O Cuidado Mútuo na Igreja

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O CUIDADO MÚTUO NA IGREJA: movidos pelo amor e pelo evangelho

Introdução

Na semana anterior abordamos um aspecto do cuidado de Deus. Afirmamos que Deus em sua providência faz uso de instrumentos humanos para o cuidado mútuo. Falamos da liderança e dos liderados como instrumentos do cuidado de Deus. Portanto, nesta noite queremos prosseguir abordando este mesmo aspecto do cuidado providencial de Deus. Contudo, o objetivo aqui será identificar as mesmas realidades exemplificadas na relação de Paulo com os Filipenses.
Paul Tripp, no livro: Instrumentos nas mãos do Redentor diz:
A obra central do Reino de Deus é a mudança. Deus a realiza à medida que o Espírito Santo habilita pessoas a levar a sua Palavra a outras pessoas. Nós levamos mais que soluções, estratégias, princípios e mandamentos. Levamos a maior história jamais contada, a história do Redentor.
Nosso alvo é ajudar uns aos outros a viver com a mentalidade da "história de Deus".
Nossa missão é ensinar, admoestar e encorajar uns aos outros para descansar em Sua soberania em vez de estabelecer a nossa própria; confiar na Sua graça em vez de apresentar a nossa própria e nos submeter à Sua glória em vez de buscarmos a nossa.
Essa é a obra do Reino de Deus - pessoas nas mãos do Redentor agindo diariamente como seus instrumentos de mudança permanente.
TRANSIÇÃO: Será que estamos em algum nível envolvidos com a obra de Deus? E se esta obra do reino de Deus requer uma mudança permanente, o que é que nós podemos ou devemos fazer uns pelos outros? Lideres para com os liderados, liderados para com os líderes, enfim como a igreja pode se relacionar de tal forma que possamos evidenciar a transformação do Redentor? Veremos hoje algumas características importantes.

1. Amor Mútuo

Contextualizando - A carta de Paulo aos Filipenses nos fornece um excelente exemplo. Claro que não se tratava de uma igreja perfeita, o simples fato de haver uma carta endereçada a estes irmãos já demonstra alguma necessidade de auxílio, encorajamento, ou mesmo uma instrução da parte de Paulo.
Outro exemplo importante que conecta essa carta com a carta de Pedro é o aspecto do sofrimento. Em ambas as cartas há um destaque para essa realidade, mas acima de tudo, há também o apelo por uma conduta diferente, uma conduta condizente com o evangelho de Cristo. O evangelho nos fornece múltiplos princípios para uma vida coerente e frutífera, mesmo quando o sofrimento é parte desta realidade.
Como vimos anteriormente, na carta do Apóstolo Pedro, para enfrentar o sofrimento que lhes era imposto e os desdobramentos diários pelo fato de se reconhecerem testemunhas de Cristo, era necessário que os Cristãos tivessem, dentre outras coisas, uma conduta exemplar entre lideres e liderados. Sofrer como cristão não é uma tarefa fácil, assim a unidade e serviço humilde entre os irmãos era e continua sendo fundamental. Enquanto os líderes são incumbidos de pastorear adequadamente o rebanho, não sendo dominadores, mas pastoreando segundo a vontade de Deus, os liderados, os membros daquela igreja deveriam exercitar submissão e humildade para com os demais favorecendo assim o pastoreio e toda obra da igreja.
HAVIA UMA IMENSA NECESSIDADE DE AMOR MÚTUO.
ONDE O AMOR NÃO REINA HAVERÁ TODA SORTE DE ORGULHO E INIMIZADE.
Quando olhamos atentamente para a Carta de Paulo aos filipenses compreendemos que essa é uma realidade possível para uma igreja local.

