Mateus 6.19-24

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Cristo ensina os agentes do Reino a lidar com a materialidade desse mundo, não se deixando obscurecer pelo amor às riquezas, pois tal postura é oposta àquele que fora liberto do poder obstrutivo do pecado, não sendo avarento, mas vivendo para entesourar a vida eterna, suportando as adversidades, vivendo por modo digno do Reino.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Passando para a segunda parte de seu sermão, Cristo dedica-se a expor a segunda esfera de ação dos agentes do reino. Após ter tratado do âmbito espiritual, especificamente, o relacionamento do agente do Reino para com o Pai celeste, Jesus enfatiza a ação direta dos agentes agora no campo terreno: como devem lidar com o mundo, glorificando ao Pai celeste, testificando da chegada do Reino em Cristo. Assim, observaremos hoje o ensino cristológico sobre o agente do Reino e a vida prática: sobre as riquezas.
Elucidação
A mudança de abordagem realizada por Cristo no versículo 19, indica uma seção paralela, em que buscará tratar de outro assunto, ligado ainda ao tema anterior. Como já dito, Cristo ainda trata do relacionamento dos agentes do Reino com o Pai, porém agora, seu campo focal está na vida terrena desses agentes.
Assim, antes de adentrar na exortação propriamente dita, ele introduz o tópico, abordando a compreensão da transformação do coração como requisito básico para relacionar-se com o Pai, servindo-o no mundo.
Certamente, a posição desta fala do Senhor Jesus nos evangelho de Mateus e Lucas estão ligadas à uma temática coesa, embora com ênfases diferentes. Quando analisamos o contexto em que Lucas narra essa exortação de Jesus, vemos que o ponto central é demonstrar a divergência de crença dos escribas e fariseus para com a revelação do Reino de Deus em seu Filho, Jesus Cristo.
Em Lucas 11.1-4, Jesus ensina seus discípulos a orar, assim como no contexto de Mateus, porém, ao passo em que termina de exemplificar a oração, as exortações de Cristo vão ganhando caráter cada vez mais distintivo, contrastando uma postura crédula para com sua mensagem, e com isso, revela qual o procedimento de alguém a quem fora revelado o Reino dos céus, e aqueles que não foram contemplados com essa demonstração, e por conta disso pedem um sinal (Lc 11.29-32).
A questão é que, mesmo tendo Cristo explicado como seus seguidores devem relacionar-se com o Pai celeste, essa comunhão seria impossível se seus corações não estivessem voltados a crer - pelo poder e obra do próprio Deus Espírito Santo. Por essa razão, os fariseus, vendo os milagres que Cristo realizava, atribuíam seu poder à Satanás ao invés de entenderem que, por meio daquelas obras, o Reino dos céus havia chegado (Lc 11.14-23). É nesse ponto que a conexão entre as narrativas de Lucas e Mateus fundem-se num mesmo horizonte.
Os fariseus e demais incrédulos não criam em Cristo, porque seus corações na verdade estavam voltados para outras coisas, como por exemplo, as riquezas (Mt 6.21). Aqueles homens, pouco se importavam com a salvação ou com a glória de Deus na inauguração de seu Reino. Não estavam preocupados em ver o cumprimento das promessas do Pai desde o Antigo Testamento, que lhes revelava a chegada da salvação. Seus olhos mundanos estavam fitos nas coisas deste mundo. Por essa razão, Cristo exibe o pior quadro em que alguém pode se encontrar: "caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão" (Mt 6.23).
A impossibilidade de que alguém cujo o coração está nesse mundo possa ser salvo pela revelação do Reino, é exposta por Cristo através da ansiedade em acumular riquezas e bens nesse mundo. Cristo enfatiza a importância de que os agentes do Reino entendam sua condição como nascidos de novo, rejeitando a postura amplamente difundida pelos fariseus e escribas (i.e. os hipócritas). É válido ressaltar que o contexto em que vive os leitores originais é de perseguição, incluindo aos seus bens. Os crentes de repente poderiam estar aflitos e entristecidos ao verem seus bens subtraídos por causa do evangelho, sentindo-se tentados a abandonar a fé, amando as riquezas desse mundo.
Porém, onde estiver "o teu tesouro, aí estará também o teu coração (v. 21). Assim, se alguém amar esse mundo, suas riquezas, seus aparentes gracejos, estará provando que não nasceu de novo, e que não adentrou o Reino através de Cristo, pois por meio dele, enxergamos que há uma herança infinitamente melhor e verdadeiramente significativa, reservada para ele. Angariar bens nesse mundo transitório e decadente (v.19-20), não pode ser comparado a, por meio do serviço ao Reino de Deus, acumular bênçãos eternas a recebidas serem quando o SENHOR publicar seu império.
