#8 - A Oração das Profundezas
Aprendendo com a Graça de Deus - Exposições em Jonas • Sermon • Submitted
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A oração das profundezas
A oração das profundezas
Jonas 2.1–7
Existem aspectos do domínio da graça que são simplesmente incompreensíveis para aqueles que não a compreendem. Isso se manifesta em grande parte na crítica feita ao segundo capítulo de Jonas.
Entre os estudiosos liberais, esse capítulo é quase sempre considerado um acréscimo editorial posterior, pela simples razão de sua mensagem não parecer crível. Argumentam que um editor posterior tentou explicar a história de que Jonas foi engolido e depois cuspido por um peixe por meio de um salmo que parece fazer sentido.
Jacques Ellul comenta: “O grande argumento contra a validade dessa oração, porém, é que não se trata de uma oração de apelo e petição, mas de ação de graças e louvor”.
Oração nas profundezas
Oração nas profundezas
O segundo capítulo de Jonas registra uma das grandes orações da Bíblia. Isso é notável, pois até agora não tínhamos visto Jonas orando. Quando Deus o chamou para sua missão em Nínive, Jonas não orou para ponderar a resposta certa.
O que mudou na vida de Jonas para transformá-lo em um homem de oração?
Lá no navio, ele se recusou a orar mesmo quando o mestre do navio implorou a ele. Mas as coisas mudaram dentro do grande peixe. O que aconteceu?
A resposta é que Deus, em sua graça, levou Jonas ao fundo do poço. Agora, no último destino de sua fuga tola, Jonas é obrigado a encarar as consequências reais de sua vida.
Em algum momento, passaremos por isso. Jonas está separado de Deus, da comunhão com o povo de Deus e do testemunho da Palavra de Deus.
Para muitos de nós, a viagem feita por Jonas envolve toda a nossa vida – uma descida lenta, mas constante, para a escuridão.
No entanto, Deus em sua graça deu a Jonas uma experiência repentina do abismo para o qual sua vida estava caminhando. Podemos chamar isso de trailer da desgraça de todo homem.
Lançado no mar, Jonas se viu preso, vivo, em um túmulo que era a barriga do peixe, abaixo das ondas. Por causa da libertação graciosa, que antecede a oração de Jonas, ele foi finalmente capacitado a orar.
Em seu livro campeão de vendas Decepcionado com Deus, Philip Yancey explora a experiência de um número crescente de pessoas que expressam sua insatisfação referente aos cuidados de Deus.
A fé alegre de uma jovem mãe se transformou em amargura quando sua filha nasceu com problemas na espinha. Ela escreveu sobre contas médicas altíssimas e um casamento que desabou sob o estresse da doença da criança.
Diferentemente de Jonas, cuja situação havia sido causada por seu próprio pecado, a vida dessa mulher havia caído no abismo em decorrência de um parto. Após confiar em Deus, ela agora estava cheia de raiva e dúvida.
Em outro caso, um homossexual escreveu a Yancey para contar-lhe do inferno de sua vida. Durante mais de uma década, ele havia procurado uma “cura” para sua orientação sexual por meio de todo tipo de tratamento, inclusive tratamento de choque. Mas nada parecia funcionar, e por fim o homem se entregou à promiscuidade e rejeitou o a fé cristã.
Esses são exemplos – bastante comuns em nossos dias – de pessoas que viram como suas vidas caíram nas profundezas e que ficaram ressentidas contra Deus. Seu ponto comum era que Deus as havia decepcionado ao não libertá-las de suas provações graves.
Podemos imaginar Jonas fazendo a mesma coisa. Ele poderia ter se queixado de que Deus havia cometido um equívoco ao exigir que ele fosse pregar aos ninivitas e poderia ter alegado que sua fuga no navio com destino a Társis nada mais era do que uma reação sensata.
Mas não foi o que Jonas fez. Jonas reconheceu que Deus o havia lançado no abismo por causa de seus pecados e que apenas Deus era capaz de resgatá-lo.
Seu reconhecimento central se encontra no versículo 3, onde Jonas diz: “Pois me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim”.