A. O Amor de Paulo

A Mensagem - Paulo escreve esta carta a fim de encorajar os fiéis e incitá-los a humildade, unidade, alegria e paz, por meio da busca resoluta de Cristo e de sua semelhança.
Logo na introdução de sua carta Paulo demonstra uma imenso carinho e gratidão pela igreja.
Cap. 1.3-5 "Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia e até agora.
Gratidão a Deus - ele é a origem de todas as dádivas. Visto que tudo procede dele, também as bênçãos decorrentes do relacionamento com a igreja também o são. Aqui, Paulo reconhece Deus como suprema fonte de todas as bênçãos.
Boas Recordações da Igreja - O apóstolo agora reconhece a igreja como motivo ou canal de alegria para ele. A cada lembrança dos irmãos ele orava em gratidão a Deus.
Orando sempre, com alegria - A oração de Paulo em favor dos Filipenses não era meramente circunstâncial, antes, o texto indica uma rotina constante. Para o apóstolo cada uma dessas orações era um momento prazeroso, de alegria.
Reconhecimento da cooperação da igreja em todo o tempo.
Cap. 1.7-8 Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo. Pois minha testemunha é Deus da saudade que sinto de vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.
Aas afeições do Apóstolo - Após demonstrar confiança na obra graciosa de Cristo em favor dos Filipenses ele afirma que esses irmãos não somente estão em seu coração, mas que os leva consigo em seu próprio coração.
Em Filipos, o apóstolo Paulo foi muito maltratado; foi açoitado e colocado no tronco, mas as suas lembranças não as dores outrora experimentadas, mas o amor recebido. Assim como na carta de Pedro, os sofrimentos aqui podem ser compreendidos assim, primeiro, porque sofrer por Cristo é uma honra, segundo, porque servem para um propósito maior do nossa própria vida.
Atos 16.20 - Juntamente com Silas foi acusado de perturbar a cidade.
Atos 16.22 - Uma multidão se levantou contra eles, tiveram suas vestes rasgadas, sendo ordenado que fossem castigados com varas.
Atos 16.23 - Após muitos açoites foram lançados no cárcere, devendo ser guardados com toda segurança.
A pregação do evangelho frequentemente atrai opositores, ódio e perseguição. A alegação no contexto agora apresentado é que Paulo e Silas estavam propagando costumes que eles não podiam receber e nem praticar, porque eram romanos.
Paulo manifesta alegria e gratidão quando se recorda da igreja, não porque tudo que atravessou foi essencialmente bom, mas porque em cada etapa de seu ministério junto aos irmãos pode receber cuidado e auxílio deles.
Matthew Henry, em seu comentário afirma: Devemos agradecer ao nosso Deus as graças e consolos, os dons e utilidade dos outros, à medida que recebemos o benefício deles e Deus recebe a glória por eles.
Deste modo, o que vemos aqui não é somente o amor de Paulo por esta igreja, mas ele mesmo declara as razões e a alegria prazerosa que ele mantém ao recordar destes irmãos. Assim, esta é uma lição tanto para os ministros do evangelho quanto para aqueles que cooperam nesta obra. Quando amamos a Deus amamos os nossos irmãos. Para o apóstolo João aqui está uma característica importante dos verdadeiros servos do Senhor. Eles são reconhecidos pelo amor.
TRANSIÇÃO - Infelizmente esta não é uma realidade em muitas igrejas. A relação pastor/igreja é frequentemente muito complicada e repleta de desafios. Olhando para o que abordamos até aqui eu os pergunto: O quanto vocês amam aqueles que dispensam tempo para o seu cuidado? Certamente que pastores são imperfeitos, assim como a igreja, no entanto, a igreja de Filipos nos mostra que é possível, não se trata de uma utopia. Vejamos agora mais claramente o amor que é dispensado a Paulo pelos Filipenses.