A metáfora comparativa entre olhos bons (luminosos) e olhos maus (obscurecidos), elucida a posição de alguém em relação a eternidade: o avarento está preso às trevas e a uma visão limitada, enxergando apenas o tempo presente, não atentando para eternidade por vir. Por outro lado, aquele que, mesmo não possuindo riquezas nesse mundo, age como um servo de Deus, obedecendo aos princípios do Reino, ajunta para si tesouros no céu, isto é, a recompensa maior de ter sido chamado para a salvação lhe é tão evidente, que nada mais nesse mundo lhe pode roubar o coração de Deus e de seu Cristo.
Transição
Nesta seção de Mateus 6.19-24, o Senhor Jesus Cristo nos ensina a revelação do Reino dos céus através de si, liberta os homens do poder opressor do mundo, que os cega para que não percebam a realidade emergencial que está bem à sua frente: sem Cristo, estão condenados à morte eterna, por isso, seus corações estão presos a esta vida, e pelo amor aos bens e às riquezas, que são tão decadentes quanto eles mesmos.
Considerando essa perspectiva, podemos observar ainda uma outra aplicação a partir desse texto.
Aplicação
Nosso coração (o que amamos) demonstra qual é estado de nossa alma.
Se pelos primeiros momentos da manhã, assim que abrimos os olhos, somos assaltados pelas preocupações com as coisas dessa vida, em termos do que nós ainda não temos e que queremos ter, o diagnóstico para nós é o mais terrível possível: não pertencemos a Deus, e nosso coração não foi regenerado.
A assertiva de Cristo é direta: Se amamos ao mundo, se servimos às riquezas, não amamos a Deus nem o servimos. O coração dos homens só pode concentrar atenção em apenas uma coisa definitivamente. Ou é regenerado pela revelação do Reino em Cristo pelo poder do Espírito, que o liberta das trevas do pecado e da condenação, ou se afunda cada vez mais em contínua avareza e apego à materialidade dessa vida, que é tão passageira e efêmera quanto um tecido ruído por traças.
O texto não está falando que nós não podemos querer melhorias em nossa vida, nem que não podemos desejar coisas boas nesse mundo, o ponto é que essas coisas não podem roubar nosso fôlego de vida.
Vivemos num mundo extremamente materialista, que nos impulsiona a amar riquezas e um patamar elevado sócio-economicamente. As pessoas à nossa volta nos bombardeiam a todo momento com exigências vorazes traçando para nós um perfil de "vida feliz". Só é feliz quem tem um bom carro; só é bem sucedido quem tem as melhores roupas; quem faz duas ou três faculdades e etc. E se você não tem essas coisa, tem que correr atrás, pois, esse é o padrão de vida considerado "bom" pelo mundo.
Se dermos ouvidos ao que nos diz os mundanos, cairemos num poço de avareza sem fim, o qual nunca nos satisfará, e nunca bastará. Quereremos sempre mais e mais, quanto mais tivermos, mais desejaremos e não haverá descanso para nossa alma, pois amará tanto as coisas desse mundo, que passará a querer conservá-las e mantê-las. Porém isso é impossível! Aqui os ladrões roubam; as traças corroem, os prazos de validade vencem, e quando nos dermos conta, nosso tempo nesse mundo terá terminado e nosso fim será uma eternidade em miséria e tormentos.
Graças, porém, a Deus que nos libertou desse fim tenebroso, e nos deu uma visão gloriosa do que realmente importa. Nós servimos ao Deus Triuno, que não está preocupado em esbanjarmos riquezas materiais, ou em termos uma bilionária conta bancária, mas que o sirvamos como nosso Redentor: aquele que nos salvou da perdição eterna. Além disso, nós como criaturas, devemo-lhe toda devoção, pois o mandamento é de que o nosso coração volte-se a "amar a Deus sobre todas as coisas" (Mc 12.29).
Conclusão
A luz de Cristo irradiou nossa alma, e agora podemos enxergar não só a nossa condição de dependência dele, mas a obra maravilhosa que operou em nós. As trevas foram dissipadas, e vemos com clareza qual o objetivo maior de nossas vidas: servir ao SENHOR nosso Deus nesse mundo, e usufruir de todos os seus benefícios no vindouro.
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