Bem-Aventurados os Limpos de Coração
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8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
Coração: Como é lógico, começaremos pela palavra “coração”. Repito que temos aqui algo que faz parte bem característica do Evangelho. O Evangelho de Jesus Cristo interessa-se pelo estado do coração: toda a sua ênfase recai sobre o coração. Basta ler as narrativas dos Evangelhos, sobre a doutrina de nosso bendito Senhor, para que se descubra, do princípio ao fim que Ele falava a respeito do coração. Outro tanto sucede no Antigo Testamento. Sem dúvida alguma, nosso Senhor acentuou essa verdade por causa dos fariseus. A grande acusação de Cristo contra eles é que eles estavam interessados no exterior de copos e de vasos, mas ignoravam o interior. Quando vistos externamente, os fariseus pareciam sem defeito. Mas o interior deles estava repleto de cobiça e de iniquidade. A preocupação primária deles eram as injunções religiosas externas; contudo, olvidavam-se das questões mais graves da lei, a saber, o amor a Deus e o amor ao próximo. Isso posto, essa é, uma vez mais, a ênfase de nosso Senhor. O coração ocupa o lugar central do Seu ensino.
Lloyd-Jones, D. M. (2017). Estudos no Sermão do Monte. (T. J. S. Filho, Org., J. Bentes, Trad.) (Segunda Edição, p. 143–144). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
Ponderemos por alguns momentos essa ênfase, em termos de algumas poucas considerações negativas. Jesus frisou a importância do coração, e não da cabeça. “Bem-aventurados os limpos de coração.” Ele não elogiou aqueles que são intelectuais; o interesse de Cristo concentrava-se sobre o coração. Em outras palavras, precisamos lembrar-nos de novo que a fé cristã, em última análise, não é somente uma questão de doutrinas, de entendimento, de intelecto, mas antes, é uma condição do coração. E quero acrescentar de imediato que doutrina é algo absolutamente essencial; e a compreensão é outra questão vital. Porém, não é somente isso que está aqui envolvido. Sempre precisamos ter o cuidado de não dar mero assentimento intelectual a um certo número de proposições doutrinárias. Precisamos fazer isso, é certo, mas o mais grave perigo é que estaquemos nesse ponto. Quando as pessoas demonstram mero interesse intelectual pelas aduzidas questões, na maioria das vezes isso se tem transformado em uma maldição para a igreja. Ora, tal fenômeno é aplicável não somente à doutrina e à teologia. É possível que alguém desenvolva um interesse puramente mecânico pela Palavra de Deus, de forma a tornar-se um mero estudioso das Escrituras; mas isso não significa que tudo vá bem com essa pessoa. Aqueles que se interessam meramente pelo aspecto mecânico da exposição bíblica, não se encontram em melhor posição do que os teólogos puramente acadêmicos. Nosso Senhor deixou claro que não está em foco alguma questão essencialmente mental. Isso também está envolvido, mas há muito mais do que simplesmente isso.
Uma vez mais, entretanto, por que Cristo pôs ênfase sobre o coração, e não sobre aquilo que é apenas comportamento e externalidades? Os fariseus, conforme você deve estar lembrado, sempre mostravam-se dispostos a reduzir a maneira de viver e a retidão a uma simples questão de conduta, de ética, de comportamento. O Evangelho desvenda, deveras, tudo quanto se oculta em nós! Aqueles dentre vocês que não apreciam a ênfase intelectual, provavelmente disseram “Amém” quando ressaltei o primeiro ponto. Talvez você tenha dito ou pensado: “Sim, isso é verdade. O que importa não é o intelecto, mas a vida diária”. Cuidado! Pois o cristianismo também não envolve, primariamente, uma questão de conduta e comportamento externo. O cristianismo começa pela indagação: Qual é o estado do coração?
