O PRESENTE DE AMOR

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O PRESENTE DE AMOR
“Respondeu Jesus: ‘Deixai-a em paz; que o guarde para o dia do meu sepultamento’” (João 12:7).16
INTRODUÇÃO
Nunca conheci alguém que não gostasse de presentes. Os presentes fazem parte de nossas vidas e são um termômetro de amor e generosidade. É difícil dizer o que mais gostamos: dar ou receber presentes; mas Jesus disse: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35). Gostaria de convidá-lo a meditar sobre um presente especial e extraordinário, que foi oferecido de uma forma não convencional e inadequada para aquela época. Todos estavam preocupados e, portanto, não se esqueceram daquela ocasião. Acontece que o beneficiário desse presente extraordinário foi Jesus. Poucos relatos, exceto a crucificação e a ressurreição, são contados por todos os quatro evangelistas. Este evento é um deles. Mateus diz que: “Aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lhe sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa.” (Mt 26:7). Marcos, por outro lado, acrescenta um detalhe: que essa mulher “quebrou o vaso” de alabastro, e Jesus o descreve como “uma boa ação para comigo” (Mc 14:6). O evangelista Lucas a chama de “pecadora” na cidade (Lc 7:37); e no Evangelho de João, um evangelho que foi escrito muito depois, encontramos também o nome dessa mulher, Maria (Jo 12:3).
II – O CONTEXTO NO EVANGELHO DE JOÃO
Alguns comentaristas dividem o Evangelho de João em duas partes. A primeira parte, do capítulo 1 ao capítulo 12, é chamada de “livro dos sinais”. Nessa primeira parte, João apresenta sete sinais. O primeiro encontramos em Caná, e o último é a ressurreição de Lázaro em Betânia.
A segunda parte, do capítulo 13 até o final do evangelho, é chamada de “livro da glória”. Os eventos dessa seção culminam no Gólgota, onde Jesus manifesta a glória de Deus.
Vemos como, no Evangelho de João, a popularidade de Jesus aumenta de um sinal para outro. A ressurreição de Lázaro motivou o Sinédrio a se reunir para decidir o que fazer com Jesus (Jo 11:47-57).
O Sinédrio decidiu que Jesus deveria morrer; e o discípulo João, depois de apresentar a ceia na casa de Simão, fala sobre uma nova decisão do Sinédrio. Não é suficiente que Jesus morra; Lázaro também deve morrer (Jo 12:9-11). João intercala o relato da unção de Jesus sob essa nuvem de ameaças, mostrando como era grande a tensão no momento em que ela ocorreu.
João começa uma contagem regressiva da última semana antes da crucificação. “Seis dias antes da Páscoa Jesus chegou a Betânia, onde vivia Lázaro” (Jo 12:1), porque queria passar o último sábado com os amigos, na família onde se sentia em casa.
III – JANTAR NA CASA DE SIMÃO
Simão, embora fosse fariseu, considerava-se discípulo de Jesus. Ele queria honrar a Jesus preparando uma refeição especial. Simão usava o epíteto de “o leproso” porque ele havia sofrido dessa doença terrível, e Jesus o havia curado. Nessa refeição estavam os discípulos junto com Jesus, outros judeus e Lázaro, que havia ressuscitado recentemente dos mortos. Marta também estava presente e era responsável pela preparação da refeição. É a última ocasião em que encontramos os três irmãos: Lázaro, Marta e Maria.
Se tivéssemos a oportunidade de voltar no tempo e estar presentes neste jantar, em que nos interessaríamos? Talvez alguns de nós se surpreendam com o menu preparado, ou com a forma como a refeição foi servida. Outra surpresa para a nossa cultura é que só os homens estavam presentes e as mulheres só se preocupavam em preparar e servir os alimentos. As discussões entre os presentes podem ser outro ponto de interessante. Não esqueçamos, à mesa estava alguém que passou vários dias na cova, e tal coisa nunca tinha acontecido antes.
O jantar estava a todo vapor quando algo incomum, até mesmo ultrajante para alguns, de repente aconteceu. Uma mulher, Maria, entrou no espaço onde o evento estava acontecendo. Ela carregava consigo um vaso, que primeiro ela “quebrou” (Mc 14:3) e então derramou seu conteúdo sobre Jesus. O vaso era precioso, feito de alabastro, e o conteúdo extremamente caro, “unguento de nardo puro” (Jo 12:3). Algumas gotas teriam sido suficientes para encher a casa com a fragrância da unção, mas Maria derramou todo o conteúdo no corpo de Jesus. Todos os olhos estavam voltados para Jesus. Houve silêncio; a indignação e a tensão aumentaram na sala. Um dos discípulos finalmente quebrou o silêncio com as palavras: “Por que este desperdício?” (Mt 26:8), e João nos diz quem era aquele discípulo, cujo espírito de crítica foi imediatamente assumido pelos outros discípulos.
