Mateus 7.13-23
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 33 viewsCristo adverte os agentes do Reino contra os falsos profetas e seus ensinos que encaminham os que os ouvem à perdição, enganando a muitos, porém, não fazem parte do Reino e nem agem à mando do Pai, sendo por ele julgados e condenados.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Prosseguindo suas exortações, Cristo encaminha-se para a conclusão do seu sermão advertindo seus discípulos quanto a vigilância em relação aos falsos profetas, que pela proposta de um caminho mais "fácil"ou "agradável"os conduziria a perdição. A introdução feita nos verso 13 a 14 encarrega-se de dar o tom apologético da exortação, chamando a atenção para a seriedade do erro que seria dar ouvidos aqueles que, através de ensinos falsos e lisonjas, afastaria os discípulos do Reino dos céus, sugerindo uma ética contrária àquela apresentada por Cristo.
O ponto central da fala de Cristo nesta seção registrada por Mateus é a distinção entre o ensino do Reino que fora pregado por Cristo, e o modus operandi daqueles que, não tendo sido alvos da revelação salvadora do Pai em Cristo, propalam ensinos que aparentemente são agradáveis, e por causa disso, são extremamente perigosos aos discípulos., dando uma falsa ideia de que estão no caminho certo.
É importante relembrar que grande parte do sermão da montanha é dedicado ao combate de Cristo contra os escribas e fariseus, a quem Cristo chama constantemente de hipócritas (cf. 5.20; 6.5; 6.16; 7.5). A síntese desta seção então é a advertência contra os falsos profetas.
Elucidação
Se levarmos em consideração o uso das figuras de linguagem dos versos 13-14 e dos versos 15-19, encontramos uma correspondência entre elas que apontam para um mesmo objetivo da parte de Cristo em as usar, qual seja: um reforço a ideia de que os falsos profetas possuem uma aparência de fidedignidade, mas na verdade, são homens que não estão comprometidos com o Reino dos céus, nem com Cristo, mas propõem doutrinas envoltas em tom agradável, afagando o ego dos que os ouvem com vistas à os enredar em seus falsos ensinos.
Assim, a seção de 13 a 14, onde Cristo usa a figura dos dois caminhos, é uma introdução para toda a tese que será proposta a seguir: o caminho sugerido pelos falsos profetas parece bom, exibindo uma entrada muito atrativa (i.e. uma porta larga e espaçosa), mas seu fim é a destruição e perdição (v. 13). Por outro lado, a vida que conduz a vida, não é tão desejável em termos de aparência quanto a primeira, mas leva a comunhão com Deus por meio de Cristo.
Esse contraste instiga um questionamento implícito: como o agente do Reino distinguirá qual a porta que leva a perdição da que leva a vida eterna? adiantando o questionamento, Mateus conecta esses versos à seção seguinte, quando Cristo clarifica seu ensinamento por meio da metáfora da árvore e seus frutos.
De acordo com o que já fora exposto, os argumentos de Cristo nesta seção são estruturados sobre metáforas que reforçam a imagem que Jesus deseja construir dos falsos profetas.
Os dois caminhos estão diretamente conectados às duas árvores numa posição equivalente e contrastante: a árvore má está para a porta larga assim como a árvore boa para a porta estreita. O primeiro conjunto (porta larga/árvore má) explica a ideia de aparência em relação ao ensino dos falsos mestres, tendo em vista que tais ensinos levam a perdição. Já o segundo conjunto (porta estreita/árvore boa) está ligado aos princípios expostos por Jesus que fazem produzir bons frutos, e por eles o indivíduo demonstra que fora trazido ao Reino e está sendo guiado para a vida.
No caso da primeira metáfora, a ideia será intensificada pelo exemplo que Cristo fornece a seguir nos versos 21 a 23. O Senhor deixa claro que o engodo dos falsos profetas podem levar muitos a crerem que por certos sinais realizados (e.g. profecias e exorcismos) adentraram o Reino. Porém, sinais e profecias não são marcas comprobatórias de um agente do Reino, mas sim seus frutos, outra referência metafórica para boas obras. Ainda que tenham sido capazes de realizar prodígios, muitos haverão que afirmando tê-los realizado, quererão ter acesso ao Reino (v.22). Porém, segundo Cristo, lhes será dito que os sinais não correspondem ao verdadeiro estado espiritual destes; foram enganados e replicaram o ensino dos falsos profetas e por essa razão, são não são agentes do Reino, mas estranhos (v.23).
A construção frasal antagônica entre no verso 21, chama a atenção para o juízo emitido por Cristo ao longo desta exortação, contra os falsos profetas, especialmente como intensificação do alerta feito.
O ponto de contraste consiste naquilo que o Senhor Jesus expõe como sendo o garantidor de acesso ao reino dos céus em oposição a postura daqueles que são falsos profetas ou foram enredados por seus engôdos. Como segue:
"Nem todo o que me diz: "Senhor, Senhor!" entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai [...]".
"Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu não fizemos muitos milagres?".
O ponto divergente exposto por Cristo é a descrição de que as obras que aqueles a quem fora negada a entrada no Reino praticam, não correspondem aquelas obras pertencentes ao conjunto que é nomeado pelo próprio Senhor de "a vontade de meu Pai". A repetição da expressão vocativa "Κύριε" (gr. Senhor!) faz a conexão antagônica entre as duas posturas: apesar de estar sendo evocado como "Senhor", isto é, como aquele em nome de quem realizaram tais obras, o fato é que estes não pertencem a Deus ou, nas palavras de Cristo, ele "não as conhece" (v.23).
Esse argumento unido ao fato de a exortação estar sendo dirigida como alerta contra falsos profetas resulta na compreensão que afirmamos anteriormente: ou esses indivíduos são falsos profetas, ou foram enganados por eles, dando ouvidos aos seus ensinos. É válido notar que mediante a situação a que Cristo se refere, isto é, o dia do juízo, as obras não são contestadas ou questionadas quanto ao porque de estarem sendo atribuídas a Cristo, pois o foco não são as obras, mas quem as pratica. Embora tenham realizado inúmeros prodígios, eles não possuem qualquer vínculo com o Reino, e portanto, não foram salvos pelo Pai através do Filho mediante o poder e obra do Espírito Santo.
Mediante a argumentação de Cristo conforme registrada por Mateus, o ponto em questão não é somente uma advertência a não ouvir os falsos profetas, cujo ensino é lisonjeiro e agradável aos ouvidos, mas demonstrar o caráter estranho destes indivíduos e sua impossibilidade de mudar de estado, o que pode ser percebido através de dois fatores: o termo grego usado por Mateus para a ideia do como os caminhos largo e estreito conduzem inalteravelmente a um destino, e mais uma vez por meio da metáfora com as árvores.
O registro evangélico das palavra de Cristo foi cuidadosamente exposto por Mateus de maneira a apontar para como o estado espiritual dos falsos profetas é irreversível, o termo conduz (e.g. "apertado é o caminho que 'conduz' para a vida" (v.14)), possui como significado a ideia de "levar à força, conduzir", especialmente em referência àqueles que são levados à julgamento, prisão, ou castigo" (STRONG, 2002). Os que enveredam-se pelo caminho de falsos ensinos, trilham-no irremediavelmente para sua condenação, o que também é dito daqueles que percorrem o caminho apertado que dá para a vida.
Da mesma forma, a árvore não pode dar frutos diferentes daquele correspondente à sua espécie, nem os falsos profetas podem esconder sua condição de tal forma que legitimem seus ensinos através de frutos (i.e. boas obras) dignos ou condizentes com o Reino dos céus. Assim a advertência de que eles vêm travestidos de ovelhas tem também uma dupla razão de ser: tanto se assemelham a verdadeiros pastores, e por isso se deve ter cautela quanto a eles, quanto não podem negar sua natureza, apenas mudam o exterior, mas por dentro, são pérfidos e roubadores (v.15). Porém, assim como tem feito em seções anteriores ao julgar os hipócritas, Cristo emite a senteça que pesa sobre os falsos profetas: "toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo" (v.19).
Transição
O texto de Mateus 7.13-23 configura-se numa conclusão iniciada por Cristo, onde retoma os tópicos abordados anteriormente em seu sermão, culminando numa advertência latente aos seus discípulos: não ouçam os falsos mestres, cujo caminho termina em perdição e para lá levarão todos quantos não atentam para as minhas palavras (v.14).
Porém, essa advertência é elaborada de tal forma, que alguns outros princípios ficam evidentes como aplicações do texto para nossas vidas.
Aplicação
1. Que tipo de evangelho temos seguido?
A jornada cristã é a mais gloriosa peregrinação que alguém pode empreender, pois culmina na vida eterna com Deus. Entretanto, enquanto neste mundo, é também o percurso mais penoso que alguém poderia trilhar. As lutas e dificuldades de conviver em mundo corrompido tornam cada passo do caminho à Cristo um desafio enorme, que seria impossível de percorrer sem o poder do Espírito Santo.
