Membresia: uma comunidade confessional

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O que você pensa quando falamos em membresia?

Para alguns, membresia é algo que os homens criaram, uma invenção da igreja institucionalizada. Na verdade, cada um de nós é igreja, dizem estes. O que nos impede como crentes do Séc XXI, tão repletos de comodidades tecnológicas, de realizamos nossos cultos individualmente em casa e não congregarmos? Seria bem prático: abra sua bíblia, faça uma leitura, coloque a melhor playlist da sua banda favorita no youtube (de preferência que contenha legendas), faça orações e assista mensagens de ótimos pregadores como Augustus Nicodemus, Hernandes Dias Lopes. Tudo isso no conforto de sua sala, com seu sofá, ventilador (ou ar-condicionado), com os pés em cima do centro de sala e sua bebida preferida. Perfeito, não? NÃO! Seria difícl encontrar uma leitura de igreja tão absurda e distante do que a bíblia nos ensina como essa.
Nesses próximos domingos trabalharemos numa série chamada “Membresia”, e hoje quero iniciar com uma introdução sobre o tema com a primeira pessoa que fala sobre igreja no Novo Testamento: Jesus. A primeira vez que ocorre o termo Igreja no Novo Testamento está no Evangelho de Mateus, e na boca de Jesus Cristo. Os textos são Mateus Capítulo 16.13-20 e Capítulo 18.
Numa rápida introdução ao Evangelho de Mateus, poderíamos dizer que um dos temas centrais no Evangelho é "o Reino e o Rei". Várias passagens apontam a preocupação de Mateus em deixar bem claro que o reino de Deus iniciou, e que seu princípio se dá com a chegada do Rei, Jesus Cristo: Mt 1.1; 3.2; 4.17, 23; 5.3, 10, 19, 20; 6.10, 13, 33; 7.21; 8.11, 12; 9.35; 10.7; 11.11, 12; 12.25, 26, 28; 13.11, 19, 24, 31, 33, 38, 41, 43, 44, 45, 47, 52; 16.19, 28; 18.1, 3, 4, 23; 19.12, 14, 23, 24; 20.1, 21; 21.31, 43; 22.2; 23.13; 24.7, 14; 25.1, 34; 26.29 - cerca de 55 menções em Mateus da palavra Reino.

A igreja é a embaixada do Reino de Deus

Esse Rei, num dado momento utiliza a palavra Igreja e não reino para se referir a um grupo de pessoas, uma assembléia. Essa assembléia não é o reino, mas faz parte do reino. Numa analogia, poderíamos dizer que a igreja é uma embaixada do reino do céu. Como diz o pastor Jonas Madureira "a igreja é uma parte do céu que não está no céu. O reino é maior que a igreja, e não o construímos nem o expandimos. Só podemos orar: "venha a nós"(Mt 6.10). Esse reino é celestial e seu Rei é celestial".
Conforme o The Lexham Bible Dictionary, "igreja são os seguidores de Cristo que derivam sua identidade e missão de Jesus e entendem a eles mesmos como sendo a verdadeira comunidade escatológica de Deus". Uma boa questão é como Cristo valida essa identidade de seus seguidores? Vamos para nosso primeiro texto em Mateus 16.13-20.

Membresia da igreja: a comunidade confessante

Jesus questiona o que os outros dizem que é o Filho do Homem (13). As respostas são diversas: João Batista, Elias, Jeremias ou qualquer um dos profetas (14). Bem que eles tinham Jesus por boa estima. Mas são todas respostas erradas. São todas falsas. A nação não sabia quem era Jesus.
Depois disso Jesus faz a mesma pergunta aos seus discípulos, respondendo até mesmo uma pergunta que poderia ter sido levantada, revelando claramente ser Ele o Filho do Homem. Note que a pergunta de Jesus é para todos os seus discípulos. Pedro é premente na resposta: “O senhor é o Cristo, o Filho do Deus vivo”. E aqui temos a resposta para nossa pergunta. Como Cristo valida a identidade de seus seguidores? Por sua confissão acerca de quem Ele é. E bem-aventurados são aqueles que percebem que a revelação do evangelho do reino se dá pela ação do próprio Deus em suas vidas (17).
Mas o texto chega a um clímax nos versos 18 e 19, tendo essa frase como ponto de destaque: "você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Existem três interpretações gerais sobre essa parte do texto:
A primeira envolve a visão de que Cristo faz um trocadilho com o nome de Pedro, e afirma que sobre ele (esta pedra) a igreja seria edificada. Por isso, tudo que Jesus fala posteriormente está ligado intimamente à pessoa de Pedro. É a interpretação clássica da Igreja Romana. Há alguns problemas com essa leitura: em primeiro lugar, o trocadilho de Mateus e de Jesus seria confuso em definir a construção das palavras e dos destinatários: "tu és pedra, e sobre esta pedra" seria a mesma pedra, então, por que não "sobre ti"?. E: "tu és pedra e sobre esta pedra" está falando com os outros discípulos sobre Pedro? Os demais problemas são, logicamente, a igreja de Cristo ter como fundamento uma pedra humana - e ainda nesse momento em que Pedro demonstrará não compreender completamente o que significa ser o Cristo (Mt 16.21-23).
A segunda foi muito tradicional entre os evangélicos, afirmando também que Jesus faz uma espécie de trocadilho, não com Pedro, mas consigo mesmo, em que Jesus é "esta pedra". É uma tentativa de tentar não cair no problema da proposição anterior, mas faz um malabarismo exegético para chegar à essa conclusão, criando muitos problemas interpretativos.
A terceira é uma proposição mais lúcida e coerente com o texto em si: Jesus está afirmando a Pedro que sobre a sua confissão de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, a sua igreja seria edificada. Não sobre homens, mas sobre uma confissão verdadeira sobre quem Jesus é. Essa proposição resolve os problemas anteriores e se harmoniza com a validação que Cristo dá acerca da confissão de Pedro no verso 17.
Ainda que concordando com a terceira interpretação, há alguns pontos no texto que precisam ser fechados. Vejamos no verso 19 que Jesus dá as chaves do Reino dos Céus a Pedro, e a autoridade de ligar e desligar coisas na Terra em coesão com o que fora ligado nos céus. É Pedro. Mas é Pedro enquanto aquele que afirma quem é o Cristo! É Pedro. Mas é Pedro enquanto aquele que responde por todos os outros discípulos. Não é Pedro enquanto bispo, é Pedro enquanto membro do corpo de Cristo, a Igreja.

