Mateus 4.1-11

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Mateus prossegue esclarecendo as credenciais de Cristo como nosso sumo sacerdote que identifica-se com seu povo, agora por meio do relato da tentação do SENHOR Jesus.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
Na sequência ao batismo de Jesus, outro episódio é narrado pelo autor do evangelho para designar as credenciais de Jesus como o Messias Prometido por Deus para trazer o Reino dos céus e efetivar a obra redentora: a tentação de Jesus. Como veremos posteriormente, esse episódio é também sucedido de outros fatos que apontam para esse mesmo ideal, como a pregação de Jesus na Galileia, cumprindo outra profecia do Antigo Testamento, e também o próprio resumo trazido por Mateus no final do capítulo 4 (4.23-25), quando encerra essa seção do livro no qual trata desse tema.
Elucidação
O trecho destacado compreende a condução de Cristo ao deserto “para ser tentado pelo Diabo” (v.1). Após a narração desse primeiro momento em que Cristo é conduzido e do passar de 40 dias, o texto segue com os diálogos da tentação propriamente dita. Os diálogos têm por base os questionamentos ou propostas do tentador, e as contestações e respostas de Jesus. A dialética da tentação do SENHOR é introduzida no texto pelo autor, quando mostra às falas do diabo sempre através das partículas de contestação “[Se] és o Filho de Deus”, o que está conectado diretamente à narrativa anterior em que Deus o Pai apresenta Cristo como sendo “O meu Filho amado”. Através das contestações, o tentador deseja então questionar a filiação de Cristo como o Filho de Deus, e assim, sua propriedade como aquele através de quem o Reino de Deus será estabelecido. Esse episódio é usado pelo autor para reforçar o caráter de Cristo como o Messias Prometido, algo que vem realizando desde o capítulo 1.
O ministério de Cristo Jesus, conforme profetizado em todo o Antigo Testamento, possuía alguns requisitos estipulados pela própria Trindade para que fosse operado. Dentre esses requisitos estava contida a etapa de humilhação, na qual baixaria a uma condição inferior à sua natural, isto é, deveria assumir a natureza humana (natureza de servo), e deveria nessa condição ser tentado ou provado para que por meio dessa provação pudesse se identificar com o povo eleito de Deus, conforme temos elaborado até este ponto. John C. Ryle, comentando a tentação de Jesus sob a perspectiva de Cristo como o sumo-sacerdote que se identifica com seu povo, afirma:
[...] Devemos aprender quanto nosso Senhor Jesus Cristo é um Salvador que simpatiza conosco. “Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.18). A simpatia de Jesus por nós é uma verdade que deveria ser particularmente valorizada por todos os crentes. Eles poderão descobrir que essa é uma verdade que serve de fonte de poderosas consolações. Nunca deveriam esquecer-se de que eles contam com um poderoso Amigo nos céus, o qual simpatiza com eles em todas as tentações e provações pelas quais tiverem de passar. Ele sente, juntamente com eles, suas ansiedades espirituais. Os crentes são tentados por Satanás a desconfiar da bondade e dos cuidados de Deus por eles? Jesus também foi tentado desse modo. São tentados à presunção, em relação à misericórdia divina, arriscando-se desnecessariamente e sem garantias? Assim também Jesus foi tentado. São tentados a cometer algum grande pecado específico, como se isso lhes oferecesse alguma vantagem? Essa também foi uma das tentações que acometeram Jesus Cristo. São tentados a fazer alguma aplicação errônea das Escrituras, como justificativa para a prática do mal? Outro tanto sucedeu a Jesus. Ele é exatamente o Salvador do qual aqueles que são tentados precisam. Por conseguinte, os crentes devem refugiar-se no Senhor, pedindo-lhe ajuda e expondo, diante dele, todas as suas dificuldades. Então, haverão de descobrir que ele está sempre preparado a simpatizar com eles. Jesus pode entender todas as suas tristezas. Seria bom se todos nós reconhecêssemos, em nossa própria experiência diária, quanto vale um Salvador cheio de simpatia! Não há nada que se lhe possa comparar, neste nosso mundo frio e enganador. Aqueles que buscam encontrar a felicidade neste mundo e desprezam a religião revelada nas Escrituras não fazem a mínima ideia do verdadeiro consolo que estão perdendo.
