Mateus 3.13-17

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Mateus apresenta Cristo como sendo o sumo sacerdote prometido no AT, e como sendo aquele que se identifica com seu povo, compadecendo-se dele, através da submissão à Lei.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
Mateus já vem trabalhando desde o início do capítulo 3, os sinais que apontam para o cumprimento das profecias do Antigo Testamento acerca de Cristo e da chegada do Reino dos Céus por meio dele. Entretanto, agora, na última parte do capítulo 3, dos veículos de 13 a 17, o autor introduzirá sua perspectiva messiânica observando dois princípios que caracterizam o Redentor de acordo com o que fora profetizado a respeito dele desde o Antigo Testamento: 1) a submissão de Cristo à Lei, para cumprimento da vontade do Pai em relação a sua justiça, e 2) identificação de Cristo como nosso sumo sacerdote através do sofrimento e do padecer de várias tentações (cap. 4.1-11: a tentação de Jesus).
Veremos hoje então, como Cristo identifica-se conosco através de sua sujeição à Lei por meio do batismo, e como através disso adquirimos um sumo-sacerdote que abre o caminho para que possamos confiar nele e seguir seus passo, agora como povo redimido pelo SENHOR, o Deus Triuno.
Elucidação
Levando em consideração o imperativo de João no versículo 2 do capítulo 3; a abrangência da obediência dos seus ouvintes, e a supressa de João em que Cristo também queira ser batizado, temos a continuação do bloco temático que fora iniciado pelo autor do evangelho.
A estrutura de Mateus conecta ambos os textos (3.2 à 3.13-17) ainda sob o tema dos sinais que apontam para a chegada do Reino de Deus através de uma lógica aparentemente contrastante entre as posturas daqueles que realmente necessitavam explicitar o arrependimento para recebimento do Reino de Deus, e Cristo Jesus, que é o próprio Rei.
Em termos de uma estrutura geral, o texto de 3.13-17 está diretamente ligado ao capítulo 4.1-17, sob dois subtópicos que esclarecem a identificação de Jesus Cristo com seu povo: através da sua submissão voluntária a justiça do Pai (Mt 3.13-17), e através do seu sofrimento (i.e. na tentação) (Mt 4.1-17). Nos concentraremos no primeiro aspecto, numa que, como dito, é o foco do texto que lemos.
O contexto posterior ao qual o texto destacado se encontra, lança luz direta sobre a intenção do autor em desenvolver a teologia do reino baseado na ideia de que Cristo Jesus é: 1) o cumprimento das promessas e profecias do AT e, 2) submisso, como Filho de Deus à Lei e às provações que fazem parte de seu ministério de identificação com o povo eleito do SENHOR redimindo-o em seu próprio sangue. Essa segunda consideração abarca o trecho de 3.13-17 por meio da escolha de Cristo em cumprir a justiça do Pai (c.f. NVI).
Estamos lidando então com dois aspectos de um mesmo fato: o primeiro é que Jesus Cristo estava sendo batizado para que a justiça fosse cumprida, isto é, que ele pudesse se submeter como homem a vontade de seu Pai, afim de que através de sua obediência ele pudesse ser o justo e o justificador de todo o povo eleito (Rm 3.26). O segundo aspecto é que, como já foi mencionado, a identificação de Cristo com seu povo. Ambos os pontos então conectados pelo ministério de Cristo em sua encarnação, vida, morte e ressurreição. Porém, a princípio, Mateus inicia tratando primeiro da identificação afim de demonstrar como a obediência de Jesus interfere diretamente na chegada do Reino dos Céus agora na plenitude dos tempos.
Na submissão de Cristo, encontramos a imagem do sumo-sacerdote que oferece o pleno sacrifício para remissão de pecados: ele mesmo. Na perícope seguinte (Mt 4.1-17) o ponto central da identificação aparece na tentação de Cristo, o qual suporta nossas dores em relação ao pecado, contudo, sem ele ter pecado nem incorrido nalguma transgressão (o que era impossível – Cristo não tinha natureza pecaminosa).
O sinal vindo do céu – o Espírito Santo como pomba, e a voz – apontam para a singularidade daquele que estava sendo batizado. O Pai e o Espírito atestam que a obra iniciada naquele momento é aquela que fora mencionada como sendo o meio através do qual a nação escolhida de Deus seria salva de seu mais terrível algoz: o pecado. A constatação de aceitação está diretamente ligada a identidade de Cristo: o Filho prometido (cf. Sl 2.7) agora há de iniciar sua obra, pondo em execução o plano trinitário de redenção da criação.
