Salva-nos, Senhor! - Salmo 12.1-8
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Introdução
Introdução
Ao mestre de canto, para instrumentos de oito cordas. Salmo de Davi
1 Socorro, Senhor! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens.
2 Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido.
3 Corte o Senhor todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente,
4 pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?
5 Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o Senhor; e porei a salvo a quem por isso suspira.
6 As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes.
7 Sim, Senhor, tu nos guardarás; desta geração nos livrarás para sempre.
8 Por todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza é exaltada.
Este Salmo em específico mostra o contraste na vida espiritual no seio de Israel. Davi está demonstrando sua aflição, expressando sofrimento, lastimando o que estava acontecendo. Muitos haviam apostatado da obediência ao Senhor. A deploravel, miserável, desesperadora condição de seu povo, demonstrava a completa perversão moral relativisando a boa ordem.
Davi suplica ao Senhor alívio em seu coração, ao que ele estava presenciando, o povo estava desobedecendo a Deus, ao Senhor. Davi para tentar confortar-se e também a todos os santos, depois de ter mencionado a promessa de Deus na assistência de seu povo, ele magnifica Sua fidelidade e constância em cumprir suas promessas.
É provável que o salmista estivesse falando aqui do tempo quando Saul o perseguia, neste sentido, do mais elevado ao mais inferior, conspiravam para destruir um homem inocente e aflito. Ao que percebemos a justiça estava completamente conspurcada, ou seja, havia dúvidas sobre a integridade, estava maculada, infamada, foi desonrada entre o povo eleito de Deus. Todos eles, com unânime consenso, à luz de sua hostilidade a uma causa boa e justa, irrompiam-se em atos de ultraje e crueldade.
Davi, neste ponto, não está acusando algum estranho ou estrangeiro, ele está informando que esse dilúvio de iniqüidade prevalecia na Igreja de Deus. Com esse relado de Davi, é o Senhor a dizer aos amados irmãos fiéis de nossos dias, não desanimem injustificadamente à vista do estado tão corrompido e confuso do mundo. Considerem como é importante que suportem com paciência, visto que sua condição é justamente como aquela de Davi em tempos passados.
Davi quando invoca por socorro divino, ele se anima na esperança de obtê-lo, com base no fato de que não havia retidão alguma entre os homens. Neste texto somos ensinados através do exemplo de Davi a recorrer a Deus quando nada vemos ao nosso redor além de escuridão.
Este texto traz um grande alívio aos nossos corações, devemos convencer-nos que, quanto mais confusas estão as coisas neste mundo, mais pronto está Deus em ajudar e socorrer a seu povo, esse é o tempo oportuno para interferir com sua benevolente assistência.
Davi encerra sua oração afirmando que o Senhor livrará os piedosos; “Deus livrará os piedosos, mesmo quando o mundo esteja em estado da mais profunda corrupção”.
Neste sentido trabalharemos sob o tema, Salva-nos, Senhor! Olharemos para este texto aprendendo a recorrer ao Senhor, todo poderoso, qual todas as coisas conhece e sabe.
1. Porque já não há homens piedosos (vs. 1–4)
1. Porque já não há homens piedosos (vs. 1–4)
1 Socorro, Senhor! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens.
2 Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido.
3 Corte o Senhor todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente,
4 pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?
Davi está se queixando com base no fato de que os justos haviam sido injustamente mortos, o salmista está dizendo que Saul cruelmente eliminou todos quantos observavam a justiça e a fidelidade. Entenda as palavras de Davi por uma ótica mais simples, não havia mais qualquer prática ou virtude de fazer o bem entre os homens. Dando espaço a dois tipos de injustiça, a violência e a fraude, os homens deveriam viver em seus relacionamentos de forma recíproca, devendo abster-se de fazer qualquer tipo de mal ou injúria uns contra os outros, deveriam cultivar a paz, a amizade mútuas, ou seja, não deveriam ser leões nem raposas.
Quando se olha para o mundo em estado tal de desordem, como aqui descrito, devemos revestir-nos de muita prudência para não uivarmos com os lobos nem permitir que sejamos levados pela dissipação e pelo dilúvio de iniqüidade que vemos prevalecer ao redor. Olhe para o exemplo de Davi, em meio a calamidade, ele busca ao Senhor em oração, suplica ao Senhor, pedindo socorro.
