O Espírito da Verdade
O Espírito da Verdade
Jesus, como Mediador, fará um pedido em benefício deles. Preferimos a tradução “eu solicitarei” à mais indefinida “eu orarei”. Visto que Jesus acabara de usar o verbo pedir ao falar das orações dos discípulos (veja as explicações dos v. 13 e 14) e, agora, muda para o verbo solicitar quando está pensando em sua própria oração em benefício deles, é óbvio que a mudança nos verbos foi intencional. Os discípulos não estão no mesmo nível do Filho Unigênito de Deus. Eles devem implorar, mas ele tem o direito de solicitar em termos de igualdade. Somente uma vez (1Jo 5.16) no Novo Testamento é usado o termo solicitar (ἐρωτάω) com respeito a petições que o homem dirige a Deus, e essa exceção é facilmente explicada. Por outro lado, ao falar de suas próprias orações, Jesus sempre usa solicitar, nunca pedir (αἰτέω)
Ele é outro Auxiliador, não um Auxiliador diferente. A palavra outro indica alguém como eu mesmo, que me substituirá, fará meu trabalho. Portanto, se Jesus é uma pessoa, o Espírito Santo deve também ser uma pessoa. Além do mais, em muitos textos lhe são atribuídos atributos pessoais (14.26; 15.26; At 15.28; Rm 8.26; 1Co 12.11; 1Tm 4.1; Ap 22.17). Sua relação com o Pai e o Filho é descrita como de um teor tal que indica que, se estes são pessoas, ele também deve ser uma pessoa (Mt 28.19; 1Co 12.4–6; 2Co 13.13; 1Pe 1.1–2).
Pela mesma razão, se Jesus é divino, o Espírito também deve ser divino. Isso também é ensinado ao longo de todo o Novo Testamento, para não dizer do Antigo. Dessa maneira, nomes divinos lhe são dados (At 5.4–5; 28.25; Hb 10.15–16); atributos divinos são atribuídos a ele, tais como eternidade, onipresença, onipotência, onisciência (1Co 2.10; 12.4–6; Hb 9.14); e obras divinas são pressupostas como sendo dele (Mt 12.18; Lc 4.18; Jo 14.16; 1Co 12.2–11; 2Ts 2.13; 1Pe 1.12). Passagens como Mateus 28.19 e 2 Coríntios 13.13 claramente indicam que as três pessoas são plenamente iguais. Uma mesma e única essência divina impregna todas elas.
Advogado, Ajudante, Intercessor, Consolador, Defensor. “A idéia de Advogado, Patrono, um que apela, argumenta, convence, numa grande controvérsia, que tanto fortalece como defende, vencendo ataques formidáveis, é a única idéia adequada” — Westcott
A LXX não usa paráklētos, embora outras duas versões do AT (A e Q) o usem para os “confortadores” de Jó.
O uso limitado do NT não provê qualquer impressão consistente. Em 1Jo 2.1 Cristo como paráklētos é claramente o “advogado” que representa o crente pecador no tribunal do Pai. Em Jo 16.7ss. a ideia de um julgamento está novamente presente, mas aqui o Espírito é o conselheiro do discípulo em relação ao mundo, e o contexto (16.7, 13ss.; 15.26; 14.16–17, 26) pode sugerir o amplo sentido de “ajudador”.
Quando Cristo testifica que o ofício peculiar do Espírito Santo é ensinar aos apóstolos o que já haviam aprendido de seus lábios, segue-se que o ensino externo será infrutífero e inútil se não for acompanhado pelo ensino do Espírito Santo. Portanto, Deus tem dois métodos de ensino: primeiro, ele nos faz ouvi-lo pelos lábios humanos; e, segundo, ele nos fala intimamente por seu Espírito; e ele faz isso ou no mesmo instante, ou em momentos distintos, conforme achar oportuno.
Ele denomina o Espírito de outro Consolador, em decorrência da diferença entre as bênçãos que obtemos de ambos. O ofício peculiar de Cristo era apaziguar a ira de Deus fazendo expiação pelos pecados do mundo, para redimir os homens da morte, granjear justiça e vida; e o ofício peculiar do Espírito é fazer-nos participantes não só de Cristo mesmo, mas de todas as bênçãos. E não deve haver impropriedade em inferir desta passagem a distinção de Pessoas, pois haveria alguma peculiaridade na qual o Espírito difere do Filho quanto a ser outro e não o Filho.
Aqui no versículo 18 a referência não é primariamente à segunda vinda, mas ao retorno de Cristo no Espírito no dia de Pentecostes. As razões para adotar esta posição são:
a. O contexto imediatamente precedente se refere ao derramamento do Espírito.
b. O mesmo ocorre no contexto seguinte.
c. Assim, só pode ser explicado que os discípulos não são deixados órfãos.
d. Na consumação dos tempos, Jesus virá ao mundo bem como à igreja. No Espírito, derramado no Pentecostes, ele escolhe como sua habitação apenas a igreja.
e. Um dos resultados da vinda citada aqui no versículo 18 é que os discípulos saberão que “eu estou em meu Pai, e vocês em mim, e eu em vocês.” O conhecimento da união íntima dos crentes com Cristo foi o fruto do Pentecostes: Romanos 6.3–11; 8.1; 12.5; 16.2,3,7,11–12–13; 1 Coríntios 1.30; 4.10,15,17; 7.39; 9.1; 11.11; 15.31,58; 16.19; etc.
Mas o amor do Pai não precede o nosso? Não é verdade que todo o nosso amor é apenas uma resposta ao seu amor? Não somente é verdade, é também exatamente o que o apóstolo João lembrou do ensino de Jesus (1 Jo 4.19). Mas por que o amor de Deus não pode tanto preceder quanto seguir ao nosso? Isso é exatamente o que ele faz, e esta é sua beleza: primeiro, ao preceder nosso amor, ele cria em nós um desejo ardente de guardar os preceitos de Cristo; depois, ao seguir nosso amor, ele nos recompensa por guardá-los! Nada jamais poderá ser mais glorioso do que esse arranjo!
Indubitavelmente, o conhecimento vem antes do amor, mas a intenção de Cristo era esta: Outorgarei aos que observarem minha doutrina com pureza que façam progresso na fé dia a dia”, isto é, “Farei com que se aproximem mais e mais familiarmente de mim.”