Mateus 3.1-12

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Mateus agora enfatiza a chegada do Reino dos Céus em Cristo Jesus, por meio da mudança de vidas, transformando-as de rebeldes e inimigos de Deus em seus servos, isso através da obra que o Espírito Santo realiza através do arrependimento.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Mateus 3.1-12
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
Após ter desenvolvido a genealogia do Messias, e os trâmites de seu nascimento – ambos como cumprimento de profecias/promessas do Antigo Testamento- e conforme a narrativa imediatamente seguinte, incluindo a ética do reino apresentada a partir do capítulo 5, Mateus dá destaque a João, o batista, como sendo o emissário encarregado de preparar o povo com a pregação de arrependimento, para a chegada do reinado messiânico do Filho de Abraão (i.e. o descendente prometido) que também é o herdeiro da casa real de Davi (i.e. o Rei prometido).
Hoje, veremos como a chegada do Reino dos Céus em Cristo Jesus, muda nossas vidas transformando-nos de rebeldes e inimigos de Deus em seus servos, isso através da obra que o Espírito Santo realiza em nós por meio do arrependimento.
Elucidação
A seção que contém o texto destacado, faz parte do prólogo[1] do evangelho de Mateus, onde apresentará seu arcabouço retórico e argumentativo sobre como e através de quem o Reino dos céus havia chegado. No capítulo 3, o autor continua trabalhando o aspecto narrativo de sua obra, apontando agora um outro personagem crucial para corroborar sua tese de que o Reino dos Céus é chegado em Cristo Jesus: João, o Batista.
A narrativa está estruturada em três blocos que focalizam-se em torno de um único tema: “a chegada do reino e a necessidade de preparação em arrependimento para seu recebimento”. Os blocos estruturam-se da seguinte forma:
Versículos 1 a 6: A identidade do arauto do Messias - O sinal do cumprimento da promessa.
Versículos 7 a 10: A mensagem do arauto - "Arrependam-se e recebam o Reino dos Céus!".
Versículos 11 a 12: A identidade e ministério do Messias - A salvação dos justos e condenação dos ímpios.
1 - A IDENTIDADE DO ARAUTO DO MESSIAS - O SINAL DO CUMPRIMENTO DA PROMESSA (vs.1-6).
Se levarmos em consideração o público para o qual Mateus está escrevendo, qual seja: judeus e gentios na Roma do primeiro século depois de Cristo que estão sendo perseguidos pelo império, o sentido de seu prólogo é estabelecer a identidade do Messias, a fim de que ao povo seja demonstrado o caráter superior do Reino dos Céus, como já fora demonstrado nas análises anteriores.
Analisando a própria estrutura do texto em questão, nota-se da parte do autor uma busca por enfatizar a conexão entre dois temas centrais que apontarão para o objetivo da passagem, à luz do contexto geral da obra: a chegada do reino e o arrependimento. Os imperativos e descrições que João faz em sua fala, remetem a importância de seus ouvintes entenderem que a chegada do reino dos céus marca de tal ponto a história da redenção, tornando tão urgente quanto sempre foi a mensagem da necessidade de arrependimento para recebimento do Reino.
A clara informação que Mateus nos dá, é que o Reino não chegaria sem que o mesmo deixasse de interferir no modo de vida daqueles a quem é anunciado sua aproximação. A recepção do Reino de Deus implica diretamente numa mudança da disposição do coração (i.e. “Μετανοεῖτε” = arrependam-se!) em aquiescer às suas determinações.
A ordem de João Batista é clara e direta para o seu público: “arrependam-se, submetam-se a revelação de que necessitam de um redentor, voltem-se de seus caminhos tortuosos, convertam-se de seus pecados, e reconheçam que a promessa está sendo cumprida: o Reino de Deus chegou!”. O caráter urgente dessa afirmação é demonstrado também na ênfase que é dada pelo próprio pregador (João) em que aqueles que o ouviam deveriam produzir frutos de arrependimento (v. 8).
Na seção de 3.1-12, está contida uma profecia que aponta para João como um precursor do Messias que viria em favor de seu povo. A profecia de Isaías 40.3 demarca o ponto da história em que Deus resgataria seu povo, e o traria de volta do exílio. Toda a profecia de Isaías está estruturada de três formas, conforme observa Shcultz:
