Cap. III – GRAÇA IRRESISTÍVEL – Pág. 29-36
Cinco Pontos John Piper • Sermon • Submitted
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Ultimato Jovem: 20/09, “Do mérito à graça – uma reflexão sobre o suicídio”, Lucas Pedro,
O site da campanha Setembro Amarelo conseguiu tirar algumas destas dúvidas:
17% dos brasileiros já pensaram em se matar.5% dos brasileiros já tentaram.Homens se matam mais do que mulheres.A cada 45 minutos um brasileiro morre, vítima do suicídio.A maioria se mata para aliviar problemas externos, que transformaram-se em um processo de remorso, culpa e fracasso em uma espiral que leva a uma rua sem saída.
Continuando a pesquisa, encontrei um ótimo artigo da Editora Ultimato sobre o aumento de casos de suicídio entre pastores evangélicos, no qual de acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão e 71% se dizem esgotados”.
Acredito que o problema central é o fato de vivermos em um sistema humano baseado em meritocracia. Gostamos deste sistema, pois o consideramos justo. Precisamos fazer por merecer. Precisamos evoluir, progredir, desenvolver e, então, colher os frutos deste esforço. Ganhar o prêmio! Subir ao pódio. Subir na vida!
A imerecida Graça de Deus, que inverte os valores do mundo humano, livrando seres caídos e em nada merecedores, parece não encontrar seu lugar na prática da vida cristã. Talvez por ser bonito nas letras, mas inaceitável em um mundo regido pelo mérito. É justamente por este ato gracioso de Deus ter o poder libertador de salvar seres não merecedores que abafamos nossas vozes ao ensinar sobre ele. Sempre que falamos sobre a Graça, somos bombardeados com contrapontos sobre santidade, pureza e busca de perfeição. Sempre que falamos sobre a Graça somos lembrados que cabe a nós nos abstermos disso e daquilo, como se o ato gracioso de Deus pudesse ser comparado com nossas pobres tentativas de sermos justos.
Se as religiões podem ser resumidas a um processo de iluminação espiritual por empenho e meritocracia, a fé Cristã nunca poderá ser reduzida a mais uma religião. Ser cristão é descobrir-se salvo sem nunca ter merecido. Tornar-se discípulo de Cristo é descobrir-se sem mérito e mesmo assim amado e amparado e, então, transformado para viver uma vida de gratidão a Ele.
Paul Tripp: “Levar o crédito por aquilo que somente a graça pode produzir é o ápice da arrogância espiritual. Pensar que a graça uma vez recebida já não é mais tão essencial assim, é a receita para o desastre. Sem a paciência, o perdão, o resgate, a provisão, a transformação e a libertação da graça, não haveria qualquer esperança espiritual para nós. Não somos espiritualmente independes de maneira alguma”.
· Raramente encontro crentes que querem receber o crédito por sua própria conversão. Há ALGO da verdadeira graça no coração do crente, que o faz querer dar toda a glória a Deus.
· Por exemplo, se você perguntar a um crente como responderá à pergunta de Jesus no último julgamento: “Por que você creu em mim quando ouviu o evangelho, mas seus amigos não creram quando o ouviram?”, poucos crentes responderão dizendo: “Porque eu fui mais sábio ou mais esperto ou mais espiritual ou mais treinado ou mais humilde”.
· A maioria de nós sente INSTINTIVAMENTE que deve glorificar a graça de Deus dizendo: “Se não fosse pela graça de Deus, eu também estaria perdido”. Em outras palavras, sabemos instintivamente que a graça de Deus foi decisiva em nossa conversão. Isso é que pretendemos dizer com a expressão GRAÇA IRRESÍSTIVEL.
3.1. MAS RESISTIMOS REALMENTE À GRAÇA.
3.1.1. A doutrina da graça irresistível não significa que toda influência do Espírito Santo não possa ser RESISTIDA. Significa que o Espírito Santo, sempre que quer, pode vencer toda a resistência e tornar sua INFLUÊNCIA IRRESISTÍVEL.
3.1.2. Deus faz muitos apelos e sugestões que são RESISTIDOS:
· O apelo de Estevão aos líderes judeus: Atos 7:51
· Paulo falando sobre ENTRISTECER E APAGAR o Espírito Santo. Efésios 4:30; I Tessalonicenses 5:19
· Toda a história de Israel no Antigo Testamento é uma longa história de RESISTÊNCIA HUMANA aos mandamentos e às promessas de Deus, como mostra a parábola dos lavradores maus. Mateus 21:33-43
Esta resistência não contradiz a soberania de Deus. Ele a PERMITE E VENCE sempre que quiser.
