Eleitos e Forasteiros: a nossa identidade.

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Nós somos os eleitos de Deus e os forasteiros do mundo!

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Texto

Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos forasteiros da Diáspora no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, segundo a presciência de Deus Pai em santificação do Espírito para obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz sejam multiplicadas a você.

Introdução

Quem nós somos?

Quem nós somos? O que é a igreja? Quais marcas definem a nossa identidade? Essas são questões que precisam ser pensadas por todos nós. A resposta a estas perguntas moldarão a forma como vamos agir enquanto igreja.
Por exemplo: se somos apenas um grupo social, então vamos apenas fazer coisas para nós mesmos. Cultos para nós mesmos, reuniões para nós mesmos, eventos para nós mesmos.
Se somos uma instituição que visa a assistência social, então nossas atividades se voltarão para ajudar os mais favorecidos. Se somos uma empresa dentro do sistema capitalista, então nossas atividades devem ter como objetivo a obtenção do lucro.
Os irmãos conseguem perceber a lógica? Nossa forma de agir é determinada com base naquilo que entendemos ser a nossa identidade. Ocorre que todas essas coisas que mencionei acima podem ser feitas pela igreja, mas não apenas por ela. Atividades recreativas de um grupo social são feitas por quaisquer outros grupos sociais. Temos milhares de ONGs espalhadas pelo mundo que procuram dar assistência aos desfavorecidos. E enquanto empresas, bem… temos várias a nossa volta que querem apenas a obtenção de ganhos financeiros. Dessa forma, precisamos refletir sobre marcas únicas da igreja em relação a qualquer outra instituição do mundo. Quem nós somos? O que nos diferencia de qualquer outro ente desta terra?
Por isso, irmãos, que se faz necessário mais uma vez nos voltarmos a Escritura e procurar as respostas nela. É impressionante que, ao voltarmos a nossa atenção para a Palavra, veremos não só repostas as nossas dúvidas, mas também teremos vida e energia para nossos corações.
Dessa forma quero iniciar hoje uma série de exposições nesta epístola que fala tanto ao meu coração e espero que fale ao seu coração também. Para isso vejamos algumas informações de contexto:

Contexto

Pedro

Esta carta foi escrita pelo Apóstolo Pedro por volta do ano 64 d.C. Pedro se denomina assim, mesmo o seu nome sendo Simão, porque "Pedro" foi o nome dado por Jesus a ele (Cefas é o equivalente de Pedro no aramaico). Este nome refere-se ao caráter de Pedro, o qual se mostra de forma mais evidente na sua restauração após a ressurreição de Jesus (Jo 21 ). Se o Pedro anterior era impulsivo e inseguro, o Pedro restaurado falava com coragem e era firme como uma rocha.

apóstolo de Jesus Cristo

Pedro se identifica como apóstolo de Cristo Jesus. O termo apóstolo quer dizer enviado, mas aqui ele ganha um conceito maior. Ele se refere a um ofício dado diretamente pelo Senhor Jesus para edificação da Sua Igreja. Assim, Pedro se autodenomina apóstolo porque viu o Senhor Jesus ressurreto e foi escolhido por ele para ser junto com os outros 11, um dos fundamentos da igreja (Ef. 2.20 ). Ele, portanto, tem autoridade divina para escrever as igrejas de Cristo Jesus.

Diáspora no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia...

O apóstolo Pedro escreve esta espístola a uma série de igrejas que se encontravam em várias regiões as quais Pedro chama de dispersão (v. 1). Essas regiões cobrem grande parte da Ásia Menor, o que nos dias de hoje, corresponde a atual Turquia. Essas regiões eram províncias romanas. Provavelmente, Pedro direciona sua carta para lugares que não foram evangelizados pelo apóstolo Paulo.
As pessoas para quem Pedro escreveu estava em Jerusalém na descida do Pentecostes (At 2. 9, 41 ) . Se alguns continuaram em Jerusalém após esse episódio, é uma possibilidade. Mas é um fato que, após a perseguição lançada contra a igreja (At 8. 1 ) estes homens e mulheres se dispersaram para estas regiões. Eles agoram eram pessoas que estavam sofrendo por causa do evangelho.

Estrutura da Epístola

Quanto a estrutura, a epístola é composta por 5 capítulos e é organizada conforme a estruturadas demais epístolas do Novo Testamento com saudação, ação de Graças (1. 3-12); os assuntos principais; e saudações finais (5. 12-14).

