O cristão e a profissão

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O cristão deve ter uma relação séria com trabalho, pois ele é um meio de servir ao Reino de Deus.

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A doutrina da vocação

Todos os cristãos são chamados a serem sacerdotes – e podem exercer essa vocação no mundo cotidiano. A ideia de “vocação” foi, portanto, fundamentalmente redefinida: não era mais sobre ser chamado a servir a Deus deixando o mundo; agora era sobre servir a Deus dentro do mundo cotidiano.

Sagrado e Secular

Havia na igreja católica medieval um entendimento monasticista sobre o trabalho. Esse apregoava que havia duas ordens de coisas no mundo: as sacras e as seculares. Pessoas, como os clérigos eram vocacionadas para as coisa sagradas, reservando sua vida a Deus e abstento-se do trabalho. As demais pessoas deveriam se ocupar de trabalhos comuns ou seculares. Nesse tipo de pensamento, o trabalho é visto como um tipo de atividade menos eleva, do qual as pessoas das classes mais baixas veriam se ocupar, enquanto que a vocação era algo mais elevado, para pessoas que se retiram do mundo e dedicam às coisas espirituais e celestiais.
Começando por Lutero, a reforma transformou radicalmente essa visão sobre vocação e trabalho. O “sacerdócio universal” de todos os crentes afirma que todos os cristãos são sacerdotes de Deus. Logicamente, isso não significa que todos são vocacionados ao serviço eclesiásticos, mas que todos servem a Deus em suas vocações. Dessa forma, Lutero e os reformadores posteriores, transformar o entendimento sobre o trabalho: não diferença entre sagrado e secular ou vocação e trabalho, mas todo crente recebe uma vocação de Deus para servi-lo no mundo.
1 Corinthians 7:11 RA
11 (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.
Lutero tem uma visão interessante sobre o trabalho. Ele diz que Deus trabalha através das funções que exercemos no mundo. Os trabalhadores, para o reformados alemão, são “máscaras de Deus”, uma vez que Ele trabalha por nós através de nossa vocação.

Quando oramos “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, diz Lutero, Deus responde “não de forma direta, como quando deu maná aos israelitas, mas através do trabalho de fazendeiros e padeiros”. Eles são as “máscaras” de Deus. Ele escreve: “Deus, que derrama sua generosidade sobre o justo e injusto, o crente e descrente igualmente, se esconde nas funções sociais ordinárias e posições da vida, até as mais humildes. O próprio Deus está tirando leite da vaca através da vocação do ordenhador”

Da mesma forma, Calvino defende a doutrina da vocação. Para ele, a igreja é o lugar de treinamento, onde os que têm oficios especiais (pastores, presbítero e diáconos) equipam os que têm ofícios gerais (todos os crentes no exercício de sua vocação no mundo.
“A igreja é onde são feitos discípulos, e o mundo é para onde eles são enviados”.
(Horton, M. (2017). Calvino e a Vida Cristã: Para Glorificar a Deus e Alegrar-se Nele para Sempre. (J. Santos, Trad.) (1a edição, p. 250). São Paulo: Editora Cultura Cristã.)
Calvino também considera que todos os trabalhos dignos glorificam e servem a Deus.
As Institutas, Volumes 1–4 6. Quarta Regra do Viver Condigno: Em Todos os Atos Levar em Conta a Vocação ou Ordenação Divina pela Qual Se Deve Pautar

Daqui também brotará insigne consolação, ou seja, desde que obedeças à tua vocação, nenhuma obra haverá de ser tão desprezível e vil que diante de Deus não resplandeça e seja tida por valiosíssima.

CAP

Portanto, a doutrina da vocação a algo que fazemos para glória de Deus e serviço do próximo. E, não importando qual seja a sua natureza, desde que digna, deve ser realizado de forma fiel.

Deus chama seu povo, não apenas à fé, mas a expressar essa fé em áreas bem definidas da vida. Essa ideia de uma “dupla vocação” expressa a visão de que se é chamado, em primeiro lugar, a ser um cristão e, em segundo lugar, a viver essa fé em uma esfera bem definida de atividade no mundo. Lutero afirma esse ponto sucintamente, ao comentar sobre Gênesis 13.13: “O que parecem ser obras seculares na verdade são louvores a Deus e representam uma obediência que muito o agrada”. Não há limites para essa noção de chamado. Lutero exalta até mesmo o valor religioso do trabalho doméstico, declarando que, embora “não haja aparência óbvia de santidade, essas mesmas tarefas domésticas devem ser mais valorizadas que todas as obras de monges e freiras”. William Tyndale, seguidor inglês de Lutero, comenta que, embora “lavar pratos e pregar a palavra de Deus” representem claramente diferentes atividades humanas, não há diferença essencial entre elas “quanto a agradar a Deus”.

O erro da vida em dois pavimentos

Nancy Pearcey, em seu livro “A verdade Absoluta”, aponta para o erro separarmos a vida em dois pavimentos: no pavimento de cima temos nosso cristianismo que trata de nossa vida privativa e diz respeito as coisas que se referem à nossa religião. Neste pavimento a Bíblia é a verdade.
No pavimento de baixo temos o resto das coisas que fazem parte de nossa vida: artes, filosofia, ciência, economia e trabalho. Neste pavimento, a Bíblia não é autoridade, mas cultura do mundo.
Quando concebemos a vida desta maneira, deixamos o cristianismo enclausurado da privacidade de nosso coração e nunca participa de nossa vida pública. Nós somos cristão no mundo, mas não do mundo. Como cristão no mundo temos que realizar nossa vocação em todas as esferas de nossa cultura.

