Mateus 7.7-12

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Cristo ensina seus discípulo a olharem para oração como ferramenta de consolidação da comunhão pelo vínculo do Espírito Santo, como resultado da bênção do Pai celestial sobre a própria igreja.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
A próxima seção do sermão da montanha, é na verdade um segundo bloco que trata ainda sobre o tópico da comunhão e relacionamento entre os agentes do Reino, porém, agora por meio da oração. Se anteriormente a exortação mútua foi o foco de Cristo, agora sua ênfase recai no uso da oração como instrumento por meio do qual aquela comunhão é fortalecida.
Esta próxima exortação por sua vez, está baseada numa ética que leva em consideração a postura do discípulo em relação a outro, mediante uma correlação amorosa entre ele e o Pai celeste, de maneira que o modo como alguém se relaciona com Deus, deve ser o parâmetro para como o mesmo indivíduo se relacionará com seu irmão (v. 12), sendo a oração ou petição, um dos vínculos dessa relação.
Assim, o tema central desta seção do sermão da montanha consiste na oração como vínculo e guia ético da comunhão.
Elucidação
Como é próprio do discurso de Cristo, há na passagem algumas figuras de linguagem em tom comparativo, por meio das quais o Senhor expande a mente de seus agentes a perceberem a realidade da disponibilidade do Pai em atender um clamor feito por seus filhos em favor de seus irmãos.
Tal presteza é elucidada por meio da figura de “petição-recebimento” e “busca-encontro” diretamente ligadas a um questionamento retórico que reforça as ideias das próprias figuras de linguagem, conforme a seguinte equivalência: Ao que pede; é dado; o que busca; encontra; O que bate; lhe é aberto. O filho que pede pão não recebe pedra, ou pede peixe e não ganha uma cobra, tudo isto como fruto de benevolência de seu pai.
A lógica resultante dessas comparações é simples: Assim como a dinâmica dessas relações é óbvia, ainda que os homens sejam maus (v.11), muito mais certo é que o Pai celeste atenda aos pedidos de seus filho, tendo em vista que ele é bom. E com isso, a postura ética dos filhos do Reino é de agirem com benevolência e graça uns com os outros; "porque está é a Lei e os Profetas" (v. 12), isto é, o modo através do qual seus discípulos devem viver como arauto do Reino dos céus.
Porém, é observando o paralelismo entre os evangelhos de Lucas e Mateus no que tange sentido desta fala de Cristo, que encontramos um esclarecimento ainda mais aprofundado quanto ao conteúdo exortativo elucidado por Jesus neste texto.
A passagem paralela conforme registrada em Lc 11.7-13, concentra-se no final da oração dominical, após uma exortação franca à oração como meio de relacionamento com o Pai celeste, tópico já tratado por Mateus anteriormente no capítulo 6. Entretanto, a referência em Lucas acrescenta uma informação que pode ser usada como explicação de toda a exortação. Ao final da análise de Cristo que expõe seus discípulos ao amor fraternal entre irmãos assegurado pela oração, Lucas destaca uma informação que não costa na mesma assertiva no evangelho de Mateus:
Lucas 11.13 RA
Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
A informação de Lucas restringe o alcance dos pedidos a serem feitos pelos discípulos ao Pai à uma temática específica: o Espírito Santo. Levando em consideração isso, é possível que Lucas tenha interpretado a fala de Cristo como sendo um adiantamento do cumprimento da promessa feita pelo próprio Senhor Jesus quanto à descida do Espírito como vínculo comunitário da Igreja. Assim, a ênfase de Lucas lança luz sobre o que Cristo diz no sermão da montanha, de acordo com os dados de Mateus.
Essa ênfase completa e amplia os princípios expostos por Cristo no texto em destaque: Os discípulos estavam sendo encorajados a clamarem ao Pai para que a comunhão da igreja fosse fortalecida pelo poder e obra do Espírito Santo, que os levaria a comungarem da graça de Deus por meio do cuidado mútuo (v. 12).
A evidência neotestamentária concorda com a visão de que o Espírito é o vínculo da comunhão da igreja. Ao observarmos essa temática em outros textos, vemos claramente essa perspectiva sendo defendida pelos apóstolos, como é o caso de Paulo, que ao debater a unidade da igreja, acrescenta o Espírito como símbolo dessa união:
Efésios 4.1–6 RA
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
O mandamento de João quanto ao amor comunitário (1Jo 2.7-11), está embasado naquilo a que ele se refere como "unção que dele recebeste" (v. 27), apontando para a obra do Espírito em separar os crentes como povo escolhido, para "permanecer nele", isto é, em Cristo (v. 28).
O ensinamento de Cristo então engloba não somente a oração como vínculo da comunhão no sentido imperativo, isto é, uma ordenança a que se peça a Deus o viver em comunidade, mas declara também que é parte da obra do próprio Espírito, obra pela qual a igreja súplica que seja operada, fazendo com que o usufruto dessa bênção vigore verdadeiramente, tornando-os uma família... um corpo.
