Gênesis 12.1-9
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· 51 viewsMoisés apresenta o relato do chamado de Abrão como sendo a base da fé que Israel deve ter para conquistar a herança prometida pelo SENHOR a este, pondo em prática a mesma fé que o próprio patriarca teve ao confiar na salvação de Deus e em sua bênção.
Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 12.1-9
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
O texto em questão é a continuação introduzida pelo capítulo 11.27-32, em que a saga de Abrão terá início. As demarcações entre os versos 1 e 4 apontam um texto estruturado sob uma perspectiva dupla que alcança o mesmo horizonte semântico, qual seja: o chamado de Abrão. Dos versos 1 à 3, Moisés apresenta o chamado propriamente dito: a ordem de Deus para Abrão que demonstra sua vocação eletiva, como exposto anteriormente, e dos versos de 4 à 9, observamos a resposta de Abrão a esse chamado e a declaração de posse da terra como herança do SENHOR para seu povo por meio de Abrão.
É possível notar alguns contrapontos entre a narrativa do capítulo 12 e as narrativas anteriores. Levando em consideração que o texto em questão é um afunilamento de atenção em que o autor está demarcando a passagem da era antiga para o tempo dos patriarcas, ele revisa os pontos anteriormente apresentados sob o prisma sintético dos planos de Deus para com seu povo eleito por meio da saga patriarcal. Por exemplo: o verso 2 em que a promessa de Deus refere-se a tornar o nome de Abrão grande (ou famoso como sugere a NVI) pode ser um contraste com a ação dos homens narrada em Gn 11.1-9. Os homens querendo tornar seus nomes famosos, empreenderam um projeto afrontoso para com o SENHOR, quando desobederceram as ordens de Deus, e ao invés de proclamar a glória do Criador sobre toda a criação, confinaram-se num mesmo lugar, para adorar outros deuses, ou eles mesmos em sua vaidade. Abrão por outro lado, atentando às ordens de Deus e crendo nelas, é informado de que por meio do engrandecimento de seu nome, todas as famílias da terra serão abençoadas. Deus demonstra seu plano redentivo, exibindo que é por meio de seus projetos e intentos - não o dos homens - que a verdadeira glória é exibida: a glória de Deus.
Outro fator contrastante no texto é a movimentação de Abrão rumo à Canaà. Em Gn 11.31, Tera, pai de Abrão, sai de Ur dos Caldeus para Canaã, mas para em Harã. De acordo com alguns teóricos, a parada de Tera ocorre tendo em vista que em Harã ele poderia dar prosseguindo a prática pagã da adoração a "deusa Lua", que era famosa tanto em Ur quanto em Harã. Abrão por outro lado, avança cumprindo a ordenança do Criador, e abandona completamente sua parentela (com exceção de sua mulher Sarai e seu sobrinho Ló (v.5)) e prossegue a jornada para o lugar que Deus designara.
Dessa forma, a narrativa que se inicia no capítulo 12 é usada por Moisés para exortar o povo de Israel quanto às sua origens, usando o patriarca Abrão como prova da eleição divina e do fundamento das promessas que Israel herdara por meio deste. Veremos então que Gn 12.1-9 exibe o chamado de Abrão e a promessa da herança eterna, sob a estrutura elaborada pelo próprio autor do texto, que se divide em dois tópicos: 1) O chamado de Deus (vs. 1-3); e 2) A resposta em fé de Abrão (vs. 4-9).
Elucidação
O chamado de Deus (vs. 1-3)
Quando observamos o imperativo divino para Abrão, notamos que algumas considerações tornam esta ordem mais complexa do que poderíamos supor.
Levando em consideração o teor da bênção de Deus prometida neste texto a Abrão, é possível que as palavras "מֵאַרְצְךָ֥" (hb. lit. "da tua terra"), "מֹולֶדֶת" (hb. lit. "da tua parentela", e "וּמִבֵּ֣ית אָבִ֑יךָ" (hb. lit. da casa de teu pai) sejam semanticamente equivalentes. A intenção de Deus é que Abrão se desvencilhe de quaisquer fontes humanas de segurança (riquezas, heranças etc) e confie apenas no seu chamado abençoador, tendo como fiador Deus, e não seu pai, observando que uma herança muito maior do que as possessões desse mundo lhe oferecem.
