A história do rico e do mendigo Lázaro (Lc 16.19-31)
Notes
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Introdução
Introdução
Antes de entrarmos no texto em si, precisamos compreender o gênero dessa história contada por Jesus. A princípio, alguns comentaristas apontam sobre a dificuldade de enquadrá-la como uma parábola, devido a nomeação de Lázaro, a quantificação de cinco irmãos do rico e a ausência de uma moral ao final da história. Somando-se a esses elementos, está o inadequado uso da história por alguns teólogos e pregadores que, se baseando no texto sendo uma parábola, esvaziam o significado de punição eterna, inferno, juízo final, condenação e tornam todas esses termos apenas como simbólicos. No entanto, a defesa da história como sendo uma parábola não necessariamente impede a nomeação de personagens[1], o que inclui uma parábola judaica similar a contada por Jesus, o uso de elementos mais detalhados para dar vivacidade à história, como informar que o homem rico tinha cinco irmãos, e a ausência de moral no final era costumeira para algumas parábolas. O uso de uma história não fatídica, ou uma parábola, ao ilustrar verdades espirituais não torna tornas essas verdades mero símbolo, mas reforça sua existência e significado.
Exposição
Exposição
1. Contexto
1. Contexto
A história é contada num contexto de repúdio por parte dos fariseus às parábolas de Jesus acerca da idolatria ao dinheiro (16.13). Jesus repreende os fariseus (16.15) quanto ao seu comportamento de promoção pública de sua própria justiça, ressaltando, por outro lado, o que Deus realmente valoriza (16.15). Então, Jesus entra nessa história para ilustrar acerca do amor ao dinheiro e às nefastas consequências de uma vida avarenta.
2. As personagens: o mendigo e o rico.
2. As personagens: o mendigo e o rico.
a) Lázaro: era mendigo e doente (coberto de feridas – tais que eram lambidas por cachorros, provavelmente necrófagos, comuns naquele tempo). O texto diz que ele ansiava comer das migalhas do rico.
b) O rico: vestia púrpura e linho fino – cercado por luxos. Não há descrição de desejo algum ou de necessidade.
3. O que acontece com eles
3. O que acontece com eles
Ambos morrem. Alguns dizem que os homens se igualam – em parte é verdade. Todos nós teremos em comum a morte desse corpo. Lázaro, provavelmente de fome, morre. O rico, abastado, também morre. Por outro lado, a morte do ímpio não é igual a morte do justo. Lázaro morre e os anjos o levaram – e ele foi para junto do seio de Abraão – havia uma crença de que os mais justos dos israelitas e os mártires iriam para perto de Abraão. Provavelmente
ele, como muitos outros pobres, não tinha sepultura para ser colocado – mas Deus providenciou uma entrada honrosa para ele. O rico morre e é sepultado – talvez no melhor “cemitério” que o dinheiro da época pudesse pagar; mas acaba nisso – cemitérios pomposos são isso: um jardim cobrindo a putrefação. Jesus omite a imagem de demônios levando a alma do rico – imagem não compatível com o cristianismo bíblico. Mas ele é levado para o hades – o lugar dos mortos – aqui utilizado como o inferno – um lugar de tormento e em meio a chamas (24). Jesus não deixa claro se quer ilustrar algo antes ou depois do juízo final, mas sabemos que é após a morte.
O rico, então, viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Vamos olhar um pouco para o comportamento do homem rico:
i) Ainda quer ser servido / e por Lázaro. Ele talvez tenha pensado que Lázaro era um dos empregados de Abraão.
Pensa que sua descendência de Abraão, expressa em “Pai Abraão”, pudesse surtir algum efeito; mas chamar “Pai Abraão” é insuficiente: Deus pode levantar das pedras filhos à Abraão (Mt 3.9). O verdadeiro filho de Abraão é aquele que espera, conhece e recebe o Filho de Deus.
Ele, portanto, recebe uma resposta:
• “lembre-se” – isso indica que a verdade que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus (Rm 14.12) – os homens terão memória do que fizeram para testemunhar seus pecados diante de Deus. Temos, então: • 2 estilos de vida – Dois destinos • “grande abismo” — é instransponível (26); destino definitivamente selado.
ii) A grande preocupação do rico é com as consequências de seus atos – ter ido para o tormento no Hades, e não ter o sincero cumprimento da Lei e dos Profetas – não ter confiado no Messias. Ele não se arrepende de seus atos, mas apenas das consequências. Ele não tem genuíno arrependimento, mas remorso. E por remorso, pede novamente a Abraão para que Lázaro vá a sua casa e avise onde aquela estrada de iniquidade termina.
Novamente há uma resposta:
• Moisés e os profetas já avisaram (29). Essa era uma resposta clara aos fariseus que deveriam estar sendo guiados pela Lei e os Profetas a Jesus, mas, na prática, não seguiam as Escrituras. Temos diversos “avisos”: a criação, nossa consciência, a lei de Deus escrita em nossos corações e a Lei e os Profetas. • O atestado das Escrituras é mais confiável e superior que o dos mortos – por isso, Deus não os usa como mensageiros. As Escrituras são suficientes. • Jesus aqui está se referindo também a sua ressurreição; mas ela só faz sentido se compreendida à luz da lei e dos profetas (Ele é o Cristo, o Filho de Deus, o Filho do Homem).
Aplicações:
Aplicações:
1. Existe inferno e céu. Winston Churchill uma vez disse que a decadência da Inglaterra se dava pela ausência de céu e inferno nos púlpitos das igrejas inglesas. Onde fica o inferno? No final de uma vida sem Cristo.
2. “Bênçãos condenatórias”: termos ou não riquezas não é que nos tira ou leva para o céu – o fundamental é como nosso coração administra o que possuímos. Em gratidão e obediência, ou em ingratidão e rebeldia.
3. Cuidado com o espírito pragmático, onde se substitui o que é correto pelo que dá certo. Essa mentalidade não nos instruí ao arrependimento, pois fizemos algo mau, mas apenas ao remorso pelas consequências.
4. Todo o inferno que o crente experimentará será nessa vida. Todo o céu que o incrédulo conhecerá será nessa vida. Nem sempre o que as pessoas viveram desse lado da vida será vivido do outro lado.
5. Existe justiça final. É intransponível o abismo entre o destino dos justos e dos injustos. Dos que creem em Jesus e dos que o rejeitam.
6. A suficiência das Escrituras para a salvação do homem – nem um anjo ou um acontecimento extraordinário pode nos dar vida, senão a poderosa Palavra de Deus. A Lei de Cristo é nosso guia.
7. Só Jesus pode nos dar a alegria da segurança da salvação.
Soli Deo Gloria
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1 “Às vezes, as pabrábolas judaicas (...) davam nome a um ou vários personagens” (Keener, C. S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novot Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2017.