#3 - Mas o Senhor...
Aprendendo com a Graça de Deus - Exposições em Jonas • Sermon • Submitted
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Mas o Senhor...
Mas o Senhor...
No último sermão, refletimos sobre as razões que Jonas teve para fugir de Deus, a principal delas foi sua indisposição de pregar a graça de Deus à odiada população de Nínive. Dessa vez vamos refletir sobre a fuga em si.
A primeira coisa que observamos é como pareceu fácil o caminho do pecado, pelo menos inicialmente. Deus chamou Jonas para que ele fosse para o norte, para Nínive, mas, em vez disso, o profeta correu para o sul, para Jope. Em vez de subir e servir ao Senhor, ele desceu para servir à sua própria rebelião. E, quando chegou a Jope, encontrou “… um navio que ia para Társis” (Jn 1.3). Podemos apenas imaginar como isso deve ter encorajado Jonas em seu trajeto rebelde.
Lá, aguardando Jonas em sua fuga, havia um navio a caminho de um porto tão longe de Nínive quanto Jonas podia ter desejado. Como vimos, não conhecemos a localização exata de Társis, mas os estudiosos concordam que ficava na costa oeste da atual Espanha. “Ah”, Jonas deve ter pensado, “a providência colocou o barco certo no momento exato em que cheguei”.
O pecado, muitas vezes, funciona dessa forma, mesmo que Jonas não o tenha percebido em seu estado iludido. “Quando uma pessoa decide fugir do Senhor, Satanás facilita o transporte”. A narrativa de Jonas mostra como os nossos passos rebeldes nos afastam rapidamente de Deus.
O versículo 3 é conciso em sua progressão de verbos, onde um leva ao outro, sem espaço para reflexão: Jonas se dispôs (para fugir), achou (um navio), pagou (a passagem) e embarcou (no navio). Muitas vezes, é assim que o pecado funciona: Uma vez que nos permitimos desobedecer a Deus, o mundo pecaminoso prepara tudo para uma progressão rápida.
Jonas pode ter justificado sua desobediência alegando que Deus havia “aberto uma porta” para sua fuga a Társis. Sua tolice nos lembra de que as circunstâncias em si não provam a bênção de Deus: a confirmação que sempre necessitamos é a Palavra de Deus.
A situação de Jonas me lembra da queda livre de Davi para o seu maior pecado, a sedução de Bate-Seba. Capítulo após capítulo, a Bíblia nos relata o longo progresso de Davi na fé, mas bastam três versículos surpreendentemente curtos para sua queda.
Segundo Samuel 11.2–4 nos conta que Davi viu uma mulher linda, que ele enviou um mensageiro, que ela veio e que ele se deitou com ela. Davi estava negligenciando seu dever, permanecendo em Jerusalém enquanto seu exército partia para a guerra.
Assim que ele desviou seu olhar de seu dever, ele recaiu sobre a bela mulher tomando banho. Antes de ter tempo para reconsiderar, ele já havia se entregado a um pecado que, em certos aspectos, ele jamais superaria.
A fuga de Jonas é semelhante. Tudo é ação, sem reflexão ou oração. Como Davi se encontrava nas garras de seu desejo, Jonas estava preso em seu ressentimento. Estando seu coração rendido, suas pernas foram tão rápidas quanto as mãos para cometer o pecado. Mais rápido do que se pode imaginar, Jonas já se encontrava no navio que o levaria para o fim do mundo, esperando aumentar assim a distância entre Deus e ele.
Uma vez a bordo, mesmo que Jonas tivesse começado a pensar sobre o que estava fazendo, já era tarde demais: o navio havia zarpado. O pecado sempre nos leva mais longe do que imaginamos e mais rápido do que pretendíamos.
Há uma lição importante nisso para nós. Se estivermos brincando com um pecado e uma oportunidade se apresentar, não devemos reconhecer nisso a mão da boa sorte, mas a de Satanás. Afinal de contas, para o diabo não é difícil criar oportunidades para o pecado.