A ordem do SENHOR para Abrão de "deixar a casa de seu pai" (v. 1) possui uma carga significativa para a observação que Moisés está realizando por meio do texto em relação ao povo de Israel. Segundo o Comentário Histórico-Cultural:
No mundo antigo, um homem era identificado pela sua posição como mebro da casa de seu pai. QUando o chefe da casa morria, o herdeiro assumia aquele título junto com as responsabilidades a ele atreladas. Essa expressão também está relacionada à posse de terra e propriedades dos antepassados. Ao deixar a casa de seu pai, Abrão estava abrindo mão de sua herança e de seu direito à propriedade da família. [...] Terra, família e herança eram alguns dos elementos mais significativos da sociedade antiga. [...] Para os descendentes, ela representava o futuro. [...] Quando Abrão se dispôs a deixar seu lugar na casa de seu paim eke abriu mão de sua segurança e colocou sua sobrevivência, sua identidade, seu futuro nas mãos do SENHOR (WALTON, 2018, p, 51,52).
Além disso, essa introdução não apresenta simplesmente uma ordem, no que tange ao conceito restritivo de uma imposição de um superior para com um inferior. Essa ordenança não deve ser analisada à parte de todo o contexto através do qual ocorre. O imperativo de Deus para Abrão aqui, também está demonstrando o compromisso divino em levar adiante seus planos redentivos (conforme exposto segundo análise do texto de Gn 11.10-32), obrigando-se a ser o benfeitor e Senhor gracioso de Abrão.
O comando do Criador para Abrão seguido pela narrativa de entrada e promessa da terra de Canaã como herança dada a Abrão por Deus, garante que aquela primeira estrutura exibe o compromisso de Deus em avançar mais um passo na história redentora, de maneira especifica por meio de Abrão e de tudo aquilo que por meio dele o SENHOR fará.
Segue-se a isso, as declarações de bênçãos vinculadas à obediência de Abrão ao chamado de Deus, que por sua vez não devem ser vistas como "bênçãos condicionadas", mas que frutificarão a partir da execução dos planos que o SENHOR está revelando que serão cumpridos por instrumentalidade de Abrão, pois as ordens dadas por Deus a este possuem mais um caráter descritivo do que propriamente imperativo, sobretudo ao analisarmos o verso 2 na expressão "וַאֲגַדְּלָ֖ה שְׁמֶ֑ךָ וֶהְיֵ֖ה" (hb. lit. e grande [farei] o teu nome) dado que apesar de Deus comissionar Abrão e pôr como recompensa de sua obediência grandes bênçãos, é o próprio Deus que se encarregará de, segundo sua providência (conforme tem sido demonstrado até este ponto da narrativa de Gênesis), tornar Abrão uma bênção para os eleitos de todas as famílias da terra (v. 3) como argumenta Walter Kaiser:
"Mesmo antes do surgimento de qualquer vocabulário técnico relacionado a entrar em aliança, Deus prometeu que entraria em relacionamento com Abraão, e então seria e faria a Abraão algo benéfico tanto a ele como a todas as nações da terra (KAISER, 2011, p. 54)".
As promessas de Deus para Abrão incluem não somente o usufruto do cumprimento divino para ele mesmo - como acontecerá no desenvolvimento da história patriarcal - mas de toda a posteridade conforme prometida pelo Criador. Tais promessas manifestam-se nos termos já estabelecidos de antítese ou contraste entre as linhagens que descendem de Deus e perpassam pelos personagens escolhidos pelo SENHOR para prefigurarem sua descendência (Adão, Sete, Noé, Sem, Abrão).
Tal expressão de dualidade é observada na complementação da bênção de Deus no verso 3: "Abençoarei os que te abençoarem...": aqueles que serão favoráveis (pela ação redentora interna) e favorecidos pela graça divina através de Abrão, sendo um referencial ao povo eleito de Deus de todas os povos da terra, conforme dito na sequência: "[...] em ti serão benditas todas as famílias da terra". Em contra partida, "amaldiçoarei os que te amaldiçoarem" é a sentença que demarca a retribuição dos rebeldes que se opuserem aos planos divinos realizados por meio de Abrão. Uma alusão à semente da serpente, como designativo da maldição atribuída ao primeiro opositor (Gn 3.14).
Assim, a salvação planejada por Deus através de Abrão é confirmada como fazendo parte dos processos redentivos traçados desde Gn 3, e que avançarão agora, de maneira mais específica, para o cumprimento. Abrão é o divisor ou ponto convergente em que a distinção entre os abençoados por Deus, o que inclui eleitos de todos os povos da terra, e os amaldiçoados; os opositores e rebeldes, recebem sobre si o exatamente o que fora prometido desde o início da história redentiva: salvação e juízo.
