Vivendo com equilíbrio debaixo do Sol
Eclesiastes • Sermon • Submitted
0 ratings
· 15 viewsA opressão social faz com que os trabalhadores pensem em desistir da própria vida e a considerar o descanso melhor que o trabalho
Notes
Transcript
Vivendo com equilíbrio debaixo do sol
Vivendo com equilíbrio debaixo do sol
1 Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos.2 Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem;3 porém mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.4 Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.5 O tolo cruza os braços e come a própria carne, dizendo:6 Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento.
O pregador tem olhado a vida e chegado à conclusão que ela pode ser uma fonte de cansaço, sofrimento e falta de sentido.
Ele percebe que esse sofrimento não é causado somente por questões que não temos nenhum controle, mas por questões que temos a capacidade de controlar, ou que, pelo menos, deveríamos controlar.
Ele vai perceber neste parágrafo, pelo menos três grandes desvios do caminho da sabedoria praticado pelo pecador que vive apenas pela persepectiva abaixo do sol, por aquele que entende que a vida é curta e por isso precisa aproveitar ao máximo, mesmo que isso signifique passar por cima dos outros.
O homem sem Deus busca realização e satisfação a qualquer custo. Se Deus não existe, não criou o homem e não haverá nenhum tipo de julgamento, então, que prevaleça o mais forte. Na mente dele, ele é o seu Deus e responsável por conquistar a sua felicidade. Esse é um modo de pensar que inevitavelmente levará os homens a atitudes egoístas, autocentradas.
Na sua busca, descontrolada, em busca de tais coisas, esse trecho nos mostra pelo menos três desvios do caminho sábio. O homem que vive dentro de uma perspectiva carnal, que avalia a vida apenas "debaixo do Sol", age com:
Opressão (Ec 4.1)
1 Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos.
Existem várias formas de opressão debaixo do sol, todas elas podem ser claramente percebidas, mas as mais comumentes encontradas no AT são:
A usura
"Por “usura” queremos dizer que os judeus abonados se valiam das necessidades financeiras de alguns de seus irmãos compatriotas para lhes emprestar dinheiro ou recursos cobrando altos juros ( Pv 28.8 ), algo que era proibido na lei mosaica ( Êx 22.25; Lv 25.36,37; Ez 18.12,13 ), resultando na privação de terras e até da liberdade pessoal dos devedores ( Ne 5.1-5; Jr 22.13,14 ), os quais perdiam tudo que tinham e eram reduzidos à servidão, ou seja, ao trabalho imposto obrigatoriamente a fim de saldar seus débitos com o credor. Em alguns casos, tal condição não era muito diferente da própria escravidão, também proibida para compatriotas ( Lv 25.35-39; Ne 5.8-12; Jr 34.8-22 )". Santos, Thomas Tronco dos. O Caminho Acima do Céu: Comentário de Eclesiastes (Portuguese Edition) (Locais do Kindle 2011-2019). Redenção Publicações. Edição do Kindle.
A injustiça
"ao dizer “injustiça”, apontamos para os conluios feitos entre homens ricos e as autoridades judiciais a fim de definir, por meio de pagamento, sentenças em favor dos poderosos ( 1Sm 8.3; 1Rs 21.5-16; Mq 2.1,2; 3.11 ) o que chamamos de “corrupção” , negando o direito e a proteção aos pobres indefesos ( Is 1.23, Ez 22.29 ), algo também proibido duramente pelas Escrituras ( Is 10.1; Jr 5.28,29)" (Santos, Locais do Kindle 2019-2024).
Os profetas do AT condenaram abertamente as injustiças sociais e as ações opressoras. Condenaram mais as ações opressoras do que a idolatria. O poder dos que exerciam autoridade era utilizado para o mal e não para o bem. Pensavem somente em si mesmos e não no povo que chorava por causa das sofrimentos que lhes eram impostos. Para piorar a situação, além do sofrimento, os oprimidos não tinham ninguém que os consolassem.
