Em defesa da verdadeira Fe

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Assim como o corpo sem espirito esta morto, tambem a fe sem obras esta morta Tg. 2:26

Panorama Geral
Tiago, apresenta uma série de exortações e diversas admoestações que refletem uma ênfase ética, e não doutrinária. Ele parece dar a impressão de que está familiarizado com o evangelho oral de Jesus, mas não com os livros do Novo Testamento. “Não é possível demonstrar uma dependência literária com Mateus (e nem mesmo em Lucas ou João)”.
Se estivesse familiarizado com os relatos escritos do evangelho e com as epístolas, Tiago teria um enfoque mais teológico do que ético em sua epístola. É verdade que ele apresenta uma teologia, mas ela fica implícita, e não explícita. Tiago se baseia na pregação de Jesus, discute a questão da fé e das obras de maneira independente em relação aos ensinamentos de Paulo e escreve sobre a submissão a Deus de forma mais simples do que aquela apresentada por Pedro em suas epístolas.
Tiago não está citando, mas sim fazendo alusão aos evangelhos sinóticos. A escolha das palavras, a sintaxe e a estrutura das frases é diferente, de modo que se pode afirmar com segurança que Tiago se baseia na palavra falada e passa adiante alusões ao evangelho escrito.
Tendo por base essas numerosas alusões ao ensinamento de Jesus, podemos até dizer que Tiago tinha ouvido Jesus pregar em muitas ocasiões e, portanto, estava familiarizado com seus ensinamentos.
Introducao
Tiago está interessado em proclamar o evangelho de Cristo não tanto em termos de sua pessoa, mas em termos práticos e com aplicações éticas de seus ensinamentos.
O primeiro versiculo da Epístola de Tiago nos traz 2 informacoes extremamente valiosas,: quem estava escrevendo e para quem estava escrevendo.
A saudação (Tg. 1:1) enfatiza sua missão em vida (δοῦγος, doulos) ao invés de enfatizar sua posição (irmão do Salvador e líder dos santos).
A palavra grega doulos (escravo, servo) refere-se a uma posição de obediência completa, humildade absoluta e lealdade inabalável. A obediência era a tarefa, a humildade, a posição, e a lealdade, o relacionamento que um senhor esperava de um escravo… Não há maior atributo para o crente, que ser conhecido como servo de Jesus, obediente, humilde e leal.
Ela é dirigida às "doze tribos que se encontram na Dispersão" (Tg 1:1). As "doze tribos" poderiam ser:
1. Uma referência literal ao público predominantemente judaico (em oposição ao gentio)
2. Referência metafórica a todos os cristãos, incluindo gentios, como o "verdadeiro Israel."
As doze tribos referem-se aqui aos judeus cristãos (Tg. 2.1; 5.7,8) que possivelmente se converteram no Pentecostes e foram dispersos depois do martírio de Estêvão (At 8.1; 11.19). Por força ou por escolha, os judeus estavam vivendo por toda parte do Império Romano. Muitos deles vivendo em situacao de sofrimento e pobreza. (contexto judaico ensinava que a riqueza era sinal da bencao de Deus).
Ao longo de sua história, antiga e recente, a igreja de Jesus repetidamente teve de lutar contra a tentação de dois descaminhos opostos:
A opinião de que o “cristianismo” é uma “moral”, pela qual o ser humano poderia bastar a Deus, ao mundo e a si mesmo. Assim a grande mensagem dos feitos de Deus é colocada em segundo plano, modificada ou completamente descartada.
Por outro a idéia de que, na existência cristã, importam o pensar e o falar corretos. De qualquer modo Deus perdoaria tudo. O comportamento do ser humano poderia permanecer fora do foco de atenção.
Enquanto o apóstolo Paulo combate principalmente o primeiro descaminho e fala, p. ex. em Rm 1–8, em primeiro lugar do agir de Deus para a redenção e renovação do ser humano, Tiago está interessado singularmente no combate ao segundo erro: mostra como deve e pode ser a resposta do ser humano aos grandiosos feitos salvíficos de Deus.
