Jesus, o maior exemplo de fé (Hb 12.1-3)

Heróis da fé  •  Sermon  •  Submitted
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Estivemos, nos últimos domingos, expondo Hebreus 11.. O contexto em que essa carta foi escrita, a qual não sabemos precisamente o autor, era de sofrimento. Os destinatários da carta, judeus convertidos ao cristianismo, estavam sofrendo por estarem servindo Jesus. Esse sofrimento envolvia acusações de traição, de blasfêmia, o desemprego, o abandono da família, incluindo esposas deixando os maridos. Alguns dos cristãos enfrentavam prisões e até mesmo a morte. Devido tanta perseguição, muitos cogitavam retornar ao judaísmo, religião que os conferia mais tranquilidade que a religião do Caminho.
Diante disso, um dos principais objetivos do autor é confortá-los e também confrontá-los – isso é feito entre os capítulos de 1 a 10. Podemos dizer que o confrontamento é realizado da seguinte forma: se vocês largarem Jesus, para onde irão? Ele é a perfeita revelação do Pai. Ele é superior a Moisés, a Arão e até mesmo aos anjos. Ele é o filho de Deus, superior aos profetas. Ele é o perfeito sumo sacerdote e o sacrifício dele é superior ao do judaísmo e a mediação de Jesus é eficaz e definitiva. É por meio dele que Deus faz uma nova e perfeita aliança com seu povo. O único caminho para Deus é através de Jesus!
No capítulo 11 ele apresenta, a partir de personagens do Antigo Testamento, exemplos de homens e mulheres que viveram pela fé nas promessas de Deus, esperando a chegada do Messias. É a galeria do que chamamos de “heróis da fé”. Muitos que passaram por terríveis perseguições e desânimos na vida, mas que permaneceram na fé. Por final, o que pode passar despercebido, o autor traz o maior exemplo de herói da fé: Jesus Cristo.
Para aquelas pessoas, o desânimo poderia ser fatal: levá-los a retroceder na fé. Você pode estar correndo o mesmo perigo. Muitas pesquisas apontam que, entre as justificativas daqueles que largaram a Cristo existe a perda de muitas coisas por causa da fé, como empregos e relacionamentos, ou que foram desgastados/decepcionados por outros irmãos. Ou seja, podem existir motivos internos e externos ao ambiente de igreja para o desânimo e, por consequência, para o retrocesso na fé.
O reverendo Hernandes Dias Lopes se refere ao desânimo como “a derrota antecipada. É o sentimento de fracasso antes da luta. É a indisposição de andar pela fé”. Esse era o estado dos Hebreus e, para lutar contra isso, o autor da carta apresenta as armas corretas para vencer:
Ele lista de exemplos de fé – lista que não inclui apenas triunfo aos olhares terrenos, mas também profundos sofrimentos que redundaram em aprovação diante de Deus (11.35b-38). O sofrimento não é exclusividade nossa!
Todos os heróis da fé morreram sem receber todas as coisas prometidas. Parte deles morreu sem ver a cidade terrena prometida (mas a aceitaram e receberam a verdadeira pátria que esperavam: a celestial – 11.13-16). Todos eles se foram sem mesmo ver o desenrolar do plano de salvação em Cristo. No entanto, foram aprovados pela fé no plano de Deus, e pelo o que Deus havia reservado para nós, a saber a consumação da nossa salvação, nos elevou à perfeição por causa de Cristo (11.39,40).
Diante dessas testemunhas, devemos correr a corrida: 1. Ela é indispensável (foi posta diante de nós); 2. Nos despindo do que é desnecessário; 3 Com perseverança (não precisamos de perseverança no início da corrida); 4. Olhando para o exemplo maior de herói da fé: Cristo (ele sofreu com os olhos na alegria que o esperava).
1. A corrida:
A corrida aqui é uma palavra específica que remete a agonia (ἀγῶνα/agõna) . É um esforço até o ponto limite da dor. Lembro-me do reverendo Augustus Nicodemus, ao tentar elucidar o significado dessa palavra, remeter ao seu serviço no exército. Saindo da Torre (bairro de Recife), após andar 15km com o fuzil pesado na mão, ele quis desistir. No ápice do desgaste ele foi ao sargento Silva para desistir. O sargento respondeu: quando você diz que não aguenta, ainda pode andar 10km.
Meus irmãos, muitas vezes limitamos a vida cristã a uma caminhada – ah, e como queríamos que fosse apenas isso. Mas a bíblia se refere a uma corrida! Tem suor, desgaste físico e mental, calo no pé, peso da mochila e da armadura, e agonia. Deus nunca disse que seria de outra maneira. Mas Ele prometeu estar conosco!
Talvez estejamos no momento de desistência da corrida. Aquele que queremos sentar [se já não estamos sentados!]. Talvez estejamos sem ânimo para ler a bíblia e orar. Ou mesmo para ir à igreja! E com o tempo, esquecemos que estamos numa corrida!
