Mateus 1.18-25
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· 31 viewsMateus demonstra que Cristo é o cumprimento das profecias do Antigo Testamento através do nascimento virginal, o qual é operado apenas pelo poder de Deus, o que aponta para a chegada do Reino dos céus, e que a entrada nesse reino é concedida somente pelo próprio SENHOR sem que haja participação humana.
Notes
Transcript
Série expositiva no Evangelho de Mateus
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Mateus 1.18-25 – O nascimento de Jesus Cristo
Rev. Paulo Rodrigues
Introdução
À luz do que vimos no texto anterior (v. 1-17), Mateus está concentrado em demonstrar a chegada do Reino de Deus, através de Cristo Jesus. Para isso, o autor iniciou seu evangelho demonstrando como Cristo era o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, sobretudo, às promessas pactuais feitas a dois personagens especiais: Abraão e Davi.
Vimos também que na árvore genealógica do próprio redentor, está contida a mensagem de que o Reino de Deus não é deste mundo, e tampouco pode ser recebido por aqueles que confiam em seus próprios braços ou sua própria justiça, pois além de para nada servir aquilo que os homens fazem para se salvar (incorrendo em grande engano), a linhagem do Messias aponta para o modo como a salvação é recebida: pela fé no Ungido de Deus. Diversos personagens, incluindo o próprio Abraão, creram em Deus e no Salvador que haveria de ser enviado, e pela misericórdia de Deus através de seu Santo Espírito, foi lhes dado a fé para serem recebidos na família de Deus.
Hoje, veremos que não somente o Reino de Deus é chegado na pessoa de Jesus, mas também como Cristo veio a esse mundo, e como essa chegada fala para nós verdades preciosas sobre o Reino de Deus e a salvação que ele traz.
Elucidação
Logo após a genealogia que demarca a sequência histórica da promessa, nada é mais natural agora para o autor do que apontar para o nascimento do Messias como fato propriamente dito, mas não de maneira comum ou normal, e sim, como a maior revelação e intervenção de Deus na história. Mateus encerra sua genealogia, e inicia imediatamente a narrativa do nascimento de Cristo: o Deus da aliança está de fato com o seu povo... “Emmanuel!”.
A escolha de uma virgem da cidade de Belém aponta para como o SENHOR deseja trazer seu Filho ao mundo: sem qualquer intervenção ou ação humana que colaborasse para tal. Mateus destaca nos versos 18 a 20 que o nascimento de Cristo não foi por meio de geração ordinária, isto é, da junção de um homem à uma mulher, mas o Deus Triúno em seus eternos decretos, desejou que somente um homem puro, isto é, sem pecado, promovesse a salvação de seu povo. Por isso uma virgem é escolhida, para que a natureza pecaminosa do homem não fosse também transmitida a pessoa de Cristo, pois essa é a forma como o pecado é passado. Como afirma o Catecismo Maior de Westminster em sua pergunta 26: “Como o pecado original é transmitido de nossos primeiros pais à sua posteridade? O pecado original é transmitido de nossos primeiros pais à sua posteridade por geração natural, de maneira que todos os que assim procedem deles são concebidos e nascidos em pecado.
Porém, deveria ainda assim o nosso Redentor ser um homem como nós, para que pudesse se compadecer de nós, obedecer a Deus e garantir que por seus méritos, a salvação fosse plenamente adquirida para todo o seu povo. Se na eternidade, Deus havia determinado que a Segunda Pessoa da Trindade fosse o Cordeiro que tiraria o pecado do mundo, da mesma forma como foi prefigurado através das determinações da lei cerimonial que um cordeiro sem defeito deveria ser usado no ritual de purificação de pecados (cf. Nm 6.14), assim também o verdadeiro Cordeiro deveria vir ao mundo sem qualquer mácula ou mancha do pecado, e como um homem, contendo todas as características de tal.
Tudo isso é algo que claramente se mostra impossível aos homens, pois condenados a sofrer as penas dessa condição miserável que o pecado nos legou, jamais poderíamos nos mesmos providenciar um “cordeiro para o holocausto”. Dessa forma, as palavras de Abraão a seu filho Isaque, exibem o maravilhoso plano da redenção: “Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gn 22.8). O nascimento de Cristo é providencial para nós, pois é o resgate que aguardávamos. Da mesma forma que alguém que está se afogando, sente-se aliviado ao ver o resgate se aproximando, pois não pode fazer nada para salvar-se, assim também nós, com a vinda de Cristo, vemos as tribulações e angustias que o pecado nos causa terem um fim prometido, pois aquele que salva o povo dos seus pecados, veio para executar sua missão.