O espírito de crítica ainda hoje é muito contagioso. Com pensamento mercantil, Judas calculou imediatamente o custo desse “desperdício”, trezentos denários. Só para compararmos o presente de Maria, era suficiente para suprir todas as necessidades básicas de uma família durante um ano inteiro. Podemos avaliar o presente de Maria no contexto da renda familiar de hoje por um ano inteiro. Ainda hoje, esse presente seria considerado extraordinário. Maria ficou horrorizada ao ouvir essas palavras de crítica e agora estava com medo de como Jesus reagiria. De repente, a voz de Jesus foi ouvida através das palavras: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto” (Jo 12:7). Jesus não apenas defendeu Maria, mas reconheceu o significado profundo de seu gesto. O presente de Maria aponta para um presente ainda maior, o presente do Gólgota.
IV – DOIS PERSONAGENS COM ATITUDES TOTALMENTE DIFERENTES
O personagem principal dessa narrativa, bem como de todo o evangelho, é Jesus. Vejamos três outros personagens que tiveram a oportunidade de conhecer Jesus: Simão, Judas e Maria.
Simão, o leproso, foi curado por Jesus, mas mesmo diante deste imenso milagre que ocorreu em sua vida não demonstrou a gratidão que deveria, começou até mesmo a dúvida que Jesus era um profeta.
Judas, um derivado do nome Judá, é um belo nome; o significado desse nome é “louvarei ao Senhor” (Gn 29:35). Hoje, no entanto, esse nome raramente pode ser encontrado. Por que Judas se incomodou, e por que ele criou essa atmosfera de indignação para com Maria e até mesmo para com Jesus? Os evangelistas dizem que Judas ficou tão aborrecido que, a partir dessa ceia, foi aos líderes religiosos para trair Jesus. Mas o fato é que não era seu dinheiro. Não era seu produto. Por que a indignação dele?
O discípulo João adiciona um detalhe que não encontramos nos outros evangelhos quando Judas fez a pergunta: “Por que não se vendeu este unguento... e não se deu aos pobres?” (Jo 12:5 e 6). João disse o seguinte sobre Judas: “não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (versículo 6). Mesmo décadas depois que o Evangelho foi escrito, a indignação de João ainda é grande. Ele sabia que o dinheiro na bolsa não era de Judas ou dos discípulos, mas de Deus.
Cada vez que um ato de generosidade se manifesta, o egoísmo já está presente e quer assumir o controle. Esse era o caso, e é o mesmo hoje. Essa tensão e luta estão presentes em cada coração, incluindo o nosso. Não nascemos com espírito de generosidade; o egoísmo faz parte de nossa natureza decaída. Está presente em nosso DNA. Mesmo crianças pequenas, de até 2 anos, já têm uma sensação clara de posse. Elas sabem dizer a palavra “meu”. Assim como os pais se esforçam para ajudar seus filhos a abandonar as manifestações egoístas, Deus está lutando conosco para nos tornarmos como Ele, cheios de generosidade.
Quando no culto da igreja os diáconos e diaconisas passam as salvas é a sua oportunidade de deixar Deus trabalhar em você retirando o egoísmo e colocando a generosidade. Quando o dinheiro é colocado na cesta de ofertas ou enviado para a conta da igreja durante o culto, esse dinheiro, dízimos e ofertas, pertence a Deus, e Seu dinheiro também passa por nossas mãos. O egoísmo ou a ganância pode nos tentar, também, a nos apegar ao que pertence a Deus. Alguns podem se perguntar: se Jesus conhecia o caráter de Judas, por que Ele concordou em deixá-lo ser caixa? Deus nos dá responsabilidades não para serem vencidas pela tentação, mas para vencer a tentação. Ele não precisa de nossas ofertas ou dízimos. É nós que precisamos superar o egoísmo e as críticas. “Judas condescendera com a avareza até que ela lhe dominara todos os bons traços de caráter. Invejou a dádiva feita a Jesus. Seu coração queimou de inveja de que o Salvador fosse objeto de oferenda digna dos reis da Terra.” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 394).
Em contraste com a atitude de Judas, temos o exemplo de Maria. Seu presente supera todas as expectativas. Ela é um modelo de generosidade. João diz: “e encheu-se a casa do cheiro do unguento” (Jo 12:3), pois não só a casa ficou cheia, mas também o pátio. O Salvador foi honrado ali, e Maria será lembrar como disse Jesus, “Onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua” (Mt 26:13). E hoje estamos relembrando esse evento.
