A parábola dos talentos. Ou: invista na bolsa de valores celestial (Mt 25.14-30)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

A nossa mente é moldada sobre a espera de uma forma muito errada. Pensamos muito naquele modelo de “sala de espera” de consultório - entediante ou de, no máximo, olhar pra tela da televisão que está no silencioso ou pegar aquelas revistas velhas. A gente dificilmente vê a espera como tempo de preparação ou de atividade até um grande momento.
Precisamos ter em mente que a espera cristã é uma um misto de caminhada, corrida, esporte olímpico, luta e até mesmo guerra. É a noiva que espera o casamento se aprontando para o noivo. É o atleta que espera o dia do campeonato com árduos treinos e rigorosa dieta. É o cristão que serve a Deus e vence o pecado a cada dia até o dia em que, pela graça, será igual ao seu Senhor Jesus Cristo.
Chama-se ‘espera’ somente porque no teatro de Deus ainda não chegamos à cena final, mas já estamos nos atos do enredo. Aqui nessa parábola temos exatamente esse ponto da espera ativa. É a espera do investidor que enxergará o retorno de seus investimentos mas que agora está a estudar, a negociar e a investir. Ele é fiel [ou seja, demonstra sua fidelidade] em desenvolver aquilo que lhe foi confiado. É assim que Deus requer que esperemos a volta de Seu Filho.

