Toda dor é por enquanto
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O terceiro gemido (v. 26)
O terceiro gemido (v. 26)
Meus irmãos, o trecho que nós vamos meditar hoje é uma continuação do trecho anterior.
Nós vamos ver a finalização do argumento de Paulo para responder a pergunta: “se sou salvo, por que ainda sofro?”.
26 Da mesma maneira, também o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza. Porque não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. 27 E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.
28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29 Pois aqueles que Deus de antemão conheceu ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
Logo no início do nosso trecho, no versículo 26, vemos o Espírito Santo sendo colocado como um assistente, um ajudante nos nossos momentos de fraqueza.
Lembre-se: durante nossa série de mensagens, o Espírito foi aquele que nos guiava, vivificava, confirmava nossa adoção. Na mensagem anterior, vimos que o Espírito é a primícia, é uma amostra presente do que será nossa vida futura.
Nesse versículo, Paulo está nos dizendo que embora não desfrutemos de modo completo todas as benesses da nossa redenção, o Espírito nos apoia naquilo que ainda não está completo.
Se ainda não nos livramos da nossa fraqueza, o Espírito nos fortalece; se ainda não sabemos como falar com nosso Pai, o Espírito nos auxilia.
Isso pode não ser suficiente. Já percebeu que quando estamos muito mal, as palavras de consolo que os outros nos dizem não servem muito. São apenas palavras. São apenas mãos que nos apalpam sem jeito, sem saber muito o que fazer.
Muitas vezes as palavras e ações das pessoas não são suficientes porque elas não estão na mesma situação que você. Elas não sentem o que você sente. Elas não compreendem a dimensão da sua dor.
Mas com o Espírito é diferente. Ele não apenas te ajuda na sua fraqueza. Esse sente sua dor.
Perceba que o versículo diz que quando o Espírito nos ajuda, ele brada gemidos inexprimíveis.
Muita gente quer entender esses gemidos que não podem ser expressos em palavras. Mas o próprio contexto deixa claro pra nós uma coisa: esses gemidos do Espírito são gemidos de dor.
Isso fica claro quando percebemos que nos versículos anteriores Paulo fala que a criação geme de dor pelo sofrimento em que se encontra e que nós também gememos nos nossos sofrimentos enquanto aguardamos nossa glorificação.
Agora, o apóstolo está dizendo que o Espírito também geme.
Fica fácil então perceber que o Espírito também sofre quando nós sofremos.
Deus sente. Deus tem a exata sensação da sua dor. Ele não apenas sabe, conhece; ele a sente arder. Ele se compadece; padece junto com você.
O ângulo perfeito (v. 27)
O ângulo perfeito (v. 27)
Como se não bastasse, o verso 27 seguinte nos diz que Deus sonda os corações e conhece a mente do Espírito.
A palavra “mente” aqui é a mesma palavra que “inclinação”, “pendor” que vimos no versículo 6 de Romanos 8, quando Paulo nos diz que os homens se inclinam para carne ou para o Espírito
Então, quando o apóstolo diz que Deus sonda nossos corações e conhece a inclinação do Espírito é porque Deus está comparando nossa inclinação com a do Espírito.
Em seguida, no mesmo versículo, temos a informação de que o Espírito trabalha como nosso consolador de acordo com a vontade de Deus.
Trocando em miúdos: Deus sabe que por vezes não estamos inclinados para as coisas espirituais. Deus sabe que nem sempre nosso coração, nossa mente, nossas emoções estão de acordo com as coisas do Espírito. Mesmo redimidos, as vezes nos inclinamos para a carne. O sofrimento tende a nos envergar para o nosso umbigo ao invés de levantar os olhos para o monte de onde vem o socorro de Deus.
Deus sabe que você já questionou Ele. Deus sabe que você já murmurou, cobrou explicações dEle, questionou os propósitos dELe.
Talvez você esteja tão ciente que fez essas coisas que tem vergonha ou medo de Deus.
Mas a Palavra te diz que o Espírito está pronto pra te ajudar a orar Deus, clamar e interceder de modo correto. O Espírito, sim, está totalmente inclinado para a vontade de Deus e vai te auxiliar a ficar na mesma inclinação, no mesmo ângulo, em perfeita simetria.
Esse é um convite para a oração. Mesmo sem entender o porquê das tribulações, mesmo quando as dificuldades te levam a se afastar de Deus. Mesmo quando você se inclinou para a carne.
Ore. O Espírito de Deus te ajuda nas fraquezas, geme pelas tuas dores e leva tem coração de volta para os caminhos de Deus, mesmo quando você não sabe qual é a trilha.
A existência de um propósito bom (v. 28)
A existência de um propósito bom (v. 28)
O versículo seguinte é muito conhecido. Todas as coisas cooperam para os que amam a Deus.
Muita gente tem entendido que esse trecho confirma que há uma conspiração divina para que tudo dê certo na sua vida. Emprego, vida amorosa, sucesso...
Mas quando se começa a passear pelo contexto em que esse versículo está inserido, como nós estamos fazendo, fica claro que não é isso que o versículo afirma.
Aqui Paulo está dizendo que há um propósito de Deus para os seus escolhidos, e o sofrimento discutido até aqui coopera para esse propósito.
Quando descobrimos a maneira correta de interpretar esse versículo, ele fica muito menos legal.
Primeiramente porque ficamos sabendo que os planos de Deus para nós talvez não seja de vitória e realizações.
