A parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20.1-16)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Está unicamente registrada no Evangelho de Mateus, o antigo cobrador de impostos. A parábola inicia explicando uma frase de Jesus no verso anterior (Mt 19.30). Essa frase dá o contexto e também encerra nossa perícope em Mt 20.16.
A questão é que os discípulos não deveriam se sentir especiais por terem deixado coisas para trás. Todos os que entraram no Reino fizeram isso - e todos receberão o mesmo pagamento: a vida eterna. Tanto os privilegiados nesse mundo como os que se entregam em sacrifícios voluntários, devem se precaver de uma inclinação mercantil para com Deus de exigir recompensas.
William Hendriksen nos lembra que:
Mateus, Volumes 1 e 2 19.16–30 O Perigo Das Riquezas e a Recompensa do Sacrifício

Os “primeiros” são aqueles que, em virtude de sua riqueza, educação, posição, prestígio, talentos, etc. são altamente considerados pelos homens em geral, às vezes até mesmo pelos filhos de Deus. Visto, porém, que Deus vê e conhece o coração, muitas dessas mesmas pessoas são por ele destinadas a uma posição de retaguarda em relação aos demais;

Muitos privilegiados desse mundo não entrarão no Reino de Deus, pois se apegaram a suas riquezas. Estes “primeiros”, os privilegiados, que perceberam que a única forma de serem salvos é através da pessoa e obra de Jesus Cristo são os que entrarão. Pobres e ricos podem ser os “últimos que serão os primeiros” somente através da fé em Cristo e, com isso, andarem em seus caminhos. Os últimos serão os primeiros, e muitos dos primeiros, os últimos.
A parábola a seguir, portanto, ilustra e elucida o dizer de Cristo em Mt 19.30, fazendo-nos compreendê-lo melhor.

Exposição.

Versículo 1 “dono de casa” - homem rico, dono de uma grande propriedade; provavelmente uma grande casa com sua imensa plantação de uvas (vinha), como de costume; “madrugada”- última vigília da noite entre três e seis horas. “assalariar” - sentido de contratar. Embora o proprietário dispusesse de empregados, como o administrador mencionado no verso 8, tal é o seu interesse pela vinha que ele mesmo sai bem cedo para contratar trabalhadores.
Versículo 2 “ajustado” - foi celebrado ali um acordo por um “denário” [<4g prata; original “dez”, equivalente a dez jumentos], o salário por um dia de trabalho de um soldado romano ou trabalhador braçal doméstico da época. Segundo John MacArthur, o valor para um trabalho diarista estava bastante generoso, visto que a média salarial desse tipo de trabalho era apenas uma fração disso. O acordo se deu meramente pelo interesse no salário generoso.
Versículo 3 “terceira hora” - ou 9h; “praça” do mercado - local onde homens ficavam à procura de trabalho. É provável que a vinha fosse muito grande, tendo em vista que o proprietário buscava por mais trabalhadores. Era comum a demanda por mais força de trabalho no período da colheita (final de setembro), visto que esta deveria acontecer antes do período chuvoso.
Versículo 4 “Ide vós” - imperativo, mas não necessariamente uma ordem. Dentro do sentido da frase, o dono da vinha acrescenta à ordem dos já contratados, porém, estes novos trabalhadores só atenderiam se concordassem com o pagamento (o que for justo). E eles foram. É importante notar que não há menção de acordo salarial aqui, apenas a confiança de que será pago o equivalente ao seu trabalho. Eles aproveitam a improvável mas feliz oportunidade de trabalho; Versículo 5 “sexta” (12h) e “nona” (15h) - Novamente o proprietário contratou pelo que seria justo, sem firmar valor, e eles acordam pela oportunidade de trabalhar embora seja tarde.
Versículos 6 e 7 “undécima” (17h) - quase o final do dia; eles estavam desocupados - não porque fossem vadios, pois o texto responde que ninguém os contratou. Claramente o texto aponta a perseverança desses homens em conseguir um trabalho para aquele dia. Não há barganha. A estes não é explicitado um acordo. Mas eles queriam uma oportunidade de trabalho. Assim, por ser o final do dia, o que viesse de pagamento seria bem-vindo.
Versículos 8 e 9 “ao entardecer” - cumprindo a piedade de um homem justo (Lc 10.7; Lv 19.13; Dt 24.14-15); não é certo, mas provavelmente Jesus esteja ligando sua parábola agora a ocasião que a desencadeou no verso 28, o dia da regeneração. Assim, o entardecer remeteria e a prestação de contas remetem ao dia do juízo; fora disso, alegorizar seria um caminho não intencionado pelo texto; “salário” - o pagamento referente ao trabalho; É curioso que a ordem seja de pagar os últimos primeiro. Para evitar quaisquer rumores com os trabalhadores contratados no início do dia, o dono da vinha poderia ter lhes pagado primeiro. No entanto, ele queria demonstrar algo - o que é a lição dessa parábola, conforme veremos; Ainda no verso, vemos, portanto, que o pagamento de um dia, um denário, pelo curto período de trabalho daqueles só pode ser explicado pela total generosidade do patrão. Não pagou por obrigação, mas por generosidade (utilizando-se de uma elipse, ele pagou a todos um denário).
Versículos 10 a 12 “pensaram” - não havia nada no acordo que remetia a isso. A expectativa deles era apenas fruto da observação; “murmuravam” [egogguzon - onomatopéia de reclamação] - o senso de justiça deles passou a ser comparativo e não pelo justo acordo feito mais cedo. Provavelmente já ficaram chateados de receberem por último, mas sua chateação agravou pelo fato de os companheiro terem recebido igual valor. Se ninguém mais tivesse sido contratado durante o dia eles não teriam murmurado em nada. Se mais pessoas não tivessem tido oportunidade de emprego, tudo estaria bem para eles. Acrescentando: se ninguém tivesse recebido oferta generosa também estaria tudo bem. Um denário para eles estaria totalmente suficiente. O problema foi os outros, que trabalharam menos, terem recebido igual. O problema foi o dono da vinha ter sido generoso - ou mais generoso com os outros do que com eles.
Mateus, Volumes 1 e 2 20.1–16 A Parábola Dos Trabalhadores na Vinha