O livramento e a restauração são temas desenvolvidos [em Isaías] em três aspectos: o retorno de Israel do cativeiro, sob Ciro; o livramento do pecado; e a instalação final da justiça, quando Israel e os estrangeiros desfrutarão das bênçãos de Deus para sempre.
O texto de Mateus que alude ao cumprimento dessa profecia, demarca o ponto em que o segundo aspecto começa a ser cumprido. O sinal de um profeta enviado a proclamar o arrependimento é a nítida demonstração daquilo que Deus estava intentando fazer. Para um bom judeu, atento às profecias do Antigo Testamento, o aparecimento de João, o batista, não era um fato isolado, mas sim, o início de todo um percurso que culminaria com a redenção do povo através do envio do Messias:
O capítulo inicial introduz essa promessa de livramento por meio de um estilo magnífico. Apesar de estar sofrendo no exílio, a Israel foi garantido que receberia consolo e perdão para sua iniquidade, em preparação para a revelação da glória de Deus, a qual se revelará perante toda a humanidade, quando Deus instalar o Seu governo em Sião. [...] Aqueles que esperam em Deus haverão de prosperar. A fé nesse Deus onipotente, que não pode ser comparado a ídolos, traz consolo e esperança.
2 - A MENSAGEM DO ARAUTO - “ARREPENDAM-SE E RECEBAM O REINO DO CÉU!” (vs. 7-10).
Esse arauto que aplana os caminhos do Messias está responsável pela tarefa de através de si e de sua pregação, demonstrar ao povo o princípio de que, o Deus que havia começado a obra de restabelecimento do povo à sua condição de povo do pacto, estava agora dando prosseguimento aos seus planos, enviando seu Filho ao mundo para que através dele, a redenção fosse concretizada.
O Reino de Deus que está sendo pregado por João Batista é completamente superior e inalcançável ao homem em seu estado natural. Para que alguém adentre pelas portas do Reino, se faz necessário que o Espírito Santo mude completamente a natureza de uma pessoa por meio da regeneração que acompanha uma contrição especial – o arrependimento. Essa ferramenta fundamental demonstra como o homem está distanciado de Deus, pois se o próprio Criador não intervir na vida do homem ele jamais chegará ao conhecimento de que esta fadado a sofrer a ira de Deus por toda eternidade por conta do pecado e de sua natureza corrompida por ele.
Uma mudança de mente, mudança da disposição do coração tem que ocorrer! E tal conversão possui uma característica muito especial: ela deve reconhecer que nada há que possamos fazer para ser salvos, além de crer no Messias, em Jesus Cristo. João no versículo 9, retira dos fariseus e saduceus qualquer possibilidade de confiar em algum tipo de justiça própria a fim de entrarem no Reino de Deus, quando diz que mesmo sendo filhos de Abraão, isso não significava nada se não arrependerem-se. A filiação abraâmica é espiritual, não carnal (Rm 9.6-8). Logo, da mesma forma como Abraão reconheceu a obra redentora de Deus confiando no salvador, no cordeiro que foi dado para que seu filho fosse “recobrado dos mortos” (Hb 11.19) e foi salvo, assim também aqueles homens, se desejassem por obra do Espírito ver o Reino dos céus, deveriam reconhecer que suas obras nada podem fazer para lograr tal êxito.
“Arrependam-se, pois é chegado o Reino dos Céus!”. Essa frase marcante abarca toda a urgência em compreendermos o quão significativa é a mensagem que Mateus está expondo através o texto de 3.1-12. A perspectiva (como vem sendo abordada até aqui) é de que o Reino e o arrependimento estão tão conectados como a porta e o lugar para onde ela dá também o estão.
O Reino de Deus em Cristo anuncia a necessidade de que nos adequemos a ele, nos submetamos ao poderio de Cristo sobre o cosmos. Porém, conforme a Escritura aponta, este ato de submissão ou mudança de um comportamento reprovável para um adequado àqueles que pertencem o reino, é chamado de arrependimento (gr. “μετανοέω” = mudança de mente, de coração) , o qual só pode ser operado pela regeneração executada pelo Espírito Santo. O arrependimento é uma obra específica através da qual:

II. Movido pelo reconhecimento e pelo sentimento, não só do perigo, mas também da impureza e odiosidade do pecado, como contrário à santa natureza e justa lei de Deus, e ao apreender a misericórdia divina manifestada em Cristo aos que são penitentes, o pecador, pelo arrependimento, de tal maneira sente e abomina os seus pecados que, deixando-os, se volta para Deus com a intenção de andar com ele em todos os caminhos de seus mandamentos e esforçando-se para isso.

III. Ainda que não devamos confiar no arrependimento como sendo de algum modo uma satisfação pelo pecado, ou em qualquer sentido a causa do perdão dele, o que é ato da livre graça de Deus em Cristo, contudo ele é de tal modo necessário aos pecadores, que sem ele ninguém poderá esperar o perdão.

O puritano John Flavel, explicando como ocorre o processo de arrependimento, exemplifica:
Havia um tempo quando eu não tinha percepção alguma de pecado nem tristeza pelo pecado, nenhum desejo de Cristo, nenhum inclinação para cumprir minhas obrigações. Mas agora não é o que acontece comigo. Agora vejo como nunca antes o mal do pecado; meu coração está agora quebrantado no reconhecimento desse mal; meus desejos começaram a arder por Jesus Cristo. Não estou em paz nem mesmo onde costumava estar até que em pranto secreto eu busque o Senhor Jesus; com certeza, esse é o alvorecer do dia da misericórdia; deixai-me prosseguir nesse caminho.
O texto de Mateus apresenta essa realidade do que significa arrependimento, na relação entre a pregação de João e o resultado dela: “Os moradores de Jerusalém, da região da Judeia e de todos os lugares em volta do rio Jordão iam ouvi-lo. Eles confessavam os seus pecados, e João os batizava no rio Jordão” (vs. 5-6). Esse é precisamente o meio ordinário através do qual o Espírito Santo convence e faz com que o coração dos homens se arrependam, mudando-lhes a disposição da mente, para que agora, cientes da gravidade de seu estado de pecado e favor maravilhoso da parte de Deus, obedeçam sua lei, e reconheçam que Cristo Jesus é o seu Rei e Salvador. Nas palavras de Mark Jones:
Mediante a pregação do evangelho, Deus não somente nos fala ou apresenta condições para a vida. De forma real e eficaz, ele renova a mente para que entenda o evangelho, renova o coração para que creia no evangelho e renova à vontade para deseje e responda positivamente a Deus.
O arrependimento é o ponto de partida do processo de salvação empreendido pelo Espírito Santo no coração do homem, através do qual ele passa a ser habilitado a entender a realidade do Reino de Deus e a se submeter a ele.
Porém, essa reação não é infundida no coração de todos indiscriminadamente, pois os réprobos estão distintos e apartados de receberem essa dádiva. O que nos leva ao terceiro bloco da estrutura exposta por Mateus.
3 - A IDENTIDADE E MINISTÉRIO DO MESSIAS - A SALVAÇÃO DOS JUSTOS E CONDENAÇÃO DOS ÍMPIOS (VS. 11-12).
Conforme vimos à luz do capítulo 2, a chegada do Reino do céu provoca, inevitavelmente, uma reação por parte daqueles que se opõem à obra da redenção executada pelo Deus Triuno. Foi assim no nascimento de Cristo, e continuará assim até que o Reino seja publicado no retorno de Jesus. No texto em questão, a antagonia entre justos e ímpios é exposta pelo desbaratar da rebelião através do anúncio feito por João Batista, do juízo vindouro que será realizado pelo próprio Messias.
Contrariando muitas interpretações, João demonstra como esse juízo virá através de uma metáfora extraída agronomia da palestina. A limpeza e separação do trigo da palha é a figura que exemplifica como a mensagem de arrependimento causa a divisão idealizada pelo próprio Deus para louvor de sua glória, aplicando a salvação sobre aqueles a quem ele elegeu desde antes da fundação do mundo. Trigo e palha são metáforas análogas ao justo e ao ímpio: o justo, em quem fora operado o arrependimento para a vida, será “recolhido no celeiro”, o ímpio, que manteve-se rebelde não reconhecendo que Cristo é o Rei prometido e não arrependendo-se de seus pecados “queimará em fogo inextinguível”.
Dessa forma, João anuncia que o batismo do Espírito Santo que será feito pelo Messias - Jesus Cristo - será executado sobre justo e ímpios, mas não da mesma forma. Longe de significarem o mesmo ato, a Agência Trinitária (Pai, Filho e Espírito) levam a cabo sua obra redentiva, mais uma vez, distinguindo eleitos de réprobos, conforme forma estabelecido desde o início (cf. Gn 3.15). Corroborando essa perspectiva, J. C. Ryle afirma:
Meditações no Evangelho de Mateus O Ministério de João Batista (Leia Mateus 3.1–12)

João Batista falou claramente sobre o tremendo perigo que correm os impenitentes e os incrédulos. Advertiu os que o ouviam de que todos deveriam aguardar a “ira vindoura”. Pregou sobre um “fogo inextinguível”, no qual a palha, algum dia, ficará queimando eternamente.

Mais uma vez, esse é um ensino bíblico extremamente importante. Todos nós precisamos ser claramente advertidos de que essa não é uma questão destituída de importância, como se pudéssemos arrepender-nos ou não. Pelo contrário, precisamos relembrar que existem tanto o inferno como o céu, e que a punição eterna espera pelos ímpios, da mesma maneira que a vida eterna destina-se aos piedosos.

