Mateus 5.33-37

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Cristo elucida a Lei dos votos e juramentos, mostrando como o agente do Reino está comprometido com um procedimento legítimo e verdadeiro, diferentemente dos legalistas e hipócritas.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Logo após a correção feita por Cristo quanto a interpretação herética dos mestres da lei, em relação ao adultério e ao divórcio, Jesus observa como a ética do Reino influencia os seus agentes, através da promoção da verdade e honestidade, principalmente em termos da palavra dada em compromissos e votos, feitos principalmente para com Deus.
Elucidação
Em nota sobre o texto destacado, a Bíblia de Estudo de Genebra salienta:
Jesus está se referindo a um legalismo estreito e enganador, que exige um juramento específico para obrigar o cumprimento daquilo que foi falado. A implicação de tal abordagem com relação à honestidade, é que só necessitamos ser verdadeiros sob juramento.
A perversão dos escribas e fariseus à Lei do SENHOR havia atingido níveis alarmantes, de sorte que, o próprio trato de uns para com os outros havia sido reduzido a juramentos que profanavam o nome de Deus e reduziam a consideração à honestidade aos votos. Como afirma Lloyd-Jones:
[...] A dificuldade dos fariseus e dos escribas era que a atitude deles era ditada inteiramente pelo legalismo. Preocupavam- se muito mais com a letra da lei do que com o espírito da lei. Durante todo o tempo em que pudessem persuadir a si mesmos de que estavam observando a letra da lei, sentir-se-iam perfeitamente satisfeitos. Por exemplo, enquanto não se tomassem culpados de adultério literal, para eles tudo parecia correr bem. E outro tanto se aplicava ao divórcio. E agora encontramos toda essa questão novamente. Eles haviam distorcido de tal maneira a significação dos juramentos, refraseando os trechos bíblicos segundo moldes legais que permitiam a si mesmos um amplo espaço para fazerem muitas coisas que eram abertamente contraditórias com o espírito da lei. Assim, sentiam estar isentos de qualquer culpa, pois, na realidade, nunca haviam quebrado a letra da lei. Em outras palavras, eles haviam confinado o propósito inteiro desse preceito à questão isolada do perjúrio. Conforme pensavam, cometer perjúrio era uma ofensa seríssima e solene; era um pecado terrível, que eles não hesitavam em denunciar. Não obstante, um judeu podia fazer toda espécie de juramentos, e tudo quanto a isso se assemelhasse, contanto que não viesse a cometer perjúrio; enquanto não chegassem a esse extremo, sentiam que não eram culpados diante da lei.
Não podemos perder o foco de que Cristo está lidando como legalismo dos homens, e a resultante clara de tal postura para com a Lei de Deus é o reducionismo da Norma Sagrada à subterfúgios e licenciosidades que permitem aos mestres da lei a pretensão de estarem cumprindo a Lei de Deus e ao mesmo tempo, perpetrando seus pecados mais vis, e aqui, a transgressão denunciada por Cristo é a desonestidade e o apego a meros juramentos, que como mencionamos, profanam o nome de Deus.
O ponto por trás de toda a questão é que, para os mestres da lei, a falta contra a Palavra do SENHOR era caracterizada apenas através da mentira, ou do falso testemunho, ou ainda de um voto que fora realizado e não fora cumprido, porém, a entrega desenfreada ao uso vão do nome de Deus através de palavras de acordos, não eram em si pecados.
A advertência franca de Cristo, posiciona o conceito de pecado num patamar muitíssimo mais alto. “De modo algum jureis!”, diz o SENHOR Jesus Cristo. Como seria possível o falar leviano ser característica de um agente do Reino, agora que toda sua vida funciona de acordo com a vontade do Deus Triuno revelado em Cristo, que o habilitou a servir ao Criador em novidade de vida e em santidade? O modo como falamos e tratamos as questões com as quais estamos envolvidos demonstra onde está nosso coração.
Tanto um falar irreverente em relação a Deus e a tudo quanto por ele é considerado sagrado, quanto uma oralidade leviana e mentirosa, que não tem qualquer apreço pela verdade e honestidade, são profundamente condenados aqui por Cristo.