B. O amor da Igreja

As palavras e razões apresentadas pelo apóstolo Paulo já nos informaram que havia uma mútua cooperação entre o apóstolo e essa igreja.
Esta epístola é prova concreta do amplo laço de amor que havia entre Paulo e os Filipenses.
A Igreja de Filipos havioa apoiado o ministério de Paulo fielmente e a sua disposição em sofrer com ele por Cristo era uma fonte de encorajamento para Paulo.
Cooperação no evangelho - Paulo destacou a importância destes irmãos na cooperação do evangelho, mas o que isso significa?
A palavra que aqui é traduzida como cooperação é literalmente comunhão. Paulo está aqui fazendo uma alusão ao auxílio financeiro recebido dos Filipenses registrado no Ca.4.10-20.
O termo evangelho ocorre nove vezes em Filipenses, proporcionalmente mais do que em qualquer outra carta. Havia entre eles uma união fortemente centrada no compromisso comum com o evangelho. Obviamente isso inclui não somente uma vida coerente com o evangelho, mas também a honra de lutar pela propagação do evangelho.
Filipenses 4.15-16
15E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; 16porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades.
Sociedade Bíblica do Brasil, Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil, 1999), Fp 4.15–16.
Os filipenses foram generosos para com Paulo a fim de auxiliá-lo pessoalmente em seu ministério. Veja que a generosidade é uma característica daqueles que centrados no evangelho empenham-se em auxiliar a igreja no cuidado de outros.
Infelizmente ainda ouvimos entre nós de um evangelho legalista e desprovido de propósito, além de grandemente egoísta. Como se não bastasse, há também muitos enganadores que que abusam da boa fé ou inocência de muitos a fim de encontrar meios para o enriquecimento próprio ou na implementação de um reino humano e que nada tem em comum com o evangelho de Cristo.
A associação dos Filipenses com Paulo é abrangente. Envolve generosidade no auxílio financeiro, mas não para nesse ponto.
Filipenses 4.14 ...Fizestes bem, associando-vos na minha tribulação.
Nesse trecho Paulo destaca que a sua busca não é por donativos. O seu ministério não se baseia em lucro, ou na contrução idólatra que visa engrandecer seu próprio nome. Paulo destaca posteriormente (17-18) que já tem o que lhe é necessário, ele não deseja sobrecarregar a igreja. O principal motivo de sua alegria não é o suprimento de suas necessidades, mas o reconhecimento de que aqueles donativos são um ato de culto agradável a Deus. E ainda tem a convicção de que Deus os abençoaria e recompensaria.
Muitas igrejas hoje estão fundamentadas na pessoa de seu líder. Alguns destes construiram um império totalmente incompatível com aquilo que dizem pregar. Quando falamos do cuidado de Deus por meio dos líderes com toda certeza estes homens não estão incluídos. Eles buscam as coisas deste mundo porque o reino deles é deste mundo.
A associação dos Filipenses no tocante as ofertas, donativos não é uma associação cega e desprovida de lógica como a de muitos em nosso tempo. Por isso, quero fazer aqui um apelo em favor da obra de Deus.
Não coopere financeiramente com falsas igrejas e falsos líderes. Especialmente em nosso período tão conturbado nossas igrejas têm sofrido para manter seus ministros, para a manutenção da igreja, para o sustento missionário e etc.
Enquanto isso, alguns membros de igrejas sérias como a nossa saem de sua igreja local e deixam parte de seus ganhos com estes homens inescrupulosos. Pelo amor de Deus e da obra do evangelho, pare de incentivar o falso evangelho e enriquecer ainda mais estes xarlatões.
Nestes tempos de pandemia a nossa igreja precisou deixar de cooperar com os missionários com os quais se comprometeu. Algumas medidas tiveram que ser tomadas para que continuássemos com a obra neste local. Necessitamos de auxílio do nosso presbitério, dentre outros efeitos que talvez você não saiba e nem queira saber.
Nós também somos chamados a cuidar de outros, inclusive financeiramente, fazendo uso dos recursos que o Senhor nos tem dado. Resumidamente, Deus cuida do homem através do homem. Devemos confiar no cuidado amoroso de Deus, inclusive quando ele usa instrumentos para sua graça.
Efésios e Filipenses A. Confiança No Cuidado Amoroso de Deus

É evidente que Deus estava cuidando de Paulo, porém, uma das maneiras como o supria era por meio dos donativos dos filipenses, o que Paulo reconhece aqui.