Por tal insatisfação, porém, estavam para ser repreendidos, tendo seu pecado um tríplice aspecto: a. o espírito mercantil que os caracterizara desde o início; b. seu fracasso em reconhecer os direitos do proprietário; e c. sua repugnante inveja. Observe que exatamente nessa ordem é agora exposta essa tríplice raiz da infelicidade deles:

Versículos 13 a 16 “injustiça” - foi pago o justo exatamente porque aquele pagamento nasceu de um acordo. (a) o combinado foi realizado. Trabalharam pelo salário, o salário foi pago; “quero” - está evidente aqui que o pagamento dos demais trabalhadores foi o justo pagamento do dia mais a generosidade do patrão e igualar-lhes os salário daquele dia. (b) era de se reconhecer que é direito do proprietário fazer o que quer. “inveja” - (c) Ambos o trabalhadores precisavam de um denário para honrar seus compromissos familiares de comida e moradia. A indignação daqueles trabalhadores era exatamente porque se acharam dignos de generosidade. “últimos e primeiros” - assim, encerra-se a lição com a parábola. O objetivo de Jesus, com isso, não era reprovar os seus ouvintes, mas advertir. Não é uma palavra condenatória, mas uma parábola para fazer-lhes pensar sobre sua compreensão e atitudes sobre o Reino de Deus. O que Jesus queria que os “primeiros” e nós percebêssemos? Alegrem-se com o Senhor da vinha e em sua generosidade! Dessa forma, não trabalharão como mercenários espirituais, não murmurarão o direito de Deus de agir soberanamente, nem terão inveja daqueles que estão no Reino. Seremos trabalhadores muito mais produtivos para o reino.
Em Lc 13.30 essa frase é utilizada numa ilustração acerca da salvação, onde muitos familiarizados com Reino não fazem parte dele. Não se apressaram em adentrar em suas portas. Mas muitos vindos de locais distantes estão assentados ali com os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Embora vindo por último estão ali, enquanto os primeiros viram e não entraram. O alerta é: não esteja entre os primeiros que se tornarão os últimos. É melhor estar com o ladrão da cruz do que com Judas Iscariotes.
Aplicações
1. Deus é absolutamente o Dono de Tudo. A relação entre “o reino do céu” e “o senhor ou dono da casa”, sendo Aquele que soberanamente dispõe o destino dos homens (William Hendriksen). Dele é o direito sobre o Reino e toda a salvação é um dom gratuito dele. Ele tem o direito de exercer o bem generosamente com todo aquele que deseja, pois não está em dívida com ninguém.
2. Você pode olhar para algumas pessoas na Igreja e pensar que elas tem a primazia no reino dos céus, mas você está deixando coisas secundárias ofuscarem sua vista. Todos estaremos lá por causa da cruz. O pastor não está na sua frente, nem o mais rico. Todos teremos o mesmo “denário” da salvação, pago não como justo pagamento, mas como graça totalmente generosa. Trabalhemos todos com empenho ao nosso Senhor!
3. Do lado contrário, não pense que por você ser pobre, ou coisa semelhante, Deus está em dívida com você - e que sua segurança para a salvação está nisso. É certo que a Bíblia nos fala sobre o apreço que Deus tem pelo oprimido e que Ele mesmo trará justiça a todos os pequeninos que sofreram aflição dos poderosos deste mundo, mas não há salvação fora de Cristo. Não há salvação por pena, mas por misericórdia. Deus não te salva porque você é um “coitado”, mas porque você apesar de você ser um baita pecador ele não te dá o juízo que você merece, antes o colocou sobre Seu Filho Jesus Cristo. Toda justiça que te falta, ele imputa de Cristo para você.
