quer manter e mantém a sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas criaturas.
b. Sua manifestação. A santidade de Deus é revelada na lei moral implantada no coração do homem e que fala por meio da consciência e, mais particularmente, na revelação especial de Deus. Expressa-se proeminentemente na lei dada a Israel. Essa lei, em todos os seus aspectos, foi planejada para imprimir em Israel a ideia da santidade de Deus, e para levá-lo a sentir fortemente a necessidade de levar vida santa. A esse propósito atendem símbolos e tipos como a nação, a terra santa, a cidade santa, o lugar santo e o sacerdócio santo. Além disso, foi revelada na maneira como Deus recompensava a observância da lei e visitava os transgressores com terríveis punições. A suprema revelação da santidade de Deus foi dada em Jesus Cristo, que é chamado “o Santo e o Justo”, At 3.14. Ele refletiu em sua vida a perfeita santidade de Deus. Finalmente, a santidade de Deus é também revelada na Igreja como o corpo de Cristo. É um fato notável, para o qual muitas vezes se chama a atenção, que se atribui santidade a Deus com muito maior frequência no Antigo Testamento que no Novo, conquanto isto seja feito ocasionalmente no Novo Testamento, Jo 17.11; 1Pe 1.16; Ap 4.8; 6.10. Isso se deve provavelmente ao fato de que o Novo Testamento destina mais particularmente o termo para qualificar a terceira Pessoa da Trindade Santa como aquela cuja tarefa especial, na economia da redenção, consiste em comunicar santidade ao seu povo.
Apesar de serem esparsas, elas descrevem de maneira ampla a obra do Espírito Santo. Essa obra vai da santificação do eleito (1.2) e previsão do sofrimento de Cristo e “sobre as glórias que o seguiram” (1.11) até a orientação àqueles que “vos pregaram o evangelho” (1.12). O Espírito Santo não apenas assume um papel ativo na ressurreição de Cristo (3.18), como também, na forma de Espírito de glória, repousa sobre os cristãos que sofrem (4.14).