Exposição

A presente parábola ainda se encontra no contexto do Sermão Profético de Jesus (Mt 24), respondendo aqui sobre a segunda vinda de Jesus Cristo não com data e horário, mas com uma advertência à uma espera preparada (Mt 24.44) e vigilante (Mt 24.13). Jesus então conta essa terceira parábola (v. 14 “pois”//“também”) sobre a fidelidade que se espera de seus servos que aguardam o seu retorno.
1. Dois tipos de investidores (vs. 14-18)
A parábola de Jesus conta a história de um homem que viajou para longe (ausentando-se do país) e confiou seus bens à administração de seus servos. Mais do que a administração dos bens materiais, foi dado a cada um dos servos parte do patrimônio financeiro de seu senhor: a um cinco talentos, a outro dois talentos e ainda a outro um talento. Lembremos que o talento era uma unidade monetária que estima-se que valia por seis mil dias de trabalho (denários). Eles receberam, portanto, o equivalente a 30, 12 e 6 mil denários - por baixo, levando-se em conta o salário mínimo brasileiro, cerca de R$ 1 milhão, R$ 400 mil e R$ 200 mil, respectivamente.
Ele distribuiu conforme a capacidade que cada um tinha de administrar e desenvolver aquela riqueza [aquele patrimônio].
i) Os que negociam com sabedoria (vs. 16 e 17)
O texto nos diz prontamente que os dois primeiros homens, os que tinha as maiores quantias, investiram o dinheiro que lhes foi confiado. Eles negociaram imediatamente. É óbvio que eles não procuraram o primeiro investimento que parecia promissor. Entendamos que está subentendida a ideia de que foi negociado com sabedoria e inteligência. Por imediatamente não significa que ele vendeu prontamente, mas que saiu a negociar e estudar as possibilidades, oportunidades, os riscos e os retornos. Negociaram com sabedoria para multiplicar a renda.
Quem já investiu algum dinheiro sabe da importância do tempo para o retorno. Sabe irmãos, eu gosto do tema de investimentos. Se eu tivesse começado a investir em 2008 quando me interessei a primeira vez pelo tema, hoje eu teria “pé de meia” para uma aposentadoria antecipada. Mas só comece a praticar dez anos depois. Quando se trata desse assunto o tempo é um recurso precioso que não pode ser desperdiçado.
ii) O que guarda com preguiça (v. 18)
Aparentemente ele não guardou por preguiça, mas por medo e cautela (v. 25). De imediato ele, em outras palavras, guardou “debaixo do colchão”. Como diz o ditado, ele enterrou os seus talentos. Por que ele fez isso? Ele quis garantir algo pro seu Senhor (“aqui tens o que é teu” v. 25). E isso significava literalmente não fazer nada.
Mas veja bem: seu medo e cautela escondiam a sua preguiça (v. 26). A gente já falou disso: se tem algo que está por trás de muitos de nossos pecados é exatamente a preguiça. Ela nos impede de fazer o que poderíamos e não fazemos: aplicar aquilo que Deus nos colocou como mordomos - pense na sua capacidade física; pense na sua capacidade intelectual; pense nos recursos materiais e financeiros que tem nas mãos; pense na sua criatividade e capacidade de fala; na sua moderação; pense nos dons espirituais que possui. Há urgências no mundo criado e na igreja que devemos trabalhar - mas a preguiça não deixa. Na verdade, você só quer garantir as coisas que já tem: e a forma de garantir algo é fazer nada! Nenhum curso, nenhuma leitura, nenhum esforço a mais. Nada de administrar o que te foi confiado conforme as tuas capacidades. E você diz que é por medo ou cautela [ou que está ainda pensando em como fazer - e não imediatamente].
Guarda essa aplicação antecipada: imediatamente não significa colocar a mão na massa - mas com certeza significa elaborar um plano, montar uma estratégia, estudar e agir. Só não significa pensar e não fazer nada.
2. Dois tipos de resultados (vs. 19-30)
i) Rendimentos e dividendos de alegria (vs. 19-23)
Nós já vimos que o retorno dos dois investidores foi ótimo: 100% de retorno naquilo que investiram (vs. 16 e 17). 5 talentos (ou R$ 1 milhão) se tornaram 10 talentos (ou R$ 2 milhoões). 2 talentos (ou R$ 400 mil) se tornaram 4 talentos (ou R$ 800 mil). Não sabemos quanto tempo o senhor ficou fora além de que foi muito tempo (v. 19), mas é possível concluir que esse rendimento foi excelente.
Quando o senhor vem ele vem para prestar contas. Não vem para outra coisa. E seu parecer sobre esses dois servos é um: são servos bons e fieis (vs. 21 e 23). São semelhantes ao servo que foi zeloso mesmo quando seu senhor não estava presente e cumpriu bem os deveres e serviços da propriedade de seu patrão (Mt 24.45). Seus rendimentos geraram alegria no seu senhor.
Há no mercado a figura dos gestores de fundos de investimentos. Eles recebem o dinheiro das pessoas que acreditam na sua estratégia e compram cotas nos fundos que eles administram, tendo o dever de multiplicar os recursos desses investidores. Eles devem pegar todo esse capital e investir bem, dividindo os rendimentos com os investidores. Se ele multiplicar esses recursos todos ganham, os investidores se alegram. E ele ganha com uma parte desse retorno. É semelhante aqui: aqueles que foram fieis e bons investidores poderão partilhar da alegria do seu senhor (vs. 21 e 23). Os rendimentos são deles também. Eles não fizeram pensando nisso, pois eram fieis e não mercadores, mas foram beneficiados.
Falamos sobre o convite a alegria mais enfaticamente desde a parábola das bodas e percebemos a ênfase aqui: o reino de Deus é um convite à alegria no Senhor. Sobre o muito te colocarei é participar da alegria do teu senhor. Não é a espera de dinheiro nem riquezas. É a espera de alegria.
ii) Débitos e corrosão de todo o patrimônio (vs. 24-30)
O parecer do senhor sobre o servo que não investiu é duro: mau e preguiçoso (v. 26). O servo sabia que o seu senhor era um investidor, alguém que esperava retorno, mas nada ele fez. Nem mesmo emprestar o dinheiro aos banqueiros para ganhar algum retorno mínimo (v. 27) (um CDB da época).
O texto não diz o que foi perdido pelo proprietário devido a negligência do servo mau. No mínimo a perda por não ter ganho nada - o dinheiro parado que não rendeu. Mas num mundo normal, a perda se deu provavelmente também com a inflação e aquilo que se podia comprar com um talento não se podia mais com o retorno do senhor tempos depois. O dinheiro valia menos. O servo mau e preguiçoso estava em dívida. É um desperdício o dinheiro continuar em suas mãos, melhor é dar o talento a quem investirá melhor (v. 28).
Os que trabalham pelo senhor e lhe dão frutos terão acrescentados recursos para frutificarem ainda mais. Os que negligenciam terão de si retirados todos os recursos confiados para não perderem e desperdiçarem o que administram (v. 29).