Jurar pelo céu, pela terra, ou por Jerusalém (v. 35), eram meios usados pelos mestres da lei, a fim de escusar-se de seus compromissos, numa que o nome próprio de Deus não havia sido usado, isto é, o termo máximo de seriedade num negócio ou noutra situação que seja não foi usado, então, o compromisso então estabelecido, não tem caráter sério ou mesmo obriga aquele que jurou ao cumprimento ferrenho do que disse. Cristo condena essa prática, revelando a hipocrisia e malignidade dos que agem dessa forma, e faz isso demonstrando dois princípios: 1) não há como ser leviano o desonesto, sem que Deus não o perceba e sem que a tal palavra não esteja dentro do raio de ação do SENHOR. Os céus são o trono de Deus, a terra, onde ele repousa seus pés (i. e. o estrado ou escabelo: o móvel onde os reis apoiavam seus pés), e Jerusalém é a sua cidade. Não há como ser leviano, jurando por meio de quaisquer coisas que sejam, sem que não peque contra Deus. 2) a própria desonestidade tencionada com esse fim, é um pecado contra o SENHOR. A Escritura está repleta de advertências contra o trato desonesto e superficial. Como já exposto, não convém aos nascidos no Reino dos céus, uma mente maquiavélica que “joga nas entrelinhas” de acordos, buscando descumpri-los ou forçar outros a cumpri-los por pura conveniência ou vantagens.
Ainda outra questão elaborada pelo SENHOR é que não podemos jurar algo que está fora de nosso alcance em cumprir, do contrário, teremos empenhado nossa palavra de maneira também corrupta, quando sabíamos que não teríamos certeza de podermos cumprir o acordo ou assegurar o que foi dito. Nas palavras de Cristo: nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto” (v. 36).
Aqueles a quem foi revelado o Reino dos céus, foi dado o conhecimento fidedigno e legítimo de Deus o Pai, através de Cristo, sendo em seus corações, iluminados a responderem a essa verdade com a devida fé, por causa do poder e operação do Espírito. Aquilo que foi prometido ao longo de todo o Antigo Testamento, foi fielmente cumprido em Jesus, e toda a realidade proposta pelo SENHOR ao longo da história redentiva, estava sendo inteiramente desfrutada pelo povo eleito de Deus na plenitude dos tempos, quando do advento do Messias. Mais uma vez: como poderiam os agentes do Reino, em sua vida diária, enquanto estão nesse mundo responsáveis por demonstrar a glória de Deus através de suas obras, serem desonestos e ardilosos em suas palavras e tratos para com outros? A exigência do Rei é clara e direta: “Seja, porém, a tua palavra: sim, sim; não, não” (v. 37), isto é, sem ambiguidades ou artimanhas, pois qualquer tipo de acréscimo, ou tentativa sorrateira de falsidade e de corrupção por meio de um modo de falar leviano, procede daquele que originalmente age perversamente, sonegando informações de outrem (Gn 3.1b), a fim de volta-los contra Deus: o maligno.
Como tem sido comum nesta seção do evangelho de Mateus, o SENHOR Jesus Cristo cita um trecho da Lei que deseja elucidar e aplicar aos seus ouvintes, e lança a interpretação correta, contrabalanceando com o entendimento dos mestres da lei. Aqui na seção de 5.33-37, entretanto, Cristo cita um dos princípios legais de Levítico 19.12, onde se lê: “nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o Senhor”, e anexa a isso um resumo dos textos de Números 30.2: “Quando um homem fizer voto ao Senhor ou juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará.”; e Deuteronômio 23.21: “Quando fizeres algum voto ao Senhor, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado”.
A partir da paráfrase feita por Jesus, nota-se o claro desejo de resumir os princípios do Pentateuco que tratam dos juramentos e votos, sobre os quais ele deseja lançar luz. Porém, o próprio resumo feito por Cristo, contrapõe o ensino dos mestres da lei, numa que demonstra não somente o trato dos juramentos e votos de maneira ampla, mas anexa os tais a tese de que os mesmos deveriam observar a própria consideração do anexo do nome de Deus em tais votos, provocando temor em quem os usasse.
Cristo exibe todo o arcabouço principiológico que formava o código ético do Antigo Testamento em relação aos votos e juramentos, demonstrando que seu ensino se coaduna com a intenção principal da Lei, e aplica isso a vida de seus ouvintes.
O capítulo XXII, seção 2 da Confissão de Fé de Westminster, sintetiza o ensino da Escritura sobre os votos e juramentos da seguinte maneira:
O único nome pelo qual se deve jurar é o nome de Deus, nome que se pronunciará com todo o santo temor e reverência; jurar, pois, falsa ou temerariamente por este glorioso e tremendo nome ou jurar por qualquer outra coisa é pecaminoso e abominável, contudo, como em assuntos de gravidade e importância o juramento é autorizado pela palavra de Deus, tanto sob o Novo Testamento como sob o Velho, o juramento, sendo exigido pela autoridade legal, deve ser prestado com referência a tais assuntos.