4. Você, irmão, que porventura, acha que é imerecido o menor filho de Deus receber a mesma salvação que você, tome cuidado! Você está confundindo a religião cristã, o sagrado Evangelho do Senhor Jesus Cristo, com uma religião de salvação por obras ou de status. Lembre-se de que a quem muito é dado mais será cobrado. Você não tem uma situação mais favorável para requerer mais galardão, mas para servir. Tua condição favorável em relação ao mais desprotegido é servi-lo. Teu salário maior, tua capacidade de raciocínio, tua força braçal, tua capacidade de ouvir, teu tempo abundante, teu dom espiritual, todas são coisas que te tornam indesculpáveis em servir a tua comunidade. Para de nutrir inveja e espírito de vitimismo, percebe graça e serve. Quando tu ver as possibilidades de servir os que te cercam, você perceberá que o Reino não é sobre ti (Mt 20.20-28).
5. Não podemos cobrar de Deus lugar de destaque porque oramos mais, ofertamos e dizimamos mais, etc. Seu dízimo de R$ 500,00 para sua renda de R$ 20k não é em nada superior ao da dona Joaquina que oferta R$100 tendo uma renda de R$ 1k. Você que não quebra correntes de oração para receber bênção não é mais digno de salvação que o Sr. Antônio que não está em corrente nenhuma, mas ora ao seu Deus constantemente com gratidão. Você não será salvo por ser mais intelectualizado e “politizado” do que a dona Maria que, de forma simples, arruma seus filhos todo o final de semana e se alegra em Deus pela oportunidade de levá-lo para o culto e adorar a Deus. É a graça de Cristo unicamente que nos “recompensa” ao final do dia. Somos como que corredores que cruzam a linha de chegada ao mesmo tempo, igualando nossas posições: igualmente primeiros, igualmente últimos (como nos lembra J. MacArthur).
6. A parábola indica ainda a disposição que os cristãos devem ter no coração referente àqueles que se achegam no Reino: sempre de alegria pela demonstração da bondade de nosso Senhor! Se chegam depois, se chegam de situações totalmente distintas das nossas, alegria! Se eram caluniadores, mentirosos, viciados ou assassinos, traficantes, garotos ou garotas de programa, alegria! O Senhor chamou e lhes pagou com generosidade! Não há clubismo de maduros e neófitos na igreja. Ambos vivem numa teia de discipulado, trocando experiências e instruções em Cristo.
7. Você pode sofrer mais do que outros que virão. Você pode ter o sofrimento dos desbravadores. Na verdade, minha oração é que você agarre esse sofrimento alegre. Se alegre com a colheita, se você é semeador. Se alegre com o beneficiamento se você é coletor. O sofrimento apostólico e da igreja primitiva trazia a alegria de gerar para nós uma vida abundante em Cristo (2Co 4.6-5.10)
S.D.G
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*o problema com artigos que tratam sobre a justiça contratual para salários com base nessa parábola é que: verdadeiramente o proprietário foi justo, pois a justiça consistiu não no valor/preço, mas no cumprimento do acordo. Mas um aspecto sobre salário justo continua: com alguns grupos de trabalhadores ele garante pagar “o que for justo”, sem acordar valor. Nesse caso, o quanto é justo, visto não ter valor especificado. Para a frase ter sentido, é necessário ser justo cumprindo o acordo e pagando o “valor justo”.
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