3.1.3. A doutrina da graça irresistível significa que Deus é soberano e pode SUPLANTARtoda resistência quando quiser. Quando Deus age para cumprir seu propósito soberano, ninguém pode resistir-lhe. Daniel 4:35; Salmo 115:3 e Jó 42:2
3.2. A OBRA DE DEUS EM TRAZER-NOS À FÉ.
3.2.1. Mais especificamente, a graça irresistível se refere à obra soberana de Deus em vencer a rebelião de nosso coração e trazer-nos à fé em Cristo, para que SEJAMOS SALVOS. Romanos 9:14-18
3.2.2. Se estamos mortos em delitos e pecados, sendo incapazes de submeter-se a Deus por causa de nossa natureza rebelde, jamais creremos em Cristo, se Deus NÃO VENCER nossa rebelião.
3.2.3 Alguém pode dizer: “Sim, o Espírito Santo tem de atrair-nos a Deus, mas podemos usar nossa liberdade para resistir ou para aceitá-lo.” Todavia isso não é o que a Bíblia ensina. Se não houver a AÇÃO CONTÍNUA DA GRAÇA SALVADORA, sempre usaremos nossa liberdade para resistir a Deus. Isso é o que significa ser INCAPAZ DE SUBMETER-SE A DEUS.” Romanos 8:7-8
3.2.3. Se uma pessoa se torna humilde ao ponto de submeter-se a Deus, isso acontece porque Deus lhe deu uma natureza nova, HUMILDE. Se uma pessoa permanece tão endurecida de coração e orgulhosa que não se submete a Deus, isso acontece porque Deus NÃO LHE DEU TAL DISPOSIÇÃO DE ESPÍRITO.
3.3. SE O PAI NÃO TROUXER.
Sumário de Teologia Lexham (Chamado Eficaz)
Embora o chamado seja uma obra divina, o evangelho é o instrumento pelo qual ele chama (2 Tes. 2:13-14). Ele não chama pecadores para si mesmo do nada, mas emprega o testemunho do evangelho como o meio pelo qual ele soberanamente chama seus eleitos à fé em Cristo. Isto é, é através do chamado exterior e geral do evangelho que Deus internamente chama seus escolhidos para a comunhão de Cristo.Isto novamente informa o ordo salutis: por meio do chamado geral do evangelho, Deus emite seu chamado soberano e eficaz aos seus eleitos, trazendo-os para a vida espiritual pela qual eles são capacitados a ver a Cristo corretamente e crerem (1 Cor. 1:18–31; 2 Cor. 4:3–6).
3.3.1. Esse trazer é a OBRA SOBERANA DA GRAÇA, sem a qual nenhum de nós será salvo de nossa rebelião contra Deus. João 6:44
3.3.2. Outra vez, alguém pode objetar, dizendo: “Deus atrai para si mesmo TODOS os homens e não apenas alguns”. Em seguida citar João 12:32
3.3.3. No entanto, há alguns problemas sérios nesta objeção. Um dos problemas é que a palavra traduzida por TODOS (no grego, pantas) não se refere a todas as pessoas. Devemos averiguar contextos semelhantes em João para DETERMINAR ao que estes “todos” provavelmente se refere.
3.3.4. Caifás, o sumo sacerdote, em João 11: 50-52, falou mais verdades do que ele mesmo sabia. As últimas palavras descrevem o alcance da morte de Jesus, conforme João a apresenta no evangelho. Jesus não morreu por um único grupo étnico, mas “para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam DISPERSOS” – TODOS ELES.
3.3.5. Isto é uma referência aos gentios que Deus atrairia eficazmente a si mesmo quando ouvissem o evangelho. Eles são chamados FILHOS DE DEUS porque Deus os escolheu para serem adotados, como Paulo disse em Efésios 1:4-5
3.3.6. Portanto, se este é um bom texto correspondente, o TODOS em João 12:32 não se refere a todos os seres humanos e sim a todos OS FILHOS DE DEUS. “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos (os filhos de Deus) a mim mesmo” – de toda tribo, língua, povo e nação. Apocalipse 5:9
3.3.7. O que João 12: 32 acrescenta é que isto acontece hoje na história por ser Cristo mostrado a todo o mundo e por serem pregadas as boas novas de que todos aquele que crer em Cristo será salvo. Na pregação do Cristo levantado, Deus ABREos ouvidos dos surdos. As ovelhas ouvem a voz de Jesus e o seguem. João 10: 16,27
3.3.8. A principal objeção a usar João 12:32 para negar que o trazer de João 6:44 realmente produz o vir a Cristo é a maneira como João descreveu a relação entre o TRAZER DO PAI e o FRACASSO DE JUDASem seguir a Jesus até ao fim.