Essa corrida não é opcional. Ela está posta diante de nós. Ela é a realidade. A vida é uma realidade de crise após crise. Depois do deserto, vem o Jordão para atravessar. A cada dia cabe o seu próprio mau. A grande questão é como estamos diante de cada crise da vida: com nossos fundamentos de fé rígidos ou submergidos pelo desânimo? A fé nos lembra da certeza de que depois dos desafios postos existe terra prometida onde haverá descanso.
O texto nos ensina a terminar a corrida. Vejamos:
a) Precisamos atentar para os corredores que nos antecederam:
Essa corrida não é impossível. É por isso que existe uma galeria anterior: uma nuvem [quase incontável] de heróis da fé. São pessoas simples, fracas em si mesmas, que testemunharam que Deus é fiel e que ele cumpre as suas promessas. Que vale a pena a carreira da fé e que, apesar dos sofrimentos, é possível completá-la. Eles não estão dando testemunho de nós nos céus[1] – a vida deles, ou o martírio de alguns deles, nos dá testemunho da verdade de Deus.
Irmãos, temos testemunhas não só daquela época, mas também ao longo da história cristã desde o período apostólico. Muitos desses, quando os conhecemos, nos deixam com vergonha de nossas queixas tão mesquinhas! Alguns desses estão vivos e por aí vivendo um cristianismo simples, mas sólido. Me lembro de minhas férias de meio de ano em 2018 (que na verdade foi em junho), em que o dia mais marcante foi um velório. Lá, em meio a sentimentos tão confusos diante da morte, uma cena me impactou fortemente: uma simples senhora cristã. Ela cantava sozinha com extrema beleza os hinos do Cantor Cristão – um mais lindo que o outro. Cânticos hoje esquecidos. Levantou-se e orou de forma que até nos estranha: “Senhor, eu te louvo por esse dia. Te louvo porque tu o criaste e não fizemos nada para que ele existisse [...] és o Deus que governa sobre todas as coisas”. Fez menção a lembranças carinhosas de família e amizade. Depois, cantou uma música sobre amigo. Sentou-se e voltou aos hinos. Como ela disse, o que nos cabia ali era louvar ao Rei. Tive ali uma lição sobre como um cristão enfrenta o luto: Cristo reina!
Nossa, eu fiquei tão envergonhado do meu cristianismo fraco, falho, pequeno e, às vezes, feio. Aquela senhora como uma rocha e ao mesmo templo como uma flor. Eu imaginava quantas vezes ela ouviu durante sua vida que ela era fundamentalista, religiosa, radical e boba. O quanto ela deve ter sofrido vergonhas por causa da fé em Cristo – mas, ironicamente, ela era a única ali com a perspectiva correta dos fatos: Jesus reina eternamente e venceu a nossa última inimiga [a morte]! O cristianismo simples dela me esmagou. Ah, eu pensava assim: quando eu crescer eu quero ser como essa senhora! Eu quero estar na mesma corrida!
b) Precisamos nos preparar para a corrida
Primeiramente, o autor se refere a preparação física. Logicamente, o corredor precisava estar condicionado para a maratona e com o peso adequado. “Livrar-se” também se referia a todo excesso de peso que nos torna vagarosos. É provável que no começo de uma corrida, o sobrepeso não nos atrapalhe tanto. Mas depois de um quilômetro ou dois, percebamos a necessidade de ter reduzido aqueles “dez quilinhos que não fazem diferença”. Graças a Deus que as Escrituras estão fazendo alusão aos pesos espirituais! Queridos, precisamos retirar o peso que nos atrapalha – a amputação espiritual que já falamos. O que te faz vagaroso ou incapaz de prosseguir na corrida? São relacionamentos? as coisas que assistimos ou ouvimos? Nossos compromissos? Nossa insatisfação e falta de contentamento? A avareza? Quão fora de condicionamento estamos?
Outra coisa que ele fala é do “pecado que nos atrapalha”. D. L. Moody nos lembra que o "pecado declarado não dá lugar à escolha individual; deve ser deixado de lado imediatamente após reconhecido, quando sai do seu esconderijo para agarrar (εὐπερίστατον/euperistatos, "emboscar, rodear, apanhar na armadilha") os incautos". É provável que o termo remeta às vestimentas do atleta, tendo em vista que eles corriam praticamente nus, evitando qualquer coisa que os embaraçasse. Pode ser a natureza pecaminosa, as tentações do mundo, ou mui certamente aquele pecado que você sabe qual é! Aquele que faz com que sua carreira cristã seja difícil. Essas coisas são botas de chumbo e carga de concreto. São incompatíveis com um corredor. Como larga-las? Leia os capítulos 1 a 11. Aqui ele só diz: faça!