Talvez você tenha se permitido entreter pensamentos sobre um caso sexual; então, você não deveria se surpreender se aparecer uma oportunidade para o adultério. Isso deveria despertar sua suspeita e levá-lo ao arrependimento.
Talvez você tenha enganado o governo em sua declaração de imposto de renda e não foi pego, ou tenha consumido pornografia e ninguém descobriu. Isso deveria alarmá-lo em relação a outros pecados que você possa ser levado a cometer e rapidamente deveria deixá-lo de joelhos diante do Senhor.
Jonas nos mostra também que, uma vez que decidimos pecar contra Deus, qualquer um de nós pode agir de forma surpreendente.
A tola rebelião de Jonas contra o Senhor o envolveu em condutas absolutamente irracionais. Por causa de seu ódio contra os gentios, ele tentou escapar da presença de Deus e até da presença do povo de Deus, para que não fosse obrigado a profetizar em Nínive.
Mas veja a companhia que ele acaba procurando: a companhia de marinheiros pagãos e gentios, cujas vidas certamente se opunham ao Senhor e ao seu povo. Além disso, ele paga sua passagem, entregando o que certamente foi um bom dinheiro, e se dispõe a gastar muito tempo, visto que a viagem podia levar até um ano.
A mesma coisa acontece com cristãos quando seguem o caminho do pecado. O pecado é caro e nos envolve com companhias pouco saudáveis. Ele envolve riscos e perigos aos quais um cristão não deveria se expor, e muitas vezes nos transforma em tolos.
O pecado nunca é bom, mas há pelo menos um pouco de sensatez quando um pecador incrédulo se compromete com gastos de dinheiro e tempo, assume riscos e se envolve com más companhias.
Mas um cristão? Cristãos podem pecar, mas raramente pecam bem, e seu comportamento surpreendente no pecado é outro sinal de sua necessidade de se arrepender.
Podemos dizer o mesmo sobre a igreja. Tudo bem se instituições seculares se empenharem em campanhas de marketing baratas ou em entretenimentos insignificantes. Mas a igreja de Jesus Cristo? Alguns anos atrás, alguém lamentou: “Muitas das nossas igrejas têm ficado obcecadas com o físico e o temporal, e o espírito materialista tem sido nutrido e alimentado a custo da causa das missões”.
O versículo 3 diz que ele fugiu da “presença do Senhor”, que ele embarcou num navio “para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor”.
Somos levados a pensar que Jonas acreditava tolamente que, aumentando a distância física entre si e Israel, ele estaria escapando da presença de Deus.
Mas, visto que Jonas era um profeta do Senhor, é difícil acreditar que ele soubesse tão pouco sobre Deus ao imaginá-lo como limitado pelo espaço.
É mais provável que Jonas tenha procurado separar-se da Palavra de Deus e de seu apelo à sua consciência. Douglas Stuart sugere: “Jonas espera evitar outros contatos revelatórios com o Deus de Israel fugindo para um lugar onde não há israelitas”.
Além disso, existem evidências de que a expressão “para longe da presença do Senhor” se refira a alguém que se recusa ao serviço que Deus lhe deu.
Gordon Keddie escreve: “A pessoa que decide fugir da presença de Deus está, portanto, se recusando a servir a Deus na tarefa que ela sabe ter recebido do Senhor”.
Talvez Jonas acreditasse que Deus simplesmente o esqueceria e enviaria outro profeta na missão indesejada para Nínive.
Esses dois objetivos – fugir do povo de Deus e do serviço de Deus – produzem resultados lamentáveis.
Misericórdia severa
O relato da fuga de Jonas apresenta dois “mas” que estruturam o relato. O primeiro é “mas Jonas”, que fala da falta de disposição da parte de Jonas para obedecer ao chamado soberano de Deus. Deus enviou Jonas a Nínive, “… Jonas se dispôs, mas para fugir” (Jn 1.3).
