Somos todos filhos de Deus?
A célebre pergunta de Shakespeare, “Ser ou não ser, eis a questão”, pode ser aproveitada aqui. Visto que muitos dizem por aí, desde muito tempo, que “todos somos filhos de Deus”. Talvez em um sentido criativo essa afirmação possa ser verdadeira, mas será que em um sentido especial, redentivo, todos podem se considerar filhos de Deus? As escrituras vão colocar isso como um não bem grande.
Quando lemos João 1.11-13 temos: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” Nestes três versículos encontramos a descrição de uma filiação com Deus adquirida, ou seja, por meio da adoção. Este processo de adoção acontece no momento que a pessoa recebe a Jesus como Cristo, como Filho de Deus. Então Jesus lhe concede poder para se tornarem filhos de Deus.
Se tornar indica que a pessoa não era filho e no momento em que crêr em Jesus passar adquirir essa filiação por meio de Jesus. Este é um processo que não pode ser fabricado, pois não é pela vontade humana, não é sanguínio, ou seja, não pode ser adquirido por meio natural, de descendência. Nem outra pessoa pode executar esse processo a não ser o próprio Deus, por intermédio da fé.
A palavra grega para filho é “huios”, “que significa primariamente a relação de descendência ao pai. Já o apóstolo João usa o termo “teknon”, que traduzido é “criança”, “filho”, para aludir ao crente. Portanto a conduta que portam deve dar evidências da dignidade de relação e semelhança que o cristão tem do caráter de Deus”. (Dicionário Vine, p. 657)
Nas Escrituras, quando alguém se torna filho de Deus, ele experimenta uma nova criação que indica um novo relacionamento com Deus (2Co 5.17; Gl 6.15). Esta nova criação é criada agora segundo a imagem e semelhança do caráter divino; passando este a ser herdeiro de Deus e coerdeiros com Cristo (Rm 8.17).
Um filho mostra características peculiares e evidentes da natureza de seu pai. Ser um filho de Deus, não é ser apenas de língua, mas sim de fato e de verdade. Portanto, não adianta dizer “sou filho de Deus”, como os atenienses diziam (At. 17.28-29), mas mostrar através de atitudes e palavras que tal afirmação é verdadeira, porque é pelas obras de fé que realizamos no nome de Jesus, que Deus é glorificado pelos homens (Mt 5.16).
Então a outra grande pergunta é quando somos filhos de Deus? Em João 1.12 indica que é quando recebemos Jesus. E receber a Cristo significa confessá-lo como Senhor e crer que Deus o ressuscitou dentre os mortos (Rm 10.9). A partir de tal confissão, pela fé, somos adotados por Deus como filhos (Rm 8.15, 23: 9.4; Gl 4.5: Ef 1.5). A palavra adoção, considerada literalmente, significa colocar na posição de filho. Adoção é o ato pelo qual Deus recebe como filho, alguém que, legal e espiritualmente, não desfruta do direito de tê-lo como Pai. Portanto, tal adoção só se concretiza após o ato de reconciliação e arrependimento do pecador que se chega a Deus. E a única maneira de se receber a Cristo é pela fé. Porquanto a Escritura diz: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” (1Jo 5.1) e isto mediante a fé (Gl 3.26).
A terceira grande pergunta é: O que evidencia essa filiação, quais as características de um filho de Deus?
A primeira que eu encontro é esta: Ser livre da prática do pecado. Pois quando lemos Jo 8.34-36 encontramos: “Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”
Os judeus daquela época não entenderam o que era ser livre. Eles achavam que ser livre era não estar debaixo de nenhuma mão opressora, era poder ir e vir e fazer o que quisessem sem que ninguém os obrigasse a nada. Mas Jesus não falava de uma liberdade física e humana, e sim de uma liberdade espiritual que só pode ser obtida mediante a fé nEle. Os homens são escravos do pecado enquanto o Filho não os libertar, porque, enquanto Jesus não os libertar, eles vivem cometendo pecado sobre pecado.
Ser escravo do pecado é ser atado à servidão do pecado como um instrumento do pecado; é estar disposto a fazer o que o pecado exige; é estar dominado por ele, porquanto, de quem alguém é vencido do tal faz-se também escravo (2Pe 2.19).
Então só há um meio de ser livre desta escravidão. Somente por meio de Jesus Cristo, porquanto a Escritura afirma em Colossenses 1.13-14: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.”
Vemos nestes versículos que ele nos libertou do poder do pecado, pois como diz a Escritura: “o pecado não terá mais domínio sobre vós, pois não estais mais debaixo da lei e sim da graça” (Rm 6.14).
No ato da vida e morte de Cristo, a partir do momento que cremos, fomos transferidos por Deus do nosso estado pecaminoso para a verdadeira comunhão com ele, fazendo parte do seu reino através da redenção, i.e., através do resgate que foi pago pelo sangue de Jesus, a fim de nos libertar dos pecados. Por isso, Cristo nos libertou dos nossos pecados pelo seu sangue (Ap 1.5), ou seja, foi o sacrificio que Ele fez na cruz que nos proporcionou esta liberdade.
