A sabedoria do discipulado (Lc 6.46-49)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Essa parábola de Jesus é bastante intuitiva em sabedoria. Imagine dois homens que compram um terreno no mesmo loteamento próximo a uma praia no Ceará. Certo dia, houve uma chuva torrencial, daquelas que dá nos períodos chuvosos daqui, e solapou ao redor de todas as casas daquele loteamento, e, dessas duas uma desabou. Infelizmente, toda a família morreu, pois era muito perigoso sair no meio da enxurrada e tiveram de se abrigar em casa.
No outro dia, a defesa civil e os moradores estavam ali calculando os prejuízos e dando assistência uns aos outros. Nisso, observou-se que todas as casas que estavam em pé, com poucas avarias, haviam sido bem construídas, com alicerces bem cavados e lançados sobre a rocha firme. Esses proprietários são semelhantes aos que vão a Cristo, ouvem suas palavras e as pratica.
Aquela casa desolada, em ruínas, cuja família pereceu, foi construída com economia tola, sem sabedoria, fundamentando sua casa sobre a areia. O construtor até sabia o que era certo, pois viu vários de seus vizinhos, inclusive o de frente, que comprou e construiu sua casa no mesmo período que ele, lançarem firmes fundamentos para a edificação. Esse proprietário é semelhante aos que vão a Cristo, ouvem suas palavras e não as pratica.
Jesus queria que esse alerta ficasse claro: é burrice ouvir e não praticar. Onde você se encontra nessa relação?
Nossa exposição se dará em 6 pontos acompanhados de suas aplicações.

1. As palavras do sábio construtor não são vazias de significado

Logo no verso 46 Jesus questiona aqueles que o chamam de “Senhor, Senhor” da boca pra fora. Podemos dizer que há duas formas gerais de se fazer isso.
a) Palavra vazia de conteúdo:
Entre esses se encontram os que chamam Jesus de Senhor porque todo mundo diz que Ele é Senhor, mas não sabe porquê. Não conhecem Deus, seus atributos e caráter, somente suas bênçãos; não conhecem Cristo, sua pessoa e obra; não sabem discernir o que é a Igreja, sua unidade e missão.
Não saber quem é Jesus, mesmo que você esteja na multidão de seguidores, não te permitirá lançar os firmes fundamentos da fé, nem construir o edifício da vida cristã. Faltará o conteúdo da fé e também será impossível, por isso, praticá-la.
b) Palavra vazia de prática: Ortodoxia sem ortopraxia (prática).
Observe que, na passagem, "Senhor, Senhor" é apresentado de forma vazia, porque os seguidores não lhe obedecem. O contexto imediato é esse: pessoas que aparentemente seguem Jesus, mas suas práticas não são condizentes com a sua confissão. Ou seja, Jesus não é Senhor deles (Kurios, como YHWH era traduzido na LXX, era utilizado por estes seguidores sem a lealdade esperada).

2. Para os discípulos as palavras de Jesus não são instruções, são ordens.

Respeitamos tanto algumas pessoas que, por mais que não nos mandem, seus pedidos são para nós como ordens. Seria diferente com Cristo? Claro que não. Observe, então, como nossas ações revelam o quanto Ele é considerado (respeitado) por nós. Mas ele é verdadeiramente Senhor, sua pessoa é a mais relevante e sua palavra é a mais imperativa.
Rm 10.8-10 nos ensina que para sermos salvos precisamos confessar Jesus como Senhor. [em outras palavras] Ele é o teu dono, teu amado, teu mestre, teu soberano, teu alvo exclusivo de adoração e honra, Ele é o filho de Deus e salvador do mundo. Há uma relação entre coração e boca. Não são palavras vazias (veja Fp 2.9-11).
a) A Lei de Cristo:
Não temos tempo para desenvolver esse tópico como seria pertinente. Mas Jesus nos deu sua Palavra, e ela é uma ordem. Podemos falar de toda bíblia como Palavra de Cristo (pertence a Ele e revela a Ele). Mas Ele também nos deixou uma ética e lei do seu reino: veja o Sermão da Montanha (Mt 5-7) - em que nossa parábola se encontra; a lei do amor (Mt 22.37-39; Jo 13.34; 1Jo 4.9-12; 19-21). Não podemos amar a Deus e ao próximo sem Jesus Cristo. É uma inclinação maior para amar, do que ser amado [é no seio da Igreja que vemos o desenvolvimento desse amor]. Em Cristo vemos que Deus já nos amou suficientemente para que possamos amar.

