MORDOMOS NO FIM DOS TEMPOS
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MORDOMOS NO FIM DOS TEMPOS
“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem há de vir” (Mateus 25:13). 20
O ano de 2021 ainda não acabou e estamos vivendo a crise mais profunda dos últimos tempos. As pessoas fazem muitas perguntas hoje em dia. Aqui estão algumas delas: A crise que vivemos é um sinal do fim? Resta muito tempo antes do retorno de Cristo? O que mais o futuro reserva para nós?
Para responder a essas perguntas, vamos abrir a Bíblia no último sermão do Salvador, que podemos encontrar em todos os Evangelhos Sinópticos – Mateus, Marcos e Lucas – mas não em João. O discípulo João não registra esse sermão, mas escreveu o livro do Apocalipse, que trata desse mesmo assunto.
Dos três Evangelhos Sinópticos, o Evangelho de Mateus apresenta o último sermão de Jesus de forma completa. Ele domina a maior parte dos dois capítulos (Mt 24, 25). Jesus compara o cenário da destruição de Jerusalém com os eventos finais de Seu retorno, como a garantia do cumprimento do último ato da história humana, Seu retorno em glória.
Se olharmos para a estrutura do Sermão do Monte das Oliveiras, vemos que Jesus fala primeiro dos sinais de Seu retorno, e depois da necessidade de vigilância. Mas a maior parte do sermão é dedicada à maneira como devemos esperar e estar prontos para Seu retorno. Isso é óbvio pela maneira como Ele corrige a pergunta dos discípulos: “Dize-nos, quando serão essas coisas? E qual será o sinal da Tua vinda e do fim desta era?”(Mt 24:3). Jesus responde: “Acautelai-vos, que ninguém vos engane” (Mt 24:4). Ele quer dizer aos discípulos que a questão mais importante não é quando, mas como eles devem estar preparados. Para ajudar os discípulos e aqueles que esperam ao longo dos tempos a entender o que significa estar pronto, Jesus conta cinco parábolas (Parábola da figueira, parábola do bom servo e do mau, parábola das dez virgens, a parábola dos talentos e das ovelhas e dos bodes). Nós as chamamos de “parábolas de expectativa”, mas elas também podem ser chamadas de “parábolas da mordomia”, porque ilustram os princípios fundamentais da mordomia.
Se alguém me pedisse uma resposta curta sobre o que significa estar pronto para a volta de Jesus, de acordo com o contexto destes dois capítulos, eu diria: “ser um verdadeiro mordomo”, alguém a quem o Senhor pode dizer: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25:21).
Na primeira parábola, Jesus fala que ser vigilante é ser um bom observador, Ele fala de alguém que tem a unção do Espírito Santo para notar o tempo em que estamos vivendo e perceber que os sinais mostram que estamos muito perto da volta dEle. Na segunda parábola Jesus mostra que precisamos ter cuidado em como tratamos os outros, pois a vigilância se reflete na maneira como tratamos as pessoas ao nosso redor. Um dia, faremos um relato disso. Na terceira parábola, Jesus fala de um possível atraso. Vigiar envolve um relacionamento com Deus que nos sustenta, mesmo que Ele não venha quando pensamos que deveria vir. Na quarta e última parábola, Jesus fala que vigilância significa usar todas as capacidades e oportunidades oferecidas para expandir as fronteiras de Seu reino. Na última parábola, a das ovelhas e dos bodes, vigiar significa estar dispostos a servir. O espaço não nos permite falar sobre cada parábola. Por isso, discutirei apenas a quarta, a parábola dos talentos.
II – TEMOS UM DEUS GENEROSO.
Os discípulos se reúnem ao redor do Salvador e ouvem um dos sermões mais importantes que tiveram a oportunidade de ouvir. O reino dos céus, disse Jesus, “é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens” (Mt 25:14). Essa verdade deve ser repetida continuamente, que tudo o que somos e temos é apenas confiado a nós; pertence a Deus. Só assim seremos capazes de ter uma perspectiva correta de Deus, de nós mesmos e do significado da vida. Assistir e esperar pela volta do Salvador não é um evento. É um estilo de vida baseado na verdade de que tudo pertence a Deus e deve ser usado em harmonia com Sua vontade. A pergunta do apóstolo Paulo deve sempre dominar nosso pensamento: “O que você tem que não recebeu?” (1Co 4:7).