Anexado a essa perspectiva está também a questão da justiça e benevolência que, tendo como referência o Pai celeste, deve ser praticada entre os próprios crentes, o que também é fruto da obra do Espírito.
“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles […]”. Qual será o aferidor do desenvolvimento dessa comunhão? o tratamento amoroso e gentil de um para com o outro como símbolo daquelas bênçãos que recebemos do Pai. Tanto quanto desejamos que sejam tratados, os discípulos devem tratar o irmão, criando assim uma equidade tal, que não há espaços para divisões egoístas.
Os crentes não devem se perder em disputas individuais buscando sobressair-se ou favorecer-se em detrimento de outros, voltando-se para si mesmos, mas, tratam e cuidam uns dos outros com o mesmo amor com que gostariam e ser tratados.
Ou seja, ao passo em que se pede a Deus tal bênção - o viver em comunhão -, tendo em vista como é óbvio esperar que um pai terreno dê o que é pedido por seu filho, podemos confiar que o Pai celestial, sendo bom, concederá seu Espírito ao seus agentes, a fm de que por meio dele, a comunhão seja garantida, e o Reino dos céus avance para a glória do Deus Triuno.
Transição
A seção de Mt 7.7-12 é a condução de Cristo para que seus discípulos entendam que a vida no corpo tem como arcabouço as promessas do SENHOR de que a comunhão dos crentes será fortalecida pela operação do Espírito Santo, mediante a oração, e este por sua vez, recebe a promessa de que o Pai está disposto a ouvi-los (nesse sentido) e atendê-los tanto quanto um pai terreno, mesmo sendo mau, atenderá o pedido de seu filho.
À luz disso, podemos avaliar algumas aplicações em face do texto para nossas vidas.
Aplicações
1. Devemos estar comprometidos com a comunhão dos santos por meio da oração.
Cristo Jesus nos indica o caminho da comunhão como evidência de nossa entrada no Reino dos céus, isto é, como vimos na introdução deste capítulo 7 (vs. 1-6), o fato de convivermos em comunidade, submetendo-nos uns aos outros em amor por meio da exortação mútua, assevera o novo nascimento e a compreensão de que adentramos o Reino de Deus através de sua revelação máxima: Cristo.
Como desdobramento desse princípio, a oração é demarcada por Cristo a ferramenta que nos guia nesse relacionamento comunitário, mediante uma operação poderosa do Espírito como o vínculo e elo que conecta cada crente ao seu irmão.
O grande ponto de reflexão ao lermos esse texto é: será que a comunhão dos santos é algo tão importante para nós, ao ponto de ocupar lugar em nossas orações ao Pai? amamos tanto o estarmos ligados uns aos outros, ao nível de intercedermos pessoalmente por cada um dos irmãos com quem convivemos na igreja? a promessa está feita: o Pai nos dará do seu Espírito (v.11b), como agente unificador e consolidador dessa comunhão. Resta saber se a desejamos.
2. Nosso relacionamento com o Pai é o indicador de como será nossa relação com o irmão, e vice-versa.
É interessante ver como cresce em nosso tempo o número de pessoas que têm algum tipo de crítica contra a igreja: “não ligam para mim”; “não veem a minha casa”; “não me telefonam”. Deixe-me fazer um questionamento: quantas vezes você já perguntou para as pessoas com quem você congrega como elas estavam? e não apenas de maneira retórica, mas realmente interessado nelas? quantas visitas você mesmo fez a algum irmão(ã)? quantas ligações você já fez para alguém a fim de se inteirar sobre ele? Infelizmente, a hipocrisia no convívio entre os crentes (que inclusive foi o tema da seção anterior - Mt 7.1-6) está mais próxima de nós do que gostaríamos de admitir.
Como é conhecida entre os teólogos, "a regra áurea" do verso 12 é um indicativo de reciprocidade no tratamento entre os irmãos. Cristo, por meio desse mandamento, nos dá uma importante ferramenta de amadurecimento: abandonando o egoísmo, tratamos os irmãos como gostaríamos de ser tratados, e assim, exercitamos o amor que é esperado daqueles que entraram no Reino, não agindo como o mundo age, centralizando em si uma importância vazia e arrogante, que os mata, afundando-os em relacionamentos richosos e cheios de contendas, mas, recebendo o poder do Espírito, crescemos em amor, como nos diz o apóstolo Paulo:
Efésios 4.15–16 RA
Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.
Conclusão
Mateus 7.7-12 é um gracioso lembrete: a obra de comunhão não começa com a disposição do nosso coração, do contrário, falharíamos miseravelmente em estabelecer e manter a comunhão a qual aqui exige nosso SENHOR que esteja presente no seio da sua igreja. Mas tal operação é obra do Espírito, que nos regenerando, faz com que amemos de tal modo o corpo de Cristo, que pedimos, buscamos e batemos, até que o Pai nos dê, nos faça achar e abra para nós a porta da comunhão plena por meio de seu Espírito, o que sabemos que ele o fará, pois é o nosso bom Pai, que através de nós, glorificará seu nome.
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