As marcas do messiado de Cristo, abundam em provas de que ele é o perfeito sacerdote que se oferece como libação para justificação dos pecados, e mais, através das palavras de Deus em Gênesis 3.15, a determinação era de alguém que pudesse fazer uma ponte perfeita entre Deus e os homens, redimindo-estes através de uma derradeira oferta, mas que também pudesse manter seu sacerdócio perpétuo, garantindo aos crentes socorro no tempo presente, na hora da tentação.
À luz do cânon, a ideia de que Cristo deveria sofrer para que através disso, proporcionasse a salvação e fosse aquele que a promoveria, também agindo na vida dos filhos de Deus com compaixão e misericórdia próprias de alguém que também fora provado e sofreu as enfermidades da condição humana, é amplamente explicitada.
O texto de Isaías 53 é um bom exemplo de todo esse sofrimento que deveria ser imputado ao personagem que é designado como “o Servo do SENHOR”, uma prefiguração de Cristo. Conforme explica Richard Averbeck: o Servo enfrenta o pior tipo possível de dor humana, sofrimento, vergonha, rejeição, e humilhação para realizar a vontade do Senhor.
De maneira mais específica, tratando sobre a própria tentação do SENHOR, o escritor aos hebreus, repetidas vezes, salienta a habilitação de Cristo como sumo sacerdote, por ter ele suportado as dores e lutas das tentações e provações:
Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados (Hebreus 2.17-18).
Na posição de Filho de Deus, e por isso Deus como Deus o Pai, e também de homem, Cristo Jesus em sua tentação foi aquele que proporcionou o escape para as tentações dos homens eleitos. Como demonstrou J. C. Ryle, em cada variação da fraqueza humana, Cristo foi provado: na incredulidade da confiança na divina providência; na altivez de se lançar em determinada situação arriscada, afim de querer sentir-se o centro das atenções; na interpretação distorcida das Escrituras ou do mandamento, jogando sujo ou baixo, para com isso conseguir lograr algum êxito pessoal, negociando até princípios e valores. Em cada uma das áreas em que o homem é fraco e suscetível à queda, Cristo Jesus foi experimentado para que promovesse a redenção do povo eleito de Deus. Nas palavras de Charles Ryrie: “somente um Deus-homem e Sumo Sacerdote poderia fazer as duas coisas: ser compassivo (porque foi realmente tentado) e capacitar (porque ele é Deus)”.
Precisamos aqui entender que não há tentação tão específica que somente nós sabemos o que é enfrentá-las, sem que Cristo possa conhecer essa nossa debilidade, e por isso não nos possa ajudar. Cada proposta tentadora que nos sobrevém, veio de maneira mais intensa sobre Cristo. É claro que há uma enorme diferença entre nós e Cristo, pois ele não tem pecado, nós por outro lado, possuímos essa tendência corrupta. Contudo, isso não o desqualifica de forma que nos venhamos a pensar que estamos sozinho e isolados em nossa luta, sem que tenhamos alguém a quem podemos recorrer.
Transição
É pelo sofrimento de Cristo que somos sarados. É pela dor de ter sido enfraquecido que extraímos forças. Tendo ele sido exposto à luta, nos garantiu a vitória. Sem Cristo, o que sobra para nós? A rendição completa à influência do pecado. Jamais se engane: você não tem força suficiente em si mesmo para dizer “não!” ao pecado. Não é a sua moralidade que faz você ter uma postura ética ou correta á vista dos homens, porque nada que é definido apenas pelos homens é suficiente para garantir algum mérito diante de Deus. É Cristo quem lhe dá forças. É o Espírito Santo quem ministra graça sobre sua vida para que resista as proposta ardilosas de satanás. Por isso, reconhecer nossa fraqueza é o primeiro passo para que vençamos o pecado, e só venceremos porque temos um verdadeiro e poderoso sumo sacerdote, que além de ter oferecido a si mesmo como oferta perfeita a Deus nos garantindo a salvação, proporciona escape e livramento das tentações, através daquilo que sofreu e de sua constante intercessão por nós.