Propósito da Epístola

É interessante observar que nestes 5 capítulos a temática do sofrimento está presente. Dessa forma, Pedro tem como objetivo encorajar estes cristãos a permanecerem firmes na esperança mesmo diante do sofrimento.
É possível trazer encorajamento a estes irmãos já na saudação? A resposta é sim. E, para isso, é possível destacar alguns termos pelos quais Pedro chama estes irmãos. Estes termos ajudam esta igreja em ver qual a sua identidade diante de Deus e diante da igreja. Assim, a pergunta que podemos utilizar como tema nesta mensagem é a seguinte:

Tema: Quem nós somos?

1. Nós somos eleitos pelos Deus trino

Em primeiro lugar, Nós somos od Eleitos pelo Deus trino.

Eleitos

Observe a palavra eleitos (ἐκλεκτοῖς)
no v. 1. Pedro usa esta palavra para qualificar os irmãos aos quais ele estava escrevendo.
Esta palavra aparece no 23 vezes em todo o Novo Testamento. Em algumas vezes ela se refere a Jesus como o “eleito”, o filho de Deus (Jo 1.34 ); porém, na maioria das vezes, esta palavra se refere ao povo de Deus como eleito. Veja, por exemplo, Rm 8. 33 (quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?)
No caso presente, a palavra eleitos se refere ao povo de Deus que estava nas regiões do Ponto, Galácia, Ásia e Bitínia. Pedro faz questão de enfatizar a estes irmãos que eles eram eleitos por Deus. Eles foram escolhidos por Ele. Isso, de imediato, deveria encorajá-los, pois o Deus Todo-Poderoso foi que os chamou para serem salvos.
Esta eleição possui sua base no Deus trino. Logos, estes irmãos não foram apenas eleitos, mas foram eleitos pelo Deus Trino. Assim, no v. 2 Pedro traz alguns aspectos dessa eleição ao falar do papel de cada uma das pessoas da trindade.

A origem da eleição: a presciência de Deus Pai

Primeiramente, Pedro fala da origem da eleição. Ela aconteceu “segundo a presciência de Deus Pai.” Foi o Pai que elegeu. Coube a Ele a função de escolher aqueles que seriam salvos.
A questão que surge aqui é acerca do significado do termo presciência. Duas posições surgem dessa questão: 1) Presciência é o ato pelo qual Deus simplesmente sabe o que vai acontecer no futuro, por isso, ele nos elege; 2) O propósito soberano de Deus pelo qual Ele não apenas sabe o que vai acontecer no futuro, ele determina o que ocorrerá com base nos seus decretos.
Este segundo sentido parece ser o mais adequado se formos olhar para esta palavra a luz de toda a Escritura. A palavra “presciência” (πρόγνωσις) aparece dessa mesma forma que está aqui apenas em Atos 2.23 referindo-se a morte de Cristo, a qual ocorreu “pelo determinado desígnio e presciência de Deus.” Quem fez este discurso em Atos foi o próprio Pedro. E aqui, ele mostra que a morte de Cristo estava ligada ao propósito eterno e soberano de Deus. Ele apenas viu que Cristo ia morrer. Ele determinou que assim fosse.
Assim, a presciência de Deus não é apenas um conhecimento prévio aqui, mas um conhecimento que visa uma certeza maior, uma segurança de olhar para algo e fazer deste algo o objeto que recebe uma ação.
Da mesma forma, Deus, pela sua soberania, nos escolheu para sermos o seu povo. Esta eleição não teve base naquilo que ele viu em nós, mas unicamente na sua soberania e no seu amor.

A forma da eleição: em santificação do Espírito

Tendo visto a origem da eleição, passamos a ver a sua forma. Conforme o v. 2 nos diz, ela ocorreu “em santificação no Espírito”.
O sentido dessa conjunção “em” é de instrumentalidade, ou seja, “através da santificação”. Isso mostra que Deus, ao nos eleger, não apenas faz uma escolha . Ele simplesmente não aponta o dedo e diz: “você é o meu escolhido agora”. Ele faz uma transformação na vida do eleito. Conforme o sentido da palavra santificação, ele separa o eleito, o consagrando para um determinado fim.
A santificação, portanto, possui tanto um caráter posicional quanto processual. Posicional porque quando Deus nos elege nós nos tornamos santos. Esta agora é a nossa posição diante de Deus: não somos agora pecadores culpáveis diante dEle, somos santos que o adoram.
Porém, a santificação também é processual. Ela é um processo que tem origem na nossa eleição, mas não termina nela. Aquele que é santificado por Deus passa a viver em novidade de vida. O eleito possui não apenas uma inclinação ao pecado, mas tem agora uma inclinação para as coisas do Espirito. Este Espirito Santo habita no eleito e o faz desejar o Reino de Deus e as coisas do Reino de Deus. O Espírito ajuda o eleito na sua luta diária contra o pecado. O Espírito o eleito para que possa falar acerca do evangelho. Em resumo, o Espírito auxilia o crente em sua santificação até o dia da ressurreição.
Este entedimento se alinha muito bem com outras partes da Escritura. Veja, por exemplo, 2Ts 2.13: “Entretanto devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.”
Observe que aqui, também o apóstolo Paulo alinha o conceito de eleição (Deus vos escolheu) com a santificação (pela santificação do Espírito). Assim, percebemos que a nossa eleição ocorre através da santificação efetuada pelo Espírito Santo.