A urgente súplica de Davi diz respeito ao aparente desaparecimento dos fiéis da terra, descritos pelo uso dos termos usados para peidosos ou leais (chasid), a divisão espiritual da sociedade foi reconhecida mais tarde por Elias como descrito em 1Reis 19.9-18, e manifestada particularmente na rejeição de Jesus pelos seus, como encontramos em João 1.10-11.
Nós somos imitadores de Cristo, discipulos do Senhor, quando nosso Senhor estava em meio as grandes calamidades, Ele buscava ao Pai em oração. Em meio ao mundo condenando a Cristo, Ele diz, perdoe-os. Neste sentido amados, sejamos imitadores de Cristo.
A vida estava sendo marcada pelo engano, de modo que todos falavam contra seu próximo, Davi demonstra a injustiça que é contrária à verdade, afirmando que não há sinceridade nem integridade na linguagem deles, porque o grande objetivo a que se dedicam inteiramente é enganar. Observe a maneira como eles enganam, se esforçando para pegar seu próximo por meio de lisonja, ou seja, exaltação feita por meio de exageros.
Calvino em seu comentário de salmos expressa de forma fantástica, trazendo a raiz da palavra hebraica encontrada neste texto é חלקות (chalakoth), que denota lisonja, bajulação, ela derivada da palavra que significa divisão. Neste sentido expresso no comentário de Calvino, aqueles que resolvem agir fidedignamente em seu relacionamento com seu próximo, de forma franca e ingenuamente expõem todo o seu coração. As pessoas traiçoeiras e fraudulentas mantêm parte de seu sentimento oculta em seu íntimo e a encobrem com o verniz da hipocrisia e com honestidade externa, de modo que, à luz de sua linguagem, não conseguimos deduzir coisa alguma definida acerca de suas intenções. O cristão tem que obter uma linguagem sincera, a fim de que seja semelhante a um espelho, no qual seja contemplada a integridade de nosso coração.
O ódio e a lisonja são cristais fiéis que adulteram a verdade, realçando a fonte e a causa primeira disso, nenhuma sociedade ou comunhão eclesiástica pode subsistir se a situação for esta. O apóstolo Paulo escreve aos Efésios 4.25, “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.”
O salmista adiciona ao seu clamor por socorro um apelo para que o Senhor intervir, cortando todos os fraudulentos e os que se vangloriavam em sua arrogância, o verbo “cortar” retrocede à ameaça em Gênesis 17.14, de que uma pessoal infiel à aliança seria “cortada”, ao cortarem uma aliança com o Senhor eles seriam cortados, eliminados. Tais pessoas são descritas como aqueles que gostam de falar de seus próprios feitos e qualidades ou seja, falam de si mesmas e de suas próprias ações e qualidades.
Esses homens tem seus lábios a seu próprio serviço e desafiam a todos a que prevaleçam contra eles. Os lábios devem servir a Cristo e não a si. Os profetas tiveram que repreender o povo pelos pecados da língua como encontramos em Oséias 4.1-2; Jeremias 12.6. O Novo Testamento reafirma o quanto a língua é um fogo que corrompe totalmente as pessoas leia Tiago 3.6. Deus repreende os homens pois não pode haver coração boblez, ou seja, uma linguagem ambígua, os tornando aos olhos dos outros diferentes do que realmente são.
Davi se queixa no versículo terceiro, ele agora junta uma imprecação, desejando que Deus cortasse as línguas dos fraudulentos. Não está claro se ele deseja que os fraudulentos fossem completamente destruídos, ou apenas que seus meios de fazer madades, malefícios de destilarem seus venenos fossem tirados deles.
O escopo da passagem nos leva, a adotar o primeiro sentido e a visualizar Davi como que desejando que Deus, por um meio ou outro, removesse essa praga do caminho. Já que ele não faz nenhuma menção de malícia, enquanto abomina veementemente suas línguas venenosas, peçonhetas, mordaz. Podemos então concluírmos que ele havia sofrido muito mais injúria dos últimos do que dos primeiros, sendo indubitável que a falsidade e as calúnias são mais letais do que espadas e todo gênero de armas.
À luz da segunda cláusula do terceiro versículo, surge mais claramente que espécie de lisonjas elas eram, das quais se faz menção no versículo precedente: A língua que fala coisas grandes ou soberbamente. Alguns lisonjeiam de maneira servil e repugnante, declarando que estão prontos a fazer e a enfrentar qualquer coisa que for preciso em nosso benefício. Aqui, porém, Davi fala de outro tipo de lisonjas, a saber, aqueles que, ao lisonjearem, soberbamente se gabam do que realizarão, e associam a conduta degradante, despudorada e ameaçadora com suas artes fraudulentas.
