O Amigo à Meia Noite
As Parábolas de Jesus • Sermon • Submitted
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Transcript
5 Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
6 pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer.
7 E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes; a porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar;
8 digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia, o fará por causa da importunação e lhe dará tudo o de que tiver necessidade.
9 Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.
10 Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.
11 Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra?
12 Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião?
13 Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
Análise do Texto
Análise do Texto
Quando Jesus vai falar sobre a importância da oração, e não só da oração mas da persistência na oração, ele começa trazendo uma ilustração muito pertinente à cultura da época. O Oriente Médio é uma região de calor muito intenso, e as pessoas quando precisavam se locomover, numa época em que não havia transporte motorizado, preferiam viajar à noite para fugir do sol forte.
Havia o costume da hospitalidade, e tal costume era levado muito a sério. Até hoje ainda é assim. Mas naquela época a coisa era bem mais acentuada. Se alguém batesse à porta de alguém precisando de comida ou pousada era impensável que o dono da casa não abrisse a porta.
Acontece que essa sociedade consumia muito pão. Igual nós temos o costume de consumir arroz e feijão diariamente, e a gente como arros e feijão com quase tudo, o pão era o equivalente ao arroz e feijão para eles. Basicamente o que eles faziam era o seguinte, pegavam qualquer comida e enrolavam no pão, para daí comer. Ou então, molhavam o pão em algum caldo e daí comiam. (Jo 13.26 “26 Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.” )
Outro costume era dos fornos comunitários, parecido com o que vemos em algumas regiões do interior com os moinhos de farinha comunitários. Várias pessoas vão ao mesmo lugar para ter sua farinha moída. Assim era com os pães, os fornos eram comunitários, então em determinadas regiões do dia, toda a população se encaminhava até o forno para assar os seus pães, como as aldeias eram pequenas, praticamente todo mundo sabia o quanto de pão cada família assava.
Daí começa a fazer sentido em nossa mente ocidental a força da parábola que Jesus está contando num contexto onde quer falar sobre oração.
5 Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
6 pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer.
Veja, alguém chegou na casa do cidadão à meia-noite. O costume obriga o dono da casa a receber o hóspede. Porém temos um problema, não há pão. Com certeza toda a cota de pão do dia foi consumida pela família. E agora? Precisa-se receber bem o hóspede. O homem então tem uma ideia: “vou pedir a um amigo três pães emprestados”. (Existe uma ideia também que pode ser que ele tivesse apenas pedaços, ou seja sobras dos pães. E só se coloca diante de um hóspede pães inteiros. Não se coloca sobras).
Perceba, Jesus introduz essa história, e podemos imaginar que os ouvintes de Jesus já tem em mente o desfecho, pois sendo algo cultural toda essa questão, é impensável que alguém vá negar, ou colocar alguma dificuldade em ajudar aquele homem que saiu a procura de pão. É por isso que sequência choca, porque veja:
7 E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes; a porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar;
Ora, isso é impensável. Seria impossível acontecer tal coisa, e é aqui que reside a força do que Jesus quer mostrar. Podemos reconstruir a frase de Jesus da seguinte maneira: “Imaginem como é impossível que um de vocês receba um hóspede à meia noite, e não tendo o que oferecer ao hóspede, vá até um amigo pedir ajuda e o amigo se recuse a ajudá-lo. Mesmo que ele não queira te ajudar pela amizade, no mínimo te ajudará pela importunação que lhe causará, caso ele rejeite”. (Lc 11.8 “8 digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia, o fará por causa da importunação e lhe dará tudo o de que tiver necessidade.”).