A questionamento que fica é: Por que o próprio rei Salomão não lhes saiu ao encontro? Por que ele não se levantou como um salvador dos pobres e oprimidos? Ele não foi sábio para perceber a opressão, por que não usou sua sabedoria para acabar com ela?
Santos sugere duas possibilidades e eu vou acrescentar uma terceira:
A primeira possibilidade é que ele tenha testemunhado tais abusos por parte de reis e comitivas oficiais de outros países sobre os quais ele não tinha jurisdição para interferir em ações desse tipo.
A segunda possibilidade mais provável é que esse tratamento fizesse parte da organização social da época e estivesse dentro dos limites do sistema legal, ainda que fosse moralmente condenável. Talvez, como rei, ele tenha interferido em alguns casos extraordinários, mas não tinha como mudar toda a estrutura social dos seus dias, tendo apenas de observá-la e meditar sobre tal condição.
A terceira possibilidade é que ele mesmo, durante o tempo em que havia se entregado aos prazeres, guardando consigo sua sabedoria, tenha praticado tais males. O fato é que não podemos isentar o próprio Pregador desse desvio, já que instituiu, a certa altura do seu governo, pesados impostos e um sistema de trabalhos forçados que oprimiram seus súditos ( 1Rs 12.1-4 cf. 1Rs 11.28 ).
Diante da triste realidade o sábio chega a duas conclusões:
2 Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem;3 porém mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.
Para ele aquele que foi oprimido tem mais vantagem do que aquele que ainda estava debaixo de opressão, mas o melhor de tudo era nunca ter nascido para ver o mal que há debaixo do sol.
Quando passamos por um momento difícil na vida geralmente usamos a expressão: "isso não é vida". Quando passamos por momentos de bênçãos falamos com ar de satisfação: "isso que é vida". Quem fala que isso não é vida, está vivo, mas sente que não valeria a pena viver daquela forma.
Esse pensamento passa na mente dos que sofrem opressão das mais variadas formas. Jonas quis para si a morte (Jn 4.3). Elias também desejou a morte (1Rs 19.4). O caso dos oprimidos parece tão injusto e solitário que muitos desejam nem sequer ter nascido. Vejamos o que disse Jó:
3 Pereça o dia em que nasci e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! 4 Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz. 5 Reclamem-no as trevas e a sombra de morte; habitem sobre ele nuvens; espante-o tudo o que pode enegrecer o dia. 6 Aquela noite, que dela se apoderem densas trevas; não se regozije ela entre os dias do ano, não entre na conta dos meses. 7 Seja estéril aquela noite, e dela sejam banidos os sons de júbilo. 8 Amaldiçoem-na aqueles que sabem amaldiçoar o dia e sabem excitar o monstro marinho. 9 Escureçam-se as estrelas do crepúsculo matutino dessa noite; que ela espere a luz, e a luz não venha; que não veja as pálpebras dos olhos da alva, 10 pois não fechou as portas do ventre de minha mãe, nem escondeu dos meus olhos o sofrimento.
Concordo com Santos (Locais do Kindle 2068-2072) quando ele diz que "É claro que ele não está ensinando os oprimidos a buscar o suicídio, mas ter na morte, na vida após a morte, na verdade , como ensina em 3.15c-17 , a esperança do fim das opressões, pois é “nela” que Deus julga o opressor".
Ele também não está estimulando o aborto ou ao casal desistir de ter filhos. Ele valoriza a vida dada por Deus. O que ele está querendo enfatizar é a realiadade da maldade do homem que vive da perspectiva "abaixo do sol".
Ter seus direitos básicos tomados, como respeito e dignidade, comer do fruto do seu trabalho e gozar de merecido descanso, é algo que somente o egoísmo e a insensibilidade pode explicar. Somente um coração sem Deus é capaz de fazer algo assim.