É dito a José que o ente que Maria carrega no ventre “é vindo da parte do Espírito Santo”. A obra trinitária é evidenciada pela vontade decretiva de que pelo poder do Espírito, Cristo iniciasse sua obra. Porém, a obra redentora do SENHOR Jesus não começa somente quando ele sobe a cruz para morrer por nós, mas todo o estado de humilhação ao qual ele deveria ser submetido inicia com sua própria encarnação. Assim pois, como foi o próprio Espírito Santo quem o guiou ao deserto para ser tentado (Mt 4) como parte de sua provação para ser o Sumo Sacerdote que se compadece de nossas dores (Hb 4.15), assim também é pelo mesmo Espírito, que Jesus é trazido a esse mundo.
Nos versos de 21 a 23, a evidência do cumprimento veterotestamentário novamente é trazida à baila por Mateus para corroborar sua tese. O nome do Messias é revelado em referência àquilo que fora profetizado por Isaías como sendo o ministério do Ungido de Deus: salvar seu povo dos seus pecados. É a junção das duas ideias dos nomes do Messias que apontam para sua identidade como a providência de Deus para resgatar seu povo. Em Isaías o nome do Messias é apenas descrito como “Emanuel”, porém, através de um comentário o evangelista anexa a ideia de “Deus conosco” à imagem formulada pelo anjo no anúncio do nome de Cristo “por que ele salvará o seu povo dos pecados deles” = “Jesus”. O Messias é vindo para cumprir a promessa pactual de Deus de estar com o seu povo, promovendo para isso a redenção deles dos seus pecados.
Devemos atentar para isso, irmãos, e ver que o propósito da salvação é muito maior do que as propostas vãs que falsos evangelhos que surgem todos os dias dão. O propósito da salvação não é simplesmente que vivamos uma vida abastada nesse mundo, pois se vivemos apenas para essa vida somos os mais miseráveis dos homens (1Co 15.19). Ou se achamos que o objetivo fundamental da salvação é apenas viver de “maneira correta”, como propõe o legalismo, também temos uma esperança vã, pois se nossa esperança não está num mundo recriado pela obra salvífica de Cristo, viveremos fadados ao cumprimento da Lei, que ao invés de nos salvar, nos condena por causa de nossa imperfeição em cumpri-la.
Dessa forma, nos é apresentado um plano muito maior do que as propostas infundadas da teologia da prosperidade ou do legalismo: a promessa realizada em Cristo Jesus, de que através de seu sacrifício o novo céu e nova terra virão, e é para onde estamos indo para que cumpra-se o que fora dito pelas Escrituras: “Emanuel!, Deus está conosco”.
Por fim, Mateus encerra esta ideia, trazendo de novo à luz o fato de que Cristo foi concebido sem qualquer ação ou intervenção do homem (v. 24 a 25). Crendo que o que estava acontecendo era algo celestial, muito maior do que ele, José casa-se com Maria mas não tem relações com ela, pois ficou evidente que homem algum tinha qualquer coisa a fazer senão receber a dádiva da salvação através daquele que Maria carregava em seu ventre. Não é apenas um respeito superficial ou fugaz de alguém que teme tocar algo que não lhe foi autorizado, e sim, a fé de que pela obra do Espírito tudo seria estabelecido de maneira que o nome do Deus Triúno fosse glorificado. José, ciente do peso da obra maravilhosa do Espírito de Deus em Maria, obedece, à semelhança de muito outros personagens que creram em Deus confiando em suas promessas e em seu agir, e dessa forma obtiveram o cumprimento da promessa evidenciado em suas vidas, como foi o caso de Abraão, que obedece as instruções de Deus por fé, e parte para uma terra desconhecida (Hb 11.8), por exemplo.
Transição
O plano da promessa de Deus em Cristo Jesus exibido por Mateus é demais para nós, isto é, está fora do nosso alcance qualquer ação que não seja aquela desencadeada em nós pelo próprio Espírito Santo, dando-nos fé para crer que Cristo Jesus veio em carne, e habitou entre nós, para nos salvar dos nossos pecados.