Tais considerações nos encaminham a ver a reação de Abrão frente ao oráculo divino.
2. A resposta em fé de Abrão (vs. 4-9)
Como salienta ao Dicionário Bíblico Lexham:
"Abraão ocupa um lugar-chave no desdobramento da narrativa bíblica e da história de Israel. Com Abraão, Deus restringe seu plano para o mundo a uma família específica. Esse plano levará à bênção de todos os povos por meio de Abraão".
A obediência de Abrão é um paradigma que possui um arcabouço teológico mais amplo através do uso da posse da terra como símbolo ou representação tanto da grandeza do que de fato de está sendo prometido, quanto da perspectiva para onde Abrão está olhando ao obedecer ao chamado divino.
Diferente de outros personagens que, demonstrando sua reprovação quanto ao favor divino, rapidamente respondem às palavras de Deus com uma ação pecaminosa (e.g. Caim - Gn 4.7-8), Abrão representa o poder de Deus em, pelo chamado gracioso, converter-se e crer na salvação, quando parte "sem saber para onde ia" (Hb 11.8).
A Escritura interpreta e elucida o chamado de Abrão e sua resposta, não como uma ocorrência solta ou única, mas conectada à um padrão que estabelece o movimento progressivo e histórico-redentivo (conforme temos visto) em que as promessas de Deus a este personagem representam um cumprimento muito maior e mais amplo no que tange ao projeto salvífico desenvolvido por Deus. Tal redenção abarca pelo menos dois aspecto que são abordados nas passagens que tomam este texto, dos versos 4 à 9, como referência: a vinda do descendente e a possessão da terra prometida, que se fundem eclipsando um único evento: a publicação do Reino de Deus e a glorificação do Messias que encerra a expansão da glória de Deus sobre toda a terra.
Em textos como Atos 3.25, Pedro adverte à multidão de que ainda que sendo filhos de Abraão devem crer no cumprimento das promessas feitas a este, pois por meio dele fora profetizado a vinda de Cristo, que os abençoaria (cf. Gn 12.3) com o perdão dos pecados.
Em Atos 7.5 e Gl 3.8 tanto Estevão quanto Paulo, jungem a promessa feita a Abrão interpretando-a tendo como base a leitura de que aquilo que fora dito a Abrão na verdade referenciava Cristo, conforme Paulo destaca na correção de perspectiva do texto do verso 7, quando afirma que o teor da palavra profética de Deus consistia em fazer de Cristo o herdeiro do povo eleito do SENHOR prefigurado pela terra:
Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo (Gl. 3.16).
Ao que a isto Paulo chama de "evangelho" (Gl 3.8), pois essa esperança que Abrão tinha, é a fé manifesta e viva na salvação de Deus.
A resposta de Abrão (Gn 12.4) motivada pela promessa da posse de uma terra (v. 7) não pode ser entendida como sendo uma expectativa de obter uma outra terra, no sentido terreno ou material do termo (como já mencionado), embora, de acordo com a progressão histórica da revelação salvífica, a obtenção de uma porção de terra englobe esse significado mais amplo, por ocasião do Êxodo e da entrada na terra de Canaã.
À luz de Hebreus 11.8,10 vemos essa que essa expectativa estava baseada na fé de Abrão de que obteria não um punhado de terras, mas algo para além disso:
Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. [...] Porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador.
A reposta de Abrão com confiança em Deus como seu redentor, não estava posta numa simples conquista por espaço geográfico, como era a gana de alguns em seu tempo (e.g. Ló - Gn 13.10), ou como demonstra a história, apontando que os homens estão mais interessados no acúmulo de possessões, embora, ele vislumbrasse uma herança, uma riqueza, um bem: a terra prometida, esta não construída por homens, como poderia ter sido o caso de Babel (Gn 11.4), mas cujo construtor será o próprio Deus. Um terra ou cidade eterna. Fortuitamente, é assim que termina a Escritura, com a visão de João da Jerusalém (rf. Canaã) Celestial que desce dos céus, para ser a morada dos eleitos - como o próprio Abrão - que habitarão com Cristo por toda a eternidade.
O texto encaminha-se para uma conclusão com o demonstrativo da fé de Abrão sendo comparada a ação dos patriarcas anteriores a ele : Abrão constrói um altar "ao Deus que lhe aparacera" (v.7). A construção de um altar era em si uma prática de adoração comum, mas a ênfase dada por Moisés nesse comentário, relaciona a atitude de Abrão aos próprios feitos dos patriarcas antes deste, como é o caso de Noé (cf. Gn 8.20).