No entanto, o homem rebelde jamais tem a última palavra; assim, o versículo 4 nos fornece outro “mas”: “Mas o Senhor”. Jonas se demitiu de seu cargo como profeta, mas o Senhor não aceitou sua demissão.
Jonas fugiu da presença de Deus num navio para a distante cidade de Társis, mas o Senhor não o deixou ir. Jonas desceu para o porão do navio para dormir (Jn 1.5), “Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar” (Jn 1.4).
Para Jonas, isso deve ter sido um despertar violento. Podemos imaginá-lo no barco após sair do porto. Ele conseguira! Agora, não precisaria mais pregar aos odiados cidadãos de Nínive. Mas Deus tinha outros planos, ele não pretendia deixar Jonas escapar com tanta facilidade.
Surgiu uma tempestade no mar, como explica João Calvino: “Não por acaso, mas pelo propósito certo de Deus, para que, ao ser dominado no mar, [Jonas] reconhecesse que ele havia se enganado ao acreditar que poderia fugir da presença de Deus pelo mar”.
É o Senhor, escreve Jeremias, “… que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas” (Jr 31.35).
A tempestade vivenciada por Jonas é um exemplo clássico de reprimenda divina. A Bíblia afirma explicitamente que os filhos de Deus que se desviam experimentarão a repreensão do Pai. Hebreus 12.6 diz: “… o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”.
Essa razão já bastaria para Jonas não esperar que conseguisse fugir de Deus, assim como nenhum filho de Deus pode esperar prosperar no pecado. “Jonas achava que podia simplesmente virar as costas ao chamado divino. Mas o Senhor estava prestes a transformar a viagem de Jonas em um ‘momento de lição’.”
A reprimenda de Deus é um valor certo para cada um daqueles que pertencem a ele, assim como o juízo final de Deus é certo para todos aqueles que não pertencem a ele. Nem sempre ela vem imediatamente. Hugh Martin escreve: “O Senhor pode se dar ao luxo de esperar. Você pode transgredir suas ordens e continuar aparentemente sem castigo, com o Senhor aparentemente desinteressado. Mas as margens do caminho que você segue são marcadas pelo castigo, e o aguardam em algum ponto sombrio à frente”.
Jonas 1.4 deixa claro que a tempestade era um ato de reprimenda divina: “… o Senhor lançou sobre o mar um forte vento”. Em outras palavras, Deus mirou o navio de Jonas com precisão.
Falamos hoje de “bombas inteligentes” e de mísseis guiados, mas eles nada são comparados ao castigo de Deus.
O. Palmer Robertson explica: “Ele mira cuidadosamente o alvo escolhido e com toda a sua força ele ‘lança’ sua arma escolhida”.
Deus tem uma arma específica para cada cristão rebelde. Como ele demonstrou no caso de Jonas, ele tem um meio para obstruir nosso caminho pecaminoso. Pode ser uma reviravolta avassaladora no emprego.
Pode ser uma doença fatal. Pode ser uma depressão da alma. É comum, por exemplo, que um cristão sinta um peso na consciência quando tenta racionalizar algum plano para não ter que cumprir a vontade de Deus.
Um cristão verdadeiro jamais conseguirá escapar de Deus; em determinado momento, Deus entra em cena e, quando ele o fizer, será com precisão. No caso de Jonas, Deus enviou uma tempestade tão forte que até mesmo os marinheiros experientes ficaram desesperados.
O propósito evidente de Deus com essa tempestade era parar a viagem de Jonas para o oeste. A tempestade era tão forte que “… o navio estava a ponto de se despedaçar” (Jn 1.4). Deus não permite ser enganado, e até mesmo seu próprio povo é corrigido severamente se fugir de sua vontade.
A motivação de Deus não era ira, mas misericórdia. Salvá-lo de sua própria tolice pecaminosa era uma demonstração da severa misericórdia de Deus. Esse castigo manifesta o poder temeroso de Deus, mas também a graça dele ao impedir uma rebelião.