Portanto, Davi não está falando da multidão de pessoas convencidas dentre a ralé que fazem da bajulação um comércio, as quais vivem a expensas de outras pessoas. Ele aponta seu dedo contra os grandes caluniadores da corte donde lhe vinham os ataques, que não só se insinuavam com maneiras gentis, mas também se vangloriavam intencionalmente e apresentavam grandes e soberbos discursos para humilharem os pobres e simplórios.
O salmista confirma esse fato de uma forma mais plena no versículo seguinte, “Eles têm dito: seremos fortalecidos por nossas línguas.” Esses homens estão dominados de grande autoridade, pensam que na própria falsidade a que se têm dedicado, encontrarão força suficiente para concretizarem seus propósitos e ainda manterem-se protegidos. Essa desabrida presunção é o excrescêncio da perversidade, tripudiando sem qualquer escrúpulo toda lei e eqüidade com sua linguagem arrogante e vangloriosa.
Ao procederem assim, é precisamente como se francamente declarassem guerra contra o próprio Deus. O sentido mais coerente para essa frase é, as pessoas perversas que afirmavam estar armadas com suas línguas iam além de todos os limites e acreditavam poder realizar por esse meio tudo quanto lhes agradasse, deformando tudo com suas calúnias de modo a quase ocultarem o sol com as trevas.
2. O Discurso Infalível do Senhor (vs. 5–8)
2. O Discurso Infalível do Senhor (vs. 5–8)
5 Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o Senhor; e porei a salvo a quem por isso suspira.
6 As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes.
7 Sim, Senhor, tu nos guardarás; desta geração nos livrarás para sempre.
8 Por todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza é exaltada.
Davi agora põe diante de seus olhos, como causa de consolação, o fato de que Deus não permitirá que o perverso cause devastação sem fim e sem medida. Para estabelecer com mais eficácia, para si e para os outros, a confiança nesta verdade, ele introduz o próprio Deus falando.
Deus está declarando com seus próprios lábios que virá pôr em liberdade o pobre e oprimido. Há também forte ênfase no advérbio agora, por meio do qual Deus notifica que, embora nossa segurança esteja em suas mãos, portanto, em depósito seguro, não obstante seu livramento da aflição não se dá imediatamente; pois suas palavras subentendem que ele esteve até agora, por assim dizer, tranqüilamente a dormitar, até que seja despertado pelas calamidades e clamores de seu povo. Quando, pois, as injúrias, as extorsões e as devastações de nossos inimigos nos deixarem desprovidos de tudo, menos de lágrimas e gemidos, lembremo-nos de que agora chegou o tempo quando Deus pretende erguer-se e executar juízo. Esta doutrina deve também servir para produzir em nós a paciência e impedir-nos de ficarmos enfermos, a fim de sermos reconhecidos no número dos pobres e aflitos, cuja causa Deus promete tomar em suas próprias mãos.
