Mateus 6.1-4

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Cristo passa desenvolver os conceitos anteriores de seu sermão de maneira prática, usando a prática das boas obras (caridade) como base de suas aplicações.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Avançando na temática proposta em seu sermão, embora Cristo ainda deseje contrastar o ensino dos mestres da lei, com sua perspectiva quanto ao Reino dos céus inaugurado por ele, o SENHOR não mais está focado em corrigir a perspectiva de seus ouvintes quanto a Lei, mas passa a apresentar princípios gerais da vida prática que são próprios dos que receberam a revelação do Reino através dele, isso por meio de uma estrutura dupla de esferas às quais os discípulos de Cristo estão inevitavelmente envolvidos: a esfera espiritual e a esfera terrena.
Assim, o capítulo 6 pode ser dividido em dois grandes blocos, entremeados de sub-temas que serão expostos por Cristo, como afirma Lloyde-Jones:
Essas são as duas grandes divisões deste capítulo de Mateus 6: aquela porção estritamente religiosa, que envolve a vida cristã; e a porção mundana. Ambos esses aspectos são tomados por nosso Senhor e ventilados com pormenores bastante consideráveis. Em outras palavras, é vital que o crente seja dono de ideias absolutamente claras a respeito dessas questões, e também que receba instruções sobre ambos os aspectos.
Temos assim a seguinte estrutura do capítulo 6:
1ª Bloco: a esfera espiritual
Verso 2 ao 18
2ª Bloco: a esfera terrena
Versos 19 ao 34
Se antes o SENHOR Jesus Cristo estava preocupado em esclarecer aquilo que os agentes do Reino já eram, agora, ele passará a estruturar as ações a serem tomadas e a conduta dos servos de Deus. A temática do exceder a justiça dos homens (v. 1) remete ao dito por Cristo em 5.20 em relação aos escribas e fariseus, como uma introdução à temática que será desenvolvida a seguir, porém, como já dito, a diferença é que o modo como farão isso não é conectado por Cristo a uma citação direta da Lei que de alguma forma pode ter sido mal interpretada, embora os princípios expostos por ele, ainda reflitam o foco da Lei de Deus no Antigo Testamento.
Elucidação
Segundo a própria introdução da seção no qual consta a exortação de Cristo contra a prática das boas obras de maneira pública, isto é, tendo como objetivo ser visto pelos homens (6.1), o ponto de contraste apresentado por Jesus que diferencia os agentes do Reino daqueles cujas obras são mortas e não receberam a Cristo como o Messias prometido que inauguraria a plenitude dos tempos conforme prometido no Antigo Testamento, é que estão na constante presença de Deus, o Pai, como é enfatizado ao longo do capítulo 6 através da expressão: "e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará". Como comenta Lloyd-Jones:
Leia Mateus 6, e você descobrirá que essa referência a Deus, o Pai, continua se repetindo. Temos estado a considerar o crente, a quem tem sido dito algo de suas características, a quem tem sido dito sobre como deve comportar-se em sociedade, o qual já tem sido relembrado sobre o que Deus dele espera e dele requer. E aqui foi-nos oferecido um quadro do crente que continua a viver aquele tipo de vida. O grande fator que é constantemente enfatizado é que o crente faz tudo na presença do Senhor. Isso é algo que jamais deveríamos esquecer. Ou, expressando o ponto de outra maneira, esta seção apresenta um quadro dos filhos de Deus em sua relação para com o Pai celeste, enquanto avançam pelo caminho desta peregrinação chamada vida.
Dessa forma, o ouvinte de Cristo é exortado a aguardar que suas obras recebam a recompensa do Pai celeste, e não dos homens, conforme desejavam os escribas e fariseus. É digno de nota o lembrete de que embora estejamos numa nova seção, a consideração reiterada no verso 1 deste capítulo 6 remonta ao princípio de que os ouvintes de Jesus devem atentar a sua palavra a fim de que a sua justiça exceda ou supere a dos escribas e fariseus, de acordo com 5.20, como já dito.
Se ainda não ficou claro que Cristo havia combatido a disposição do coração dos mestres da lei em agradar-se através de uma corrupção da Lei de Deus, ou, uma interpretação fajuta e falsa da vontade do SENHOR expressa no Antigo Testamento, Jesus afunila sua consideração apontando que as boas obras que são esperadas dos agente do Reino dos céus não consistem em uma disposição egocêntrica do coração em serem notados pelos homens como justos ou piedosos. Por isso, Cristo insta com seus discípulos a que não realizem as boas obras de acordo com o padrão convencionado em seu tempo pelos mestres da lei, do contrário, isso demonstraria que não têm qualquer relação com o Pai celeste.
A primeira observação que Cristo faz quanto a justiça do Reino dos céus que deve ser manifesta através da vida de seus discípulos por meio das boas obras, é quanto a caridade ou a prática da doação de esmolas. A advertência de Cristo aqui, inicia-se com uma designação caracterizadora dos mestres da lei como “hipócritas”, termo geralmente relacionado ao ator do teatro greco-romano, que representava um personagem que obviamente não era. Da mesma sorte, os escribas e fariseus, ou todos aqueles que buscavam serem reconhecidos pelos homens (v. 2), dissimulavam sua religiosidade através de boas ações, não para glorificarem ao Pai em sua conduta (5.16), mas para atraírem para si a atenção (6.2).
