Plantados pelo Senhor
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Introdução
Introdução
De todos os profetas do AT, Isaías é, sem sombra de dúvida, um dos mais famosos. Conhecido como profeta messiânico, seu nome significa “salvação do Senhor” e salvação é o tema central do seu livro. Grande parte de suas profecias fazem alusão à vinda do Messias, sua morte e sobre a redenção do povo de Deus.
Seu ministério ocorreu durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. Pregava contra os líderes hipócritas e idólatras que haviam levado o povo de Deus à ruína moral, e advertiu que Deus estava se preparando para julgar seu povo (os reinos de Israel e Judá) através da Assíria, potência mundial durante a vida do profeta.
Enquanto Isaías pregava a mensagem, o Senhor levantara outros profetas para alertarem o povo de seus pecados e trazê-los ao arrependimento, a saber: Amós e Oséias, no reino do Norte; Miquéias, no reino do Sul. Entretanto, Israel e Judá ficaram tão aquém dos ideais da aliança que Deus ordenou a Isaías que profetizasse para que o coração do povo fosse endurecido e o povo fosse julgado por Deus através do exílio (Is 6:9,10). Quando um povo esquece de Deus, a apostasia é inevitável, e o julgamento vem. Israel foi derrotado pelos assírios, ainda durante a vida de Isaías, enquanto Judá foi derrotado pelos babilônios, 100 anos após o fim de seu ministério.
Isaías não chegou a ver a ascensão dos babilônios no cenário mundial, mas, pela inspiração do Espírito Santo, profetizou a queda de Jerusalém pelas mãos da Babilônia e o exílio como julgamento pelos pecados cometidos pelo povo de Deus (Is 1-39). Porém, Isaías equilibrou sua mensagem de julgamento com palavras de esperança. As mensagens consistiam na benção da restauração após o exílio para o remanescente fiel, que deveria perseverar na busca ao Senhor aguardando a Nova Aliança (Is 40-66). Esse trecho do livro de Isaías é chamado pelos rabinos de “livro da consolação”.
Na passagem em exposição, Isaías trata com o remanescente que voltaria do exílio que seria iniciado 100 anos após o seu ministério fazendo alusão ao Ano do Jubileu (Lv 25:8-34), que acontecia a cada 50 anos. Nesse ano todas as dívidas eram canceladas, todos as terras eram devolvidas a seus proprietários originais, os escravos eram libertos e todos podiam recomeçar. Mesmo quando Deus envia o furor da sua ira, Ele ainda preserva seu remanescente fiel e lhe dá esperança. O texto trata do ministério do Messias, ungido pelo Espírito Santo no dia do seu batismo (Mt 3:16,17), como o próprio Senhor Jesus afirmou em Lc 4:17-21. Destaque-se que Cristo havia lido até o versículo 2a, que se tratava de sua primeira vinda. O trecho 2b-3 refere-se à segunda vinda, aguardando o cumprimento.
Cristo veio, no poder do Espírito (Lc 4:14), para trazer esperança ao seu povo, não apenas judeus, mas a todo o Israel de Deus. Aquele que crê nEle vive um “Ano do Jubileu” espiritual, vive o “ano aceitável do Senhor” (v.2a). Ele veio reconciliar com Deus Pai o homem pecador. Para entendermos porque Deus salva pecadores, precisamos entender qual é a condição do homem diante de Deus e como Cristo age na salvação do homem.
Exposição
Exposição
A condição do homem diante de Deus
A condição do homem diante de Deus
Isaías prega a mensagem aos exilados que seriam deportados para a Babilônia, por conta do juízo que Deus traria à Judá. Por inspiração divina, ele cita a condição do povo que viverá no exílio.