2. Nós temos uma testemunha inspiradora:
A imagem aqui é como se todas as outras testemunhas estivessem ao nosso lado, uns mais adiantados, outros no mesmo passo que nós, ambos caminhando para o aperfeiçoamento, mas existe um corredor líder que está a vencer a corrida. Ele corre implacável, porém cheio de marcas. Ele é O Atleta. O autor quer que saibamos que tem mais gente ao nosso lado, mas que nossos olhos devem estar firmes – conscientemente orientados – naquele que venceu! A figura é de alguém que não se perde na visão periférica, mas tem uma visão focal em Cristo.
Ele é o autor da nossa fé: ele quem torna a fé possível pois ele é o objeto da fé. Vemos aquele que torna capaz nossa corrida e abriu o caminho através de seus sofrimentos. Só existe fé para nós por causa dele.
Ele também é o consumador de nossa fé – ele é consumador da fé que ele é autor. Deus lhe prometera a alegria (vs 2) – mas, antes, ele teria de suportar a dor, a vergonha e o inferno. Ele resolveu suportar tudo pois cria na promessa de triunfo de Deus. Isso é fé. No coração de Jesus as palavras do salmista encontravam sentido: Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre (Salmo 73.26). O Deus-homem demonstrou viver submisso ao plano e direção de Deus. Jesus se relacionava com o Pai pela fé. Jesus como Deus-homem, e, portanto, verdadeiro homem, ele cria perfeitamente no Pai. Isso Não significa acreditar na existência do Pai, mas confiar nas suas promessas. Ele resolveu suportar a cruz para depois ser ressuscitado dos mortos, ser elevado aos céus e ser colocado à destra do Pai. O projeto de fé completo e consumado. Ele experimentou a ressurreição que ainda vamos experimentar – e todos aqueles que morreram e ainda não alcançaram essa promessa final (11.39,40). Ele é o único que experimentou a promessa da ressurreição e o cumprimento de todas as promessas do evangelho.
“Considerai, pois, atentamente” que o nosso herói da fé não começou a corrida tranquilamente, em passos de leve caminhada. Pelo contrário, suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo desde cedo, posto que quando nasceu já queriam matá-lo. Na verdade, podemos olhar que inúmera foram as tentativas para que o menino não nascesse se olharmos a partir da esterilidade das mulheres hebreias (Ap. 12). Irmãos, ainda assim ele completou a corrida para nós!
Vejam tudo que ele já conquistou! Se nós experimentarmos nossos sofrimentos dessa vida olhando para Jesus, completaremos a corrida e alcançaremos a coroa da justiça.
Aplicações:
1. Leia as Escrituras respeitando a beleza do Antigo Testamento. Nelas contem a “nuvem de testemunhas” que nos encoraja;
2. Se apegue aos meios de graça que Deus nos entregou: a pregação da palavra, a oração privada e em congregação, o partir do pão e a congregação santa. Essa é a academia do cristão. Alguns treinadores dizem que treino forte é prova fácil. Michael Owen, ex-jogador de futebol, dizia que "Se você estiver dando 90% de si em seu treino, você só dará 90% quando for realmente importante"
3. Não faça do seu cristianismo uma fantasia: levando para uma zona de conforto ou para uma festa. Se alegre com a maravilha e grandeza do cristianismo simples – leitura da Palavra, oração e congregação. Ela é uma corrida com todos os seus percalços, porém com uma chegada certa!
4. Se livre dos pecados que te põe um fardo. A luta contra o pecado e a idolatria é uma luta de amor. É abandonar coisas que amávamos [amores imperfeitos] para abraçar o único digno de amor e fidelidade absoluta. Essa libertação te permite viver com a consciência tranquila. “em paz me deito e logo durmo, pois só tu, Senhor, me faz viver em segurança” (Sl4.8). Essa é a meditação de quem possui confiança em Deus e tem sua consciência tranquila. Quando estamos com a consciência pesada, Deus não nos deixa dormir! Saber que ele nos sonda é uma tortura, para estes!
5. Persevere – ou tenha paciência. Lembre-se de que ninguém experimenta a perseverança no início da corrida, somente a partir “dos 15 primeiros quilômetros”. Lembre-se de que o cristão não abraça o sofrimento por masoquismo, ou por fatalismo. Ele olha para o que tem além, a glória que em nós há de ser revelada. João, em meio a dor e sofrimento da igreja local, teve a revelação do porvir. Nós devemos ter os olhos em Cristo.
6. Se o desânimo é a derrota antecipada, a fé é a antecipação da vitória. Jesus, ao se deparar com nossa humanidade desanimada falou: “tende bom ânimo” [ele nos conhece tão bem], pois a multidão de nossos pecados pode nos desanimar, mas Cristo venceu o mundo e a morte. Não há razão para desanimo ao que crê – Cristo é o autor e o consumador de nossa fé!
7. Nossos sofrimentos nos dão uma pequena dimensão do sofrimento que Cristo teve por nos amar e para nos salvar (Jo 15.19-20)
Lembremo-nos das palavras do apóstolo Pedro: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.” (1Pedro 1:3-5)
Soli Deo Gloria
[1] Como ensina a doutrina católica;
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