Três servos receberam a responsabilidade de administrar toda a riqueza de seu mestre um total de oito talentos. O que os discípulos entenderam das palavras de Jesus pode ser diferente de como entendemos o significado da palavra “talento” hoje. O talento naquela época não era uma unidade monetária, mas uma medida de peso. Ele pode pesar entre 25 e 35 quilos. Um talento de prata equivalia a 6.000 denários (R$198.000,00), ou 15 anos de trabalho. Portanto, um talento valia uma soma fabulosa. Do talento da parábola veio nossa palavra “talento”, que significa os dons ou habilidades que uma pessoa pode ter.
O propósito principal de Jesus com essa parábola não é nos ensinar uma lição sobre gestão financeira. Jesus quer dizer que o reino dos céus só se assemelha à administração do dinheiro. Cada servo recebeu de acordo com sua própria “habilidade” (Mt 25:15) ou capacidade. Uma coisa é certa: todos receberam muito mais do que poderiam ter ganho ou possuído. O senhor dos servos também expressa sua generosidade pela confiança que mostra a eles.
Pelo que entendemos, um talento pode representar qualquer presente recebido de Deus, tudo o que temos, tudo o que somos, a cada momento, todos os dias, os recursos financeiros, a família e os relacionamentos sociais – tudo o que temos é por causa de Sua graça.
Deus também abre oportunidades de servir, por meio das quais podemos fazer algo extraordinário por Ele. Ninguém tem motivos para reclamar que não recebeu nenhuma oportunidade. Deus investiu muito em cada um de nós. Tudo o que se segue nesta parábola acontece por causa da perspectiva diferente que os mordomos têm de seu mestre. Talvez devêssemos fazer uma lista diária, como fez Davi (Sl 103), das bênçãos de Deus e louvá-Lo por quem Ele é, um Deus cheio de generosidade.
III – DIFERENTES ATITUDES EM RELAÇÃO AO MESTRE
Os dois primeiros mordomos apreciam seu mestre e, portanto, não se comportam como servos, mas como seus verdadeiros parceiros. Eles “imediatamente” (Mt 25:15) investiram tudo o que haviam recebido e, assim, aumentaram seu valor. Cada vez que lemos essa parábola, nossa atenção se volta para o terceiro servo, que “foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor” (versículo 18). À primeira vista, parece não haver nada de errado com o que ele fez. Ele não desperdiçou os recursos de seu mestre. Pelo contrário, ele procurou uma maneira de se certificar de que poderia reembolsar integralmente tudo o que havia recebido. Nesse caso, nos perguntamos: “Por que a punição é tão severa?”
Não vamos esquecer o propósito pelo qual Jesus contou essa parábola. Ele não se dirige à multidão; Ele fala aos discípulos, aqueles que Lhe perguntaram sobre o fim deste mundo. Mais uma vez, Jesus enfatiza a necessidade de vigilância e mostra o que significa estar vigilante. Também nas parábolas anteriores, o mestre e o noivo voltaram. Aqui, o mesmo tema aparece novamente. Jesus menciona que haverá um atraso quando Ele usou a expressão “depois de muito tempo” o mestre voltou. A certeza do retorno é acentuada novamente. Não sabemos quando Ele virá, mas sabemos que Ele voltará. E quando voltar, Ele fará uma coisa: Ele vai “acertar contas” (versículo 19) do que fizemos com o que nos foi confiado. Um Deus tão generoso tem todo o direito de fazer isso. E como Ele acerta as contas? Ele deu o talento não utilizado para aquele que tinha dez talentos. Deus só espera de nós uma coisa: que cresçamos à sua semelhança e nos tornemos generosos com o que nos foi confiado. Ou somos generosos como Deus ou mesquinhos.
Estas são as palavras do servo infiel: “Senhor, eu sabia que és um homem duro, colhendo onde não semeaste e ajuntando onde não espalhaste. E eu estava com medo” (Mt 25:24, 25). Se não tivermos uma perspectiva correta de Deus, não esperaremos que Ele volte, e nossa vida será dominada pelo medo (versículo 25). O medo tem um efeito paralisante, afetando negativamente as experiências de vigilância e espera. E, no entanto, por que uma punição tão dura?