Em segundo lugar, ele versículo garante que há sempre um propósito para tudo o que vivemos.
Isso pode incomodar a muitos.
Muitas feridas que foram feitas em nós parecem não ter nenhum sentido, nenhum sentido. Parece apenas que fomos azarados, vítimas do destino.
Muitos se questionam: por que, Deus?
Para piorar, em terceiro e último lugar, o versículo diz que esse propósito é bom!
Mas você não consegue enxergar nada de bom no seu constante fracasso em manter a saúde mental, em perder o sustento ou estar no leito de morte.
Como essas coisas podem ser boas?
Se você entrar no hospital de câncer infantil e disser que a doença que Julia está sofrendo faz parte de um bom propósito de Deus, você será hostilizado, chamado de insensível e blasfemo.
Mas é isso que Paulo está dizendo e fazendo.
Existe um propósito e ele é benéfico.
Você não consegue enxergar esse propósito? Nem eu.
Por mais que tentemos perceber a razão disso tudo, só encontramos desespero, porque no fim, não somos capaz de encontrar uma razão.
Daí somos tentados a concluir que Deus é mal, ou que Ele não é soberano sobre o sofrimento ou que Ele não intervém nem se importa conosco. Talvez cheguemos a cogitar a existência desse Deus.
Mas sabe qual é o problema com esse conclusão? Ela é precipitada.
Essa conclusão está baseada na premissa de que se eu não enxergo motivo para o sofrimento no mundo, então essa razão não existe.
Quanta arrogância! Será que só porque você não consegue notar algo significa que esse algo não existe? Como foi exemplificado de maneira bem humorada pelo filósofo Plantinga, o fato de você não enxergar as muriçocas nessa sala não significa que elas não estejam aí.
É preciso ter muita fé para acreditar que você é o senhor da razão.
Outro erro é julgar que se conseguíssemos descobrir a razão do sofrimento, então isso de alguma forma aliviaria a dor.
Mas não é isso que acontece. Por mais que entendamos todos os processos bioquímicos que explicam uma morte, nunca nos daremos por satisfeitos em estarmos em pé ao lado de um caixão. Podemos chegar a um conformismo mudo, complacente, mas nunca estaremos livre das cicatrizes.
É por isso que Deus dá mais do que explicações racionais. Ele dá de si.
É por isso que Jesus encarnou em forma humana e padeceu o pior dos sofrimentos. Ele foi separado do perfeito amor do Pai e agonizou uma morte cruel. Por isso hoje nós temos um sumo sacerdote que conhece as nossas lutas e dramas.
Você não quer ouvir aquelas frase batidas? Não quer ouvir que vai ficar tudo bem? Você precisa de mais para estancar o desespero, o inconformismo? Olhe para a cruz.
Você não tem forças para se voltar pra Deus? Não tem fé suficiente para confiar nos propósitos de Deus? Ore com o Espírito Santo.
Não é a razão que nos trará a cura, é a revelação.
A revelação do propósito (v. 29)
A revelação do propósito (v. 29)
É por isso que no versículo seguinte somos apresentados ao propósito de Deus para o sofrimento.
Deus quer que sejamos à imagem de Seu Filho Jesus.
Na primeira mensagem dessa série, falamos sobre como nos tornamos iguais àquilo que adorados. Quando adoramos ídolos de barro, nos tornamos mudos, cegos e surdos iguais a eles.
Mas essa verdade também tem o lado positivo.
Quando confiamos e devotamos nossa vida a Jesus Cristo, somos transformados de glória em glória, vamos crescendo até que cheguemos à Sua estatura.
O propósito do sofrimento é que sejamos mais próximos e parecidos com o nosso Senhor.
Mais uma vez: Deus nos dá mais do que explicações racionais. Ele nos dá de si.
O sofrimento faz com que percamos coisas que nos são valiosas para que recebamos mais de Cristo, porque Ele sim é mais precioso.
Uma vez salvos e entregue a Cristo, podemos perder o sossego, os bens, a família, o respeito; tudo isso para que não haja impurezas que deformem ou trinquem a nossa modelagem.
Estamos sendo conformados para ser mais Jesus Cristo do que nós mesmos.
O passado indicativo do futuro (v. 30)
O passado indicativo do futuro (v. 30)
Quando passamos para o versículo seguinte, somos apresentados a uma série de verbos que indicam o que Deus fez em nós: predestinou, justificou, glorificou.
O curioso é que toda a Bíblia dá testemunho que seremos, no futuro, glorificados.
Até mesmo o início desse grande bloco argumentativo de Paulo diz isso. Veja o versículo Rm 8.17
17 E, se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, se com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados.
Por que essa mudança agora?
O que o apóstolo está nos apontando é a certeza da glorificação.
Como ele vem afirmando desde o versículo 17, nosso sofrimento tem por parada final a nossa glorificação: aquele momento onde toda a dor se encerrar, todo o questionamento desaparecerá como sargaço na praia que o mar levou.
Para Deus já somos glorificados. Ele nos glorificou.
Não conseguimos entender bem como isso já aconteceu mas ainda não recebemos. O português não consegue comportar os decretos de Deus.
Mas é isso que a Sua Palavra nos garante.
Toda a dor é por enquanto.
Chegará o dia em que seremos mais do que compensados pelo que aconteceu de ruim. Seremos lavados, redimidos. Seremos mais do que nós mesmos: seremos a imagem refletido do nosso Senhor da glória.