Eu escolho ser Discípulo
Multidões
Jesus estava constantemente rodeado por uma crescente multidão. O motivo para que as massas seguissem o Senhor podia ter diversas origens. O amor do Redentor motiva-o a descrever com palavras sérias a verdadeira fidelidade e discipulado, a fim de proteger as massas da tolice e ilusão e conduzi-las ao auto-exame. Exigências no passado dirigidas aos Doze agora são expressas com muito maior intensidade e sem distinção perante todos.
Mateus 10.37
Lucas 14.26
Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim; aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim.
Se alguém vier a mim e não odiar a seu pai e mãe e esposa e filhos e irmãos e irmãs … não pode ser meu discípulo.
Portanto, é evidente que o sentido de odiar na passagem de Lucas é amar menos. Em todas as coisas, Cristo deve ter sempre a primazia (Cl 1.18).
Que a palavra odiar em Lucas 14.26 não pode ter o sentido que geralmente lhe atribuímos claramente vem a lume também do fato de que Jesus nos diz para amarmos até mesmo nossos inimigos (Mt 5.44). Então certamente devemos amar e não odiar os membros de nossa família imediata.
O que o Salvador requer em Lucas 14.26, e em outras passagens, é devotamento completo, o tipo de lealdade que é tão verdadeiro e irredutível que qualquer outro afeto, mesmo o afeto pela própria vida de alguém, deve estar sujeito a ela.
Se temos que renunciar a tudo, então o que é que sobra? Sobra a cruz, ou seja, a disponibilidade para seguir a Jesus até à morte pela causa da justiça (v. 27). Não sobra nem a boa fama, pois a cruz era a sentença para os que ousavam subverter a ordem criada pelo Império Romano. Jesus morreu como um bandido, como um criminoso.
A parábola da construção da torre e da expedição bélica
Na seqüência das duas parábolas o Senhor adverte contra uma adesão leviana a ele. Afinal, o discipulado de Jesus demanda a renúncia a tudo.
Jesus declara que quem não renuncia a tudo o que lhe pertence não pode ser seu discípulo. Desse modo estabelece uma ligação com as frases finais dos v. 26s. Ser discípulo de Jesus não é coisa das multidões.
A atividade construtiva até a conclusão não é encerrada com tanta rapidez, porque também nesse caso é preciso superar dificuldades.
Quem tem a intenção de edificar uma torre precisa ponderar bem desde o começo tudo o que faz parte da execução. Um começo precipitado e superficial não chega ao alvo. Dessa forma Jesus repele os que afluem de maneira irrefletida. Assim como somente a conclusão de uma construção constitui a honra para o proprietário, assim é unicamente o desfecho, e não o começo, que coroa a trajetória de um cristão. Uma obra abandonada provoca o escárnio das pessoas.
Devemos nos lembrar que essas palavras de Jesus foram ditas no contexto em que Ele ensinou a necessidade de aceitarmos a cruz (v. 27). É algo muito sério que exige um posicionamento firme para não desistirmos durante o percurso. Mas a bênção é que o evangelho não esconde isso de ninguém. Pelo contrário, Jesus pede para que cada um pense bem antes de tomar a decisão de segui-lo, antes de comprometer-se com Ele. Esse é o sentido das duas parábolas que encontramos nesse texto.
Quem tem a intenção de construir uma torre deve fazer o orçamento e calcular muito bem os gastos para não fazer fiasco e passar vergonha. Quem vai guerrear deve medir as forças com que pode contar e decidir se é melhor lutar ou se entregar.
E assim ficamos diante de um dilema. O dilema de todos os que conhecem a Jesus: Segui-lo não é fácil e não segui-lo é pior ainda. O que fazer quando finalmente descobrimos o caminho para a liberdade e a vida que tanto ansiamos? Desistir? Creio que não! Ah! Quem vislumbrou a verdade, ainda que só por um segundo, nunca mais a esquecerá. Você está disposto a seguir a Jesus? Está disposto a continuar seguindo-o? Fez todos os cálculos? Tem assumido o compromisso com Ele?