É impensável pois, que um cristão, aja dolosamente contra quem quer que seja, através de um modo de falar sorrateiro e leviano, quando muito perversamente comete perjúrio, omite informações, ou dá sua palavra sem a intenção de cumpri-la. Tais atitudes são uma afronta a Deus e sua Palavra, e pecados que os legalistas em diversas vezes encobrem, a fim de que não se perceba a podridão de suas obras.
Como elucida Ferguson:
A verdade é sagrada, e a nossa fala deveria honrá-la. Perdemos esse valor na vida cristã, em nossos dias, tanto quanto tememos que ele tenha sido perdido na vida pública? O nosso “sim” é verdadeiramente sim”? O nosso sim carrega compromisso definitivo? Ou tendemos a modificar a verdade e a simulá-la? A nossa palavra é confiável? Fazemos o que dizemos que iremos fazer? As pessoas podem confiar em nós enquanto modelos de integridade?
Transição
Como agentes do Reino, Cristo nos deu diretrizes que se aplicam a todas as áreas de nossa vida, incluindo, o modo como empregamos nossas palavras, principalmente na hora de dá-la como fiador de algo que nos comprometemos em fazer, pois, assim, refletimos o caráter fidedigno do Reino de Deus, num mundo onde a mentira e desonestidade são louvadas no altar do pecado.
Dessa forma, à luz deste texto, precisamos observar as exortações de Cristo para nossa vida, a partir de algumas aplicações.
Aplicações
1. Nosso modo de falar, demonstra qual é nossa realidade espiritual.
Um primeiro ponto de reflexão com que o texto nos confronta é a denúncia clara em relação ao nosso modo de falar e agir de acordo como que falamos. Não se trata de linguajar chulo, ou de palavras de baixo calão, há exortações diversas nas Escrituras, em outras passagens, contra esse tipo de atitude. Porém, o que o texto de Mateus 5.33-37 nos adverte é que nosso modo de falar não deve ser astucioso, maquiavélico, buscando apanhar as pessoas nas entrelinhas de algum tipo de acordo. Não devemos nos entregar a tentação de achar que o único uso em vão do nome de Deus ocorre quando mencionamos seu nome em algum tipo de juramento ou acordo. O próprio ato de jurar sem a intenção de cumprir é um afronta a Deus, como clarificou nitidamente o SENHOR Jesus Cristo. Como podemos firmar um acordo através de palavras ou atos que não estejam debaixo da jurisdição de Deus? Por isso, nosso falar deve sempre promover a verdade e a honestidade, muito embora o mundo ache que essas coisas são características de pessoas tolas, ou que não sabem “tirar vantagem” de outrem, a Escritura chama de pecado.
Mentir ou agir falsamente através do perjúrio é uma característica de corações afundados na lama do pecado e da corrupção, não de agentes do Reino que foram alvos da graça do Pai através do Messias: Jesus Cristo.
2. A associação com a mentira e o engano revelam associação com o Maligno.
Mateus é o evangelho do Reino. Os agentes do Reino são informados que não há como pertencer a duas esferas espirituais: luz e trevas. As obras das trevas são marcadas pela pecaminosidade manifesta na mentira e no engano, de sorte que quando permito que me envolvam em algum tipo de situação fraudulenta, ou quando eu mesmo desejo mentir em relação a qualquer coisa, estou de alguma forma tentando me associar ao reino das trevas e a sua agenda destrutiva.
Nas palavras reside a intenção do nosso coração, e o nosso coração demonstra qual é nossa condição diante de Deus. Como regenerados, não podemos agir de outra forma que não de acordo com a verdade e justiça que nos foram reveladas em Cristo Jesus. Por isso, vigiemos quanto ao nosso falar, e quanto a modo com que nos comprometemos com as pessoas. O Reino de Deus não pode ser afrontado por nosso modo de agir, quando passamos a imagem de que não somos confiáveis pelo fato de promovermos a mentira e a falsidade. Seja o nosso falar sim, sim, e o não, não, para a glória de Deus.
Conclusão
De acordo com o texto de Mateus 5.33-37, nossa vida como um todo demonstra a realidade do Reino ao qual pertencemos, e de maneira específica o nosso falar exibe a marca desse Reino diante dos homens, quando rejeitamos a falsidade e a mentira, pela prevalência da verdade e honestidade em tudo o que fazer, visando a promoção do Reino dos céus.
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