Eclesiastes 3. Opressão do povo de Deus (4.1–3)
Nosso lamentador não se recuperará até entrar, como o salmista Asafe (Sl 73.17), na casa de Deus (Ec 5.1–6) e considerar qual será o “fim” desses opressores.
O SEGUNDO DESVIO cometido pelo homem que vive dentro de uma perspectiva carnal, que avalia a vida apenas "debaixo do Sol", é a:
A inveja (Ec 4.4)
4 Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.
Esse versículo "aponta para o esforço exagerado que o homem faz para ser o melhor em tudo e sobrepujar seus pares. Para o homem egoísta, que vive de acordo com os valores “debaixo do Sol”, não basta ter o necessário para sua sobrevivência e conforto. Ele tem de ser o melhor, tem de ocupar o cargo mais alto, tem de morar na melhor casa e dirigir o melhor carro, tem de ser o centro das atenções em todo lugar que vai e ter as pessoas ao redor servindo-o e se esforçando para agradá-lo. Trata-se de uma competitividade não motivada por razões positivas e edificantes, mas pela inveja dos outros e por valores distorcidos que fazem com que a pessoa pense que ela só é boa o bastante se superar os demais" (Santos, Locais do Kindle 2092-2097).
A falta de contentamento é marca desse homem. Ele vive de acordo com o curso do mundo, de acordo com o príncipe da potestade do ar, segundo a vontade da carne e dos seus pensamento. Este homem é, sem dúvida, um inimigo de Deus. Ama o mundo e as coisas que há no mundo, ele se constitui um inimigo de Deus (Tg 4.1-17).
Esse homem é um idólatra capaz de passar por cima de tudo e de todos para ter o que almeja. Ele passa por cima do descanso, da esposa, dos filhos, da igreja, dos amigos, dos pais, para ter um pouco mais. Homens assim nem sequer pensam em Deus e quando pensam, querem fazer de Deus o seu gênio da lâmpada que vai lhes conceder tudo o que desejam. Tiago é duro com homens desse tipo e os chama ao arrependimento e a uma percepção correta da vida. Eles são insignificantes, passarão e serão julgados segundo as suas obras. A solução está em se sujeitar a Deus, se humilhar na presença dele, limpar as mãos e purificar o coração, arrepender-se verdadeiramente para que sejam exaltados.
Esse homem estará cego até entrar no santuário de Deus e atinar para o seu fim. Ele precisa, com a ajuda de Deus, olhar para a vida acima do sol e se revestir da proteção UV (único vencedor), se revestir de Cristo e viver como Ele viveu, pois Ele não se deixou levar pelos valores do mundo.
O SEGUNDO DESVIO cometido pelo homem que vive dentro de uma perspectiva carnal, que avalia a vida apenas "debaixo do Sol", é a:
Preguiça (Ec 4.5)
5 O tolo cruza os braços e come a própria carne, dizendo:
Apesar de ser uma atitude completamente diferente da anterior, a preguiça também é motivada pelo egoísmo e também é capaz de causar opressão.
Esse homem percebe que além do trabalho trazer cansaço ligado ao esforço e alguma competição, ele também traz um sentimento de vazio por trás dos seus resultados, como já percebido pelo pregador. Assim, esse homem, que o texto diz que é um tolo, por amor próprio cruza os seus braços acreditando que essa é a melhor maneira de se ver livre de tudo aquilo que ele entende que tornaria a sua vida difícil e sofrida.
Essa atitude egoísta, não pensa no próximo, nem mesmo nos seus familiares. Ele não pensa no reino de Deus e nem naquelas que poderia abençoar com o fruto do seu trabalho. Ele deixa o próximo, seus filhos e familiares, a igreja e a expansão do evangelho à própria mercê. Tudo isso porque deseja descansar. Para ele seu descanso é sábio e merecido.