Entre as inúmeras passagens nas quais esse terno e amoroso cuidado de Deus para com seus filhos, aqui e agora, é descrito, passagens que têm consolado o povo de Deus, em muitas gerações, estão também as seguintes: Gênesis 28.15; 50.20; Êxodo 33.14; Deuteronômio 2.7; 32.7–14; 33.27; Josué 1.9; 1Samuel 7.12; 1Reis 17.6,16; 2Crônicas 20.17; salmo 18.35; 23; 31.19; 91; 121; Isaías 25.4; 32.2; 40.11; 41.10; 43.1–2; 46.3–4; Joel 2.21–27; Malaquias 3.10; Mateus 6.32; 14.20; 23.37; Lucas 6.38; 12.7; 22.35; João 10.27–28; 17.11; Romanos 8.28,31–39; 2Timóteo 1.12; 4.18; 1Pedro 5.7.

TRANSIÇÃO: Já destacamos anteriormente que a cooperação no evangelho é um ponto importante para Paulo. Esta igreja ao que parece compreendeu verdadeiramente o seu papel e empenhou-se para sustentar e cooperar com Paulo em tudo que fosse necessário. NO ENTANTO, é preciso destacar também uma outra verdade, o trabalho mútuo. Eles eram e deveriam continuar sendo movidos, impulsionados pelo evnagelho de Cristo.

2. O Trabalho Mútuo

Nesta carta paulo recorda que o trabalho desta igreja, a sua cooperação era uma marca alegre em seu ministério.
Desde o primeiro dia e até agora - destaca a duraçào deste envolvimento - a igreja perseverou com Paulo em todos os momentos.
Filipenses 1.7

7Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo.

Seja nas minhas algemas, seja na defesa do evangelho - A comunhão destes irmão com Paulo não era fictícia, mas real e profunda. Nas algemas, isso é, em sua prisão, eles se mantiveram ao lado de Paulo, mas não se tratava de associação somente a tribulação. Eles compartilharam do sofrimento, mas também estavam totalmente envolvidos na defesa e confirmação do evangelho.
Paulo afirma que os filipenses foram participantes da mesma graça. A ideia presente aqui é a seguinte: eles estavam tão unidos no sofrer quanto no fazer. Eles de fato participavam de suas prisões e da defesa e confirmação do evangelho. Havia em ambos a disposição para a luta pelo evangelho de Cristo.
Ao escrever a Carta aos Filipenses, estando preso em Roma, Paulo não se considerava derrotado ou frustrado em seus planos pessoais e ministeriais. Ele chegara à capital do Império não da maneira que tinha planejado, mas da maneira que o Senhor o conduzira.
Itamir Neves de Souza, Filipenses: A Carta da Alegria, Primeira edição (São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial, 2008), 5–6.
Filipenses: A Carta da Alegria Apresentação e Agradecimentos

em vez de ficar murmurando ou se queixando da vida, entregou-se ao ministério. Durante os seus dois anos de aprisionamento escreveu as quatro “Cartas da Prisão”, fundou a igreja na “casa de César” e proclamou o Reino de Deus “sem qualquer impedimento” (At 28.30–31).

ALGUNS PONTOS IMPORTANTES QUE PODEM SER CONECTADOS NA MISSÃO DE PROCLAMAR O EVANGELHO:

Esta é a única carta em que Paulo, combatendo os “judaizantes”, os chama de “cães”, uma expressão muito dura que representava aqueles que queriam obrigar os gentios à circuncisão (3.2).

5. Esta é a única carta em que Paulo demonstra como considerava o seu passado em relação à nova vida obtida a partir do encontro com Cristo (3.4–11).

6. O problema doutrinário que a igreja enfrentava pode ser descrito como o “perfeccionismo” (3.12–4.1), doutrina essa que não se viu comumente nas outras igrejas primitivas.

7. Esta é uma carta de gratidão missionária (4.10,15–16). Talvez, por isso, contenha pouca censura, aparecendo somente em 2.14 e 4.2, sugerindo um problema de desunião na liderança e na igreja.

FILIPENSES de modo geral poder vista como uma boa igreja, mas mesmo uma igreja considerada boa requer instrução e cuidado. Isso é extremamente importante para nós, pois há entre nós muitos individuos e igrejas locais que pensam poder viver uma vida sem a necessidade de mudança. Uma igreja resistente a mudanças é uma igreja que acredita estar suficientemente boa a ponto de não necessitar de nada. Este é um engano extremamente perigoso.
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