Após o dilúvio, Noé reconhece a graça do SENHOR em cumprimento da promessa que lhe garantia a salvação da destruição e juízo derramados sobre a raça humana, e ergue um altar ao Deus que se revelou soberanamente, trazendo-o para dentro dos seus planos de glorificação e redenção.
Conectando ambos os personagens, Moisés exibe a ação de Abrão de edificar "um altar ao SENHOR, "que lhe aparecera", podendo esta última parte ser uma referência não somente à promessa feita por Deus com relação a apropriação de Abrão da terra de Canaã como herança do SENHOR para ele, conforme imediatamente é visto no mesmo verso antes da expressão destacada, mas também ao aparecimento de Deus revelando-se a este conforme descrito no verso 1, por ocasião de seu chamado.
Assim como veremos mais adiante (Gn 15), para Abrão, o aparecimento de Deus é mais uma demonstrativo do quando ele está comprometido em cumprir o que prometeu, e por isso, demonstra sua gratidão depositando sua fé demarcando a terra como possessão do SENHOR, edificando-lhe um altar.
Transição
"Gênesis 12 junta duas ideias teológicas diferentes: bênção e promessa. Uma (promessa) faz da salvação, o ato libertador de Deus, o centro; a outra faz da bênção constante de Deus o centro. Desse ponto em diante, a promessa de bênção é incluída na história da promessa" (SMITH, 2001, p. 163).
O texto que lemos não enfatiza apenas o plano eletivo de Deus para o seu povo, mas como esse plano possui como sustentador dessa ação divina as suas promessas e intenções, garantindo a base segura sobre a qual a fé dos eleitos está posta. Abrão não aquiesce uma proposta de melhoria, mas vislumbra pela fé a amplitude daquilo que estava reservado para ele e para todos os eleitos: a nação celestial; a terra prometida. Assim, como bênção e salvação unem-se num horizonte para chamar os eleitos à salvação, a fé (confiança em Deus) une-se a esperança de estar com o SENHOR para sempre num novo céu e nova terra.
O texto de Gênesis 12.1-9 nos mostra o chamado eletivo de Deus para Abrão e as declarações divinas que prometem uma bênção redentora para ele e para sua posteridade, que alcançam todos os povos da terra, o que nos inclue diretamente. Somos alcançados pelo favor divino, através daquilo que o SENHOR fez por meio deste personagem, através da bênção que emitiu para ele. À luz disto, o texto também nos convoca a observarmos outras verdades a serem aplicadas às nossas vidas:
1. O chamado de Deus implica necessariamente numa renúncia a tudo o que pode nos afastar dele.
Assim, como exemplifica Waltke:
Fé demanda um abandono irrestrito do passado. Abraão tem de deixar para traz a consolação de familiaridade e tradição. Ele tem de arrojar nas profundezas do mar sua família, sua terra natal e as velhas formas de culto. Mas esse abandono conduz à sua realização. A cidadania do peregrino está no céu, e ele ou ela busca uma cidade cujo arquiteto e edificador é Deus (Fp 3.20; Hb 11.9, 10, 13-16) (WALTKE, 2010, p. 252).
A ordem divina foi direta para Abrão: "Saia da sua terra, parentela e da casa de seu pai". Tornamo-nos sabedores, de acordo com o texto lido, que esta ordem exibe a intenção divina de que Abrão se desvincule de qualquer tipo laço idólatra que atraísse seu coração para longe de Deus, ou mesmo que competisse espaço com o próprio SENHOR.
Só é possível servir a Deus de maneira integra. Não há como adorarmos ao SENHOR com fé genuína se ainda nos ligamos ao pecado ou à vida que antes tínhamos, com algum tipo de saudade ou pesar por termos abandonado o que vivíamos ou tínhamos antes. Nada que há nesse mundo que pode disputar lugar com Deus. Não há como pacificar a relação entre YHWH e a pecaminosidade da nossa "antiga terra de Harã". Abrão abandonou a casa de seu pai, sua parentela e sua terra, entregando-se inteiramente à Deus.