Que se deve entender por esse vocábulo “coração”? Consoante ao uso bíblico geral do termo, o coração é tido como o centro da personalidade. Não indica meramente a sede dos afetos e das emoções. Esta bem-aventurança não é uma declaração que vise dizer que a fé cristã é algo primariamente emocional, e não intelectual ou pertencente ao terreno da vontade. De maneira nenhuma! Nas Escrituras, a palavra “coração” envolve todos esses três conceitos. O coração é o centro do ser e da personalidade do indivíduo; é igualmente a fonte de onde brota tudo quanto daí se segue. Inclui a mente. Inclui a vontade. Inclui as emoções. Essa palavra considera o homem em sua totalidade. E foi precisamente essa totalidade que nosso Senhor quis destacar. “Bem-aventurados os limpos de coração”; bem-aventurados são os puros, não meramente na superfície, mas no próprio âmago de seus seres, na fonte de onde manam todas as suas atividades. Essa verdade é tão profunda quanto isso. Ora, essa é a questão primordial; o Evangelho sempre enfatiza esse aspecto total. O Evangelho começa pelo coração.
Então, em segundo lugar, é salientado que o coração sempre é o manancial de todas as nossas dificuldades. Você deve estar lembrado daquilo que o Senhor Jesus esclareceu: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15:19). A terrível e trágica falácia que tem sido propalada durante estes últimos cem anos é a ideia que todas as dificuldades dos homens se devem ao seu meio ambiente, e que para mudar o homem tudo quanto se tem que fazer é modificar o seu meio ambiente. Isso constitui uma trágica mentira. Pois tal ideia negligencia o fato que foi no paraíso que o homem caiu no pecado. O primeiro erro foi cometido em um meio ambiente perfeito, e, por essa razão recolocar o homem em um ambiente perfeito não soluciona os seus problemas. Não e não; mas é de dentro do “coração” que procedem todas essas iniquidades. Consideremos qualquer problema na vida, qualquer coisa que produza a miséria; descubramos a sua causa, e sempre verificaremos que tudo provém do coração do homem, de uma maneira ou de outra, de algum desejo indigno de alguém, em algum indivíduo, em algum grupo ou em alguma nação. Todas as nossas dificuldades originam-se no coração humano, o qual, segundo somos informados por Jeremias, é “Enganoso… mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Em outras palavras, o Evangelho não somente revela-nos que todos esses problemas partem do coração, mas também que assim acontece porque o coração do ser humano, em resultado da queda, em resultado do pecado, conforme afiançam as Escrituras, é desesperadamente corrupto, enganoso e maligno. Vale dizer, as dificuldades de um homem encontram-se no próprio âmago do seu ser, em face do quê o mero desenvolvimento dos seus poderes intelectuais não pode solucionar os seus problemas. Sempre nos deveríamos conscientizar que a mera educação não leva um homem a tornar-se bom; um indivíduo pode ser altamente educado, e, no entanto, ser uma pessoa desesperadamente iníqua. O problema está no âmago do ser, pelo que os meros esquemas de aprimoramento intelectual não nos podem endireitar. Esses esforços sozinhos nem são capazes de melhorar o nosso meio ambiente. A nossa trágica cegueira, que não compreende isso, é responsável pelo lamentável estado do mundo atual. A dificuldade acha-se no coração, e o coração é desesperadamente corrupto e enganador. Esse é o grande problema.
Lloyd-Jones, D. M. (2017). Estudos no Sermão do Monte. (T. J. S. Filho, Org., J. Bentes, Trad.) (Segunda Edição, p. 144–146). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
Quiçá possamos expressar mais perfeitamente o ponto afirmando que ser limpo de coração significa ser semelhante ao próprio Senhor Jesus Cristo. Ele “… não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca” (I Pedro 2:22) – perfeito, sem mácula, puro e íntegro. Analisando um pouco mais a questão, podemos dizer que ser limpo de coração aponta para o fato que somos donos de um amor não dividido, considerando Deus o nosso maior bem, um amor que só se preocupa em valorizar ao Senhor. Em outras palavras, ter um “coração limpo” significa que observamos o primeiro e maior dos mandamentos: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Deuteronômio 6:5).
Lloyd-Jones, D. M. (2017). Estudos no Sermão do Monte. (T. J. S. Filho, Org., J. Bentes, Trad.) (Segunda Edição, p. 148). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.