Por assim dizer, Tiago começa a partir de Rm 12. Não fala diretamente a respeito de nossa conversão a Jesus Cristo, do perdão de nossa culpa e do nosso renascimento por meio do Espírito Santo. Ele pressupõe tudo isso. Importa-lhe que, como indivíduos e como igreja, também no cotidiano vivamos nossa existência cristã de acordo com o querer revelado de Deus que nos compromete.
A ênfase de Tiago acerca da importância de “obras” indica um problema entre seus leitores com respeito à sua vida de fé. Alguns de seus leitores estavam limitando a “fé” a mera profissão verbal (Tg. 2.19), e palavras encorajadoras mas despidas de amor (Tg. 2.15–16).
À parte dessa ideia errada de fé, também é possível que outros judeus crentes de tal modo se tivessem libertado do farisaísmo judaico (que baseava a salvação nas obras da lei) que não produziram qualquer boa obra.
Tiago tentou reparar este erro declarando que:
(1) eles estavam obrigados para com a lei de Cristo (cf. Gl 6.2);
(2) que a fé sem obras é morta, e
(3) que uma fé viva deveria ser caracterizada por obras de justiça que se conformam ao caráter de Deus.
Tiago não fornece uma base doutrinária extensa para sua exortação, como Paulo geralmente fazia; pressupondo a teoria, ele inicia a epístola com aplicações práticas e fornece o mínimo de argumento teológico onde necessário para apoiar as respostas que propõe para as provas que a vida real apresenta à fé.
Uma comparação entre Romanos 4 e Tiago 2 revela uma aparente semelhança na escolha das palavras fé e obras e na citação de Gênesis 15.6: “Abraão creu em Deus, e isto lhe foi imputado para justiça” (Rm 4.3; Tg 2.23). Qual é a relação entre a apresentação de Paulo da fé e das obras em Romanos e a de Tiago em sua epístola?
Alguns comentaristas afirmam que Tiago escreveu sua epístola para criticar os ensinamentos de Paulo sobre fé e obras. Dizem que Paulo foi mal-entendido pela igreja, pois separou os conceitos de fé e obras. Tiago via um perigo nos ensinamentos apresentados por Paulo, a saber, da fé sem obras. Assim, pelo fato de alguns cristãos terem interpretado incorretamente a frase sem obras, Tiago escreveu sua carta para reforçar o ensinamento de que a fé resulta em obras.
Na opinião de outros estudiosos, Tiago escreveu sua epístola antes de Paulo começar sua carreira como escritor, ou seja, depois que a Epístola de Tiago começou a circular na igreja primitiva, Paulo escreveu sua carta aos romanos para apresentar uma melhor compreensão do significado da fé sem obras.
Tanto Tiago quanto Paulo desenvolvem o tópico de fé e obras, cada um de sua própria perspectiva e cada um com seu propósito.
Em sua discussão sobre fé e obras, Tiago parece escrever de maneira independente da carta de Paulo aos romanos. Tiago aborda o assunto de um ponto de vista mais prático do que teológico. Com efeito, sua abordagem é simples, direta e conseqüente.
A discussão de Paulo representa um estágio avançado do ensinamento que relaciona a fé com as obras. Pelo fato de a abordagem de Tiago diferir bastante da de Paulo, concluímos que ele escreveu sua epístola independente do ensinamento de Paulo e talvez até antes da redação de Romanos.
Como será demonstrado na pericope que iremos ler Tg 2:14ss, esse trecho da carta contém uma controvérsia apenas aparente com a teologia do apóstolo Paulo.
Vamos dividir este trecho em 4 pontos:
1. Fé sem obras (Tg. 2.14–17)
Quando o escritor envolve o leitor de sua epístola na discussão e lhe faz perguntas, o leitor tem um papel real dentro de uma questão relevante. Essa questão é a fé.
Tiago começa propondo duas perguntas diretas que o leitor só pode responder de forma negativa. A fé sem obras é inútil para o homem, pois não pode dar-lhe a salvação. Isso significa que a fé não salva o ser humano? Paulo escreve: “Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4.5).
