Mateus 2

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Mateus observa a antítese contra o estabelecimento do Reino de Deus em Cristo, usando o texto como base de sua exortação a que os crentes entendam de onde vem a oposição que enfrentam, e que devem manter-se firmes em sua fé no Deus que é Rei em seu Filho bendito.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
Vimos até aqui, o quanto a mensagem do reino do céu e sua chegada são cruciais para o evangelista Mateus, a partir da perspectiva do primeiro capítulo de duas maneiras: pela genealogia do Messias e pelo relato do seu nascimento. Agora veremos como a chegada do Reino de Deus manifesta oposição, pois o Ungido de Deus encontrará o mundo num estado de rebelião e corrupção que rende os homens ao controle de Satanás e suas hostes.
Elucidação
Imediatamente após o nascimento de Cristo, Mateus intenta narrar em seu evangelho aquilo que é uma das primeiras demonstrações de antítese entre o reino deste mundo e o reino dos céus chegado em Cristo. Sucedida pela provisão de Deus em garantir que Cristo se mantivesse a salvo da perseguição maligna de Herodes, (algo que também antecede a o clímax da antítese: a matança das crianças), Mateus concentra esforços em estabelecer esse forte contraste entre os reis, nesta seção do seu escrito.
Mateus tem deixado claro sua intenção de demonstrar como a vinda de Cristo é a inauguração do reinado de Deus, de como o reino do céu é chegado através do cumprimento das profecias veterotestamentárias com o nascimento do Messias. No texto em destaque, Mateus além dessa informação, introduz também outro tema: a oposição ao reinado do Messias.
Se a vinda do Messias foi algo que fora prometido em Gênesis 3.15, outra profecia é lançada naquele mesmo texto: a inimizade e aversão da serpente pelo derradeiro cumprimento de sua sentença: o esmagar de sua cabeça. O próprio Deus dá início a uma terrível batalha entre sua vontade em redimir o seu povo, e o desejo de adiar isso tanto quanto possível por parte do diabo e seus anjos:
O príncipe da potestade dos ares, a antiga serpente que é o Diabo e Satanás, se envolveu em uma campanha cósmica para derrubar o Senhor do mundo, tirar de Deus Pai aquilo que, por direito, pertence somente a Ele. Satanás e sua semente estão em guerra contra Deus e seus filhos (Ef 6.12; I Jo 3.9-15).
Essa guerra cósmica certamente teria impacto no nascimento do próprio Rei ungido, como de fato houve à luz do modo como Mateus explicita o embate que se segue logo após o nascimento de Cristo Jesus. Como já destacado, Mateus demonstra essa antítese ou tensão através dos destaques entre dois reis que estão em lados opostos do tabuleiro: Jesus Cristo e Herodes, que no texto funciona como agente do maligno em sua investida contra o Rei.
A vinda de Cristo principia a guerra travada desde Gn 3.15. À luz disso é interessante notar no texto lido alguns pontos que chamam atenção para o estabelecimento desse conflito político/jurídico que enfatiza a reclamação do senhorio de Cristo sobre o mundo:
Jesus nasceu na cidade de Belém, na região da Judeia, quando Herodes era rei da terra de Israel. Nesse tempo alguns homens que estudavam as estrelas vieram do Oriente e chegaram a Jerusalém. Eles perguntaram: — Onde está o menino que nasceu para ser o rei dos judeus? Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá-lo. (Mateus 2.1-2).
O embrião do conflito aparece nessa anteposição da afirmação de quem é o verdadeiro rei e se segue ao longo da narrativa do capítulo 2 até que no versículo 16 o clímax da oposição é deflagrado. Quando Herodes vê que seu plano é frustrado, dá início a sua campanha de assassinatos em massa, a fim de perpetrar-se no trono. As intenções de Herodes aqui, podem parecer superficiais, como o desejo de alguém de manter-se no trono, como é visto através da história de humanidade e mesmo nos contos, porém, é muito mais do que isso.
A guerra travada entre Herodes [satanás] e o Filho da mulher [Jesus Cristo] é demonstrada por Mateus nos moldes da perseguição que o primeiro empreende contra o segundo. No mesmo trecho do texto de Mateus 2.18, há uma profecia lançada por Jeremias (Jr 31.15-17) que é apontada por Mateus como tendo sido cumprida nessa ocasião. O alvo do ataque do maligno é o próprio Cristo, contudo, tendo sido salvo por ação divina, Cristo neste ponto não sofre dano. O povo de Israel por outro lado, sente as dores da guerra: “Ouviu-se um som em Ramá, o som de um choro amargo. Era Raquel chorando pelos seus filhos; ela não quis ser consolada, pois todos estavam mortos” (v. 18).
Essa profecia citada por Mateus referente a Jeremias 31.15, apesar de ter se cumprido como afirma o próprio autor em termos de uma grande tragédia, ela aponta para restauração por vir, através de uma renovação proposta pelo próprio SENHOR. O que agora, à luz do evangelista, sabemos que será executada por meio de seu Filho Ungido, que tendo vindo ao mundo, ainda que num contexto de oposição e antítese, inaugurará o reino de Deus entre os homens.