Aplicações

Somos mordomos e não proprietários
Tudo que temos pertence a Deus. Não somos proprietários, Deus é. Somos administradores, somos mordomos (1Co 4.1,2; 1Pe 4.10). Essa imagem do homem como mordomo é exatamente a que Deus o constituiu desde a sua criação: sujeitai e dominai o mundo (Gn 1.26-28). O seu dever e de administrar e desenvolver a criação em todos os seus aspectos. E Deus fez o homem aprender isso num jardim onde ele deveria cultivar e guardar (Gn 2.15). E um jardim é interessante pois, se você já visitou ou cuidou de um sabe que ele só continua como jardim se alguém cuidar dele, senão vira um matagal. Um simples broto ali é mais belo que todas as ferramentas de jardinagem. Quando exuberante, as ações do jardineiro, como lembra C. S. Lewis se aparentam tão insignificantes, pois não haveria beleza tão gloriosa se não fosse a chuva, a vida brotando da terra, a luz e o calor do céu. A beleza essencial é a da fonte divina. “Mas, ainda que pequena, sua participação é indispensável e laboriosa. Quando Deus plantou um jardim, ele colocou um ser humano sobre ele e colocou o ser humano debaixo de Si.” (Lewis em Os Quatro Amores). Cada tarefa nesse jardim é adequada às nossas capacidades.
Uma mordomia total requer investimentos totais
Não quero que você pense sobre o que vai fazer hoje na igreja. Na verdade quero um pouco. Mas quero que veja que sua mordomia é muito maior: Deus te concedeu o mundo. Sim, numa perspectiva bastante honesta Deus te concedeu a vida, uma família, uma comunidade (uma rua, um bairro), uma cidade. Os bens que ele te confiou valem muito! E a promoção do bem e das boas obras vai para além de distribuir cestas básicas ou liderar o grupo de oração. Ou talentos artísticos. Implica em ser um ser humano como Deus quer, se expressando, se vestindo, se comunicando, trabalhando, tendo lazer, fazendo arte, consumindo arte, sendo um esposo/esposa, sendo pai/mãe, sendo filho/filha, neto/neta, sendo um cidadão, ser homem e mulher para a glória de Deus. O objetivo é Ele. É honrá-lo e dignificá-lo. Adorá-lo integralmente. Ele é dono do mundo todo e devemos fazer tudo para exaltá-lo. Nenhuma área das nossas vidas está de fora disso.
Mordomia específica: ser servo na embaixada do Reino de Deus, a Igreja
Mas isso significa também colocar as coisas na ordem correta de prioridades. Mais que isso: de efetividade. Nossas próprias obras não podem por si só salvar o mundo. Não salvam nem a nós mesmos. Precisamos nos lembrar de que somente Cristo diz “eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21.5) . A redenção do mundo começa na Igreja. Precisamos resgatar o sendo de serviço no Reino de Deus. Servir a Deus onde quer que estejamos não significa jamais negligenciar a Igreja, pelo contrário, em seu seio ser inundado constantemente pela Palavra e aprendermos a exercitar os dons celestiais dados para a edificação da Igreja (1Co 12.7). Você dificilmente será qualquer coisa do que falamos antes para a glória de Deus sem antes aprender a amar seu irmão (1Jo 3.23) mais do que a si mesmo ou sem antes perceber que a água e o pão mais necessário para o homem é o evangelho de Deus. Como Paulo nos ensina em Efésios (Ef 5.18) e Colossenses (Cl 3.12-16) , devemos ser cheio do Espírito Santo e da Palavra para nos submetermos uns aos outros em amor e cumprirmos nossos ministérios na igreja, família e sociedade.
Se você não começou a investir, comece agora!
Não estou falando de Day Trade na bolsa, nem de aquisição de imóveis, nem de compra de ativos em criptomoedas. Estou falando de construir tesouros onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não roubam: ajuntem tesouros no reino dos céus. Coloquem os seus corações nos céus: invistam todos os seus recursos de olho lá.
Amados, posso não ter começado a investir financeiramente aos 18 anos, mas não me arrependo de ter iniciado a semeadura para o meu Senhor logo na minha conversão. Vamos juntos! Você não perde tempo com os novos convertidos nem mesmo com os desviados. É tudo investimento. Aplique os recursos que o Senhor te deu nos que ouvem e nos que não ouvem. Trabalhe, cante, ore e pregue. Longe de ser um bom servo, mas tento não deixar nada parado: tento sempre produzir algo para o meu senhor. Não quero deixar pra amanhã nada! Não sejamos encontrados desleixados, nem despreparados sem azeite, nem com os talentos enterrados. Analise o que está sob sua mordomia e não está “rendendo”.
A preguiça tem um custo
Talvez a pobreza ou a mediocridade; o descontentamento consigo muitas vezes; talvez a felicidade do teu casamento; a pobreza e a inassistência ao teu redor; e com certeza: a perda de tudo que tu tem no dia do juízo. O preguiçoso deve a Deus. Com diz a canção popular “Até me emocionei” do rap Emicida, “se Deus te deu o dom, se cresce não mano. É que cê tá devendo por três”.
Deus te dar dons é para você praticá-los e não praticar é algo terrível. Significa que os bens que Deus te confiou estão sendo corroídos e estão desvalorizando, ao passo que um dia você terá de prestar contas com o Senhor e não poderá cobrir seus débitos. Até aquilo que tem lhe será tirado (v. 29) e o inferno, local de decadência, será sua morada eterna. Lembra que você há de prestar contas: você não pode não frutificar, você não pode não semear, você não pode não fazer nada! Se Cristo morreu por você, você não precisa fazer nada para ser salvo, mas, em gratidão, você fará tudo porque foi. A resposta à graça é por a mão no arado.
S.D.G
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