Paulo está dizendo uma coisa e Tiago outra? De forma alguma. Na verdade, Tiago observa um lado da moeda chamada fé, e Paulo, o outro. Em outras palavras, Tiago explica o lado ativo da fé, e Paulo, o lado passivo.
De certo modo, os escritores dizem a mesma coisa, mesmo encarando a fé por perspectivas diferentes. Paulo se dirige ao judeu que procura obter a salvação obedecendo à lei de Deus. Para ele, Paulo diz: “Não são as obras da lei, mas a fé em Cristo, que produz a salvação”. Tiago, pelo contrário, dirige seus comentários à pessoa que diz ter fé, mas não a coloca em prática.
Considere os seguintes pontos:
a. Fé sem obras. O que Tiago quer dizer com fé? Certamente não está se referindo a uma declaração doutrinária chamada de confissão de fé, como, por exemplo, o testemunho de que Jesus é Senhor (1Co 12.3). A diferença entre expressar-se fé numa confissão – recitando o Credo dos Apóstolos – e confessar nossa fé ativamente em palavras e obras é que a fé expressa numa confissão pode resultar apenas em concordância intelectual sem obras para confirmá-la. É isso que Tiago tem em mente quando pergunta: “De que vale, meus irmãos, se um homem afirma que tem fé, mas não tem nenhuma obra?”
A fé em Deus por meio de Jesus Cristo é uma certeza que flui de nosso coração, emana até nossa mente e é traduzida em obras. A fé vibrante, de palavras e obras, dita e realizada por amor a Deus e ao nosso próximo, é que nos salva.
b.(Tg. 2.15-16) Palavras sem obras. Para Tiago, fé e amor andam juntos. Ele usa uma ilustração clara para retratar não um estranho ou um próximo, mas um “irmão ou irmã”.
Esse irmão ou essa irmã no Senhor “pertencem à família da fé” (Gl 6.10) e voltam-se com expectativa para os membros da igreja em sua hora de necessidade. Tiago escreve que esse irmão ou irmã não tem roupas, isto é, está mal-vestido e carece do alimento cotidiano. A situação é desesperadora, especialmente no tempo de frio.
Qual é a resposta a essa necessidade?
Proferir apenas palavras vazias para os desesperados, mas recusar-se a ajudar, de que valerá essa pessoa dizer que tem fé?” As palavras são rebuscadas: “Vá, desejo-lhe tudo de bom”. Essa é a típica forma de despedida hebraica que aparece várias vezes nas Escrituras e nos apócrifos (Jz 18.6; 1Sm 1.17; 20.42; 29.7; 2Sm 15.9; 2Rs 5.19; Mc 5.34; Lc 7.50; At 16.36; Judite 8.35). A saudação é mais ou menos equivalente ao nosso até logo (N.T. – No inglês, “good-bye” – “God be with you”, “Deus esteja com você”).
Vejo a observação Vá, desejo-lhe tudo de bom resumida no ditado popular Deus ajuda a quem se ajuda, isto é, deixar que um irmão ou irmã com frio e faminto tire a si mesmo do buraco puxando pelos próprios cabelos. “Fique aquecido e bem alimentado”. Se o irmão ou irmã miserável se esforçasse, teria muita comida e roupas suficientes para vestir, e Deus os abençoaria.
Se essa pessoa não toma nenhuma atitude sobre as necessidades físicas de seu irmão ou irmã, de que vale a sua fé? Tiago dá a resposta no versículo seguinte.
c. (Tg.2.17) Fé que está morta. Por vezes, os cristãos proclamam o evangelho do Senhor sem ter qualquer consideração pelas necessidades físicas de seus ouvintes. Falam às pessoas sobre a salvação, mas parecem se esquecer de que os miseráveis precisam de roupas e comida a fim de que o evangelho se torne relevante. A menos que palavras e obras andem juntos, a menos que a pregação do evangelho seja acompanhada de um programa de ação social, a menos que a fé seja demonstrada por meio do cuidado amoroso e preocupação, ela está morta.
