TEMPO DE CURA
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TEMPO DE CURA
Texto – Mc 3.1-6
Hino – Santuário no tempo
INTRODUÇÃO
Há uma velha história rabínica afirma que: Deus tinha ido de nação em nação, oferecendo Sua lei na tentativa de encontrar aqueles que estariam dispostos a recebê-la. Eles perguntaram: são quantas mandamentos? Deus respondeu: é o mínimo, apenas 10. Eles indagaram “O que a lei contém? ” Quando ouviram falar de proibições como não matar, não mentir, não roubar, todos os grupos de pessoas rejeitaram a oferta, porque não poderiam imaginar a vida sem tais práticas. Por fim, Ele encontrou um grupo de pessoas no deserto a quem propôs a mesma coisa. A pergunta deles era: “Qual é a vantagem de guardar os Seus mandamentos?” Deus respondeu: “Eu te oferecerei Meu reino eterno, onde não haverá mais morte, sofrimento e dor; você sempre será feliz”. Eles sorriam dizendo: “O que o Senhor está nos contando é lindo, mas está muito longe no tempo; queremos algo que possamos ver e saborear agora”. Deus respondeu: “Junto com a lei, vou lhes oferecer uma amostra, um antegozo, para que vejam como é o reino. Eu darei a vocês o sábado”. Essa parábola expressa uma grande verdade: o sábado é uma antecipação, um antegozo da vida eterna.
II – JESUS E O SÁBADO
Cada um de nós tem certa imagem a respeito do sábado, dependendo da experiência de vida e do conhecimento que temos sobre o assunto. Alguns não gostam do sábado, pois ele se tornou o dia chato que não pode fazer nada, mas outros associam a palavra “sábado” com descanso, paz, bênçãos e alegria. Não queremos
que o sábado seja perturbado por relacionamentos tensos, acusações ou sofrimento físico ou emocional. Mas vivemos em um mundo de pecado e devemos reconhecer que às vezes essa é a realidade. Nem todos os sábados são iguais. Foi o mesmo com Jesus, sobre o qual podemos ler em Marcos 3:1-6.
Marcos é o autor do evangelho que carrega seu nome, mas ele apenas copiou algo que estava sendo ditado por Pedro, o discípulo, acredito que ele estiva presente naquele sábado. É por isso que ele não conseguia esquecer a cena em que Jesus estava “olhando para eles em redor com indignação” (Mc 3:5), porque a dor era muito grande e Ele não conseguia escondê-la, e por causa do endurecimento de seus corações.
O evento da sinagoga é precedido por outro episódio (Mc 2:23-28) que também ocorreu no sábado. Os discípulos com Jesus estavam cruzando campos de trigo e começaram a colher espigas e comê-las (Mc 2:23). Naturalmente, Aquele que é acusado novamente é Jesus, porque Ele permite isso. Cada evangelista fala sobre os milagres que Jesus realizou no sábado e, se os contarmos, são sete ao todo. Todos os Evangelhos relatam as tensões e confrontos entre Jesus e os líderes religiosos nas ocasiões desses milagres, mas a maior quantidade de espaço para relatar as controvérsias que se seguiram é fornecida pelo discípulo João.
Uma coisa importante que todo crente deve lembrar é que essas discussões nunca são sobre qual o dia deve ser celebrado, mas apenas sobre como o sábado deve ser guardado. Os fariseus tinham 39 categorias de proibições para o sábado, e as discussões em torno dessas proibições eram intermináveis e frequentemente estéreis. Jesus nunca foi atraído para tais debates. Mesmo nesses dois casos, Ele não faz nada, exceto expressar princípios gerais que podem ser, é claro, aplicados de maneira diferente, dependendo do lugar e da hora, tais como: “É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal?” (Mc 3:4). Mal é o que eles planejavam fazer naquele mesmo sábado – eles planejavam matar Jesus (Mc 3:6).