Os expositores diferem com respeito ao significado da segunda cláusula do versículo. Segundo alguns, pôr em segurança significa o mesmo que dar ou trazer segurança, como se a letra ב(beth), que significa em, fosse supérflua. Mas a linguagem contém antes uma promessa de conceder aos que são injustamente oprimidos plena restituição. O que temos em seguida é ainda mais difícil. A palavra פוח(phuach), que traduzimos, pôr armadilhas, às vezes significa apagar (luz, fogo) ou soprar; em outras vezes significa enredar ou pôr armadilhas para; às vezes significa também falar. Os que pensam que aqui se deve usar o verbo falar também diferem entre si com respeito ao significado. Alguns traduzem: Deus falará a si mesmo, ou seja, Deus determinará consigo mesmo. Visto, porém, que o salmista já declarou a determinação de Deus, essa seria uma repetição desnecessária e supérflua. Outros apontam para a linguagem dos piedosos, como se Davi os introduzisse falando uns com os outros acerca da fidelidade e estabilidade das promessas de Deus; pois com essa palavra conectam a seguinte frase: As palavras do Senhor são palavras puras etc. Mas esse ponto de vista é ainda mais forçado do que o anterior. É mais admissível a opinião daqueles que supõem que a determinação de Deus, de levantar-se, acrescenta a linguagem que é dirigida aos piedosos. Não seria suficiente que Deus determinasse consigo mesmo o que faria com nossa segurança, se não nos falasse expressa e nominalmente. Somente quando Deus nos faz entender, por sua própria voz, que será gracioso para conosco é que podemos acalentar a esperança de salvação. É verdade que Deus fala também aos incrédulos, mas sem produzir efeito algum positivo, já que eles são surdos; justamente como fica sem qualquer efeito quando os trata com mansidão e liberalidade, visto que são estúpidos e devoram seus benefícios sem qualquer senso de que os mesmos procedem de Deus. Uma vez, porém, que percebo que sob a palavra יאמר(yomar), direi, as promessas podem muito bem ser adequada e propriamente compreendidas para evitar-se a repetição da mesma coisa, adoto sem hesitação o sentido da última cláusula, a qual apresentei na tradução, isto é, que Deus declara que se erguerá para restaurar a segurança daqueles que de todos os lados são cercados pelas redes de seus inimigos e até mesmo apanhados nelas. A essência da linguagem é esta: Os ímpios podem manter os pobres e aflitos enredados em suas malhas como uma presa que finalmente conseguiram apanhar; mas os porei em segurança. Se alguém replicar que a redação do hebraico não é para quem, mas para ele, eu observaria que não é nenhuma novidade que sejam usadas as palavras, ele, para ele, em vez de quem ou para quem. Se alguém preferir o sentido soprar em, não lhe farei muita oposição. Segundo essa redação, Davi, elegantemente, escarneceria do orgulho dos ímpios que confiadamente imaginavam que podiam fazer qualquer coisa, mesmo com seu hálito, como já vimos no Salmo 10, versículo 5.
6. As palavras de Jehovah. O salmista agora declara que Deus é infalível, fiel e irredutível em suas promessas. Mas a inserção da palavra de Deus por via desta recomendação estaria fora de propósito caso não houvera antes convocado a si mesmo, bem como aos demais crentes, a meditarem nas promessas de Deus, em suas aflições. Conseqüentemente, a ordem do salmista deve ser observada, o seja, depois de contar-nos como Deus comunica a seus servos a esperança de rápido livramento, mesmo em suas angústias mais profundas, ele agora acrescenta, como apoio a sua fé e esperança, que Deus nada promete em vão ou com o propósito de desapontar o homem. Isso, à primeira vista, parece ser de pouca importância; mas se alguém considerar mais estrita e atentamente quão inclinadas são as mentes humanas ao negativismo e dúvidas ímpias, o tal facilmente perceberá quão indispensável é que seja nossa fé sustentada por esta confiança, a saber, que Deus não é fraudulento, que ele não nos ilude nem nos fascina com palavras fúteis, e que não magnifica sem qualquer propósito, quer seu poder quer sua bondade, senão que tudo quanto promete verbalmente ele cumprirá concretamente. É verdade que não há ninguém que não confesse francamente nutrir a mesma convicção que Davi registra aqui: que as palavras de Jehovah são puras; mas aqueles que, enquanto se ocultam nas sombras e vivem comodamente, generosamente enaltecem com seus louvores a verdade da palavra de Deus, quando chegam a lutar com a adversidade absolutamente a sério, ainda que não se aventurem abertamente a derramar blasfêmias contra Deus, com freqüência o culpam por não manter sua palavra. Sempre que ele retarda sua assistência, pomos em dúvida sua fidelidade em relação às suas promessas e murmuramos francamente como se ele nos tivesse enganado. Não há verdade que geralmente seja mais bem recebida entre os homens do que aquela de que Deus é verdadeiro; poucos, porém, são aqueles que francamente lhe dão crédito por esta verdade quando se vêem diante da adversidade. Portanto, é peremptoriamente necessário que cortemos ocasião à nossa desconfiança; e sempre que alguma dúvida sobre a fidelidade das promessas de Deus nos assaltar, devemos empunhar contra ela esta arma: as palavras do Senhor são puras! A similitude da prata que o salmista junta realmente se acha muito aquém da dignidade e excelência de um tema tão sublime; contudo é bem adaptada à medida de nosso tacanho e imperfeito entendimento. A prata, se completamente refinada, é avaliada entre nós em alto preço. Mas estamos muito longe de demonstrar pela palavra de Deus, cujo preço é inestimável, um igual valor; e sua pureza é, em nossa avaliação, de menos proveito que o de um metal corruptível. Sim, uma grande quantidade de moedas não passa de mera escória em seu próprio cérebro, apagando ou obscurecendo o brilho que irradia da palavra de Deus. A palavra בעליל (baälil), que traduzimos por cadinho, muitos a traduzem por príncipe ou senhor, como se fosse uma palavra simples. Segundo eles, o significado seria que a palavra de Deus é como a mais pura prata, da qual a escória foi completamente removida com a mais perfeita arte e prudência, não para um uso comum, mas para o serviço de um grande senhor ou príncipe de algum país. Entretanto, antes concordo com outros que consideram que בעליל (baälil), é uma palavra composta da letra ב(beth), que significa em, e o substantivo, עליל (alil), que significa um vaso ou cadinho limpo ou bem polido.