Para Tiago, a fé e as obras andam juntas e não podem ser separadas. Uma fé desprovida de obras não é autêntica e, portanto, difere completamente da fé que tem um compromisso com Cristo.
2. Fé, obras e credo (Tg. 2.18-19)
Tiago constrói cuidadosamente uma apresentação da fé e das obras. Começa com uma ilustração de um irmão ou irmã necessitado (vs. 15 a 17). Em seguida, interage com a pessoa que diz ter realizado muitas obras e que se apega ao credo (vs. 18 e 19). Finalmente, Tiago apresenta prova de que, historicamente, a fé e as ações sempre andam juntas (vs. 20 a 26).
Suponhamos que uma pessoa tenha apenas fé e a outra, apenas obras. Então, possivelmente, aquela que diz ter fé aproxima-se de Deus mais prontamente do que aquela cujo histórico mostra apenas obras. E, por causa dessa fé, a primeira pessoa considera-se superior à que não tem fé, mas obras.
Tiago recusa-se a aceitar a divisão entre fé e obras. A verdadeira fé não pode existir separada das obras, e obras agradáveis a Deus não podem ser realizadas sem verdadeira fé.
Tiago desafia o interlocutor: “Mostre-me sua fé sem obras e eu lhe mostro minha fé por meio daquilo que faço”, ou seja, Tiago quer ver que tipo de fé o interlocutor possui. Se a fé não está arraigada num coração que crê, então essa fé não passa de uma série de palavras vazias – é sem valor.
Apresentando mais um argumento, o interlocutor declara que a fé não é necessária. Ele defende a causa do Cristianismo prático. Argumenta que realizar boas obras é mais importante do que crer em uma determinada doutrina. Ele não percebe que suas chamadas obras de caridade não têm nada em comum com os gestos de gratidão nascidos do coração agradecido de um crente.
Tiago se dirige a todos aqueles que desejam separar a fé das obras. Ele os desafia a mostrar uma verdadeira fé sem obras ou obras sem fé e lhes diz que, em troca, ele mostrará sua fé por meio de sua conduta, ou seja, em tudo o que ele faz, a fé é o ingrediente principal.
Aqueles que falam, mas não agem, ouvirão Jesus dizer: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais iniqüidade” (v. 23). A fé sem obras está morta.
Nesse capítulo, Tiago se refere a dois tipos de fé: a verdadeira e a suposta. A primeira é característica do verdadeiro crente, que mostra sua fé por meio de obras e “de sua boa vida” (Tg 3.13). O segundo tipo é uma demonstração de ortodoxia morta, que não passa de uma série de declarações doutrinárias que refletem com exatidão os ensinamentos das Escrituras. Os judeus, por exemplo, recitam seu credo: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6.4), mas se a fé consiste no mero recitar das palavras conhecidas de um credo – apesar de essas palavras estarem todas nas Escrituras – ela se tornou um exercício intelectual vazio, que nada tem em comum com a fé que brota do coração.
Tiago chega ao cerne de sua ilustração. Diz: “Vocês crêem que há um só Deus? Ótimo! Até os demônios crêem nisso e estremecem”. Todavia, nenhum anjo caído pode apropriar-se da salvação por causa de fé fatual. Do mesmo modo, aquele que concorda apenas intelectualmente com a verdade escriturística, sem mostrar envolvimento com o Deus que professa, esse é desprovido da verdadeira fé. Sua fé não passa de imaginação. Está morta. Se uma pessoa tem apenas conhecimento de que Deus é um só e não possui nenhuma vivência de fé em Deus por meio de Jesus Cristo, ela é pior que os demônios. De acordo com Tiago, os demônios crêem e tremem.
A implicação disso é que, mesmo entre os demônios, prevalece a verdade doutrinária. Eles confessaram o nome de Cristo durante o ministério de Jesus (ver Mc 1.24; 5.7; Lc 4.34). Seu conhecimento do Filho de Deus os fez estremecer, mas esse conhecimento nao salva.