No vaso que Maria quebrou estavam todas as suas riquezas, todos os seus dotes, todos os seus sonhos. Se tivéssemos a oportunidade de perguntar a ela: “Maria, valeu a pena fazer uma coisa dessas?”, qual você acha que seria a resposta dela? Acho que sua resposta seria: “O que eu fiz não pode de forma alguma medir o quanto Ele fez por mim!” Nos Evangelhos, Maria sempre pode ser encontrada aos pés de Jesus. Depois da ressurreição, ela é aquela a quem Jesus Se revela pela primeira vez. A essência de nardo puro mergulhou no corpo do Salvador e continuou a espalhar a fragrância agradável. Quando Ele foi escarnecido, espancado e pendurado no lenho da cruz, a fragrância do óleo de nardo puro disse-Lhe que havia seres neste mundo que valorizavam Seu sacrifício.
V – PRESENTES PARA DEUS
O que podemos oferecer a uma pessoa que tem absolutamente tudo? A única coisa que podemos oferecer é nosso amor. Aquele que entende que foi muito amado, ama muito.
Notamos isso na ação de Maria, ela ofertou tudo, pois era grata pelo que Jesus fez por ela. Junto com os dízimos, Deus instituiu o sistema de ofertas. Frequentemente, quando discutimos a prática do dízimo e como Deus trata esse assunto, abrimos a Bíblia no último livro do Antigo Testamento, o livro de Malaquias. No primeiro capítulo desse livro, Deus expressa Seu descontentamento com a maneira como Seu povo tratava as ofertas que deviam ser levadas ao templo (Ml 1:8), e no capítulo 3, junto com os dízimos, as ofertas são mencionadas novamente (Ml 3:8). As ofertas na Bíblia são frequentemente associadas à confissão de pecados e adoração.
O padrão de dar presentes é diferente do padrão de dizimar. O dízimo é nosso dever, e os deveres na Bíblia são expressos em termos específicos, para ser claros para todos. É por isso que o dízimo representa 10 por cento de toda a nossa renda. Mas as ofertas não se limitam a um número matemático exato. As ofertas são determinadas por nossa gratidão e amor. O dom extraordinário de Maria é uma expressão de seu amor e apreço por Deus. Nossas ofertas, não nosso dízimo, mostram o quanto amamos a Deus. É possível alguém se fiel e não amar, mas é impossível alguém amar e não ser fiel. É por isso que Jesus disse a Simão, que desprezava Maria e julgava Jesus: “mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama” (Lc 7:47).
Existem princípios claros na Bíblia que podem nos ajudar a determinar pessoalmente não apenas a quantidade, mas também a qualidade das ofertas. No Antigo Testamento (Dt 16:10, 17), assim como no Novo Testamento, é dito que as ofertas devem ser de acordo com sua “prosperidade”, ou o “ganho”, de cada um (1Cr 16:2) ou as bênçãos recebidas. (Amplie uma linha adicional sobre o princípio da proporcionalidade.) O segundo princípio é o do sacrifício tão evidente nas igrejas da Macedônia que o apóstolo Paulo aprecia e apresenta como modelo para os de Corinto, mas também para nós (2Cr 8:1-5). Jesus ficou tão impressionado com o presente da viúva, que ela deu não de sua abundância, mas com sacrifício; ela deu tudo (Mc 12:41-44). Todos os sábados, quando temos o privilégio de dar, precisamos nos perguntar: "O presente que ofereço a Deus hoje é um sacrifício para mim?" Não é Deus quem precisa de nossos dons, mas nós que precisamos ser curados do egoísmo.
O terceiro princípio é o da regularidade. Sempre que participamos da adoração, damos porque a adoração sem dar não é apenas incompleta, mas também sem valor (Sl 50:5).
Outro princípio de oferta é aquele que Jesus mencionou no Sermão da Montanha. É o princípio da prioridade de Deus e Seu reino. Maria, ao contrário de outras pessoas, teve a oportunidade de ungir o corpo de Jesus antes do funeral porque ela havia Jesus como uma prioridade. Ellen White diz que “o Espírito Santo planejara por ela, e ela Lhe obedecera às sugestões.” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 393.)
O Espírito Santo ainda quer nos guiar dando ofertas hoje. Podemos ouvir Suas exortações ou, como Judas, ser guiados pelo egoísmo.
Cada presente que oferecemos deve se tornar um símbolo do sacrifício no Calvário. Jesus viu no presente de Maria um símbolo da fragrância da salvação que se espalhará do Gólgota por todo o universo. Maria deu a Jesus um presente ainda mais precioso do que o vaso de alabastro com nardo puro. Não apenas vaso foi quebrado, mas seu coração também.
Diante da cruz, como Maria esteve uma vez, podemos dizer: “Senhor, tome em suas mãos nosso passado, presente e futuro. Transforme nosso vaso quebrado em um vaso de honra para Sua glória. Zele por nós para que não sigamos o exemplo de Judas. Queremos expressar nosso amor pelo Senhor por meio das ofertas que Lhe oferecemos todos os sábados, para que, por meio delas, outros conheçam o perfume de Sua salvação eterna, Seu amor e Sua graça”.
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