O discípulo Mateus acrescenta um detalhe: “Se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” (Mt 12:7). É possível que naquele dia de sábado ninguém tenha convidado os discípulos para almoçar. Na época do Velho Testamento e na época de Jesus, o sábado não era um dia de jejum; era um dia de alegria. É por isso que Jesus lhes diz: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2:27). Os princípios que Jesus declarou são profundos e abrangentes! Se fossem levados em consideração ainda hoje, muitas experiências tristes seriam evitadas.
III – SÁBADO, UM DIA DE ALEGRIA
Jesus está na sinagoga no dia de sábado e é convidado a pregar. É o que queremos todos os sábados: ver e ouvir Jesus! Jesus não apenas estabelece os princípios do sábado, mas também mostra como eles podem ser experimentados na prática. Havia um homem com a mão paralisada (Mc 3:1-3), e a certa altura Jesus notou esse homem. Ele para durante o sermão e Se dirige ao que tem a mão atrofiada: “Dê um passo à frente” (“Fique de pé na frente de todos”, NVI).
É impossível que este incidente não chame a atenção de todos, principalmente dos que seguiam Jesus. Existem três ações que Jesus realiza nesta ocasião. Primeiro, Ele toca o homem doente. Em algum ponto, seus olhos se encontram. Jesus vê uma necessidade, um sofrimento, e não pode seguir em frente sem parar para ajudar. Ele vê o desamparo, mas também a fé desse homem, que foi à sinagoga para adorar. Em segundo lugar, Jesus Se envolve. Ele não apenas expressa compaixão, o que é importante, mas não é suficiente. Tem muita gente que sente compaixão pelos doentes, mas não visita, sente compaixão pelos pobres, mas não doa, sente a compaixão pelos que estão nas trevas espirituais, mas não prega. Jesus não é assim, Ele pede ao homem para se tornar o centro das atenções, para ficar “no meio”.
Muitas vezes, no sábado, posicionamo-nos como o centro das atenções, esperando que outros venham até nós, esperando que outros observem nossa presença ou nosso ministério. Frequentemente, o sábado, após uma semana inteira de trabalho, se torna o dia em que esperamos ser servidos, nutridos pela Palavra de Deus e abençoados, esquecendo o verdadeiro propósito do sábado: abençoar os outros por meio de nosso ministério. O sábado só pode se tornar um dia de alegria se seguirmos o exemplo de Jesus. Ninguém teve coragem de responder à pergunta de Jesus: “é lícito no Sábado fazer bem, ou fazer mal?” (Mc 3:4). Terceiro, Jesus protege esse homem, Ele não apenas o cura, Jesus se levanta para defender o que está indefeso. Os irados fariseus e herodianos, os dois extremos da religiosidade judaica, saíram. Desta vez, eles têm um objetivo comum: destruir Jesus. Aquela máxima: o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Aqueles que se alegraram permaneceram dentro com Jesus e o homem curado. Para eles e para a família desse homem, o sábado se torna o sábado mais bonito. Somos nós que podemos tornar o sábado um deleite e uma alegria para nossa família e a igreja onde adoramos.
Mas não vamos parar por aqui. O mandamento falado no Sinai (Êx 20:10) requer que a alegria do sábado seja provada mesmo por aqueles considerados “estranhos” às pessoas que guardam o sábado. Deus quer tocar mais corações através de nós no dia de sábado; Ele quer derramar mais bênçãos e curar mais almas pecaminosas. Jesus declarou em Seu sermão na sinagoga de Nazaré que esta era Sua missão (Lc 4:16-18).
IV – O PAPEL E O PROPÓSITO DO SÁBADO
É importante ter uma compreensão correta do propósito do sábado; pois essa compreensão pode nos ajudar a ter as atitudes e as ações corretas. O sábado é mencionado pela primeira vez na Bíblia no momento da Criação (Gn 2:1-3). É o dia em que Deus terminou a obra da Criação. Isso faz parte do Seu trabalho. São duas vertentes que não podem ser separadas. Se durante os seis dias Deus nos ofereceu coisas criadas, no dia de sábado Ele Se ofereceu entrando no espaço e no tempo criados para os seres humanos. O sábado é o dia em que Deus está presente com Seu descanso, além de abençoar e santificar este templo criado no tempo, ao qual todas as pessoas têm acesso.