Jesus não está falando sobre dinheiro aqui, mas sobre Seu reino. Ele fez de tudo para tornar Seu reino uma realidade; para expandi-lo e abraçar tantas almas quanto possível. Esse é o papel da igreja, a responsabilidade de cada um de nós. Por essa razão, Seu precioso sangue foi derramado na cruz. Ser descuidado com esse chamado significa ser um servo “mau e preguiçoso” (versículo 26). A igreja não é apenas um lugar para se sentir bem, onde você vem assenta e assiste uma programação enterrando os talentos que você recebeu. Não colocar em prática o que recebemos por meio do enorme custo do sacrifício no Calvário é maldade e rebelião contra Deus. Ellen White diz: “Os seguidores de Cristo foram redimidos para ser úteis ao próximo. Nosso Senhor ensina que o verdadeiro objetivo da vida é servir” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 172)
Essas parábolas nos lembram que não importa quão ricos ou modestos sejam os talentos recebidos, todos eles são importantes para os planos de Deus. A parábola dos talentos mostra que o mais importante não é quanto recebemos (a recompensa é a mesma para todos), mas o que fazemos com o que temos.
IV – MORDOMOS NO FIM DOS TEMPOS
A crise que se abate sobre o mundo desde ano de 2020 é um sinal do fim? A resposta é definitivamente “Sim”. Estamos no tempo do fim desde o período da igreja primitiva. Mas quanto tempo resta até a volta de Cristo é o que não sabemos. Nem mesmo os anjos sabem (Mt 24:36). Precisamente por esse motivo, somos aconselhados a estar atentos e preparados. O que vai acontecer conosco depende do que fazemos hoje. Essa é a mensagem de Jesus.
Há outro aspecto que deve ser levado em conta. O estado de prontidão não é o que nos salva. A salvação, do começo ao fim, é por causa de Sua graça. O estado de estar pronto ou vigilante mostra se recebemos a graça de Deus em nossas vidas. A parábola do Salvador nos diz que esse imenso capital, que é Sua graça, deve ser investido e usado para expandir Seu reino. Os dois primeiros servos sabiam assistir e se preparar para a volta do mestre e podiam olhá-lo nos olhos com alegria. Eles investiram o que receberam.
O pastor Randy Roberts, no livro Waiting and Longing (Esperando e Ansiando), diz: “Você já pensou no que significa vigilância? Em primeiro lugar, considere o que significava literalmente para os primeiros ouvintes, quando um talento simbolizava dinheiro. Portanto, uma das primeiras maneiras de observar é usar seu dinheiro de forma a promover os objetivos do Reino de Deus.
“Você já percebeu que quando a salva de ofertas passa em sua fileira na igreja e você despeja seu dízimo e suas ofertas, você não está apenas dando para a igreja? Não, você está aguardando, aguardando a vinda de Cristo. Você já percebeu que quando o chapéu é passado para uma família carente e você ajuda a carregar o fardo, você não está apenas dando algo para ajudar os necessitados? Não, você está esperando pela vinda.
“Mas também devemos ampliar apropriadamente o significado de talento para incluir não apenas o dinheiro, mas também as responsabilidades, dons, talentos e habilidades que Deus dá a cada um de nós. E quando fazemos isso, percebemos que todos os dias de nossas vidas podem ser caracterizados pela observação".
“Quando músicos notáveis lideram os adoradores em louvores majestosos; quando o coro e a orquestra usam o que receberam para elevar o coração do povo de Deus ao Céu, é tentador dizer apenas: "Obrigado por usar seus talentos"... Mas, por favor, entenda que em um nível muito mais profundo, à medida que aumentam o Reino de Deus, eles estão observando. Esperando pela vinda".
“Quando os filhos aprendem as verdades do reino em programas infantis, são os beneficiários das pessoas que estão usando seus talentos para aumentar o reino em suas pequenas vidas. E então diremos: ‘Obrigado por usar seus talentos’. Mas, além disso, não perca o fato de que esses líderes não estão apenas servindo às crianças. Não, eles estão observando. Esperando pela vinda do Rei.” (Randy Roberts, Waiting and Longing for Jesus (Nampa, Idaho: Pacific Press Pub. Assn., 2011), p. 86.)
A maior bênção que se pode desfrutar é ouvir no dia do Seu retorno as palavras: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei. Entra no gozo do teu senhor” (Mt 25:21). Lembre-se, pela graça de Deus, não se esforce para ser um servo bem-sucedido, mas sim um servo bom e fiel, feito governante sobre algumas coisas. Não somos chamados para realizar nada sensacional, mas para sermos fiéis ao que nos foi confiado, e a Bíblia chama isso de “mordomia”.