Transição:
O Reino de Deus confronta o estado natural do homem, e mesmo nós que já fomos regenerados, devemos levar em consideração que o arrependimento sempre será uma constante em nossas vidas, pois essa obra do Espírito Santo está restrita aos eleitos de Deus, quer já tenham abraçado a fé ou não, como afirma Thomas Cole, que os objetos da regeneração são: “os eleitos, apenas os eleitos e todos os eleitos”[2], e dessa forma só os regenerados são capacitados com “compreensão, fé e arrependimento [para] responder à pregação do evangelho”.[3]
Dessa forma, o arrependimento como marca de recebemos o Reino dos Céus, deve ser uma constante em nossa vida, como nos ensina o texto de Mateus 3.1-12: a convocação de João, engloba todos aqueles que foram habilitados pelo Espírito Santo a entrarem no Reino de Deus, por meio do reconhecimento de sua natureza corrupta e a benevolência do Criador em resgatá-los dessa situação. Mas ainda outras aplicações podem ser extraídas do texto para nossas vidas:
Aplicações
1. Arrependa-se!
Com o passar do tempo e conforme caminhamos da fé, começamos a desenvolver o pensamento de que o arrependimento é algo que deve ser praticado apenas por aqueles que são convertidos pelo Espírito Santo, e isso apenas no momento de sua conversão, o que nem de longe é verdade. O arrependimento deve sempre acompanhar nossa vida, todos os dias, sempre que nos dirigimos a Deus em oração.
Mas o que é arrependimento? Jonathan Edwards, tratando acerca das afeições (sentimentos) religiosas em relação a humilhação, ou mortificação, que são marcas do verdadeiro arrependimento, diz que:
[A] humilhação evangélica consiste [na] humildade conveniente à criatura que, sabendo-se pecadora, recebe a dispensação da graça; É o senso de pouca estima por si mesma, de não ser nada em si e totalmente desprezível e odiosa, acompanhado da mortificação da disposição de exaltar-se a si mesma e da renúncia espontânea à glória própria.[4]
Reconhecer-se como pecador, miserável, carente da graça e da glória de Deus, é a marca daquele que adentrou o Reino de Deus, pois sabe, que somente através daquele que foi separado como trigo pelo Senhor Jesus Cristo, em seu celeiro celestial. Tal sentimento carrega em si um ódio ferrenho pelos seus pecados, pois sabe que ofendem a Deus, por isso, luta diariamente para vencê-los pelo poder do Espírito. Temos lutado? Temos odiado o pecado? Reconhecemos que somos miseráveis pecadores carentes sempre da graça do SENHOR? E por fim, levando tudo isso em consideração, entramos no Reino de Deus? Nossa resposta a todas a perguntas anteriores vão dar a você a resposta a esta última.
2. Não achemos que nossas boas obras podem conquistar para nós o Reino dos Céus, e que isso é a prova cabal de que fomos alcançados por esse Reino.
Um outro pastor puritano, George Swinnock, a esse respeito diz: “Tua civilidade é uma misericórdia, e tens o dever de bendizer a Deus por ela. Mas toma cuidado de não confiar nela como prova segura de tua boa condição”.[5] O arrependimento é uma obra do Espírito Santo que nada tem a ver simplesmente com uma boa conduta moral, em ser visto pelos homens como alguém “bom”, e sim, uma disposição do nosso coração em reconhecer nossa pecaminosidade, como disse anteriormente. Os que pensavam que poderiam confiar em sua “auto-justiça” ou sua boa conduta, foram chamados por João de “raça de víboras”.
A salvação é por obras sim, pelas obras de Cristo Jesus, o Rei que veio como aquele que se batizou o seu povo com o Espírito Santo. Porém, para os réprobos, para os orgulhosos, para aqueles que acham que por conta própria serão recebidos no Reino dos Céus, está reservado o batismo com o fogo, fogo que nunca se apagará. Por isso, retiremos de nosso coração todo o orgulho, toda altivez, e nos curvemos ante Cristo, o Rei prometido, que nos mostrou que o caminho para o Reino dos céus, é o arrependimento e a certeza de que somente através dEle é possível aos homens serem salvos.
Conclusão
Arrependa-se ou morra! é a mensagem do Rei. O anúncio majestoso de Cristo é de que devemos confiar nEle como aquele que pagou nossa dívida, salvando-nos da ira vindoura. Porém, a confiança que temos é certa: se nos submetermos ao seu Reino, nos arrependendo dos nosso pecados, ele certamente nos aceitará em seu Reino celestial!
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