O descanso não é o oposto do trabalho; Deus não precisava de descanso, e provavelmente o homem e a mulher também não precisaram disso na Criação. O descanso é a celebração da harmonia entre o Céu e a Terra. É a alegria de todo o universo por tudo o que foi criado. O primeiro relato da Criação (Gn 1, 2) culmina na alegria do sábado. Mesmo após a Queda, o sábado continua a ser um memorial da Criação, apontando para Aquele que é o Criador. Ao mesmo tempo, carrega consigo certa nostalgia; isso nos lembra o que perdemos. Se você perdeu alguém querido, o sábado desperta memórias que podem doer. Mas, ao mesmo tempo, o sábado fala de um fim – não apenas o fim da Criação, mas também da recriação. É por isso que carrega esperança dentro de si. É o fim de nossa jornada para casa. Cada sábado nada mais é do que um ensaio para o dia em que veremos face a face Aquele que é o Senhor do sábado. Dessa forma, o sábado se torna um memorial da Criação e nos faz ansiar pela recriação que nos foi garantida pela cruz de Jesus Cristo.
Também podemos chamar o sábado de dia da reunião. Quando fiz estágio de enfermagem em um asilo, o dia de visitas era o dia mais alegre e o mais triste. Eu não gostava quando me escalavam para dar plantão no dia de visitas, pois cada ocasião de encontro era cheia de emoção, alegria, muitas risadas, abraços e carinho por aqueles que tinham filhos e netos que se importavam, e isso era muito bom, a presença deles aliviava nosso trabalho. Porém nada é mais triste do que os pais esperando que seus filhos venham, e os filhos não os honravam com sua presença, muitos choravam, alguns pegavam facas de serra para tentar se matar, outros se agarravam aos seus brinquedos (bonecas, roupas, rádio, etc...) Outros se trancavam no quarto para não ver a alegria dos que receberam as visitas, alguns não comiam e ficavam o dia todo sentado na porta do asilo. Cada sábado, Deus abre a porta de bênçãos e espera que Seus filhos venham para uma nova festa.
Todos os sábados, descansamos colocando em prática o princípio do trabalho realizado. Temos muitos planos, listas de tarefas e desejos incontáveis. A vida além dos portões do Éden é marcada por muitos fracassos. Por outro lado, o sábado nos diz para deixar nossas preocupações de lado, parar e aprender a lição mais importante: o que Deus faz por nós é muito mais importante do que nossas realizações. No trabalho de Criação e recriação, o descanso precede o trabalho. O primeiro dia completo para a primeira família humana foi um dia de descanso.
V – O SÁBADO NO CONTEXTO DO GRANDE CONFLITO
Deus não queria que este planeta se tornasse um lugar de dor e sofrimento, mas Ele previu a possibilidade de os humanos caírem. Então, Ele nos deu o sábado. Ele queria dizer que o perigo de cair no pecado é real, por isso não basta nos reunirmos apenas uma vez por ano ou uma vez por mês. Ele quer passar um dia conosco todas as semanas. A necessidade da presença de Deus é imperativa depois de cair no pecado. Os milagres realizados por Cristo no sábado devem ser vistos no contexto da grande luta. “O objetivo da obra de Deus, neste mundo, é a redenção do homem; portanto, tudo quanto é necessário que se faça no sábado no cumprimento dessa obra, está em harmonia com a lei do sábado."(Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 195) Antes da queda no pecado, Deus descansou com o homem e a mulher (Gn 2:1-3), mas nas condições de pecado e sofrimento, Deus trabalha no sábado. Dessa forma, Ele manifesta Sua presença. Os Evangelhos mostram como a tensão entre os líderes religiosos e Jesus está crescendo, por causa de Seu ministério sabático. Dessa maneira, Jesus revelou Sua identidade e o caráter de Deus (Jo 5:17-47). No sábado, a salvação dos humanos, que era obra do Pai, era uma prioridade para Jesus.