Com base nisso, o texto de Mateus 4.1-11, nos fornece aplicações excepcionais para nossa vida:
Aplicações
1. Devemos recorrer a Cristo, para buscar graça no momento das tentações.
Aquele desejo carnal ou lascivo que muitas vezes nos sobrevém, de consumir conteúdos pornográficos, ou mesmo de nos entregar a um relacionamento ilícito por pura carnalidade. A impaciência de lidar com nosso cônjuge, quando este faz coisas que nos desagrada, e que por causa disso, somos tentados a ter um sentimento de autojustiça, nos fazendo desferir palavras terríveis contra ele em forma de “verdades”. O filho que acha que a proibição de seus pais não tem sentido e é tentado a desobedecer, ou os pais que ao invés de dar-se ao trabalho de interagir e conversar com seus filhos a fim de saber quais são os seus pensamentos, se mantém distantes, apenas dando ordens, não os ensinando a Lei de Deus. Todas essas tentações, de alguma forma, foram propostas a Cristo, não como desejos que brotavam de dentro dele, pois ele não tinha natureza concupiscente como a nossa, mas lhe foram expostas como opções para que desfrutasse de melhor situação. Porém o SENHOR Jesus foi vitorioso, obedecendo ao Pai, e mesmo sofrendo e sendo humilhado por tamanho ultraje vindo da parte do diabo, olhando para o que estava proposto, suportou as dores e as tentações, a fim de em primeiro lugar, glorificar ao Pai, mas logo após isso, promover o socorro para nós, numa que através do seu sacrifício agora usufruímos de graça abundante para rejeitar o pecado e servir a Deus.
Todos os dias quando o pecado bater a nossa porta – e baterá – podemos resistir-lhe por causa de nosso Sumo Sacerdote, que tendo se colocado em nosso lugar, nos deu o poder nos seu Espírito de resistir e vencer.
2. Cristo nos deu o exemplo de qual deve ser nossa atitude, na hora da tentação.
Foi priorizando a glória de Deus e a obediência à sua justiça (como vimos no capítulo 3.13-17), que Jesus Cristo nos proporcionou o caminho através do qual venceremos a tentação. As propostas de Satanás, consistiram numa desconfiguração ou mesmo mudança de ótica: Cristo estava sendo tentado a olhar para si mesmo, no lugar de olhar para o Pai como centro de sua vida e obra.
Tanto mais olhamos para nós mesmos, e nossas necessidades, ou pelo menos aquilo que consideramos nossa necessidade, que fracassamos no propósito de honrar a Deus. O homem foi criado para servir o SENHOR e viver para a glória dele. Quando o foco muda, passamos a nos considerar como o centro da existência, e com isso, que tipo de critérios podemos nós mesmos elaborar com o objetivo de ser morais ou fazer o que é certo? Quem determinará o que é certo para nós, se estamos sempre em evidência e o que importa é nossa realização ou satisfação? Cristo Jesus nos demonstra que é o exemplo perfeito, não aquele exemplo que simplesmente nos mostra como fazer, mas ele fez por nós, nos capacita a segui-lo e honrá-lo como SENHOR de nossas vidas.
Conclusão
O sofrimento na tentação de Cristo nos confirma que ele é o nosso salvador, aquele que se identifica conosco promovendo para nós o socorro em tempos de tentação e angústia. Fiados em sua obra substitutiva e empática, podemos vencer o pecado, assim como ele venceu. Sejamos gratos ao Deus Triuno, por Cristo Jesus, nosso sumo sacerdote, compassivo e longânimo, que nos ama de tal forma que jamais nos desamparará, deixando-nos entregue às armadilhas de nosso próprio coração pecador.
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