3. A fé de Abraão (Tg. 2.20–24)
Na última parte de sua discussão sobre fé e obras, Tiago se volta para as Escrituras a fim de mostrar que, historicamente, fé e obras são dois lados de uma mesma moeda.
A linguagem usada por Tiago está longe de ser elogiosa. Ele é direto! Ao dirigir-se a seu interlocutor: “Homem tolo!” O fato é que as palavras de Tiago são parecidas com o comentário coloquial e um tanto desdenhoso: “Tolo!” (Mt 5.22). Na realidade, Tiago está dizendo: “Você não tem base para a sua argumentação sobre fé e obras. Suas palavras são desprovidas de verdade, são infundadas”.
Se o homem está falando de fé, certamente precisa ir até as Escrituras para aprender o que Deus tem a dizer sobre esse assunto. Tiago se impacienta com o homem que está discutindo com ele. Repreende-o de maneira muito parecida com aquela com que Jesus corrigiu os dois homens a caminho de Emaús: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lc 24.25).
Tiago continua a reprová-lo: “Você quer provas?” Ele está dizendo: “Procure nas Escrituras e você descobrirá que a fé sem obras é morta.
Considere, por exemplo, Abraão, o pai dos crentes. Olhe a história de Raabe e veja como ela agiu pela fé”.
Sempre que um judeu discutia a questão da fé, acabava, invariavelmente voltando-se para a fé de Abraão. Nas escolas de rabinos judeus, na literatura do período intertestamental e no Novo Testamento, os judeus discutem sua fé tomando por base Abraão.
Na condição de judeu, escrevendo para cristãos judeus, Tiago tem liberdade de dizer “nosso antepassado, Abraão”. Ele não está, porém, defendendo a descendência física ou o orgulho de ser parte da raça judaica, mas enfatizando o conceito de justificação como resultado da fé. Abraão foi considerado justo aos olhos de Deus, porque confiou nele a ponto de preparar-se para sacrificar Isaque, o filho da promessa (Gn 22.2,9).
(Tg.2.22) Aqui, Tiago enfrenta seu oponente e abre as Escrituras do Antigo Testamento. Ele mostra o relato da fé de Abraão no altar do sacrifício (Gn 22) e diz: “Veja, aqui está a prova definitiva de que fé e obras andam juntas”. Fé e ação, portanto, são inseparáveis. Uma flui naturalmente da outra. As obras nascem da fé e a fé sustenta o crente em suas obras. Todos que ouvem ou lêem essas palavras de Tiago admitem, mais que depressa, que, no caso de Abraão, o pai dos crentes fez o que precisava tomando por base a fé.
Ao longo de sua vida, Abraão havia demonstrado certeza e confiança em Deus ao viajar para a terra prometida, esperar durante décadas por Isaque, seu filho prometido, e, finalmente, mostrou sua obediência por meio da disposição de sacrificá-lo. O teste maior não havia sido a viagem ou a espera, mas preparar o sacrifício de Isaque. Matar seu único filho significava que a promessa acabaria, mas, como resume o escritor de Hebreus, (Hb. 11.19).
Fé e obras não são idênticas, mas também não podem ser separadas uma da outra. São como a raiz e a planta, sempre juntas e ainda assim diferentes. Cada uma tem sua função e, apesar disso, as duas formam uma unidade.
Quanto à fé de Abraão, “isso foi atribuído a ele como justiça”. Podemos associar a expressão atribuído com o termo crédito no contexto bancário. O banco nos manda um sms informando que determinada quantia de dinheiro foi creditada em nossa conta.
Abraão trabalhou para merecer sua justificação, recebendo assim um crédito de Deus? Certamente que não! O crente não pode trabalhar para merecer sua própria justificação, pois suas obras, mesmo aquelas feitas por amor a Deus, são imperfeitas e incompletas.
Como, então, cumprem-se as Escrituras, conforme afirma Tiago? Deus não dá justificação ao homem por causa de seu conhecimento intelectual de Deus. Ele justifica o homem quando este confia plenamente em Deus, demonstra seu amor por Ele, ouve atentamente a Sua Palavra e age de acordo com ela.