Levando em consideração outros textos que narram o mesmo evento, por exemplo, o evangelho de Marcos resume o episódio do batismo, porém com a mesma temática, enfatizando que Cristo é o Servo de Deus que havia de vir para redimir seu povo. Lucas por outro lado é mais delongado em sua análise quanto ao sinal precedente ao Messias: João, o batista, e enfatiza que Cristo é o Filho de Deus, através do uso da genealogia de Jesus que ao contrário de Mateus, inicia-se com Cristo e vai até Adão, filho de Deus, introduzindo a mensagem de que Cristo Jesus é o segundo Adão através de quem virá a salvação, em contraste com o primeiro, por meio de quem veio a transgressão e a morte. O evangelho de João enfatiza de maneira mais contundente a vinda do Filho de Deus, sendo o Verbo Encarnado, com um comentário especial da parte de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
Apesar dos enfoques temáticos de cada evangelho, devido ao público para o qual se dirigem, a mensagem central do fato permanece a mesma: Cristo Jesus é 1) O cumprimento das profecias veterotestamentárias; 2) o segundo Adão que dá vida, ao invés de morte como fez o primeiro; 3) O Servo de Deus que redimirá seu povo por meio do sacrifício final, e por fim; 4) O Cordeiro de Deus que por sua obra, tira o pecado do mundo. Todas essas temáticas enfatizam que o reino dos céus (conforme Mateus aborda) é chegado, e estava sendo proclamado através da submissão de Cristo ao batismo. O identificador comum é Jesus como sendo o sumo sacerdote que por meio de sua vida e obediência, justifica e salva seu povo.
Comentando o teor do evangelho de Mateus, Merril C. Tenney esclarece: “O evangelho não é mera agregação de ditos fragmentários e de histórias feitas ao acaso, mas é definitivamente organizado para mostrar como o Messias cumpriu o chamado que trouxe ao mundo”. A temática da obediência voluntária de Cristo Jesus ao plano trinitário de redenção do cosmos está permeada em toda Escritura. Porém, finalmente vemos como é executada essa submissão do Filho, no trecho destacado.
Anselmo de Cantuária define o que é pecado em termos do que era esperado do homem antes da queda, e que consequentemente era esperado do Messias para que cumprisse o que fora proposto pelo plano trinitário:
O homem devia algo a Deus e essa dívida necessitava ser paga. Pecado é “não dar a Deus o que lhe é devido”, a saber, a submissão de toda nossa vontade a ele. Pecar, portanto, é “tomar de Deus o que é dele”, o que significa roubar dele e, assim, desonrá-lo.
Os termos em que é tratada a submissão por Anselmo, é com vistas àquilo que fez Cristo Jesus na cruz com sua morte, porém, entendemos à luz das Escrituras, que sua obediência voluntária, ocorre desde a concepção, desde sua encarnação como homem. Então, como fica claramente estabelecido, o que o homem deve ao seu Criador é total e plena obediência, o que também diante do Testemunho Sagrado não ocorreu, pois o homem pecou e se rebelou contra o SENHOR. Portanto, para que justificasse seu povo, o Messias deveria antes de tudo demonstrar, como representante dos eleito de Deus, submissão completa em e por sua própria vontade. Tal ação é expressa de maneira plena nas palavras do próprio Cristo no texto que lemos:
João, porém, quis convencê-lo a mudar de ideia, dizendo: — Eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim? Mas Jesus respondeu: — Deixe por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele concordou (Mt 3:14-15).
Com isso, o texto de Mateus 3.13-17 substancia a observação da doutrina da obediência ativa de Cristo em sua obra, qual seja, a obediência ao Pai por meio do cumprimento da Lei e suas exigências simbolizadas no batismo. Refletindo sobre tal doutrina, Louis Berkhof alude que:
Uma parte da obediência de ativa de Cristo era que ele se sujeitasse voluntariamente aos sofrimentos e à morte. Ele mesmo diz, referindo-se a sua vida: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou” (Jo 10.18). Por outro lado, também era parte da obediência passiva de Cristo que ele vivesse em sujeição à Lei. Seu viver de servo constitui um importante elemento dos seus sofrimentos. A obediência ativa e a obediência passiva de Cristo devem ser consideradas partes complementares de um todo orgânico. [...] Se Cristo cumprisse meramente a Lei e não cumprisse também a pena, não conseguiria o direito à vida eterna a favor dos pecadores; e se ele apenas cumprisse a pena, sem satisfazer as exigências originais da Lei, deixaria o homem nas condições de Adão antes da Queda, ainda confrontando com a incumbência de obter a vida eterna pela obediência . Contudo, por sua obediência, ele conduziu seu povo para além daquele ponto e lhe deu direito à vida eterna.