3. Jesus não está falando dos que não vão até ele e não dão ouvidos às suas palavras. Ele fala dos que vão e ouvem.

Jesus está fazendo distinção, dentre os seus seguidores, dos verdadeiros e dos falsos discípulos. No versículo 47 fica claro, então, a quem Jesus se refere: aquele que o chama de Senhor, em verdade e não de boca, é aquele que vai, ouve e prática. A primeira parte da parábola se refere a homens e mulheres que são assim, que sua confissão “Jesus Cristo é meu Senhor” é verdadeira (“eu vos mostrarei a quem é semelhante”), em conteúdo e prática.
Isso significa que os discípulos tolos não são discípulos - ainda que digam Senhor (Mt 7.22,23). Suas fidelidades últimas não são Deus e sua Palavra, mas todos os “ismos” alternativos a Jesus.

4. Não se abrigue onde vai desabar.

O abrigo está construído sobre alicerces, e estes são o conjunto de ideias e crenças que confiamos ultimamente. Aquilo que, consciente ou inconscientemente, dá lógica, sentido a nossa existência. Torna o nosso viver possível (ainda que sejam crenças na ausência de sentido). Habitam o mais íntimo do nosso coração, e essas são as que ouvimos e vivemos conforme elas. Mas veja: Se forem qualquer coisa que não o evangelho, estamos muito enrascados (Lc 6.49, Mt 7.26,27). Haverá situações nessa vida que elas darão alguma sustentação e abrigo, mas nas mais severas não. Serão como palha (lembra da história dos três porquinhos?). Há dores, há questionamentos, há necessidades, que nada nesse mundo pode consolar, responder e satisfazer.
O firme fundamento é Jesus Cristo (Is 28.16; 1Pe 2.6) .

1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. 4 A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. 5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.

6 Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. 7 Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, 9 a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem. 10 O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. 11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; 13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. 14 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.

VENHA PRA JESUS!

5. Nossa prática mostra o que verdadeiramente ouvimos

Sabemos que há uma diferença abissal entre ouvir e “ouvir”. Quando pais chamam seus filhos para conversar e dizem “meu filho, por que você não me ouve?” não quer dizer que eles não estejam escutando com os ouvidos suas palavras, mas que eles não estão as considerando e as praticando. O evangelista Lucas agrupou a presente parábola a parábola dos frutos e do bom tesouro um pouco antes (Lc 6.43-45), mostrando o que se espera dos que são verdadeiramente discípulos no dia-a-dia, e que um dos momentos de principal demonstração será nos momentos de dificuldade. Se o termômetro de nossa frutificação for a bonança, os fundamentos não estão lançados.

6. Aparentemente não há diferença entre as pessoas e suas casas

Casas construídas sobre a rocha ou sobre a areia podem ter a mesma beleza aparente. Ninguém consegue julgar sua firmeza ao ver a fachada. É necessário cavar para perceber onde estão os alicerces. Por fora, todos são evangélicos, frequentadores de igreja, tem boas intenções quanto ao serviço na igreja e a missão de Deus, mas é no íntimo das tempestades que se revela a verdadeira confissão. É quando o solo está sendo levado na enxurrada que vemos os fundamentos.
Observemos, por fim, a importância do discipulado e da comunhão, quando conversamos e nos relacionamos, pois estes são os meios que o Senhor nos entregou para cotidianamente avaliarmos e tornarmos robustos os nossos alicerces.

Aplicações

Qual o conteúdo da sua confissão? Não se encontre entre os que creem num falso Jesus.
Se correta, ela é acompanhada de prática? Jesus censura, nessa parábola, uma crença imatura e desacompanhada de frutos.
Todos aqui nessa audiência são construtores, a questão é sobre o que estamos construindo o edifício de nossas vidas. Somos sábios ou tolos?
A tempestade é inevitável, sejam as intempéries da vida, ou o certo juízo de Deus. Veremos nossa casa em ruínas ou preservadas em Cristo?
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S.D.G
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