Jonas reconheceu que, apesar de terem sido os marinheiros que o jogaram do navio e de tudo isso ter sido sua própria ideia, foi Deus quem o lançou no abismo. Foram “tuas ondas” e “tuas vagas” que passaram por cima dele.
Jonas reconheceu que tudo que acontecera com ele havia sido causado por Deus, mas também que tudo acontecera por sua própria culpa. Ele não acusa a justiça de Deus. Como ele explicou aos marinheiros: “… eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade” (Jn 1.12).
Agora, ele poderia ter acrescentado: “E sei que foi por causa do meu pecado que estou morrendo neste grande peixe”. Em vez de se voltar contra Deus, Jonas estava disposto a encarar a si mesmo e o seu pecado.
No entanto, Jonas só se deu conta da realidade quando começou a descer para as profundezas.
Foi apenas quando a escuridão final o cercou, quando todas as opções haviam se esgotado, restando-lhe apenas a condenação, que o coração de Jonas se arrependeu e clamou por Deus.
Agora, só Deus podia ajudá-lo, então Jonas se voltou para Deus em oração: “Na minha angústia, clamei ao Senhor”, ele relata (Jn 2.2). Jacques Ellul escreve:
Obviamente, quando o homem tem para onde fugir, ele não ora a Deus, e Deus não vem até ele. Enquanto o homem conseguir inventar esperanças e métodos, ele sofre naturalmente da pretensão de poder resolver seus próprios problemas. […] Em Jonas todas as ajudas tiveram que ser destruídas, todas as soluções precisaram ser bloqueadas, e todas as possibilidades do homem tiveram que ser superadas pela magnitude da graça para fazer com que Jonas voltasse para Deus.
Às vezes, a melhor coisa que pode nos acontecer é aquilo que mais tememos, pela simples razão de que isso tira de nós toda nossa autoconfiança, humilha nosso orgulho e remove de nós qualquer outra esperança que não a de Deus. Às vezes, isso é preciso para fazer-nos orar de verdade.
A Bíblia não especifica uma postura para a oração. Encontramos pessoas de pé e sentadas durante a oração, e ambas as posturas são apropriadas. Mas na Bíblia, como também na vida, quando homens e mulheres oram na angústia do desespero e em momentos de terrível necessidade, elas caem de joelhos diante do Senhor.
Para que Jonas abandonasse seus próprios planos teimosos e se voltasse para Deus como sua esperança, ele precisava primeiro cair de joelhos. Lemos na Bíblia: “Humilhai-vos, (…), sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pe 5.6).
No entanto, não gostamos de nos humilhar diante de Deus, por isso ele, em sua graça, faz isso por nós, por causa do seu maravilhoso propósito da salvação.
Como isso se aplica àqueles que se encontram numa situação desesperadora sem culpa própria evidente? Como isso se aplica à mulher que se desesperou com Deus por causa da doença de sua filha?
A resposta nada mais é do que uma variação do tema de Jonas. A fim de podermos nos voltar para Deus de verdade, precisamos aceitar que Deus é soberano. Ele é também santo, justo e bom. Precisamos reconhecer que Deus é o Senhor soberano e salvador.
Assim como Jonas teve que se curvar diante do chamado soberano de Deus em seu ministério, precisamos nos curvar também diante do propósito soberano de Deus em nossas circunstâncias.
Em alguns casos, Deus nos chama para o arrependimento de algum pecado evidente. Em outros, Deus está nos preparando para um chamado ou provação. Em ambos os casos, Deus nos humilha para encontrarmos o senso correto de adoração e de confiança em sua graça. Ele declama: “… eu sou Deus, e não há outro” (Is 45.22; 46.9).
Portanto, encontramos nossa resposta em primeiro lugar reconhecendo a soberania santa, justa e bondosa de Deus em todos os nossos chamados e, em segundo lugar, voltando-nos para aquele que é o único capaz de nos salvar.
No fim, Jonas se arrepende e ora não só por causa de seu conhecimento da soberania ou da santidade de Deus. É a lembrança da graça de Deus que faz seu coração se voltar para o Senhor. “Então, eu disse: lançado estou de diante dos teus olhos”, Jonas se lembra.