Foi isso que Abraão fez quando, em fé e obediência, preparou-se para sacrificar Isaque. Observe que Deus chamou Abraão de seu amigo (2Cr 20.7; Is 41.8).
Eis a conclusão. Tiago se dirige a todos os seus leitores quando diz: “Vocês vêem”. Com referência a Abraão, ele mostrou de modo convincente que qualquer um que lança mão das Escrituras verá que Abraão agiu baseado na fé. Tiago não diz que Abraão foi justificado por causa de sua fé e obras.
Deus justifica o pecador, isto é, o pecador nunca pode justificar a si mesmo por meio de suas próprias obras. O homem também não pode contar somente com a fé, pois a fé sem obras é morta. Tiago está dizendo que fé e obras andam juntas, que não devem ser separadas e que a fé divorciada das obras não justifica a pessoa. Deus justifica o pecador que está espiritualmente vivo e que demonstra confiança e obediência.
4. Fé e justificação (Tg.2.25, 26)
O segundo nome escolhido por Tiago é o de Raabe. É revelador o contraste entre Abraão, o pai dos crentes, e Raabe, a prostituta de Jericó na Antigüidade. Justamente por essa razão, Tiago apresenta Raabe como o próximo exemplo de fé e obras.
Tiago liga o nome de Abraão ao de Raabe para mostrar contraste. Abraão é um hebreu, chamado por Deus para tornar-se pai dos crentes. Raabe é uma gentia, moradora de Jericó, cidade destinada a ser destruída pelo exército israelita. Como homem, Abraão é o líder representante do povo que tem uma aliança com Deus (Gn 15; 17). Raabe é uma mulher, conhecida nas Escrituras como “a meretriz”. Depois que Abraão foi chamado por Deus em Ur, terra dos caldeus, ele provou sua obediência a Deus durante pelo menos três décadas. O auge dessa obediência foi sua disposição em sacrificar seu filho Isaque. Raabe sabia dos planos de Deus só por meio de boatos, ainda assim ela demonstrou sua fé ao identificar-se com o povo de Deus.
Tiago faz uma pergunta retórica que recebe uma resposta afirmativa: “Não foi também justificada por obras a meretriz Raabe?” Certamente que sim. Na mais inferior das classes sociais encontra-se Raabe, mencionada explicitamente como “a meretriz” (Js 2.1; 6.17,22,25; Hb 11.31; Tg 2.25). Essa mulher coloca sua fé no Deus de Israel e confessa abertamente para os dois espias: (Js 2.9–11).
A fé de Raabe equiparou-se às suas obras. Ela protegeu os espias, escondendo-os no telhado de sua casa, e mandou os mensageiros do rei para fora da cidade. Ela fez um dos espias jurar pelo Senhor que pouparia sua família, quando os israelitas destruíssem a cidade de Jericó (Js 2.12,13), e quando, sob juramento, os homens concordaram, ela lhes mostrou o caminho para um lugar seguro. Ela os fez descer por uma corda pela janela da sua casa, situada no muro da cidade.
Fé e obras são proeminentes na vida de Raabe, e são de natureza tal que Tiago pergunta: “Não foi também justificada por obras?” Sim, é permitido a Raabe ter um lugar ao lado de Abraão, pois ela também demonstrou sua fé no Deus de Israel e agiu pela fé. Por essa razão, ela é considerada justificada.
Tiago conclui sua argumentação usando uma ilustração simples. “Porque assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta”. Talvez sejamos tentados a inverter essa frase e associar o corpo com as obras e a fé com o espírito.
O que temos nessa comparação não é um contraste entre fé e obras. Importa que a fé por si só é morta, assim como o corpo sem espírito é morto.
A fé viva se expressa nas obras que são realizadas em obediência à Palavra de Deus. Para ele, fé e obras formam uma unidade inseparável que pode ser comparada ao corpo e à alma do ser humano. Esses dois foram feitos para andar juntos e constituir um ser vivo.
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