O objetivo da eleição: obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo

Mas, além da origem da eleição (que é a presciência de Deus Pai), e a forma da eleição (que é a santificação do Espírito) temos também no v. 2 o objetivo desta eleição, a saber: obediência e aspersão do sangue de Cristo.

Aliança

Para entender o significado desta expressão, devemos recorrer a noção de Aliança no Antigo Testamento. Quem tem acompanhado os estudos da nossa EBD sabe que por aliança estamos nos referindo a “um pacto de sangue soberanamente administrado”. Deus se coloca em um compromisso solene com o seu povo. Esse compromisso é de vida e morte, e tem no sangue essa simbologia de vida.
Quando olhamos para o Antigo Testamento, observamos que todos os elementos da aliança apontavam para a obra de Cristo. Cristo efetuou um sacrifício perfeito. Ele se fez carne e habitou entre nós. Ele sentiu tudo o que um homem comum poderia sentir, mas não pecou. Ele experimentou a morte mais cruel e levou sobre si o castigo que deveria recair sobre nós. Cristo derramou o seu sangue porque como nos diz o autor de Hebreus “sem derramamento de sangue, não há remissão” Hb 9.22.
Este entendimento é reforçado pelo uso da expressão “Aspersão do sangue” (ῥαντισμὸν αἵματος): o que isso quer dizer? Aspersão aparece apenas nesta passagem e em Hb 12.24. O autor de Hebreus coloca Jesus como mediador da Aliança e a aspersão do seu sangue como algo que fala de coisas superiores.
Assim, no Antigo Testamento, a Lei do Senhor e a aspersão do sangue como apontavam para a santidade de Deus. Com isso, o povo deveria olhar para o compromisso firmado em aliança e obedecer a palavra de Deus. No Novo Testamento, observa-se que isso apontava para o sacrifício perfeito de Jesus. Por meio do seu sacrifício como cumprimento da Escritura, o povo de Deus deve olhar para o sacrifício de Cristo e perceber a santidade de Deus. Com isso, a igreja deve olhar para o compromisso firmado em aliança e obedecer a sua palavra.
É importante lembrar de um fato: Em Cristo Jesus, obedecemos a sua palavra. Amamos e, por isso, guardamos os seus mandamentos. Nâo obedecemos os mandamentos para sermos salvos. Nós somos salvos e, por isso, obedecemos aos seus mandamentos.

Aplicação

Tendo visto tudo isso acerca da eleição, precisamos nos perguntar: qual era a intenção de Pedro ao chamar os irmãos de eleitos? Olhando para os apectos da eleição, vemos que o objetivo era encorajá-los diante das dificuldades que eles enfrentavam. Considerando os sofrimentos que aqueles irmãos tinham, ao lembrar-se de que eram eleitos, eles poderiam continuar motivados em anunciar o evangelho.
Esta palavra também serve pra nós. Somos os eleitos de Deus. Somos a igreja do Senhor. E também passamos por períodos de sofrimento e angústia. É muito fácil em momentos assim nos sentirmos esquecidos, abandonados, desprezados por Deus. Mas devemos ter em mente este fato: somos eleitos pelo Deus Trino. Fazemos parte de uma obra grandiosa que envolve a 3 pessoas da trindade. Assim, devemos continuar firmes e inabaláveis na proclamação do evangelho. A eleição serve de consolo para nós.

2. Nós somos forasteiros do mundo

Porém, existe outro termo que pode ser destacado na saudação feita por Pedro a estas igrejas. Se a pergunta “Quem nós somos?” pode ser respondida pelo fato de sermos eleitos pelo Deus Trino, podemos ainda responder que nós somos forasteiros para o mundo.

Forasteiros

Observe agora a palavra “forasteiros” (παρεπιδήμοις). Esta palavra aparece 3 vezes no Novo Testamento, sendo que 2 são nesta epístola (1 Pe 1.2; 2.11). A terceira passagem é Hb 11.13, quando o autor de Hebreus fala sobre o fato de que os heróis da fé até Abraão ainda não tinham obtido as promessas, mas que criam nelas como estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Em todos os 3 casos a ideia é de alguém que está passando por uma determinada região. Um peregrino, um estrangeiro que está de passagem.