Nossa Profissão e o Manato Cultural

Deus criou o homem para o trabalho

Genesis 2:15 RA
15 Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.
Em nossa cultura, fortemente influenciada pelo catolicismos romano, as pessoas tendem a pensar no trabalho como maldição. Um castigo de Deus pelo pecado de Adão. Isso é um mal entendimento do que diz Gênesis 3.19. Nessa passagem, o Senhor não amaldiçoou o homem com trabalho, mas lhe mostrou que a terra se tornou maldita e, consequentemente, ao seu trabalho se adicionaria o sofrimento, elemento que não existia antes da queda.
Na verdade, o trabalho é dos aspectos que revela a imagem de Deus em nós. Deus se revela na criação como um trabalhador e, da mesma forma o faz em sua providência e obra redentora.
Genesis 2:1–3 RA
1 Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. 2 E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. 3 E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.
John 5:17 RA
17 Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
Deus criou o homem para o trabalho e deseja que ele seja um trabalhador diligente e fiel.

O mandato cultural

Genesis 1:28 RA
28 E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
Deus deu ao homem o trabalho de sujeitar e dominar a criação. Logicamente, não de forma predatória, mas de uma maneira que Deus seja glorificado. Adão e Eva deveriam imitar Deus: preservando a criação e criando a partir dela um cultura cujas as estruturas existissem para Deus.
Assim, o mandato cultural tem relação íntima com o trabalho do homem e suas várias áreas: artes, política, economia, ciência, filosofia, direito, educação, tecnologia, teologia etc.
É importante salientar que o mandato cultural não é anulado com a queda. Nós podemos ver o Senhor se referir a ele, por exemplo, no chamado de Abraão em Gênesis 12.1-3. Neste caso, a ordem de Deus para Abraão é que ele seja uma bênção para as nações da terra. Contudo, é o Senhor Jesus que renova o mandato cultural de forma mais poderosa. Em Mateus 28.18-20, Jesus dá aos seus discípulos ordem de discipular as nações.
Matthew 28:19–20 RA
19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Considerando aqui o princípio do mandato cultural - “A humanidade deve trazer todas as estruturas deste mundo sob o senhorio de Cristo, destruindo toda oposição contra Deus” -, discipular as nações não apenas a tarefa de pregar o evangelho aos perdidos, mas também implica que cada crente deve viver nesse mundo em conformidade com sua vocação, sendo diligente e fiel ao seu chamado profissional a fim de que por meio de seu trabalho ele promova o Reino de Deus e subjugue o mundo a Cristo.
Ryrie, C. C. (2012). Teologia Básica: Um Guia Sistemático Popular para Entender a Verdade Bíblica. (J. Aragão, Trad.) (Edição atualizada, p. 300). São Paulo: Mundo Cristão.

A ética protestante do trabalho

Os compromissos que estão associados ao trabalho quando visto de forma bíblica formam aquilo que ficou conhecido como a ética protestante do trabalho. Este é um ponto importante porque nos ajuda a escolher profissões e, principalmente, a realizar o trabalho para glória de Deus e proveito do próximo.
A ética protestante do trabalho considera as seguinte coisas:
A dignidade do trabalho: todos os trabalhos dignos são dignos. Seja um trabalho doméstico ou de presidente da república, todos são igualmente dignos e agradáveis a Deus. Porém, há trabalhos indignos porque não glorificam a Deus e/ou degradam o ser humano, por exemplo, a prostituição ou o uso indevido de uma profissão digna, por exemplo, advogados que torcem o direito.
A diligência em realizar o trabalho: é dever do cristão trabalhar duro (Ec 9.10). Não importa se estamos falando de arrumar o quarto ou pilotar um caça supersônico. O ponto aqui é o cristão trabalha para o Senhor em primeiro lugar. Assim, ele não fiel ao seu patrão, mas, sobretudo, à sua vocação e a dignifica com trabalho diligente. Por essa razão, a preguiça e negligência é duramente condenada nas Escrituras (Mt 25.30; Pv 6.6-11).
O propósito do trabalho: o propósito primordial do trabalho é o cumprimento do mandato social e, por fim, a glória de Deus. No entanto, o trabalho deve visar também ao bem comum, ou seja, ele deve ser um serviço ao próximo (Ef 4.28). Na escolha de uma profissão os cristãos devem estar conscientes que a vocação de Deus contempla esses dois propósitos. Também aprendemos na Bíblia que o trabalho serve também para prover o sustento e gerar riqueza (1Tm 5.18; Sl 128.2; Ec 3.13; 2.24-26). Contudo, esse não deve ser o fim principal do trabalho (Ec 2.24-26; Pv 23.4). O trabalho, portanto, não deve ser para o cristão um ponte para o consumismo.

Conclusão

Consciente de sua vocação, Jesus trabalhou diligentemente para cumpri-la. O trabalho em si não era o foco, mas o chamado do Pai (Sl 40.8; Is 53.11; Jo 17.4). Jesus não trabalhou apenas pela recompensa salário que lhe deveria ser pago, mas em seu foco estava o benefício que tal trabalho causaria aos outros. Jesus trabalhou por nós e para nós. Por isso, podemos descansar Nele e nos beneficiar de seu ganho, a salvação.
Devemos aprender com Jesus a trabalhar neste mundo. Para exercermos nossa vocação não temos que nos retirar do mundo como os monges ou nos dedicar ao ministério pastoral de tempo integral. Basta apenas que façamos o que Deus nos colocou nas mãos para fazer com diligência, para glória de Deus e para redimir esse mundo e sua cultura através do serviço ao próximo.
Ephesians 6:5–7 RA
5 Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, 6 não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus; 7 servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens,
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