Aplicações
O texto do evangelho de Mateus nos mostra claramente como Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo (2 Co 5.19), em cumprimento a tudo aquilo que havia sido dito desde o Antigo Testamento, aos patriarcas e profetas. Cristo Jesus veio a esse mundo, sem que isso fosse efetuado pela vontade dos homens ou da carne, mas unicamente pela operação graciosa do Espírito Santo. Isso nos leva a refletirmos sobre alguns pontos do texto e como ele se aplica a nossas vidas:
1) A salvação pertence ao SENHOR e é operada apenas por ele.
O evangelho de Mateus no texto que lemos, é enfático em demonstrar que nossa salvação foi adquirida por Deus e para Deus. Está proposto para nós, seus filhos, que recebemos a salvação não por nossa vontade, mas unicamente pela vontade de Deus (Jo 1.13), a fé para crermos numa verdade muito simples, mas poderosa e que somente pode ser revelada pelo poder do Espírito: Cristo veio ao mundo em carne para nos salvar dos nossos pecados. Não há nada que possamos fazer em relação a salvação, pois na condição de pecadores, o plano superior de estar com Deus para sempre, nos era impossível.
Porém, como escreve o apóstolo Paulo: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.8-9). Nunca deixe passar por sua mente, um minuto sequer, que de alguma forma você era digno da dádiva maravilhosa da salvação, pois não era. Assim como nos mostra Mateus, desde a encarnação do Verbo, até sua ressurreição, tudo foi operado pelo poder de Deus, sem que o homem tenha qualquer participação, a não ser, a de receber essa bênção.
2) Por isso, seja grato com sua vida ao SENHOR.
Certamente tal texto nos chama a ajoelharmos diante do nosso Deus, e a agradecer todos os dias a Deus por este bem tão precioso que ele nos deu, sem que merecêssemos. A isto, chamamos ‘graça’: o favor imerecido de um superior para o inferior. Através disso, pense: “o que há em minha vida que seja digno de reclamações e murmurações, pois o maior bem que eu poderia receber eu obtive em Cristo: a salvação. O que demais pode acontecer a mim a fim de roubar minha gratidão ao SENHOR?”. Em reflexo a salvação que temos agora em Cristo Jesus, nossa vida torna-se um culto contínuo a Deus em louvor e reconhecimento de sua intervenção em nossa situação tão obscura. Antes éramos filhos da ira, agora, filhos de Deus. Antes padecíamos nas trevas, agora, fomos transferidos pelo resgate de Cristo, para o Reino de Deus. A gratidão e o contentamento que devemos ter em todas as circunstâncias do dia, é a nossa adoração a Deus por este bem precioso que nos foi dado. O que nos leva ao nosso terceiro ponto:
3) Confie em Deus, pois nós não podemos fazer nada sozinhos.
Às vistas do que foi dito até aqui, talvez alguém possa se sentir estimulado a pensar que diante das outras coisas dessa vida, nós podemos agir. Alguém pode pensar que mesmo que não pôde fazer o mais, tem condições de fazer o menos, e agir por contra própria nas coisas pequenas ocorrem em nossas vidas. A perspectiva de Mateus não é essa. O evangelista demonstra a ação divina sobre a salvação, demonstrando que o Reino de Deus alcança os pontos mais altos da nossa existência. Por isso, aquele que opera o mais, realiza também o menos.
Nos momentos de lutas e tribulações, devemos nos lembrar que a obra da salvação é maior do que a própria obra da criação. Portanto, aquele que nos salvou em Cristo, reina e governa todas as coisas também sem a ajuda do homem, isto é, Cristo também não precisa de nós para gerenciar nossa vida. O que nos leva a confiar nele, pois ele sabe o que é melhor para nós e certamente agirá em nosso socorro quando precisarmos, pois aquele que nos socorreu resgatando-nos dos nossos pecados, nos salvará das circunstâncias adversas que nos sobrevenham nessa vida.
Conclusão
Como disse acertadamente o professor Rev. Stefano Alves: “O nascimento de Cristo Jesus; sua encarnação, é a maior intervenção salvífica de Deus na história do seu povo”. Nada demonstra mais a ação exclusiva de Deus na história do seu povo eleito, do que o resgate que ele executou através do nascimento de Cristo Jesus.