Por trás desses assassinatos em massa, está contida a sanha diabólica de impedir que o Redentor, que salvaria o povo dos seu pecados venha ao mundo. Esse episódio assemelhasse muito a narrativa de Êxodo 1, quando, tendo em vistas o crescimento dos hebreus, o faraó manda matar todos os meninos nascidos dos escravos. Essa história também demonstra a guerra que está sendo travada desde o Gênesis, pois a tentativa de Satanás naquele contexto também é o de obstruir a salvação do povo de Deus através da matança de meninos inocentes. E do mesmo modo que em Mateus 2, em Êxodo 1, o povo sofre com a guerra, os filhos dos hebreus morrem, e suas mães lamentam, assim como ocorre com os filhos judeus que estão sendo assassinados pelo exército de Herodes.
Um parêntese que merece atenção e que está diretamente ligado a guerra, é exatamente o intuito de satanás em obstruir que o povo reconheça e adore o Messias, assim como foi em ambos os textos. Em Êxodo, o objetivo da redenção era que o povo saísse liberto do Egito para adorar ao SENHOR (Êx 5.1), mas a ação de Satanás é a de obstruir esse intento, matando os meninos hebreus a sangue frio, tanto para que os planos de união do povo com Deus fossem frustrados (o que obviamente não ocorreu), quanto para impedir que o salvador viesse. Banir as crianças do culto, e da adoração ao SENHOR, é escolher estar do lado da serpente e seu plano maligno de opor-se ao Criador.
Porém, da mesma forma que Moisés fora preservado da destruição, para ser o instrumento de Deus para salvação do povo, assim também Cristo é salvo, por meio de um aviso do anjo aos seus pais, para que se retirassem para uma terra distante, a fim de aguardar que os seus inimigos morressem (vs. 22-23).
Apesar de estarmos elucidando o texto sob a perspectiva de uma “guerra”, não podemos crer que haja alguém que possa de fato fazer frente as intenções do SENHOR nosso Deus
O reinado de Cristo sobre o cosmos é um fato. Algo que está muito além de qualquer tentativa oposta de frustrar seu domínio. O triunfo de Cristo sobre todas as forças das trevas é não somente uma realidade, é algo que perene e fundamental à teologia cristã da salvação. Cristo exerce seu reino a despeito da vontade de seus inimigo de impedi-lo (algo que não podem).
Transição
A despeito dos livros e filmes sobre guerras históricas, o mundo é palco da maior guerra de todas: Cristo, o Rei dos reis e SENHOR dos senhores, guerreia contra todos aqueles que se opõem ao seu reinado. Essa guerra demonstra para nós o estado depravado do mundo em que vivemos, e quanta graça e misericórdia o Senhor tem por nós, tendo nos salvo do derramar da sua ira sobre todos os rebeldes. Porém, há ainda outros pontos que o texto de Mateus 2faz com que apliquemos às nossas vidas:
1) Cristo Jesus é o Rei Ungido que vence todos os inimigos e proclama seu reinado.
A compreensão básica que Mateus nos traz à luz desse texto, é que Cristo é único e verdadeiro Rei sobre tudo e todos, e seu reinado inclui a sua vitória sobre todos os inimigos. Confiar nos méritos de Cristo nos dá forças para viver todos os dias, pois com nossas próprias forças, como poderíamos vencer os nossos adversários (i. e. o pecado, o mundo, o maligno)? Como diz Berkhof:
Deus o revestiu [Cristo] de autoridade sobre o mundo, para que ele pudesse dominar todos os poderes, forças e movimentos do mundo e, assim, pudesse garantir um alicerce seguro para o seu povo no mundo, e protegê-lo contra os poderes das trevas.
É confiando na vitória de Cristo Jesus, que estamos habilitados a vencer a guerra contra o pecado que ocorre todos os dias dentro de nós e fora de nós. É uma luta constante nos lembrar que Cristo Jesus venceu, pois tudo no mundo urge para que ignoremos essa informação tão preciosa, e nos voltemos para a força de nosso próprio braço, a fim de conquistarmos aquilo que o nosso coração enganoso cobiça. Mas a luta diária é que nos recordemos que a vitória de que hoje usufruímos não foi conquistada por nós e sim, por Cristo.
2) A vitória de Cristo está completa, mas sua publicação ainda acontecerá, por isso, lutemos!
A guerra ainda não acabou, embora a sentença já tenha sido publicada. Todos os dias sentimos em nossos membros a guerra contra o pecado e o mundo. Como Paulo nos adverte, nossa luta não é necessariamente contra nossa carne ou sangue, mas contra os inimigos que ainda resistem ao reinado do Messias, perseguindo a igreja do SENHOR.
As armas da nossa milícia não são carnais, mas espirituais (2Co 10.4-5). Devemos estar prontos a guerrear contra o pecado, resistindo ao diabo. A própria Escritura demonstra que usufruímos da armadura de Deus para essa batalha, e não devemos negligenciar ou subestimar os adversário, pois ele é ardiloso, como ficou provado nesse texto, quanto intenta matar várias crianças para impedir que Cristo viesse e executasse sua obra. Uma vida de oração, leitura da Bíblia, assiduidade aos cultos e reuniões, nos blinda de estarmos constantemente vulneráveis a ação diabólica.
Conclusão
A vitória de Cristo sobre seus adversário encerra o drama da redenção de uma forma que não podia ser diferente: o povo de Deus recebe seu Ungido Rei com honras e glórias, pois triunfou sobre seus adversários, conquistando para seu povo a salvação, cumprindo assim o desejo do Deus Triuno de habitar para sempre o com o seu povo.
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