Esse é o reconhecimento do profeta da presença da justiça soberana de Deus em sua vida. Mas então ele acrescenta: “tornarei, porventura, a ver o teu santo templo?” (Jn 2.4).
Aqui, Jonas se lembra da graça misericordiosa de Deus, e é com essa confiança renovada na graça de Deus que Jonas se vê impelido a orar mais uma vez.
Quando chegamos ao ponto em que nos entregamos ao Deus vivo e verdadeiro, o resultado é sempre o mesmo: nós oramos. Buscamos seu poder e sua misericórdia para a nossa salvação. Mais tarde, poderemos dizer: “Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz” (Jn 2.2).
A oração de Jonas
A oração de Jonas
Isso, porém, levanta uma pergunta importante: como Jonas se lembrou da graça soberana de Deus? Já falamos sobre quando Jonas se lembrou da graça de Deus de forma que voltasse a orar: foi naquele extremo final dentro do grande peixe nas profundezas. Mas como Jonas se lembrou da graça de Deus?
Para encontrar a resposta, imagine-se tirando a oração do livro de Jonas e lendo-a. Que livro da Bíblia você acreditaria estar lendo? Existe uma resposta que todos que conhecem a Bíblia um pouco darão: o livro de Salmos.
Talvez diríamos: “Mas que salmo é esse? Eu deveria conhecer esse salmo!”. Na verdade, Jonas não está citando nenhum salmo específico, mas recitando os temas dos salmos em geral. Um estudo da oração de Jonas revelará alusões ou referências à 10 salmos 3, 5, 16, 18, 31, 42, 50, 65, 88 e 120.
Toda a perspectiva dos salmos – sobre Deus e o homem, sobre a vida e a morte, sobre o desespero e a esperança, sobre o medo e a fé – flui pelo coração e pela boca de Jonas.
Então, como é que, de repente, Jonas se transforma em oráculo do saltério na barriga do grande peixe?
A única resposta possível é que ele foi criado e alimentado com os salmos.
Ele recitou e cantou os salmos durante toda a sua vida. Os salmos estavam dentro dele porque havia vivido no meio do povo de Deus. Agora, nessa situação extrema sob as ondas e dentro de um grande peixe, quando Jonas sente o desejo de orar, o vocabulário e a fé dos salmos se expressam em sua oração.
Essa é a melhor e mais forte propaganda possível para o valor do livro de Salmos. Nos salmos da Bíblia, por meio do milagre da inspiração, Deus coloca nos lábios dos seus adoradores as palavras de fé, adoração e vida. Nos salmos, encontramos o ser humano em todas as circunstâncias – frequentemente de necessidade e desespero – olhando para Deus em busca de fé.
Nos salmos, lemos exatamente as mesmas queixas que fazemos em nossos próprios corações e encontramos neles também o remédio para essas queixas, por meio de uma nova compreensão da glória e da graça de Deus. Os salmos abordam cada emoção humana, com cada experiência humana, com todos os altos e baixos, e tudo isso de forma que restaura a fé do fiel em Deus.
Dessa forma, os salmos apresentam a doutrina da salvação na luta e na experiência vivida. Eles apresentam as verdades salvíficas da Palavra de Deus como uma luz na neblina da luta humana para restaurar a visão do céu.
Por essas razões, a longa experiência de Jonas com os salmos resulta na maior ajuda em sua mais escura hora de necessidade: sua mente retorna para o Senhor, e seu coração se refresca na graça de Deus.
Cristãos que adquiriram o hábito de passear pelos jardins dos salmos, que cantam os salmos e os aprendem de cor, são ricamente recompensados em suas horas de escuridão, dúvida e desespero com as palavras perfeitas para sua situação difícil, com palavras que tomam sua fé fraca pela mão e a levam novamente até o Senhor.
É claro que poderíamos dizer o mesmo sobre toda a Bíblia. Aqui, mais uma vez, Jonas nos oferece uma lição. Seu livro começa com um chamado difícil de Deus. A fé de Jonas é abalada pelo chamado de pregar em Nínive.