Por outro lado, o ensino dos falsos profetas é sempre muito agradável. Martin Lloyde-Jones, revela o caráter dos falsos profetas conforme esta exortação de Cristo, da seguinte maneira:
O falso profeta é um indivíduo que se aproxima de nós, dando-nos a impressão inicial de ser tudo quanto seria desejável em alguém. Ele é gentil, agradável e obsequioso. Parece ser um bom crente, e também parece dizer as coisas certas. O seu ensinamento, de modo geral, é bastante equilibrado, e ele emprega muitos vocábulos que deveriam ser usados e empregados por qualquer verdadeiro mestre cristão. Ele fala acerca de Deus, acerca de Jesus Cristo e acerca da cruz; ele enfatiza o amor de Deus, ele parece dizer tudo quanto um crente autêntico deveria dizer. É óbvio que um homem assim disfarça-se de ovelha, e a sua maneira de viver aparentemente corresponde à maneira de viver de uma ovelha. Por isso mesmo, ninguém suspeita que haja qualquer coisa de errado com tal homem; nada existe que imediatamente nos atraia a atenção para ele ou nos desperte as suspeitas, nada existe nele que seja flagrantemente errado. O que há de errado no ensino deles? A maneira mais conveniente de se fornecer resposta a essas perguntas consiste em dizer que no ensino ministrado por eles não há o elemento da “porta estreita”, nem há o “caminho apertado”. Até onde vai, esse ensino parece bom, mas não inclui nenhum desses aspectos. Trata-se, pois, de um falso ensino, cuja falsidade deve ser detectada por meio daquilo que não declara, muito mais do que por intermédio daquilo que realmente diz. E é precisamente quanto a isso que podemos perceber a sutileza da situação (LLOYDE-JONES, 2018, posição kindle 11811, 11819 de 13870).
Sem o discernimento dado por Cristo, seríamos facilmente fisgados pelas lisonjas de homens condenados, que pregam na verdade o evangelho dos homens a invés do evangelho do Reino de Deus.
A Palavra de Deus nos confronta, nos tira da nossa "zona de conforto", nos faz ver claramente nossas falhas, pecados e transgressões, e nos aponta para a única solução: Cristo Jesus. Por outro lado, o ensino dos falsos profetas é agradabilíssimo de ouvir, pois afaga nosso ego, massageia nosso orgulho. Falam o que queremos ouvir, e por isso é tão popular. Esse tão espaçoso e atrativo caminho tem sido e será a ruína de todos aqueles a quem fora vetado o conhecimento de Cristo e a entrada no Reino.
Mas, como distinguir o falso do verdadeiro? como diferenciar a estrada da perdição do caminho da vida? Esse questionamento nos leva a nossa segunda aplicação.
2. Devemos buscar em Deus o discernimento para que reconheçamos sua palavra.
Como você sabe que o que estou dizendo é verdade? Minhas palavras bonitas? frases de efeito? cordialidade? como você pode ter certeza de que não sou um falso profeta? a única resposta possível não pode ser dada à luz do seu achismo, mas sim, mediante um exame criterioso que comparará o que tem sido dito à verdade das Escrituras, aliado também a uma vida que de fato propõe ser verdade o evangelho.
É estranho saber que muitos crentes que congregam em igrejas sérias, põem um copo com água em cima do televisor em determinado dia da semana para receberem a "bênção" de um "bispo", ou que participam de campanhas financeiras do ministério tal ou tal por simplesmente serem levados pela maré mística em que caem muitos de que por meio dessas cosias obterão bênçãos da parte de Deus.
Os falsos profetas e mestres do nosso tempo serão julgados e condenados por Cristo, como ele promete nos versos 19 e 23, porém, junto com estes irão todos os que lhe deram ouvidos. Crentes genuínos, nascidos do Alto, e que foram feitos agentes do Reino não podem relegar o estudo da Palavra de Deus apenas para o momento da pregação no domingo, ou para a Escola Bíblica ou ainda para a reunião de estudo bíblico e doutrina. É nosso dever enquanto crentes, conhecermos as palavras de nosso SENHOR, a fim de não sermos capturados pelas armadilhas dos falsos profetas.
Mesmo que sinais sejam feitos, milagres sejam efeituados, nada disso importa se o verdadeiro Evangelho não está sendo ensinado. Satanás tem seus artifícios e enganarão a todos os que não têm a Palavra da verdade cravada em seus corações.
Por isso, ouçamos a ordenança que nosso SENHOR nos deixou: acautelai-vos dos falsos profetas! Cresçamos na graça e no conhecimento de Cristo, fazendo a vontade do Pai que está nos céus, por meio da obra do Espírito Santo, que nos torna ovelhas capazes de reconhecer a voz do Supremo Pastor, discernindo-a do uivo dos lobos roubadores do nosso tempo.
Conclusão
A ênfase de Jesus em proteger seu povo de falsos mestres, demonstra seu amor e zelo em que seu povo viva por modo digno do evangelho, desfrutando de todas as bênção da salvação que ele proporcionou para nós, não de maneira fingida, como o caminho proposto pelos falsos profetas, que termina em ruína e perdição. Ainda que nesse mundo tenhamos de trilhar um caminho apertado e espinhoso, é final da jornada que nos encoraja a suportar as dores e tribulações, sabendo que o que nos aguarda é a vida eterna ao lado do Supremo e Bom Pastor: Cristo Jesus.