Diáspora: aspecto social

Este entendimento abrange 2 aspectos aqui: primeiro abrange um aspecto social. Para isso veja o termo diáspora. Este termo se refere aos judeus que haviam saído de Israel e assim estavam em diversas regiões. A palavra possui o sentido de “sementes dispersas”. Como se alguém tivesse jogado um punhado de sementes para o ar e estas sementes tivessem se espalhado por vários lugares. Além disso, esse aspecto social também abrange cristãos. Muitos tiveram que sair de Jerusalém (At 11.19) por causa da perseguição que veio após a morte de Estevão e, assim, deixaram sua residência para estarem em outras regiões como as apontadas por Pedro no v. 1 do primeiro capítulo de sua epístola. Assim, o termo diáspora aqui pode não apenas se referir ao judeus que vivem na terra dos gentios, como também aos cristãos.

Diáspora: aspecto teológico

Mas além do aspecto social, temos o aspecto teológico aqui também. Se considerarmos nossa eleição, conformes vimos no ponto anterior, todo cristão é um forasteiro. Esta terra para nós nada é da forma que está. Porém, ansiamos uma pátria superior. Queremos estar com o senhor na Nova Jerusalém. Nossa vida com Jesus é feliz aqui apesar das tribulações, mas sabemos que quando estivermos com ele na cidade santa tudo será infinitamente melhor.

Onde estamos? A Diáspora

Dessa forma, os cristãos estão agora em uma dispersão. Eles estão espalhados pelos diversos lugares do mundo, cumprindo a ordem do Senhor, mas sabendo que tudo que estava acontecendo era temporário e breve perto das bençãos perpétuas e eternas.

Aplicação

De que forma isso fala ao meu e ao seu coração? Da mesma forma que falou ao coração daqueles irmãos. Se somos forasteiros, peregrinos nesta terra, então não devemos colocar o foco da nossa vida em lamentar pelas tribulações que nos ocorrem. Elas acontecem, mas são passageiras, porque nós somos passageiros. O que acontece conosco hoje não durará para sempre. Cristo Jesus nos salvou e tem nos levado em direção a Nova Jerusalém.
Portanto, irmãos, nossa atenção se volta para a esperança do Novo Céu e Nova Terra. Uma leitura dessa carta revela que o tema da esperança é predominante nela. E assim deve ser um tema predominante na vida da igreja. Quando entendemos que somos peregrinos nesta terra, nossa esperança em Cristo aumenta.

Conclusão

Recapitulação

Vimos, portanto, meus irmãos, nesta noite acerca da nossa identidade enquanto igreja. Afinal, quem nós somos? E podemos ver nestes versículos dois aspectos da nossa identidade enquanto igreja: 1) Nós somos os eleitos de Deus; 2) Nós somos os forasteiros do mundo.

Aplicação

Este texto é uma saudação inicial de Pedro aos irmãos que estavam sofrendo. A forma como ele os chama (eleitos e forasteiros) já mostra aspectos que serviriam para fortalecê-los diante das provações. Além disso, a clara menção a Trindade, mostra a grandiosidade da obra redentiva da qual estes irmãos faziam parte. Eles deviam glorificar a Deus pela salvação em Cristo e, assim, se fortalecer diante das provações.
Da mesma forma que o povo daquela época, nós também somos eleitos pelo Deus Trino e forasteiros do mundo. Esta perspectiva deve fazer parte da nossa identidade como igreja, porque isso também nos ajudará a vencer as provações que temos em nossos dias.
Esta passagem nos aponta para Cristo na medida em que nossa eleição e nossa caminhada tem como objetivo mostrar a razão de Ele ter aspergido o seu sangue. Assim, nossos sofrimentos como igreja revelam o sofrimento de Cristo na cruz, e assim, apontam para o amor de Deus e o seu propósito em redimir um povo para si.
Meus, irmãos! Quem nós somos? Nós somos os eleitos de Deuse os forasteiros do mundo.
Sofremos? Sim. Estamos passando por lutas assim como todas as pessoas deste mundo, deste país, deste estado. Certamente? Então qual a nossa diferença para os outros? A diferença é que nossa identidade está no evangelho de Cristo Jesus. Nós somos os eleitos de Deus e os forasteiros do mundo. Que assim como os cristãos da dispersão, que todos nós sejamos motivados por estas palavras em nome de Jesus!
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