O pecado que habita em seu ódio contra os ninivitas mostra seu rosto e o distancia em sua fuga do Senhor. Em vez de orar, Jonas tampa seus ouvidos e foge da influência da Palavra de Deus. Ele encontra a solução para o seu desespero no navio a caminho de Társis.
E quantas versões existem desse navio a caminho de Társis, às quais os cristãos apelam em seu conflito com as ordens de Deus!
Quantas igrejas recuam hoje diante do difícil chamado à fidelidade embarcando em navios a caminho de Társis – substitutos mundanos para o ministério da Palavra de Deus, convenientemente colocados à nossa disposição por nosso inimigo, o diabo.
No entanto, a resposta verdadeira à nossa necessidade e ao nosso desespero se encontra na Bíblia.
É apenas quando voltam a sentir a influência de Deus que cristãos parecidos com Jonas são restaurados no arrependimento. É a influência da Palavra de Deus que volta nosso coração para Deus em oração, em vez de afastá-lo de Deus em navios a caminho de Társis.
Portanto, tanto na experiência do indivíduo quanto na vida da igreja, sempre é verdade que “… a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).
A maneira de experimentar a graça de Deus é voltar-se para a Palavra de Deus. Foi assim que Pedro falou sobre a conversão de pecadores para a fé salvífica: “… fostes regenerados […] mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1Pe 1.23).
Jesus falou assim sobre a graça de Deus para o crescimento e a restauração daqueles que já foram salvos: “Santifica-os na verdade”, ele orou, “a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Não importa se estamos sendo humilhados diante de Deus pela primeira vez ou se estamos fazendo uma nova visita à escuridão condenadora da barriga do peixe, a graça de Deus da qual necessitamos é encontrada e vivenciada por meio da Palavra de Deus.
A oração de Jonas pela libertação
A oração de Jonas pela libertação
Em quê, exatamente, Jonas estava confiando quando ele se voltou novamente para Deus em oração? Já falamos sobre o “quando” da oração de Jonas: ele orou quando Deus o lançou na escuridão. Estudamos o “como” da oração de Jonas: ele orou lembrando-se do Senhor, quando a graça de Deus o lembrou dos salmos. Agora, falta explicar o “o quê” da oração de Jonas.
O que ele pediu em sua oração? O que ele buscou em sua oração das profundezas?
A oração de Jonas se concentra num único tema, introduzido já no início, isto é, a resposta misericordiosa de Deus em sua necessidade: “Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz” (Jn 2.2).
Ele chegou a essa compreensão reconhecendo primeiro sua situação verdadeira; em segundo lugar, lembrando-se de seu relacionamento com o Senhor; em terceiro lugar, apelando à providência graciosa de Deus para pecadores como ele.
Primeiro, Jonas descreve sua situação desesperadora na barriga do grande peixe. Ele estava em “angústia” (Jn 2.2). Ele estava no “ventre do abismo”, ou seja, ele acreditava encontrar-se num túmulo infernal. “… a corrente das águas me cercou” (v. 3), ele escreve, lembrando-nos dos salmos que falam das dificuldades que se erguem como uma enchente, mas no caso de Jonas isso já não era uma metáfora.
Aqui, Jonas entendeu que estava morrendo: “… desfalecia a minha alma” (Jn 2.7). E sua situação era verdadeiramente miserável: “… as algas se enrolaram na minha cabeça. Desci até aos fundamentos dos montes, desci até à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim, para sempre” (Jn 2.5–6). Jonas via seu peixe como prisão com grades intransponíveis.
Essa é uma versão dramática do tipo de situação em que o pecado e a tolice nos lançam. Dificilmente passamos pela situação exata de Jonas, mas sentimos as mesmas emoções por razões diferentes.
Para alguns, é sua carreira que os levou ao desespero. Para outros, é um relacionamento ruim que semeou destruição em sua vida. Algumas pessoas experimentam isso por meio de tolices financeiras; o peso de suas dívidas lhes parece uma prisão.
Mas o pior aos olhos de Jonas era que ele estava separado de Deus: “Então, eu disse: lançado estou de diante dos teus olhos” (Jn 2.4).