Perceba, Jesus não está contando essa história como tendo acontecido, ele está ilustrando uma impossibilidade. Essa é a chave da questão. Ele está afirmando: “É impossível isso acontecer, ou seja, é impossível que um de vocês peça ajuda a um amigo e o amigo negue de ajudá-los”. Até porquê, uma coisa que nos ajuda a compreender o fato do amigo não se recusar a ajudar é o contexto comunitário da época. Se ele se recusar, ele trás vergonha não somente para ele, mas para toda a vila. E ninguém quer isso, então Jesus está mostrando que certamente, com toda certeza, ir há um amigo no meio da noite pedindo ajuda, resultará em receber ajuda. E Jesus ainda acrescenta que, tal amigo não apenas dará os pães que lhe foram solicitados, como também dará tudo de que tiver necessidade, ou seja, a ajuda será completa, e muito alem daquilo que foi pedido.
O Ensino de Jesus sobre a oração
O Ensino de Jesus sobre a oração
Tendo concluído que um amigo sempre ajudará e ajudará de forma completa. Jesus então apresenta o primeiro ensino em relação à oração:
9 Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.
10 Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.
O ponto do ensino de Jesus aqui está na certeza de que Deus, ouvirá e atenderá às orações de seu povo. Se um amigo, ao ser importunado no meio da noite, preocupado com seu status em meio a sociedade, se levantará e dará tudo o que o outro amigo precisa. Quanto mais Deus fará por aqueles que ele ama, quanto mais Deus fará por aqueles que são seus. Quanto mais Deus fará por aqueles que são seus filhos.
Agora perceba a ênfase que Jesus dá na continuidade da oração, ou porquê não dizer, na “perseverança” na oração. Existe uma tríplice exortação, acompanhada de uma tríplice promessa.
Peçam - lhes será dado
busquem - acharão, ou encontrarão
batam - abrir-se-vos-á
Jesus deixa certo que: Quem pede recebe; quem busca encontra e quem bate a porta será aberta.
Peçam
Peçam
Pedir subentende humildade e uma consciência da necessidade. O verbo é usado em relação a uma solicitação que é dirigida por um inferior a um superior. O fariseu da parábola (Lc 18.10–13) nada pede. Ele declara diante do Senhor quão bom ele é. O publicano pede, isto é, roga: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador”. Pedir também pressupõe confiança num Deus pessoal com quem o homem pode ter comunhão. Quando alguém pede, ele espera uma resposta. Daí, isso implica fé num Deus que pode, faz e responderá, isto é, fé em Deus o Pai. Ter esse tipo de fé torna a oração fervorosa e pessoal.
Busquem
Busquem
Buscar é pedir mais agir. Implica petição sincera, mas esta sozinha não é suficiente. Uma pessoa deve estar diligentemente ativa em obter a satisfação de suas necessidades. Por exemplo, alguém deveria não só orar em prol de um profundo conhecimento da Bíblia, mas também deveria diligentemente esquadrinhar e examinar as Escrituras (Jo 5.39; At 17.11), assistir aos cultos (Hb 10.25) e acima de tudo tentar viver em harmonia com a vontade de Deus (veja Mt 7.21,24,25; cf. Jo 7.17).
Batam
Bater é pedir mais agir mais perseverar. Alguém bate repetidas vezes à porta até que esta se abre. Na verdade podemos ver a perseverança já compreendida nos três imperativos, uma vez que os três estão no tempo presente; daí, uma tradução possível seria: “continuem pedindo, buscando e batendo”. E o tema da perseverança é comum em toda a Escritura Sagrada quando o assunto é oração, veja: Lucas 18.1
1 Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer:
12 regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;
20 dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
18 com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos
2 Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.
17 Orai sem cessar.
Aplicação: Nós vivemos dias obscuros em nossa cristandade. Nosso povo não é acostumado a orar. Nossas igrejas são constantemente inundadas por entretenimento, músicas, teatros, as pregações se tornando palestras motivacionais e com isso, ao mesmo tempo que o apreço pela Palavra de Deus vai pelo ralo, a oração comunitária da igreja também vai pelo ralo. A prova disse está que as pessoas não suportam uma oração mais longa durante o culto por exemplo. Rapidamente as mentes se perdem em pensamentos e lembranças de coisas lá de fora, isso quando as pessoas não acabam por ficar irritadas quando alguém se estende na oração. Isso é um sintoma do quanto as pessoas estão vivendo de aparência.
