Glorificando a Deus como marido e mulher (Ef 5.22-33)

Casamento  •  Sermon  •  Submitted   •  1:13:09
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Introdução

Na pregação passada [e espero que você assista ou leia] falamos sobre como Deus criou o casamento com o propósito de dar glória ao seu nome. O casamento é união entre o homem e uma mulher que se auxiliam nessa tarefa, de maneira que não é bom que nenhum destes esteja sozinho, senão por ocasião (idade, e.g.) ou por dom (1Co 7.7). É melhor serem dois do que um (Ec 4.9-12), aprendemos. O homem glorifica a Deus com o auxilio da mulher (Gn 2.18) e a mulher, da mesma forma, glorifica a Deus com o auxílio do homem. Trata-se, portanto, de uma tarefa em casal onde ambos se complementam desempenhando adequadamente os seus papéis.
É nesse contexto que nos perguntamos, então, quais são os nossos papeis distintivos enquanto homem e mulher, esposo e esposa, no casamento. E é exatamente sobre isso que falaremos hoje: como glorificar a Deus como marido e mulher. A bíblia diretamente nos dá essa resposta e um dos textos mais claros sobre isso está na passagem que lemos em Efésios 5.22-33. Sei ainda que o tema de hoje também é do tipo em que esperamos respostas para determinadas perguntas de nossos próprios casamento, pois cada um tem suas próprias características e dramas - e talvez você não tenha resposta específicas agora. Porém, rogo a Deus que através das verdades e princípios bíblicos possamos ter condição de melhorar nossos relacionamentos para a Glória de Deus.
Nessa exposição adianto que um dos argumentos centrais é que: o casamento cristão é aquele que reflete o amor entre Cristo e a Igreja. O pecado entrou no mundo e bagunçou todas as relações humanas inclusive a do homem com a mulher. Por causa dele ambos são fugitivos da necessidade de cumprir o propósito para o qual foram criados. Serem rebeldes a Deus traz efeitos práticos e um deles é que homens e mulheres, muitas vezes, ao invés de serem cooperadores se tornam concorrentes ou sabotadores (Gn 3.16c) dessa missão. E quando unidos em propósito, ambos percorrem a saga de “deter a verdade de Deus em injustiça” (Rm 1.18) uma espécie de dupla dinâmica (Bonnie e Clyde) do pecado. Somente o evangelho tira o homem do ciclo da perdição. Somente o evangelho pode restaurar o propósito do casamento.

1. O centro de nossas relações

Na sessão anterior ao nosso texto, o apóstolo Paulo instrui a igreja de Éfeso sobre a incompatibilidade das obras das trevas com os filhos da luz (Ef 5.8). Os cristãos são conclamados a meditar sobre suas obras, se andam como tolos [néscios, insensatos] ou como sábios que buscam compreender a vontade do Senhor (Ef 5.17). Para isso, todo o crente em Jesus Cristo deve buscar ser cheio do Espírito Santo (Ef 5.18), a plenitude de Deus (Ef 3.19), cujo o resultado é totalmente diferente das obras da carne (a exemplo da dissolução causada pela embriaguez), redundando numa vida nova marcada pelo louvor, pela gratidão e pela submissão (Ef 5.19-21). É com base nessa realidade, tal qual uma condição, que os crentes podem cumprir seus papéis na igreja, na família e na sociedade. Se o pecado nos desloca da vontade de Deus e distorce a Sua imagem e semelhança em nós, a Plenitude do Espírito nos transforma à imagem do Filho, como filhos da luz, e nos capacita a cumprirmos Sua vontade.

2. Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (Ef 5.21)

Creio que precisemos nos dedicar um pouco a esse termo. Penso que Paulo desenvolve suas ordenanças a seguir (Ef 5.22-6.9) em relação a essa: a da sujeição mútua no temor de Cristo [não deixe a divisão temática da sua bíblia quebrar a leitura que liga os versos 21 ao 22].
A o contrário do que a palavra poderia indicar (sub/missão: missão inferior) o significado sugere “estar debaixo de autoridade legítima” ou, conforme o Léxico de Strong (2002), em uso não militar, era “uma atitude voluntária de ceder, cooperar, assumir responsabilidade, e levar um carga”. Espera-se dos seguidores de Cristo que não sejam altivos ou arrogantes, mas que sejam mansos e humildes de coração. Que sua “autoridade” [ou dever delegado] seja exercida em serviço (Mc 10.42-45; Jo 13.12-15; Rm 13.4,6). Todo nosso chamado [autoridade e submissão] ocorre em obediência ao Senhor, ou “no temor de Cristo” (Ef 5.21). É nele que autoridades são legítimas (Rm 13.1) e aprendem a servir. Ou seja, todos estamos sujeitos a Jesus Cristo. É por causa disso que cumprimos nossos chamados em relação a ele e ao próximo.
Meu irmão, Deus te colocou no mundo para servi-lo e isso implica em servir ao próximo, ao teu irmão e à tua família. Você está casado não para ser servido, mas para servir. O cerce é como servir melhor minha esposa e como servir melhor meu esposo. Submissão é serviço mútuo e não necessariamente inferioridade [embora tenha dificuldade de sujeitar ao outro aquele que se julga superior, Fp 2.3,4]. O Deus Triúno é perfeito em serviço mútuo sem inferioridade das pessoas da deidade.