Era justamente isso que ele pretendera com sua fuga do Senhor. Mas agora ele havia provado o gosto de sua rebelião contra Deus, toda a amargura de sua situação sem saída sufocava sua alma. Preso no peixe, Jonas havia chegado ao fim.
Esse reconhecimento de sua situação verdadeira foi o ponto de virada na vida de Jonas.
Isso ocorre com frequência também em nossa experiência: apenas quando vemos a profundeza da nossa queda é que estamos prontos para buscar o caminho da libertação oferecido por Deus. Jonas reconheceu a tolice de seu pecado. Ele percebeu sua necessidade do Senhor.
Como então ele poderia ser restaurado?
A resposta se manifesta no restante dessa oração. Lemos que “Jonas orou ao Senhor” (Jn 2.1). Após ter reconhecido sua situação verdadeira, Jonas se lembrou de seu relacionamento com Deus.
O tempo todo ele havia sido um homem em aliança com Deus. Ele acreditava em Deus, e Yahweh era seu Deus. Isso torna sua rebelião ainda mais tola, mas também demarca o início de sua esperança.
Podemos recriar os pensamentos de Jonas. Ele sabia que estava separado de Deus em sua descrença e em suas circunstâncias. O Senhor o havia afastado de sua visão (Jn 2.4). Mas aquilo que ele sabia sobre o Senhor o lembrou de que havia um caminho de esperança.
A promessa da graça de Deus permanecia a despeito da tolice de Jonas no pecado. Ele havia abandonado Deus, mas o fato de que ele ainda não havia se afogado provava que Deus não o havia abandonado.
Em tempos de desespero, cada cristão deveria se lembrar da promessa de Deus de que ele jamais abandonará seu povo. Deus disse: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Paulo celebrou essa verdade em prosa retórica:
Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? […] Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.35,37–39).
O fundamento dessa convicção é o ensinamento bíblico do amor inabalável de Deus pelos seus. “Com amor eterno eu te amei”, Deus diz ao seu povo (Jr 31.3). E diz: “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jr 32.40).
Portanto, em cada provação podemos olhar para a misericórdia de Deus, a lembrança da fidelidade de Deus em misericórdia, recebida exclusivamente por meio da simples fé, transformou a petição de Jonas em louvor.
É isso que os críticos liberais de Jonas não conseguem entender. Agora, ele confia na salvação de Deus. Isso é notável, pois em momento algum lemos que Jonas pediu a Deus que fosse liberto do peixe.
No entanto, ele exulta: “Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz” (Jn 2.2).
Este é o sinal de que somos restaurados à fé: enquanto conhecermos o favor do Senhor, não precisaremos pedir para sermos libertos das nossas provações.
Como Jonas sabia que Deus o havia ouvido e respondido à sua oração?
A resposta é que ele reconheceu a chama de seu arrependimento e de sua fé. A simples lembrança do Senhor é prova de que o Senhor respondeu ao seu clamor.
A simples capacidade de reconhecer humildemente a nossa indignidade e nosso pecado e de louvar a Deus por seu amor fiel é prova de que Deus está presente para salvar-nos.
Jonas reconhece uma analogia entre sua situação física e a situação espiritual em que ele havia permanecido: “Desci até aos fundamentos dos montes, desci até à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim, para sempre; contudo, fizeste subir da sepultura a minha vida, ó Senhor, meu Deus!” (Jn 2.6).
Sua prisão verdadeira eram sua descrença e seu ressentimento em relação a Deus, nos quais ele sofreu em escuridão; o estômago do grande peixe era apenas a analogia.
Deus o libertou restaurando sua fé, e isso era tudo que Jonas precisava para saber que ele seria completamente restaurado, nesta vida ou na próxima: “Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo” (Jn 2.7).
O fato de ele se lembrar de Deus como Salvador bastou para assegurá-lo da certeza de sua salvação.
Você percebe que sua fé em Cristo testifica a obra salvífica de Deus em sua vida? Sabe que, quando você é restaurado a Deus, está seguro mesmo em momentos das mais escuras provações?