3.3.9. Leia João 6:64-65. Observe que Jesus mostrou que a razão por que ele disse que “NINGUÉM PODERÁ VIR A MIM, SE, PELO PAI, NÃO LHE FOR CONCEDIDO” era explicar por que “há descrentes entre vós”.
3.3.10. Poderíamos parafrasear isto assim: Jesus sabia desde o começo que Judas não cria nele, apesar de todo ensino e de todos os convites que recebera. E, porque Jesus sabia disso, o explicou nas palavras: “NINGUÉM PODERÁ VIR A MIM, SE, PELO PAI, NÃO LHE FOR CONCEDIDO.”
3.3.11. Houve muitas influências para o bem na vida de Judas – neste sentido, Judas foi cortejado, convidado e atraído por três anos. Mas o ensino de Jesus, em João 6:44 e 6:65, é que a resistência de Judas à graça não foi o fator crucialmente decisivo. O que foi crucialmente decisivo foi isto: “NÃO LHE FOI CONCEDIDO”o vir a Cristo.
3.3.12. O dom decisivo e irresistível da graça não lhe foi dado. Em nós mesmos somos tão RESISTENTES À GRAÇA quanto Judas. E a razão por que qualquer um de nós veio a Jesus não é que somos mais espertos ou mais sábios ou mais virtuosos do que Judas, e sim que o Pai VENCEU NOSSA RESISTÊNCIA e nos trouxe a Cristo. Todos somos salvos pela graça irresistível – GRAÇA MARAVILHOSA.
Kevin DeYoung: “Graça Maravilhosa: O que os Cânones de Dort nos ensinam sobre pecado, salvação e a soberania de Deus”, Editora Trinitas.
Concluamos, então, com três comentários esclarecedores.
Primeiro, a graça irresistível deve produzir humildade e amor no crente, não orgulho e desconfiança. Assim como não escolheu o eleito por qualquer coisa que houvesse nele, Deus não converteu aqueles destituídos de graça por que de alguma forma fossem merecedores.
Segundo, na regeneração, a vontade humana é restaurada, não removida. (....) A graça da regeneração não age nas pessoas como se fossem seres inanimados ou pedaços de pedra; nem anula a vontade e suas propriedades ou coage uma vontade relutante à força, mas ressuscita, cura, restaura espiritualmente e-de maneira agradável e poderosa- a corrige”. (Artigo 16)
Terceiro, Deus realiza o milagre da regeneração por meios. Sim, Deus é soberano. Sim, o Espírito sopra em quem ele quiser. Sim, o Senhor escolhe ter misericórdia sobre quem quer ter misericórdia. Mas o Senhor também escolheu efetuar sua regeneração pelo uso do Evangelho (Artigo 17).
Artigo 17: O Uso de Deus dos Mecanismos de Regeneração
Tal como a poderosa obra de Deus pela qual ele faz brotar e sustenta nossa vida natural, não exclui, mas requer o uso de meios pelos quais Deus, de acordo com sua infinita sabedoria e bondade, tem exercitado seu poder, assim também a obra de Deus citada anteriormente, pela qual ele nos restaura, de modo algum exclui ou cancela [a necessidade] do uso do Evangelho, o qual Deus em sua grande sabedoria designou para ser a semente da regeneração e o alimento da alma.
Por esta razão, os apóstolos e os professores que piedosamente os seguiram ensinavam ao povo sobre esta graça de Deus, para dar glória a ele e para humilhar todo o orgulho humano; não negligenciando, neste meio tempo, o manter o povo através das santas admoestações do evangelho, sob a ministração da Palavra, das coisas sagradas, e da disciplina. Assim, mesmo hoje, está fora de questão que os professores ou os que são ensinados na igreja conjeturarem testar Deus separando o que ele, em seu bom propósito, deseja que esteja estritamente unido. Porque a graça é concedida através das admoestações, e quanto mais prontamente nós fizermos nosso dever, usualmente, tanto mais resplandecerão em nós os benefícios da obra de Deus e melhor sua obra [em nós] avançará. A ele somente, tanto pelos meios quanto por seus frutos salvíficos e [por sua] efetividade, toda a glória seja devida eternamente. Amém.
Is.55:10-11; I Co.1:21; Tg.1:18; I Pe.1:23,25; I Pe.2:2; At.2:42; II Co.5:11-21; II Tm.4:2; Rm.10:14-17; Jd.24-25