Igreja é pessoa e confissão.

É alguém que fala, canta, ora, convive com outros que falam, cantam e oram. Jesus está interessado na confissão na medida em que os discípulos fazem a confissão. A confissão é feita por pessoas: Cristo não valida apenas a confissão mas aquele que a faz. A palavra e o mensageiro. Cristo valida a confissão de Pedro acerca de quem Ele é e a Igreja valida a confissão de seus membros. Efésios 2.19-20 diz: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular". A Igreja não é edificada sobre os apóstolos, mas sobre o fundamento deles. O seu ensino, a sua confissão. E os membros confirmam ou rejeitam os homens e suas confissões para entrar ou permanecer fora desse corpo. A pedra fundamental é Cristo, e o fundamento que o corrobora é a confissão sobre Ele.
Isso é ser embaixada do reino. Confirmar o que está confirmado no céus e declarar falso o que é negado nos céus (19). A confissão verdadeira decorre de quem conhece verdadeiramente Jesus - e os discípulos confirmam isso. Assim como somos reconhecidos como brasileiros mediantes as embaixadas de nosso país em território estrangeiro, a igreja reconhece os cidadãos celestiais nas terras desse mundo. As embaixadas de nosso país são o país lá fora, a Igreja é a presença do Rei no mundo por meio do seu corpo. A presença e os feitos do Rei são mantidos pela igreja. Lembremos que num período da Igreja Primitiva ainda não havia cânon bíblico, ele era os apóstolos. Suas lideranças sobre o povo validavam os membros. E isso passou a ser feito (posteriormente) pela Igreja mediante a Palavra. E como a igreja mantém a presença e os feitos do Rei no mundo? Já sabemos como eles são reconhecidos, mas vamos para Mateus 18.15-20 para vermos sobre presença e ações.
Há aqui os quatro estágios para a disciplina de um irmão em pecado: o primeiro, a repreensão em particular (15); o segundo com mais uma ou duas pessoas (16); em terceiro expor à igreja (17) e em quatro, expulsão. A igreja, como assembléia, é logicamente a congregação dos membros. Não se fala em assembléia quando cada membro está recolhido em seu próprio local. Assim, somos igreja como comunidade. No verso 18 Jesus repete o que falou no capítulo 16 para afirmar que os atos da igreja corroboram com os céus e que (20), onde a igreja está reunida no nome de Jesus, ele também está. A membresia confessa, recebe membros e disciplina, mas não sozinha. É Cristo agindo por meio da sua igreja. Por isso Paulo (1Co 5.4), no caso de impureza grave em Corinto, não impõe a excomunhão como um exercício individual, mas da igreja reunida.

Você não é igreja sozinho.

Isso é um absurdo. Como administrar os sacramentos sozinho? Como se batizar? Como servir a ceia para si mesmo? Como exercer os dons individualmente se eles são para o proveito da Igreja (1Co 12; 14.12)? Como ser hospitaleiro consigo mesmo? Você não é igreja sozinho. Como saber se sua confissão de fé é verdadeira? Quando você fez parte de uma igreja lhe foi perguntado quem é Jesus para você? Você proclamou uma confissão de fé? Você não é igreja sozinho. Se você se esconde da comunhão da igreja não é por causa de gostos, ou porque acha os irmão chatos, mas talvez seja um modo de não se expor. E exposição é se colocar em vulnerabilidade para ser moldado. Isso é ser discípulo. Você não é igreja sozinho. Sozinho não há submissão nem prestação de contas. Não há serviço. Quem vai reconhecer seu passaporte como cidadão do céu?
Faça um exercício: durante a semana pergunte para um irmão da igreja quem é Jesus para ele.
Medite quanto tempo dessa semana você dedicou servindo aos seus irmãos, à sua igreja, ao serviço de culto comunitário?
A membresia é a comunidade que tem a Palavra nas mãos para ler, orar, cantar, ensinar, evangelizar, edificar, aconselhar, disciplinar, batizar e proclamar o sacrifício de Cristo em comunhão. Vamos continuar falando disso nos próximos domingos. Que Deus nos abençoe.
SDG
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