[vv. 7, 8]
Tu, ó Jehovah, os guardarás; tu o preservarás desta geração para sempre. Os ímpios andam por toda parte; quando são exaltados, há repreensão para os filhos dos homens.
7. Tu, ó Jehovah. Há quem pense que a linguagem do salmista, aqui, consiste na oração reiterada; e, portanto, entendem as palavras como a expressão de um desejo, e as traduzem no modo optativo, assim: Tu, ó Jehovah, os guardas. Mas sou, antes, da opinião de que Davi, animado de santa confiança, se gloria na infalível segurança de todos os santos, a quem Deus, que nem pode enganar nem mentir, confessa ser o guardião. Ao mesmo tempo, não desaprovo totalmente aquela interpretação que vê Davi como que renovando suas súplicas diante do trono da graça. Alguns oferecem esta explicação da passagem: Tu as guardarás, isto é, tuas palavras; mas isso não me parece ajustável.16 Davi, não tenho dúvida, volta a falar do pobre, de quem havia falado na parte precedente do Salmo. Com respeito à sua mudança de número (porque, primeiro ele diz: Tu os guardarás, e a seguir: Tu o preservarás), é um procedimento muito comum em hebraico, e o sentido, com isso, não se faz ambíguo. Estas duas frases, portanto, Tu os guardarás e Tu o preservarás, significam a mesma coisa, a menos que, talvez, possamos dizer que, na segunda, sob a pessoa de um homem, o salmista pretenda realçar o pequeno número de homens bons. Tal suposição não é destituída de lógica ou de probabilidade; e, segundo esse ponto de vista, a essência de sua linguagem é: Ainda que só um bom homem seja deixado vivo no mundo, não obstante seria ele guardado em perfeita segurança pela graça da proteção divina. Mas como os judeus, ao falarem em termos gerais, às vezes mudam o número, deixo aos meus leitores livres para formarem seu próprio juízo. Isso, na verdade, não pode ser controvertido, ou seja: que pelo termo geraçãoou raça denota-se uma grande multidão de pessoas ímpias e quase toda a corporação do povo. Como a palavra hebraica, דור (dor), significa tanto os homens que vivem na mesma época, quanto o espaço do mesmo tempo, Davi, neste passo, sem dúvida tenciona dizer que os servos de Deus não podem escapar e continuar a salvos, a menos que Deus os defenda contra a malícia de todo o povo, e os liberte dos homens maus e perversos da época em que vivem. Daí aprendemos que o mundo, naquele tempo, era tão corrupto que Davi, à guisa de reproche, os põe a todos, por assim dizer, num só pacote. Além do mais, é de muita importância uma vez mais relembrar o que já declaramos, ou seja, que aqui ele não está a falar de nações estrangeiras, mas dos israelitas e povo eleito de Deus. É de bom alvitre que se observe esse fato com muita prudência, para que não venhamos a sentir-nos desencorajados pela vasta multidão dos ímpios, se às vezes vemos um imenso monte de feno no celeiro do Senhor, enquanto que uns poucos grãos de trigo se encontram ocultos embaixo. E então, por menor que seja o número dos bons, que esta persuasão esteja profundamente fixada em nossas mentes: que Deus será seu protetor, e isso para sempre. A palavra לעולם (leolam), que significa para sempre, é adicionada para que aprendamos a estender para o futuro nossa confiança em Deus, visto que ele nos ordena a esperar o socorro que procede dele, não apenas uma vez, ou por um dia, mas em todo o tempo em que a perversidade de nossos inimigos persistir em operação. Somos, contudo, ao mesmo tempo, à luz desta passagem, admoestados que a guerra preparada contra nós não é por um curto período de tempo, senão que diariamente teremos que enfrentar esse conflito. E se a custódia que Deus exerce sobre os fiéis é às vezes velada, e não se manifesta em seus efeitos, esperemos com paciência até que ele se erga; e quanto maior for o dilúvio de calamidades que nos sobrevenha, conservemo-nos muito mais firmes no exercício de piedoso temor e solicitude.