Se por um lado decaímos demais na oração comunitária, talvez é ainda pior nossa vida particular de oração. Na verdade, muitos crentes modernos nem sabem o que é ter uma vida particular de oração. Muitos oram somente quando estão nos cultos. E isso é um problema grave. Se você não tem a oração como um costume em sua vida, de maneira alguma a ideia de perseverar em oração fará sentido pra você. Porque a ideia de perseverar em oração, baseada nos verbos que vimos aqui no ensinamento de Jesus, nos traz a noção de continuidade. Lembre-se, Pedir, Buscar, Bater. Não está no passado, pediu, buscou, bateu. Está no presente e dando a ideia de continuidade. Perceba, você precisa cultivar uma vida de oração.
Historicamente a igreja de Cristo sempre vivei e sempre foi sustentada por meio da oração. Jesus orava constantemente. Os apóstolos oravam constantemente. A igreja primitiva orava constantemente. Os reformadores oravam constantemente. Os puritanos então, nem se fala. É impressionante a forma como aqueles homens lidavam com a vida de oração. E é impressionante ver como que o crente moderno espera viver e a vida cristã sem cultivar uma vida de oração.
E veja, nos afundamos numa sociedade de consumismo extremo, onde nos matamos de trabalhar para comprar coisas das quais não temos necessidade. Daí essas coisas das quais não temos necessidade tomam nosso tempo diário. E depois quando pensamos em oração e coisas de Deus, qualé nossa desculpa? Não temos tempo. Percebe a incoerência disso.
Os pais se matam pra dar aos filhos os celulares modernos, os brinquedos legais, as coisas da moda. Mas quanto tempo os pais tiram pra ensinar a seus filhos sobre oração? Sobre vida com Deus? E o que acaba acontecendo é que os pais se matam para dar tudo aos filhos, mas lhes negam o principal.
Ore, ore com seus filhos. Dobre seus joelhos junto com seus filhos. Ensine-os a orar, ensine-os a falar com Deus. Ensine-os a vir pra igreja. Encoraje-os a ler as Escrituras. Encoraje-os a se comportar reverentemente na igreja. E persevere na oração.
A perseverança na oração, muito mais do que nos mostrar que Deus nos atende, nos ensina a sermos dependentes de Deus. Muitos crentes tem ficado pelo caminho porquê não trouxeram para sua vida prática o conceito da dependência ao Senhor. “Sem mim nada podeis fazer”.
A vida de oração acaba por criar uma comunhão entre o crente e Deus, com isso, ainda que a reposta da oração não venha no momento e da maneira como se desejava, a comunhão sustenta a relação, e ao invés do desânimo e da desistência cresce mais e mais o desejo de comunhão e o senso de pertencimento a Deus. Não desfaleça, ore.
E veja a maneira carinhosa e segura com a qual Jesus finaliza seu ensino:
11 Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra?
12 Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião?
13 Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
Se nós sendo maus, sabemos dar coisas boas aos nossos filhos, quanto mais o Senhor Deus, sendo bom, justo e perfeito não nos agraciará com todas as bençãos vindas de seu Santo Espírito por meio de quem tudo nos é dado.
Aplicação final:
A lição que esta parábola ensina é tão poderosa e notável, pelo fato de que para Deus nunca é meia-noite; nunca lhe falta nada; ele nunca é importunado quando algum filho humilde busca seu aconchego; e ele nunca é pego de surpresa.
Pessoas as vezes se queixam por Deus não lhes dar exatamente o que pediram. Mas pediram o Espírito Santo e a graça que ele comunica, graça suficiente para fazer com que nos regozijemos em meio às nossas dores e aflições.