Deparamo-nos então com a perspectiva bíblica de que o Messias prometido foi enviado para remir os homens através do cumprimento da Lei, isso em relação ao caráter de Deus, que não exige uma punição por capricho seu, mas sim, por harmonia ao seu caráter santo e justo e muito misericordioso, a prova disso é que o mesmo Deus que parte em punição e em extermínio do pecado, providencia que seu povo eleito seja salvo através do seu Ungido, que em voluntaria obediência, submete-se reverentemente ao batismo de João colocando-se numa condição de servo, para que tanto por este ato quanto por seu sofrimento na cruz que culmina em sua morte e ressurreição, conquiste a vida eterna e a justificação para os seus eleitos.
Transição
O que o texto nos apresenta meus irmãos, é a sujeição de Cristo Jesus à uma condição que não lhe pertencia, a uma carreira que não lhe era obrigatória ou lhe foi imposta, o que torna a identificação de Cristo conosco ainda mais profunda, pois foi de livre e espontânea vontade que ele se colocou numa posição de servo, nascido sob a Lei, para que com sua justiça, isto é, com o cumprimento obediente a todos os requisitos da justiça de Deus, ele pudesse justificar pondo em nossa conta seus próprios méritos. O sumo sacerdote que temos não é alguém distante ou que não conhece nossa condição, mas sim, alguém que por sua própria vontade, conhece nossa experiência de servos, e por causa disso, está habilitado a ser nosso representante diante de Deus.
O texto que lemos nos aponta algumas verdades a serem percebidas, memorizadas e praticadas no nosso dia a dia:
Aplicações
1. Olhemos para Cristo como aquele que se identifica conosco, dando-nos sua justiça por meio da obediência. Temos em quem confiar, pois aquele que nos representa, se submeteu às exigências da lei que não poderíamos obedecer, para que em nosso lugar, pudesse nos dar sua coroa de justiça e fôssemos aceitos pelo Pai.
2. Extraíamos de Cristo o exemplo para sermos crentes obedientes e operosos para o SENHOR nosso Deus, pois ele, para conquistar para nós o reino dos céus, se humilhou à semelhança de servo, nascido sob a lei para nos dá o poder de sermos obedientes em nossa vida como resposta a obra maravilhosa que ele operou em nós por seu Espírito.
3. Tenhamos um coração humilde. Uma postura humilde é a que devemos assumir, pois, se o Filho de Deus (“Deus de Deus, Luz de Luz” como afirma o credo niceno), não se furtou de assumir uma postura de servo, para fazer prevalecer a vontade da Santíssima Trindade, por que nós seríamos diferentes?
4. Sujeitemo-nos uns aos outros, pois em Cristo temos o exemplo daquele que sendo igual ao Pai, sujeitou-se a ele, para que o plano redentivo fosse plenamente cumprido. Como um corpo, estamos ligados uns aos outros no amor que teve Cristo por nós, e esse amor nos dá a obrigação de sermos servos uns dos outros, como ele que sendo nosso Rei, nos serviu, sendo o maior, se colocou na condição de menor. Não somos melhores do que o Filho de Deus, mas pelo seu poder através do Espírito Santo, podemos e devemos ter o mesmo sentido em nossos corações na igreja de Deus.
Conclusão
O Filho de Deus identifica-se conosco através de sua obediência à Lei, quando fez-se Servo de todos para nos salvar, sendo nosso sumo-sacerdote. Que sua obra seja ainda mais apreciada por nós, que louvemos ao nosso Deus que nos deu o Reino dos céus através da humilhação e obediência plena de seu Filho Bendito, e que por essa obediência sejamos todos nós, dia-a-dia, submissos a Deus e uns aos outros, pois agora que estamos nos Reino dos céus, essa é a postura que devemos assumir.
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