O último livro da Bíblia, Apocalipse, revela de forma mais ampla a realidade do grande conflito. No centro desse livro está Jesus e a mensagem do sábado é o sinal dos verdadeiro adoradores. Neste tempo do fim, o número daqueles que acreditam no relato da Criação e que honram o Criador fica cada vez menor. É por isso que devemos transmitir a verdade: “Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14:7). Os judeus tinham o sábado, mas rejeitaram Jesus, e, sem o Senhor do sábado (Mc 2:28), a observância do dia não tem valor. Eles destruíram o significado do sábado com todos os tipos de restrições, e Jesus queria restaurar seu verdadeiro significado. Outro extremo é quando o sábado se torna um dia de descanso comum, sem o respeito e a honra que damos Àquele que o criou. O sábado é o meio e a ocasião pela qual mostramos que Deus está em primeiro lugar em nossas vidas e a missão de Cristo é a nossa missão.
Em 2007, na mídia romena, um artigo escrito por uma não adventista, com o título “Perdoe-me, Beatrice!” Foi impresso. O autor do artigo, Emilian Isailă, descreve um incidente quando ele frequentou a escola secundária em Bucareste e tinha uma colega chamada Beatrice. Ele diz: “Ela era uma menina pequena, bonita e inteligente. Ela era uma boa aluna e não falava sem ser solicitada.... Para toda a classe, Beatrice foi um mistério. Eu a invejei sinceramente. Na época, parecia incrível para mim que um aluno perdesse um dia de aula todas as semanas. Além de não vir no sábado, Beatrice saía das últimas aulas da sexta-feira. Estudávamos à tarde e, à medida que a noite se aproximava, ela guardava suas coisas e saía... Beatrice era filha da família de um médico, e eles eram membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Todos os sábados, os professores notavam suas ausências injustificadas.... Numa sexta-feira à tarde, no final da aula de História, cinco minutos antes de o sinal tocar, nossa professora sugeriu que não deixássemos Beatrice sair... Beatrice, sem sofrer as ameaças, começou a empacotar suas coisas. A professora nos chamou para impedi-la. Alguns meninos, incluindo eu, bloquearam a porta; outros a cercaram, tentando fazê-la desistir. Beatrice voltou a se sentar em sua carteira. Ela tapou os ouvidos com as mãos para não nos ouvir mais e começou a chorar. As lágrimas escorreram por suas bochechas como duas fontes que finalmente encontraram seu caminho para a luz. Fomos bloqueados. De repente, houve um silêncio, como se toda a classe tivesse uma revelação. Ficamos envergonhados.... Daquele dia em diante, Beatrice não teve problemas para sair da escola. Uma espécie de solidariedade misteriosa foi criada entre nós e ela. Nós a estávamos ajudando”.
Ainda hoje, Jesus Se dirige aos jovens, aos pais, a todos nós: “Levanta-te e vem para o meio” (Mc 3:3, NVI). O sábado é o meio pelo qual honramos a Deus. Mostramos que Ele merece estar em primeiro lugar em nossa vida. O sábado é o dia da cura, um momento em que nossos corações são tocados por Seu amor. O sábado é o dia em que Deus deseja trazer cura e bênçãos por meio de Seus filhos para aqueles ao nosso redor. O sábado é o sinal de pertencimento e fidelidade a Deus.
Gostaria de lhe fazer três perguntas:
1. Que lugar o dia do Senhor ocupa na programação de sua família? O sábado é um dia de alegria?
2. Como o dia do Senhor pode se tornar uma bênção para as pessoas ao nosso redor?
3. Que decisões você deseja tomar para reconsiderar a forma como celebra o sábado?