3. O casamento é uma união de serviço

Nesse ambiente, cada um serve com seu chamado específico: as mulheres sendo submissas ao seu próprio marido como ao Senhor (Ef 5.22); os maridos, amando sua própria mulher como Cristo amou a igreja (Ef 5.25).
a) exercendo a submissão feminina
Já falamos que aqui não se trata de inferioridade, mas a forma de servir seus maridos (Cl 3.18). Deus não sobrecarregou a esposa com a liderança do lar e ela exerce uma submissão voluntária. A esposa respeita o marido (Ef 5.33) e o auxilia na sua tarefa de cabeça, isto é, “no sentido de estar vitalmente interessado no bem-estar dela'; [ele] é o protetor dela. Seu padrão é Cristo que, como cabeça da igreja, é seu Salvador! O que Paulo está dizendo, pois, equivale ao seguinte: a esposa deve submeter-se voluntariamente a seu esposo a quem Deus designou como cabeça dela” (William Hendriksen, Efésios e Filipenses, 1992, p. 295). Esse respeito é condicional, sempre baseado na lei divina, na legitimidade. Você não precisa pecar em submissão ao seu marido. Essa submissão não é cobrada para maridos tiranos (obediência irrestrita), violentos ou abusadores.
Observe que ela não é uma empregada do marido - não é esse o termo [se não lemos contaminados com as ideologias de nossa época]. Vejamos, por exemplo, que a mulher virtuosa de Pv 31.10-31 é uma grande administradora dos bens da família. Assim, isso não significa que, por ser submissa ao seu marido, a mulher não possa trabalhar, ser empresária, estudar ou ganhar mais do que o marido [no momento, minha esposa está terminando o doutorado em Eng. Civil]. A questão é que ela não foi encarregada do fardo de ser a provedora - de se desgastar por isso, mas ela é ativa e não uma escora - nunca esqueça que no lar cristão ambos devem estar no mesmo propósito.
Paulo ainda lembra às mulheres que elas não são submissas aos homens em geral, mas ao seu próprio marido. Isso indica que você não compartilha da obrigatoriedade de ser auxiliadora de outros homens. Você não está engajada na missão de outra família, mas da sua. Ainda que você seja promotora do bem a nível cultural [uma profissional, por exemplo], você está vinculada a auxiliar seu marido em frutificar a sua família. Amada irmã, não há demérito em você saber que seu lar é parte fundamental do jardim que Deus te colocou para cultivar e guardar. Não caia na “ideia confusa de que as mulheres são livres quando servem aos seus empregadores, mas são escravas quando ajudam seus maridos” (G. K. Chesterton). Moças, namoro não é local de submissão. É óbvio que são coisas que vocês observarão um no outro enquanto pretendentes, mas namoro e noivado não são casamento [ah, e casem-se com homens bons. Não aceitem qualquer “zé doidin”- pois é muito difícil se submeter a eles].
Acabamos adentrando no papel do homem também. Quando Paulo diz “como ao Senhor” ele reforça que a esposa deve reconhecer e incentivar a liderança espiritual de seu marido. Ela facilita e encoraja seu desenvolvimento espiritual, não somente a liderança material. Há temperança e sabedoria em ouvir os conselhos e a instrução de seu marido baseados na Palavra de Deus. Por exemplo, eu posso e devo auxiliar minha esposa nas tarefas de governo da casa - quando ela se sente mais chamada a isso. Porém, ela pode me auxiliar para que meu pastoreio no lar se dê de forma menos difícil. Se minha esposa não fosse crente e cheia do Espírito Santo como eu a pastorearia? Como ela ouviria conselhos e repreensões? Com o coração submisso a Deus em permitir o meu serviço a ela. Submissão envolve também saber ser servida.
Por fim, o fundamento para a submissão não é cultural, mas teológico: “porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja […] como, porém, a igreja está sujeita a Cristo”. Paulo olha para a relação entre Cristo e a Igreja para instituir as relações entre esposa e esposo.
b) exercendo o amor sacrificial masculino
A “pancada” está sobre nós. Vejam somente no trecho em que Paulo se dirige às mulheres: vocês devem refletir a autoridade de Cristo em serviço às suas esposas [como ao Senhor]; vocês devem viver para o bem-estar delas como a cabeça para o corpo, como Cristo que salva a igreja. Mas não acaba aí. Pregando outras vezes nesse texto no passado me lembro de homens puxando minha orelha ali fora dizendo que fui duro demais. Mas irmãos, o que pesa sobre os nossos ombros é pesado. Você entende o que Paulo diz agora?