Estão quebrantados. Seriam 70 anos de exílio em terra estrangeira. O povo de Deus perderia a condição de povo soberano e passaria a servir os gentios. Jerusalém era a grande capital, o local onde o Templo estava, e por conseguinte, era o lugar que o próprio Deus habitava. Ser exilado e levado para longe de Jerusalém representava ser levado para longe da presença de Deus. Essa condição é figura do homem pecador, que por ter desobedecido a Deus, foi afastado de sua presença. Não existe ninguém justo diante de Deus (Rm 3:10-18), pois todos pecaram e carecem da sua glória (Rm 3:23). Desde a queda no Éden, o homem está privado da presença do Senhor, pois Ele É Santo e não tolera o pecado. O homem está condenado a uma eternidade longe da presença de Deus. A palavra hebraica traduzida por quebrantado, também pode significar esmagado, aflito, fraco, necessitado, arruinado. Creio que tais palavras descrevem muito bem o estado do homem após ser expulso da presença do Criador. Isaías declara: “4 Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás. 5 Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo. 6 Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo.” (Is 1.4–6).
Estão cativos. Os judeus seriam cativos em terra estrangeira. Não seriam mais uma nação independente. Foram deportados para a Babilônia e a grande maioria deles nunca mais veria Jerusalém novamente. Já foi explanado que o homem pecador foi condenado a ser expulso da presença de Deus, porém, a coisa só piora. O homem distante de Deus é escravo do pecado. Paulo explica: “14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. 15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. 16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. 18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. 19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. 20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. 21 Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. 22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; 23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. 24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.14–24). Quando Agostinho, um dos pais da igreja, considerou a pecaminosidade do homem, ele comentou que, ao criar Adão e Eva, Deus os fez posse peccare, que significa ter capacidade para pecar, e posse non peccare, que significa a capacidade para não pecar. Deus deu ao homem a ordem de não comer o fruto da árvore do bem e do mal, mas eles tinham a capacidade moral de obedecer. Ao pecarem, a raça humana perdeu o posse non peccare e herdou, em seu lugar, o non posse non peccare, ou seja, não temos mais a capacidade de não pecar. A partir daí, Deus deu a lei ao povo de Israel para lhes dar conhecimento do pecado, entretanto, para Lutero, Deus nos dá a lei a fim de mostrar a incapacidade do homem de obedecer, para quebrar o orgulho humano, provando que estão cativos e precisam de redenção. Longe de Deus estamos algemados. A Septuaginta traduziu a palavra hebraica traduzida como algemados para cegos, conforme se vê no evangelho de Lucas. Satanás cegou o entendimento dos incrédulos para que eles não possam ver a luz do evangelho (2Co 4:4), e assim eles continuarão se o Senhor não intervir.
Essa é a condição do homem, distante de Deus, condenado a viver escravo do pecado e ser condenado ao inferno eterno. Mas Deus, em sua misericórdia, deu ao homem uma esperança.
O ministério do Messias
O ministério do Messias
O remanescente fiel na Babilônia não precisaria perder as esperanças, pois mesmo quando declara a sua ira, Deus se lembra da sua misericórdia (Hc 3:2). O Verbo se fez carne (Jo 1:14) e, no poder do Espírito, veio trazer boas-novas àqueles que não tinham mais esperança.
O Messias se entrega pelo pecador. A palavra traduzida por enviou-me também pode significar entregar. Todos os homens são devedores diante de Deus e essa dívida é impagável, mas Deus perdoa a nossa dívida (Mt 18:23-27), porque Ele doou o seu próprio Filho para pagá-la em nosso lugar. Isso é o evangelho. Um povo rebelde, que quebrou a aliança com Deus, é punido de maneira justa e expulso de sua presença, condenado a padecer pela eternidade distante de Deus. Mas, ainda assim, Deus toma a iniciativa e prepara um escape para a humanidade, plano este que existe desde a eternidade (Ap 13:8). Aquilo que era impossível ao homem, Deus o fez por nós. Voltando ao texto de Rm 7:14-24, Paulo exclama: “Quem me livrará?”. Ele mesmo responde: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rm 7:25). É assim que Deus justifica pecadores, aplicando a eles a justiça de Cristo, o homem perfeito, de modo que quando Deus Pai olha para nós, vê o sangue derramado na cruz, para remissão dos nossos pecados e nos tornamos inocentes, podendo, assim, voltar a estar em sua presença. Continuando o argumento de Paulo: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Dessa maneira, o Senhor restaura o homem, antes esmagado, aflito, fraco, necessitado, arruinado, libertando-o da escravidão do pecado, para que viva novamente em comunhão com Deus. O Senhor libertaria os judeus do exílio e os traria de volta a Jerusalém, para sua presença, como sinal para o que Ele mesmo faria cerca de 500 anos após o retorno. Aqueles que antes estavam em luto, mortos em seus delitos e pecados (Ef 2:1), por causa do que Cristo fez receberão a coroa da vida (Ap 2:10) em vez de cinzas; serão ungidos com o óleo de alegria, pois foram salvos da condenação eterna, em vez de continuarem em pranto; receberão vestes de louvor, que demonstram a honra recebida por parte de Deus, e, assim, terão coragem para enfrentar o pecado e recomeçar, no poder do Espírito, em vez de continuarem com espírito angustiado. Há esperança para o pobre pecador!