Pior juízo não poderia recair sobre os tais do que aquele proferido por Jesus: “eles já receberam a recompensa”, ou seja, o que eles procuravam já lhes fora concedido: serem vistos e reconhecidos. Porém, como se trata de uma vã consideração, não usufruem qualquer tipo de bênção da parte de Deus que lhe possa assegurar a entrada no Reino.
Dessa forma, como ressalta Gundry:
[Cristo] adverte contra ostentação na prática religiosa, particularmente nas esmolas [...]. A recompensa do elogio humano é toda a recompensa que os que buscam esse elogio vão receber. Não permitir que a mão esquerda saiba o que a direita faz na hora de dar esmolas significa passar uma ajuda a um pedinte de forma discreta, somente com a mão direita em vez de oferecê-la com as duas mãos estendidas para assim atrair a atenção dos que passam.
Como já adiantado, a prática das boas ações, especialmente como é destacado no texto - o dar esmolas - deve ser algo discreto (v.3-4), de forma a não envaidecer ou ensoberbecer o coração daquele que as faz, tendo como promessa, a bênção que advém do Pai celeste.
Algumas cópias de manuscritos antigos deste texto sugerem um complemento no final do verso 4: [...] “e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. A interpretação possível para essa segunda leitura seria um contraste com os mestres da lei, que, tencionando servir a Deus mas motivados pela vanglória , recebem uma recompensa superficial, enquanto que os agentes do Reino, são enaltecidos pelo próprio Deus, frente as obras que praticaram, não de maneira hipócrita, mas de acordo com a inclinação de seus corações em glorificar ao Pai ajudando o próximo.
O teor prático do sermão de Cristo continua demonstrando qual a nova realidade a que seus discípulos estavam sendo inseridos, isto é, que no Reino dos céus, a justiça dos homens não serve para absolutamente nada, senão para serem julgados de acordo com a pecaminosidade de suas intenções.
Transição
Ser visto ou reconhecido como piedoso diante dos homens pode significar um contraste diametral em relação ao olhar que Deus tem para conosco. A vaidade e egocentrismo dos mestres da lei fora julgada; qualquer um que não tenha sido apresentado à revelação transformadora da realidade do Reino em Cristo Jesus e tenta por suas próprias obras lograr fama praticando boas obras, lucra no máximo a atenção fugidia dos próprios homens, o que jamais poderá ser comparado a recompensa reservada para os filhos de Deus, algo eterno e concedido pelo próprio Pai celeste: o galardão da vida eterna.
Frente a isso, o texto nos convida a aplicar essas verdades proferidas por Cristo através de algumas posturas que devemos assumir.
Aplicações
1. Buscar o louvor dos homens é inútil, pois tudo que o conseguiremos é o próprio louvor dos homens.
A busca pelo louvor dos homens revela a hipocrisia de nosso coração em usar os preceitos divinos apenas para promover nossa religiosidade, e isso pode ser feito das mais variadas maneiras. Como por exemplo, esboçar conhecimento teológico pode ser um meio através do qual estamos buscando ser reconhecidos por outros como piedosos, porém, piedade e conhecimento nem sempre estão presentes num mesmo coração.
Cristo afunila ainda mais essa percepção através da exemplificação de como até as boas obras podem ser usadas com fins egocêntricos, e alguém que socorre materialmente um necessitado, pode estar na verdade querendo promover-se com aquela boa ação. Tal desejo e ação não devem ser encontradas num coração que honra o Pai celeste, pois fomos habilitados pelo Espírito Santo a rejeitar as obras das trevas, dentre elas, a vanglória, enaltecendo o SENHOR nosso Deus através de nossas boas ações que são realizadas em Cristo, aquele que criou as boas obras para que andássemos nelas.
2. Não devemos esperar a recompensa dos homens, nossa recompensa vem da parte de Deus.
É comum que as pessoas que buscam o louvor dos homens sintam-se frustradas por não terem sido notadas da forma como gostariam. Na verdade isso nunca poderá de fato acontecer, pois atenção que procuram é passageira, superficial, e falsa, pois os homens hipócritas que reconhecem outros homens hipócritas, vivem numa eterna guerra a fim de que saber quem é o mais piedoso dentre eles, quando na verdade, nenhum deles conhece de fato a verdadeira piedade.
Cristo nos aponta que nossa recompensa não está no reconhecimento dos homens, mas no de Deus, não que nossas obras valham alguma coisa ao ponto de o Pai ver-se obrigado a nos recompensar, mas porque em Cristo Jesus, até as obras que ele mesmo realiza através de nós, são recompensadas. Pense que todas as boas obras que “fazemos” não somos nós quem as realizamos, mas sim, o próprio Deus, pelo poder do seu Espírito, santificando-nos diariamente para que possamos agir de maneira que o agrade. E o próprio Espírito que nos habilita a fazer o que ele deseja, nos recompensa por sua própria ação.
Essa é a manifestação da graça de Deus sobre nossas vidas: somos recompensados pelo SENHOR Deus pelas obras que ele mesmo realiza em nós e através de nós. Por isso, olhar para a bênção de agradar e servir a Deus sempre será o motivo que nos leva a agir de acordo com sua Palavra, fazendo boas obras e sendo misericordiosos uns com os outros. Essa é a maior recompensa celeste daquele que nos faz seus filhos, glorificando seu nome por meio de nossas vidas.
Conclusão
Não há maior recompensa do que servir a Deus, obedecendo sua Palavra, e ainda assim, demonstrando toda a riqueza da graça que tem, Cristo nos abençoa, nos tornando o meio através do qual o Reino dos céus é demonstrado aos homens.
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