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26 para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito

Ser homem não é usar uma barba robusta, ter um carro monstro, tomar cerveja, ser rude, ser musculoso ou mesmo ter um emprego e ganhar bem. Não! Assim como Cristo é o cabeça da igreja devemos ser cabeça para nossa esposa. O marido deve AMAR sacrificialmente sua esposa [somente elas - ferir isso é terrível; adúlteros são homens tão pequenos - não importa o quão grandes pareçam]. Não há a ordenança para a mulher se sacrificar ao marido dessa maneira. Para o homem sim.
O que assusta é que somos pecadores e tendenciosos a sermos meninos – meninos em muitos sentidos: sermos birrentos, desistirmos fácil, sermos explosivos, às vezes até com síndrome de “ela não me ama”, etc. Quando a gente briga dá vontade de jogar tudo pro alto e ir embora. Mas somos chamados a morrer por essas mulheres. Todo amor que tenhamos por elas é insuficiente pois nunca chegará à medida do amor de Cristo - e isso é um incentivo e um lembrete de que podemos amá-las sempre mais.Os seus lares são a prova se suas mãos levantadas no culto são santas (1Tm 2.8) ou hipócritas.
A responsabilidade sobre nós fica mais dura quando percebemos que facilmente tornamos a submissão amarga. Existem homens que trabalham não só para sustentar a família, mas também para seus próprios deleites egoístas – é muito difícil se submeter a um cara desses. Existem aqueles que fazem de tudo - são verdadeiramente batalhadores - mas deixam de lado o mais importante: não são pastores do lar. São tão pobres que a única coisa que podem entregar em casa é dinheiro. Existem também aqueles que ‘fazem tudo para Deus’ e negligenciam a família, como alguns pastores que têm suas esposas sofrendo com isso. Devemos ser aqueles que dizem ‘Venha teu Reino’ e que queremos esse Reino na vida de nossas esposas. Uma dica: é fácil se submeter a um homem desses.
Peguemos o ponto do pastoreio. Isso está na contramão de nossa tendência à independência. Às vezes pensamos que cuidamos da nossa vida espiritual e que a nossa esposa deve buscar cuidar se sua própria vida espiritual também. Mas a nossa esposa não foi criada para isso, embora ela possa ser muito piedosa. Ela foi criada para crescer conosco, sob nossa orientação e sob o nosso exemplo – inclusive os filhos (6.4). Se em última instância o casamento representa o relacionamento entre Cristo e a Igreja, a igreja pode crescer independentemente de Cristo? É lógico que não. Isso significa que nossas esposas são inferiores ou menos inteligentes? É lógico que não. Mas são responsabilidades diferentes dentro do casamento. Elas podem ser colunas do lar - mas não as únicas. Se for assim, seu pecado é gravíssimo!
O versículo 26 nos lembra que nossas esposas são pecadoras como nós: Cristo não morreu por uma noiva limpa, mas para torná-la. Há um ponto aqui - de certa maneira, nossas esposas são fruto do nosso empenho no casamento. Se você acha que sua esposa não te ama como se deve, adivinha: a culpa é sua. ‘Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro’ (1Jo 4.19). Não é que tenhamos amado a Ele, mas que Ele nos amou e porque Ele nos amou, agora nós o amamos. Se o esposo não está mais satisfeito com a esposa é culpa dele pois ele quem deve ‘lavá-la’.
A continuação do texto, no verso 27, onde diz que Cristo apresentou a si mesmo igreja “gloriosa, sem mácula, nem ruga (...) mas santa e sem defeito”, nos dá a medida do amor de Cristo. Ele tem ao lado a esposa que ele forjou. Há uma mulher gloriosa ao seu lado. Ele [Cristo e, como espelho, o marido cristão] desenvolve sua esposa. Grandes homens não estão ao lado de dondocas, mas de mulheres mais virtuosas que eles mesmos. Esse amor acaba virando exemplo de amor para nossas filhas e para as moças da igreja.

