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Esmurrando o corpo

1 Coríntios (Capítulo 9)
24. Não sabeis vós que os que correm numa competição. Ele lançou a doutrina, e agora, querendo imprimi-la nas mentes dos coríntios, adiciona uma exortação. Em suma, ele afirma que o que alcançaram até aqui não seria nada, a menos que perseverassem firmes, visto não ser suficiente que, uma vez iniciados no caminho do Senhor, não envidarem todo esforço para atingir a meta. Isto corresponde à palavra de Cristo em Mateus 10.22: “Aquele que perseverar até o fim, esse mesmo será salvo.”E deveras ele toma por empréstimo um símile da pista de corrida. Pois assim como muitos na verdade entram na arena, mas apenas aquele que primeiro alcança o alvo recebe o louro da vitória, assim aquele que uma vez se incluiu na competição a que o evangelho nos convoca, não tem motivo para estar satisfeito consigo mesmo, a menos que prossiga até a morte. Nossa luta, porém, não é como a do corredor: em sua corrida só um – aquele que corre mais velozmente que os demais – é o vencedor e recebe o prêmio;29 nossa condição, porém, é superior neste aspecto: pode haver muitos ao mesmo tempo. Pois tudo o que Deus requer de nós é que prossigamos incansavelmente ao longo de todo o caminho em direção ao alvo.31 Assim, uma pessoa não invade o caminho da outra, mas, antes, os que tomam parte na corrida cristã fazem tudo a seu alcance para estender a mão de forma recíproca. Paulo apresenta a mesma idéia, de maneira distinta, em 2 Timóteo 2.5: “Um atleta não é coroado se não competir segundo as normas.”Assim correi também vós. Aqui temos a aplicação da comparação. Não é bastante que tenhamos iniciado a corrida, se não continuarmos a correr ao longo de toda nossa vida. Porquanto nossa vida é semelhante a uma pista de corrida. Daí, de nada nos adiantará se pararmos cansados depois de algum tempo; por exemplo, meia jornada, porque nada mais senão a morte marca o final da competição.A partícula ὅυτω, assim, pode ser considerada de duas formas: Crisóstomo a junta ao que vem antes, ou, seja: “Como os corredores não param de correr até que tenham alcançado a linha de chegada, assim deveis perseverar, e não deveis parar de correr durante vossa vida.” Entretanto, a correspondência se aplica bem ao que vem a seguir: “Deveis correr, não de maneira que interrompais em meio à competição, mas de tal maneira que obtenhais o prêmio.”Não tenho nada a dizer sobre o termo estádio (pista de corrida) e sobre os diferentes tipos de corridas, visto que informação sobre eles podem ser encontrada nos dicionários; e comumente se sabe que algumas corridas eram em montarias e outras, a pé. Além do mais, não há muita necessidade de se entender o que Paulo quis dizer sobre essas coisas.25. E todo aquele que se esforça nos jogos. À luz do fato de que estivera a encorajá-los a perseverarem, ele tinha que fazer ainda mais claro sobre como perseverariam. Ele agora procede usando o símile de pugilistas, não de uma forma radical, mas só até onde o problema com que ele está a tratar o exigia, a saber, o problema de até que ponto devem penetrar nas fraqueza de seus irmãos. Paulo mesmo se restringe a isso. Mas ele argúi do menor para o maior, dizendo que devemos envergonhar-nos de nós mesmos se nos achamos relutantes em resumir nosso direito, quando os pugilistas, comendo seu coliphium e uma pequena porção dele, certamente não com excesso, se dispõem a renunciar todas e quaisquer iguarias, de modo a poderem sentir-se de todo preparados para a luta. E fazem isso por amor a uma coroa corruptível. Não obstante, se dão tanta importância a uma coroa de ramos, que murcha quase que instantaneamente, não deveríamos nós pôr todo nosso mais intenso apreço numa coroa eterna? Portanto, não sintamos