8. Os ímpios andam por toda parte. A palavra hebraica, סביב (sabib), que temos traduzido por toda parte, significa um circuito, ou dar voltas, rodear; e, portanto, alguns a explicam alegoricamente, assim: os ímpios se apoderam de todas as gargantas ou partes estreitas das estradas a fim de fechar ou sitiar os bons de todos os lados. E outros a expõem ainda mais engenhosamente, assim: eles estendem redes, usando meios indiretos e invenções cheias de artes e engodos. Mas creio que o significado simples é que tomam posse de toda a terra e se estendem por toda ela; como se o salmista quisesse dizer: Para onde quer que eu volva os olhos, vejo suas tropas por toda parte. Na próxima cláusula ele se queixa de que a humanidade é vergonhosa e humilhantemente oprimida por sua tirania. Esse é o significado, contanto que a cláusula seja lida como por si mesma distinta, separada da precedente, ponto este sobre o qual os intérpretes diferem, embora este conceito pareça aproximar-se mais da intenção do escritor inspirado. Alguns traduzem o versículo em uma só sentença contínua, assim: Os ímpios esvoaçam por toda parte, quando entre os filhos dos homens as desgraças (isto é, quando o imprestável e a escória dos homens) são exaltadas, explicação esta que não se adequa bem. Comumente sucede que as enfermidades aparecem na cabeça e se propagam nos membros; da mesma forma as corrupções procedem dos príncipes e infeccionam todo o povo. Entretanto, como a primeira explicação é mais geralmente aceita, e a maioria dos gramáticos eruditos nos diz que a palavra hebraica, זלות(zuluth), a qual traduzimos por desgraça, é um substantivo no singular, tenho adotado a primeira exposição, não que me sinta insatisfeito com a última, mas porque precisamos escolher uma ou outra
A oração foi feita e imediatamente respondida (v. 5). Não se dá nenhuma indicação de como as palavras do Senhor vieram ao salmista. É possível que viesse pelo ministério de um sacerdote, justamente como Eli ministrara a palavra de Deus a Ana (1Sm 1.17). A resposta é mais direta do que nossas versões conseguem transmitir. O grito por socorro no versículo 1 (hoshia‘) é seguido agora da certeza de que o Senhor lhe está providenciando a salvação (yesha‘, da mesma raiz, yasha‘). Deus ouve o clamor dos fracos e necessitados e provê o socorro (cf. Sl 7.6; 9.19; Is 33.10). Ele é o libertador dos oprimidos (Sl 72.12; 103.6).
O contraste das palavras do Senhor com as palavras dos enganadores é extremamente claro (v. 6). As palavras do Senhor são puras, isto é, foram purificadas como a prata na fornalha, e assim duram para sempre (cf. o uso da mesma expressão para a lei do Senhor no Sl 19.9). Não têm nenhuma escória, e por isso merecem toda a confiança. A implicação é que todas as palavras dos enganadores são escórias!
A mensagem do Senhor trouxe outra vez certeza ao salmista (v. 7). A proteção será provida para “tais pessoas” (o heb. traz “esta geração”; cf. as palavras de Jesus em Mt 17.17: “Oh, geração incrédula e perversa”). “Geração” é um termo usado em sentido amplo para um tipo de pessoas que partilham da mesma mente, um grupo comprometido por interesses comuns.
O salmo, em sua conclusão, volta às suas idéias iniciais. Os ímpios estão circulando e se encontram “entre os homens” (repetido do v. 1); o que é vil é ainda muitíssimo considerado (v. 8). O final do salmo constitui um lembrete de que os crentes têm de perseverar em oração confiante, ainda quando a perversidade continue ou ainda se prolifere. Nosso padrão tem de ser aquele de Jesus que sofreu nas mãos dos mentirosos (Jo 8.44–47) e que “ofereceu orações e petições com gritos e lágrimas àquele que o podia salvar da morte, e que foi ouvido por causa de sua reverente submissão” (Hb 5.7)