Aplicações

1. Casamento é compartilhamento de fé.
O que quero dizer, baseado na nossa exposição, é que é impossível que homem e mulher busquem refletir a união entre Cristo e a Igreja sem partilharem mutuamente do Evangelho. É óbvio que podemos aprender de casais descrentes muitas coisas no que diz respeito ao trato diário da união. Mas não podemos ser ingênuos em pensar que seus casamentos refletem o que somente o Espírito Santo [e uma vida de plenitude em Deus] pode produzir. Não há como pastorear quem não é ovelha e nem ser pastoreado por quem não é discípulo de Jesus Cristo. Além disso, no dia-a-dia problemas de agenda e de compreensão ocorrerão. Dificuldades em servir o povo de Deus, em acompanhar a vida da membresia e da comunhão da igreja com certeza acontecerão. Você pensará em auxiliar missões com o seu décimo terceiro ou férias, por exemplo, e seu cônjuge julgará que seu pastor [ou a igreja] só pensa em dinheiro, como tantas vezes ocorre.
2. Deus respeita as particularidades.
O texto diz que é cabível a mulher se submeter ao marido e respeitá-lo. O interessante é que Deus não diz que o marido deve se submeter e respeitar a esposa – e isso não significa que o marido não deva respeitar a esposa – também não diz que a esposa deva amar o marido – isso também não significa que ela não deva amar o marido. Paulo está destacando o que deve ser atitude central para que tenhamos casamentos que reflitam o amor de Cristo e a Igreja. Além disso, esses papeis diferentes demonstram que Deus conhece as particularidades de cada sexo, ou gênero que ele criou.
Por exemplo, eu não preciso que a Tayane me ligue três vezes ao dia e diga que me ama. Mas o que a Tayane precisa? Lembretes constantes de que ela é amada. Você pode dizer consigo mesmo: “bem, eu não sou esse tipo de cara que fica enviando mensagem, ligando”. Você está certo. Se arrependa! Agora, você quer me ver destruído? Basta a Tayane me fazer sentir desrespeitado - difamado ou acusado injustamente. Me lembro das palavras de Paul Washer, dizendo que isso é quebrar o coração de um homem, pois é o que o deixa alinhado numa relação conjugal.
3. Amar é ser o necessário para o outro.
Minha irmã, tem mulheres mais bonitas no mundo que você. Irmãos, tem homens mais bonitos no mundo do que você também. Onde quero chegar? É que não precisamos ser “o mais” em tudo para nosso cônjuge - e muitas vezes coisas desnecessárias. Precisamos ser aquilo que ele necessita em amor e respeito. Não precisamos inventar a roda, mas evitar uma cultura que diz que homem e mulher são iguais, quando somos completamente diferentes. Cumprimos nossos deveres não porque é o que necessitamos [não preciso receber mensagem com “eu te amo”], mas o que nossos cônjuges precisam [por isso envio a mensagem]. Por isso homens precisam se sentir respeitados e mulheres se sentirem amadas [pergunte isso ao seu cônjuge].
É óbvio que muitas esposas querem que eu diga [e os esposos também] o que seu cônjuge precisa fazer de forma específica, mas não farei isso aqui. Se é sair para jantar ou para um cinema; se é serra ou praia; se são rosas ou margaridas eu não sei. Eis aqui a questão: você que precisa saber. O que a Palavra de Deus nos diz é que você precisam amar um ao outro e isso envolve ser o que o outro necessita. Não o que o outro quer, como se você tivesse obrigação de alimentar os ídolos do outro, mas o que a Palavra de Deus diz ser o seu papel. Maridos, amem vossas esposas. Esposas, submetam-se aos seus maridos.
4. Finais de semana não salvam casamentos.
Há a necessidade de um trabalho diário. Precisamos de sabedoria para glorificar a Deus em todas as coisas e isso inclui sabedoria para ser um bom esposo e esposa para além de uma diária numa pousada, uma viagem ou um jantar. Insensatez e tolice são pecado e a sabedoria louva a Deus: e a sabedoria nos ensina que devemos viver no temos de Deus todos os dias da nossa vida (Pv 9.10). Você pode ser casado há anos e não ser um bom marido ou esposa. Vocês podem ter filhos e não serem verdadeiramente sábios [até porque, biologicamente, para ter filhos você não precisa ter como requisito a sabedoria, apenas serem um par fértil]. Você precisa ser cheio do Espírito Santo.
Você que é casado: faça um voto com a sua família de glorificar a Deus juntos e se auxiliarem nisso. Reforce um ao outro que no casamento há uma sociedade onde cada um cumpre o seu papel, mas um dá suporte ao outro, pois ambos querem alcançar um objetivo juntos: buscar e servir a Deus.
--
S.D.G
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