Se nutrimos em nosso coração alguma reserva para com o SENHOR, não somos dignos de sermos chamados seus filhos. Por isso, examinemos o nosso coração, a fim de que descubramos se temos amado o SENHOR de todo nosso coração, de toda nossa alma, com todas as nossas forças e de todo entendimento. Do contrário, estaremos enganando-nos a nós mesmos, servindo uma caricatura de deus, mas não o Deus vivo das Escrituras.
2. A fé não é cega ou tola, mas confia na promessa da salvação de Deus.
Quando o SENHOR nos chamou para servirmos à ele, não saltamos no escuro dos engodos do nosso coração, mas temos como base da nossa esperança a fé, que por sua vez é alimentada, não com uma noção vaga ou distante de quem é Deus e do que ele quer conosco. Deus prometeu-nos a salvação, tendo ele se comprometido em aliança conosco. E que maior prova temos do compromisso divino em cumprir essa promessa do que a cruz, que nos lembra que para executar seus planos redentivos, Deus sacrificou seu próprio FIlho, Jesus Cristo, para nos dá acesso ao descanso prometido? que maior prova há de que aquele que nos chamou, acompanha-nos em nossa jornada, através de seu Espírito Santo, sobre quem é dito que estaria conosco todos os dias até a consumação dos séculos?
Abrão, embora tivesse sido naquele instante apresentado ao Deus, criador de todas as coisas, não empreendeu sua jornada tendo ouvido um sussurro, mas a potente voz de um Deus verdadeiro, cujas palavras não são espalhadas pelo vento, cujas promessas não são frágeis, sujeitas a mudanças, como acontece no mundo dos homens, mas entendeu que aquele que o estava ordenando sair de sua terra, era poderoso para o guardar e para cumprir o que prometera.
Que diz a Escritura sobre o que é a fé? "A fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem" (Hb 11.1). Nessa certeza, partiu Abrão, não para um punhado de terra, não para um cidade, cujos muros caem, cujos palácios podem ser destruídos, mas com os olhos fitos nos céus, aguardou que a cidade santa de lá descesse, aquela pátria, não erguida segundo do desejo dos homens, como fora Babel, que rapidamente foi largada ao esquecimento, mas aquela morada prepara por Cristo, o qual virá buscar não somente Abrão, mas a todos quantos, assim como ele, depositam sua fé no Deus vivo.
O que nos leva a nossa terceira aplicação.
3. Fomos chamados à uma peregrinação para casa, para a Jerusalém Celestial.
Quando o Espírito nos regenerou, chamou-nos por Cristo a sairmos de nossa terra, de nossa parentela, e da casa de nossos pais, para uma terra que ele há de nos mostrar. Embora não estejamos literalmente caminhando por desertos escaldantes, percorrendo planícies perigosas, corremos tanto ou pior risco vivendo num mundo idólatra. Como afirmamos no sermão anterior, embora nossas família sejam todos crentes em Cristo, convivemos num mundo pagão, assim como a família de Abrão o era. E desse mundo, tirou-nos o SENHOR para uma jornada espiritual, onde precisamos diariamente alimentar nossa fé, a fim de que não desfaleçamos pelo caminho.
Deus nos transformou de habitantes de Ur dos Caldeus, em peregrinos, que rumam para uma terra indicada pelo SENHOR, e assim, como depois de ter prometido, Deus apareceu a Abrão demonstrando-lhe o herdeiro prometido (v. 7 "à tua descendência (i.e. descendente - Cristo) darei esta terra"), assim, ele revelou-se para nós em Cristo, exibindo-nos o Consumador da nossa fé.
O próprio Cristo, dando testemunho de Abraão, afirmou: "Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se". Qual a causa do seu regozijo? a certeza de que no Messias (i.e no descendente prometido - Gn 3.15; 12.7) todas as promessas do Pai seriam cumpridas. É de Cristo que tiramos a alegria e a paz para enfrentarmos a jornada rumo ao Novo Céu e Nova Terra, estando em lugar bem mais privilegiado do que Abrão, pois ele olhou para o que viria, nós olhamos para o que já veio, e aguardamos tão somente, a chegada em glória do Dia de Cristo, aquele dia em que todas as promessas serão consumadas de uma vez para sempre, e a entraremos na Terra de Deus.
Conclusão
Assim como Moisés exortou o povo de Israel a confiar nas promessas de Deus, demonstrando-lhe a fé de Abrão nas palavras do SENHOR, somos exortados a, com diligência e fé, descansarmos no SENHOR, pois o Deus que prometeu-nos a entrada na Terra Prometida, há de cumprir sua palavra, para glória do seu nome e salvação do seu povo.