O terceiro aspecto da oração de Jonas é seu apelo à graça de Deus para os pecadores. Jonas não só recuperou uma confiança geral na misericórdia de Deus, mas lembrou-se também da provisão que Deus fez para a salvação de pessoas como ele. Esse foco é evidente em sua oração: “… lançado estou de diante dos teus olhos; tornarei, porventura, a ver o teu santo templo?” (Jn 2.4).
Por que Jonas pensou no templo de Deus?
Ele pode ter pensado no templo como lugar em que Deus residia, direcionando então suas orações para este lugar. Esse pensamento é sugerido no versículo 7: “… subiu a ti a minha oração, no teu santo templo”. Mas isso não explica a questão central no versículo 4: “… tornarei, porventura, a ver o teu santo templo”. Hugh Martin também se faz essa pergunta:
Jonas pensou no “templo”, e por quê? Porque Deus havia colocado ali o seu nome. Porque o templo era o símbolo da presença divina como Deus do amor e especialmente como Deus do favor propiciado; como Deus que residia entre os querubins, como Deus no assento da misericórdia respingado de sangue, no trono da graça.
Resumindo: Jonas se lembrou de que Deus havia ordenado sacrifícios como forma de restaurar os pecadores. Era em virtude desses sacrifícios que o templo existia, para que o sangue dos carneiros fosse derramado pelo perdão dos pecados. E foi pela misericórdia de Deus, por meio do sangue do sacrifício, que Jonas tinha a esperança da salvação.
A oração de Jonas serve como modelo para nossa própria oração por salvação. Pois aquilo para o que Jonas olhou em fé se cumpriu em Jesus Cristo.
Cada um de nós, não importa quão fundo caímos, pode olhar para o altar no qual o Cordeiro foi morto para a reconciliação com Deus. Cada um de nós, não importa quão escuras sejam as circunstâncias, pode olhar para a cruz de Cristo como prova do amor eterno de Deus.
O apóstolo João escreveu: “Se todavia (…), alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 2.1–2). Paulo acrescentou: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8.31–32).
Isso significa que, independentemente das provações e dos sofrimentos que experimentamos nesta vida – por causa de nossos pecados ou não –, podemos, pela fé em Cristo, encontrar na cruz todas as provas necessárias do amor conquistador de Deus, do amor santo de Deus, do amor providencial de Deus, do amor eterno de Deus.
Com a cruz em mente, o escritor de Hebreus nos incentiva: “Acheguemo-nos, portanto (…), confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16).
A salvação do Senhor
A salvação do Senhor
Reconhecendo o perigo em que ele havia caído por causa do seu pecado, lembrando-se da fidelidade pactual de Deus e finalmente apelando à graça salvífica de Deus por meio do sangue de Cristo, Jonas concluiu sua oração com uma grande exclamação, que tem encorajado multidões do povo de Deus: “Ao Senhor pertence a salvação!” (Jn 2.9).
É possível que Jonas quisesse dizer: “Apenas Deus pode me salvar”, e certamente ele havia aprendido isso. Ou, talvez, quisesse dizer: “Deus se agrada operando a salvação”. Isso também seria verdade.
Mas em termos pessoais – e a oração de Jonas era de natureza profundamente pessoal – não há dúvida de que Jonas chegara a uma conclusão surpreendente que transformou sua atitude diante de tudo em sua vida.
Jonas entendeu então que Deus o havia lançado na escuridão profunda, nesse grande peixe, não para destruí-lo, mas para salvá-lo.
Você reconhece o propósito salvífico de Deus por meio de Jesus Cristo, como providencia para sua salvação?
Deus não está destruindo você em suas provações. O Senhor está salvando você, se pela fé confiares.
Ele está o restaurando da rebelião pecaminosa, da autoconfiança tola, do orgulho ignorante e da teimosia descrente – aos quais todos nós tendemos naturalmente em nossa condição caída – para que você possa aprender a voltar-se para ele em busca de graça.
Cada um de nós é convidado a aprender a oração de Jonas, para que todos nós possamos regozijar juntamente com o profeta: “Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu […]. Ao Senhor pertence a salvação!” (Jn 2.2,9).