Deus estava enviando uma mensagem clara a Jonas. A mensagem era que suas ordens não podem ser levianamente rejeitadas ou desobedecidas. Essa é uma mensagem que todos nós devíamos ouvir e entender, para que não nos recusemos a responder ao chamado de Deus de servir a uma igreja em dificuldades, em um ministério difícil de misericórdia ou num relacionamento que preferíamos evitar.
Deus não quer que seus planos sejam frustrados, e muitas vezes ele manifesta seu governo soberano por meio de eventos castigadores como a tempestade de Jonas.
Deus queria que essa tempestade servisse de lição a Jonas. Peter Williams resume: “Ele nos persegue porque nos ama e deseja nos levar de volta para si mesmo”.
Cada filho de Deus encontra segurança verdadeira na graça que o busca. “Às vezes, Deus nos permite acreditar que podemos nos esconder dele e fugir das suas ordens a fim de ensinar-nos o quanto precisamos dele e o quanto ele nos ama. Pois ele nunca desiste de nós e sempre nos busca até voltarmos para ele”.
Alinhando-se com a vontade de Deus
Muitos acreditam que os cristãos podem perder bênçãos caso não permaneçam constantemente “no centro da vontade de Deus”.
Isso poderia ser verdade se não fosse a graça persistente de Deus.
O ser humano que se voltou para Jesus Cristo em fé tornou-se filho da graça de Deus. Por sua misericórdia, Deus para nossa fuga antes de alcançarmos nosso ilusório destino de alegria e felicidade, assim como ele parou o navio de Jonas e o redirecionou para um caminho da bênção, assim ele faz conosco por meio de Cristo Jesus e sua palavra.
O livro de Jonas não conta a história de um homem que foi abençoado por permanecer na vontade de Deus, mas a de um homem que foi poderosamente usado por Deus apesar de sua descrença e de seu pecado, por causa da graça soberana de Deus em sua vida.
A mensagem de Jonas nem diz que devemos evitar a tolice e a rebelião, mas que devemos responder à graça de Deus que nos chama para o arrependimento e para a obediência renovada quando pretendemos fugir de seu chamado.
Conta-se a história de Inágua, nas Bahamas, onde havia 3 postes de 18 metros de altura alinhados num pequeno porto daquele lugar. Um visitante se perguntou sobre o propósito destes postes, pois se encontravam em terra firme.
A resposta que ele recebeu era que o canal era raso demais para barcos maiores. Os postes haviam sido posicionados de tal forma que o capitão de um navio pudesse alinhar seu navio aos postes de maneira que, de seu ponto de vista, eles formassem uma linha, deixando visível apenas um único poste.
Alinhando os postes dessa forma, o capitão sabia que ele se encontrava no estreito canal profundo que o levaria com segurança até o porto.
A Palavra de Deus exerce um papel semelhante em nossa vida. A pergunta que cada um de nós precisa responder é se estamos dispostos a obedecer à vontade de Deus na medida em que ela nos é revelada.
Talvez tenhamos nos desviado e fugido do seu chamado, mas a graça de Deus, revelada em Jesus Cristo, nos comunica a necessidade de arrepender-nos e voltarmos para ele.
Estamos dispostos a nos voltar para a Palavra de Deus, para receber uma nova orientação, ou alinharmos nosso coração?
Estamos dispostos a vir para a presença de Deus, confessando nossos pecados e buscando a força para uma nova obediência?
Nossa indisposição e dureza de coração jamais superará os planos soberanos de Deus.
Mas, quando nos voltamos para o caminho do Senhor, respondendo ao evangelho pregado a todo tempo a nós ou ao evangelho pregado por meio das mais severas tempestades das nossas vidas, podemos reencontrar o caminho do Senhor – o caminho do Senhor – que é marcado por suas bênçãos eternas na pessoa bendita de Cristo Jesus.
Jonas nos ensina claramente, não somos bons capitães de nossas vidas, mas podemos descansar em Cristo o perfeito capitão que sempre nos leva ao porto seguro da graça e bondade eternas de Deus.
S.D.G