O propósito da vinda do Messias. É o ano aceitável do Senhor. Ele faz tudo isso para que sejamos chamados carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor. Para entendermos isso, é bom destacar que em Is 42:3 diz: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega”. Novamente, esse texto remete ao ministério do Messias. Nós somos a cana quebrada e o pavio que fumega. Apesar de termos recebido o perdão dos nossos pecados, ainda pecamos. Mas, apesar de ainda falharmos, o Senhor não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega. Sempre haverá perdão e restauração para aqueles que, quebrantados, se arrependerem de seus pecados. Se o Senhor manda perdoarmos a ofensa de nosso irmão 70x7, quanto mais nosso Deus, longânimo e grande em amor, não nos perdoará? Richard Sibbes disse que nós somos comparados, quanto à nossa luta por uma vida de santidade, a coisas fracas: uma pomba entre as aves; uma videira entre as plantas; a carneiros entre as feras; a uma mulher, que é o vaso mais frágil. Pecamos, para mostrar que, a respeito de santidade, somos caniços, não carvalhos. Porém, quando se refere a justiça por meio da fé, está escrito carvalhos de justiça. Nesta árvore são encontradas sinais de tempestades que se abateram sobre ela, que padece com os efeitos das chuvas fortes. Porém quanto mais ele se sujeita às intempéries, mais fortalecido ele sai delas, pois suas raízes se arraigam ao solo a cada tempestade, seu tronco se revigora, e a possibilidade dele ser extraído do solo pelos temporais diminui drasticamente, até se tornar quase nula. Deu pra entender? Continuando o argumento de Paulo: “31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. 35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. 37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. 38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.31–39). Somos carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para sua glória. Por mais que possamos enfrentar intempéries em nossa vida que abalem nossa fé, por mais que possamos enfrentar momentos de tristeza e achar que Deus nos esqueceu no exílio, a Escritura mostra que somos carvalhos de justiça que exibem o esplendor de Deus. O Senhor é glorificado pela graciosidade e qualidade das obras que Ele faz em nós. Glória a Deus!
Aplicação
Aplicação
Devemos sempre lembrar do grande amor que Deus tem por seus filhos, pois um alto preço foi pago para nos declarar justos diante de Deus. Não fomos declarados justos para viver no pecado, pois “1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? 2 De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm 6.1–2). Fomos declarados justos para a glória de Deus, portanto, viva para a glória de Deus. Pregue o ano aceitável do Senhor, pois o dia da vingança do nosso Deus está para chegar e Ele mesmo disse: “A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo, quando resvalar o seu pé” (Dt 32.35). Naquele Grande Dia, os justificados por Deus, fiéis, que viveram para a glória de Deus irão viver para sempre com o Senhor. Já os ímpios, diz Davi, “serão lançados no inferno,
e todas as nações que se esquecem de Deus” (Sl 9.17).
Alegre-se em saber que você está seguro, mesmo que sua fé seja um pavio que fumega, o Senhor não apagará, mas reacenderá o fogo do Espírito, desde que você se arrependa. “8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. 9 Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. 10 Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4.7–10).