nenhuma dificuldade em renunciar alguma parcela de nossos direitos. Sabe-se muito bem que os atletas viviam tão satisfeitos com a mais frugal dieta, que seu modo de vida se tornara proverbial.26. Por isso eu assim corro. Paulo se volta para si mesmo a fim de, ao chamar a atenção para seu próprio exemplo, dar mais peso a sua doutrina. Há quem pense que o que ele diz aqui se refere à plena segurança da esperança, como se dissesse: “Não corro em vão, nem estou correndo o risco de ser visto como insensato no tocante à minha obra, porque tenho a promessa do Senhor, e esta nunca falha.” No entanto, sou inclinado a crer que ele desejava orientar os crentes em seu caminho, rumo a seu destino, para que não perambulassem a esmo. Ele poderia ter dito assim: “O Senhor nos mantém ocupados aqui a correr e a lutar, mas ele coloca um alvo diante de nós rumo ao qual devemos correr; e estabelece normas confiáveis para o pugilismo a fim de não nos cansarmos sem nenhum objetivo.” Porque ele combina ambas as comparações que já usou. Diz: “Eu sei para onde estou correndo, e estou ansioso como um pugilista experiente que não quer errar seu golpe.” Estas coisas devem incitar o coração do cristão, injetando-lhe coragem para tomar posse, com o maior entusiasmo, de todos os deveres da fé cristã; pois é algo imensurável não nos deixarmos distrair, na ignorância, por coisas que não nos levam a parte alguma.27. Mas golpeio meu corpo. Budæus traduz: Observo (mantenho-me sob vigilância). Eu, porém, entendo que aqui o apóstolo faz uso do verbo ὑπωπιάζειν. no sentido de “persistir no trabalho como um escravo”.38 Pois ele está nos contando que não tem sido indulgente consigo mesmo, mas que tem reprimido seus desejos. Isso não é possível a menos que se tenha o corpo sob controle, e que mantenha seus desejos refreados, de modo que, como se faz a um corcel selvagem e indomável, seja ele reprimido e acostumado a obedecer. Os monges de outrora, querendo sujeitar-se a esta norma, engendraram muitos exercícios disciplinares; pois costumavam dormir em bancos; obrigavam-se a manter excessivamente longas noites de vigília; e em seu modo de vida, guardavam-se limpos de toda luxúria. Todavia, omitiam o ponto principal, e não compreendiam a razão por que o apóstolo nos diz que fizéssemos isso, visto que tinham outro preceito em mente: “e nada disponhais para a carne, no tocante a suas concupiscências” [Rm 13.14]. Porquanto o que Paulo diz em 1 Timóteo 4.8 sempre resulta bem, a saber: que “o exercício físico para pouco é proveitoso”. Não obstante, tratemos nosso corpo como se ele fosse um escravo, sim, a fim de não nos subtrairmos dos deveres da religião em razão de sua inerente concupiscência, porém façamos isso por uma outra razão ainda mais forte, ou, seja, não provocarmos sofrimento nem escândalos a outrem, cedendo a seus impulsos.Para que, tendo pregado a outros. Há quem explique estas palavras da seguinte maneira: “A fim de que, tendo ensinado a outrem fielmente e bem, não incorra eu na condenação de Deus por levar uma vida nociva.” Mas a leitura será melhor se se considerar esta frase como uma referência a sua relação com outrem, da seguinte forma: “Minha vida deve gerar alguma sorte de exemplo para outrem. Portanto, esforço-me para viver de tal maneira que meu caráter e conduta não contradigam ao que eu ensino, e que, portanto, não venha eu a negligenciar as próprias coisas que exijo dos outros, e com isso envolvendo-me em grande infortúnio e trazendo graves ofensas a meus irmãos. Esta frase pode também ser acrescida àquela que ele expressou numa afirmação prévia, com este resultado: “Para que não venha eu a ser privado do evangelho, do qual outros vieram a participar através de meu trabalho.
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