Alguém poderia também chamar esta “A parábola sobre o construtor racional”, porque o homem racional ou sensato está implícito nas palavras: “Qual de vocês primeiro não se assenta e calcula os custos” etc. Mas, embora se deva admitir esse título, continua sendo verdade que essa pequena ilustração diz mais acerca do construtor imprudente do que de seu oposto.
Eis um homem que está pensando em construir uma “torre”. Que tipo de torre? O original não deixa isso claro. Talvez seja uma torre de vigia para sua vinha, a fim de proteger-se contra saqueadores etc., e quisesse ter um lugar – talvez um lugar adicional – para armazenagem e ainda que servisse de residência temporária. Ou a “torre” de que fala o texto significasse todo um edifício agrícola. Seja como for, o argumento é que antes de começar a edificar a estrutura, esse homem deveria calcular os custos. Se não o fizer, ele virá a ser um alvo de chacota, um objeto de ridículo.
Semelhantemente, antes de alguém decidir ser um seguidor de Cristo, precisa compreender que ser um cristão não é “um mar de rosas”. Jesus não deixou isso bem claro? Veja Mateus 7.14; Lucas 13.24; cf. João 16.33; 2Timóteo 3.12. Com certeza, um crente genuíno jamais se perde (Jo 10.27,28; 1Jo 2.19), mas há muitas pessoas que parecem ter lançado sua sorte com Cristo e depois … se vão. É só lembrar de Demas e Judas.
Esse rei não está na mesma posição do construtor da parábola precedente. Aquele homem era livre para agir ou não agir, para construir ou não construir. O rei, entretanto, está sendo atacado. Alguém está vindo contra ele com 20 mil soldados, enquanto ele só tem dez mil. Então ele tem de tomar uma decisão. Essa decisão provavelmente será a de enviar uma delegação e fazer as pazes com o atacante.
A ilustração é muito adequada. O inimigo é formidável. Veja 1Pedro 5.8; 1João 2.16. O pecador também deve agir. A neutralidade é impossível. O que então ele deve fazer? Ele deve buscar reconciliação com Deus. Essa é a coisa sábia, sensata, razoável a fazer. E não é exatamente isso o que Jesus esteve dizendo o tempo todo? Veja 12.57–59; 13.3,5,24,34. Cf. 2 Coríntios 5.20,21.
As duas pequenas parábolas formam uma unidade. “Olhe antes de saltar.” “Mas certifique-se de saltar … na direção certa!” Jesus se aproxima cada vez mais da cruz. Agora é o momento crítico. “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz!” (Sl 95.7 NVI).
Jesus sumaria tudo nestas palavras:
O que Jesus pede é uma devoção de todo o coração, uma lealdade a toda prova, uma negação completa de si mesmo, de seu tempo, de seu dinheiro, de suas possessões terrenas, de seus talentos etc., à disposição de Cristo.
Não poderemos jamais provar os deleites de seu amor
Enquanto não pusermos tudo em seu altar;
Pois o favor que ele mostra e a alegria que ele concede
São para aqueles que confiam e obedecem.
Confiança e obediência – pois não há outro caminho
Para ser feliz em Jesus – senão confiar e obedecer.
Rev. J. H. Sammis.
Jesus esteve enfatizando que seus seguidores devem devotar-se-lhe de todo o coração. Não devem ser meros discípulos nominais. Devem ser sal genuíno, sal que ainda não perdeu seu sabor.
A implicação é clara. Assim como não se pode restaurar o sal que perdeu seu sabor, também tampouco os que foram instruídos no conhecimento da verdade, mas que logo resolutamente voltaram as costas à exortação do Espírito Santo e se endureceram em sua oposição não são renovados para o arrependimento