O Pregador diz que esse tolo, "como a própria carne". Santos diz que "Essa é, majoritariamente, uma figura de linguagem que pretende dizer que o preguiçoso dissipa e perde todos os seus bens, como se destruísse, por vontade própria ou por necessidade, seu próprio corpo. Mas a consequência física, em muitos casos, é inevitável. Quando o preguiçoso deixa de trabalhar para “aproveitar sua liberdade”, segundo pensa, ele deixa também de obter as coisas necessárias para seu sustento e subsistência, assumindo, muitas vezes, uma aparência de subnutrição mais frequentemente vista entre famintos de guerra que em pessoas que vivem em uma sociedade pacífica e com oportunidades de trabalho" (Locais do Kindle 2121-2126).
Salomão repreende bastante o preguiçoso no seu livro de Provérbios:
Ele é chamado a se levantar da sua preguiça (Pv 6.6)
Ele é exortado a aprender com a formiga (Pv 6.6-8)
Exemplo a ser seguido
Toma iniciativa
É precavida
Ele é alertado a respeito do seu futuro de pobreza (Pv 6.11)
Ele causa dor e lágrimas aos seus senhores (Pv 10.26)
Ele não termina o que começa (Pv 12.27) - ele caça, mas não assa a caça.
Ele ama a preguiça, mas deseja o fruto do trabalho de outros (Pv 13.4)
Ele não toma iniciativa, parece que existem espinhos ao seu redor (Pv 15.19)
Ele vive inventando desculpas para não trabalhar (Pv 20.4; 22.13)
Ele é sábio aos seus próprios olhos (Pv 26.16)
"O amor egoísta que pretende dar a si mesmo apenas descanso, diversão e tranquilidade é um desvio terrível, bem característico de um “tolo”. Santos,(Locais do Kindle 2136-2137).
Em contraposição a esses três desvios do caminho da sabedoria, o do homem que oprime o próximo para ser servido como não deveria e ter o que não teria de forma honesta, outro que mata de trabalhar para ser melhor e ter mais que os outros e, ainda, aquele que se entrega a preguiça, o sábio aponta um caminho excelente, o modo de vida de um homem sábio e equilibrado neste mundo.
6 Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento.
"ao dizer que é bom encher “uma mão de descanso”, a implicação é que a outra mão está se ocupando dos seus deveres laborais. Trata-se apenas da figura de uma pessoa que sabe dosar o trabalho com o descanso, a qual nem vive apenas para o trabalho, com as duas mãos plenamente ocupadas por causa da competitividade movida pela inveja alheia como a do versículo 4 , nem é preguiçosa, de braços cruzados como a do versículo 5 . [96] Em vez disso, o Pregador descreve o quarto tipo de pessoa que não está presa a nenhum dos três desvios causados pelo egoísmo descritos nesse trecho. Na verdade, trata-se de alguém que está no meio do caminho entre aquele que vive para adquirir coisas e o preguiçoso, uma posição muito boa para alguém assumir, mas difícil de manter por causa da inveja e do egoísmo que acometem o ser humano" Santos, (Locais do Kindle 2153-2161).
Quando o homem tem tal fé e visão, ele, como pecador, ainda é atiçado pelo egoísmo, mas sabe que “opressão”, “inveja” e “preguiça” são atos e sentimentos pecaminosos que ele não quer que dirijam sua vida, nem lhe dominem como feitores de um escravo.
Conclusão:
Olhando para as coisas desse modo, com qual tipo de homem você se identificou? Se você se viu em qualquer um dos três primeiros, pare de encontrar desculpas que justifiquem seu desvio e, pela fé, lance-se nos braços e na visão do salvador, tornando-se uma pessoa equilibrada nessa vida e completa na próxima.
Se o homem tolo, carnal, sem Deus, passa por cima dos outros porque pensa que a vida é curta é precisa tomar o maior proveito dela, o homem sábio, espiritual e que possui o Senhor no seu coração sabe que a vida é eterna e precisa amar o próximo e cumprir a vontade de Deus, pois são esses que permanecem para sempre.