Todavia, o que é pecado? Pecado é toda “maldade moral; transgressão ou rebelião contra as leis de Deus; perversão do coração” (BEAP). João definiu o pecado como iniquidade (1Jo 3.4). A iniquidade vem do grego anomia, que é ilegalidade, i.e., a violação da lei, a pratica da injustiça ou, transgressão da vontade de Deus, seja por deixar de fazer o que Ele exige em sua Palavra (pecado de omissão), ou por fazer o que ele proíbe (pecado de comissão). A palavra “pecado” traz a conotação de “errar o alvo”. Na definição teológica, pecado é a transgressão voluntária e espontânea das leis estabelecidas por Deus.
Enfim, pecado é um mal que está na mente e na vida dos homens. É uma doença hereditária, deixada por Adão e Eva (Rm 3.23). É uma ofensa grave contra Deus, que pode ser erradicada da vida de qualquer pessoa pela graça redentora revelada por meio de Jesus Cristo.
Paulo certa vez escreveu aos coríntios: “O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei” (1Co 15.56). Em outras palavras ele poderia ter dito: “O ferrão da morte é o pecado e o pecado encontra força na lei”. Porquanto, o pecado torna-se conhecido por intermédio da lei, pois só se sabe que é pecado quando a lei proíbe ou exige. Pois não se saberia que a cobiça é pecado se a lei não dissesse: “Não cobiçarás” (Rm 7.7).
A lei mosaica é ineficaz em manter o indivíduo livre do pecado, mas já a lei de Cristo, mediante o poder do Espírito, mantém o cristão como dominador e não como escravo. Este domínio é mantido quando o cristão anda em comunhão com o Espírito Santo, andando segundo a sua vontade (Gl 5.16). É desta maneira que não viverá controlado pelo pecado, quando for controlodo pelo Espírito.
Paulo também escreveu que não é porque estamos debaixo da graça, que devemos viver no pecado, porquanto, muitos interpretam Rm 5.20 erroneamente para justificar a heresia de que quanto mais pecamos, mais Deus é gracioso para conosco. Os tais desconhecem o contexto do versículo em questão que é Romanos 5.12-21. No contexto vemos que Paulo, na verdade, diferenciava Adão de Cristo em suas respectivas vidas, mostrando assim que, onde abundou o pecado de Adão, superabundou à graça por meio de Jesus Cristo, trazendo salvação a todos os que nele creem.
- Por isso é que também está escrito:
Rm 6.1-2: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”.
- E ainda...
Rm 6.12: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçam as suas paixões”.
Então, se morrermos para o pecado, logo o pecado não tem poder sobre as nossas vidas. É como se diz: a lei só tem poder sobre os vivos. Portanto, a lei do pecado que conduz a morte não tem poder sobre nós, os que morreram com Cristo.
Mas será que não pecamos? Sim, pecamos, porquanto está escrito:
1Jo 1.8, 10: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
O pecado deve ser apenas um acidente na vida do cristão e não um hábito. O pecado é real, e precisa ser confessado para que se obtenha o perdão (1Jo 1.9). Embora que, a pessoa que confessa a Jesus seja livre do pecado, isto não quer dizer que ela não venha pecar, mas, sim que, o pecado não a domina, ou seja, o pecado não permanece na sua vida como seu senhor.
Por isso que João também escreveu:
1Jo 2.1: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”;
Observe que João escreveu “para que não pequeis”, ou seja, para que não vivais a obedecer ao pecado. E atente também que ele usou a expressão “se, todavia”. Esta expressão poderia ser substituída por “se, por acaso” ou “se, casualmente” ou “se, acidentalmente” alguém pecar, temos a Jesus como defensor que nos justificará diante de Deus. Isto mostra claramente que o pecado ocorre na vida do crente por um descuido que este vier a ter e não pela força do hábito.
A vista disso o escritor de Hebreus também registrou:
Hb 10.26: “Porque se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifícios pelos pecados”.
A palavra “deliberadamente” tem por sinônimos “conformadamente” e “resolvidamente”, portanto, se o cristão depois de tiver confessado a Cristo, for batizado em águas e no Espírito, ainda viver na escravidão do pecado, para ele o sacrifício de Cristo foi invalidado. Pois foi para isto que Jesus veio ao mundo e por fim morreu numa cruz ressuscitando ao terceiro dia e recebido na Glória, como está escrito:
1Jo 3.5-6: “Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe pecado. Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu”.
- Observe que a vinda de Jesus a este mundo foi para tirar os pecados – “ele se manifestou para tirar os pecados”. É como se diz: Estamos no mundo, mas o mundo não está em nós. Estamos no corpo do pecado, mas o pecado não nos domina. Pelo contrário, o Espírito é que o denomina pela fé que temos no nome do Senhor Jesus Cristo, pois mediante o seu sacrifício vicário na cruz fomos libertados do império das trevas e transportados para o seu reino santo e glorioso (Cl 1.13).
Consequentemente João deixa bem claro quando escreveu:
1João 3.8-9: “Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente, ora esse não pode viver pecando porque é nascido de Deus”.
- Os filhos do diabo são totalmente, moralmente diferentes dos filhos de Deus. Os filhos do diabo vivem pecando e acham normal e natural pecar. O diabo peca desde o princípio (Is 14.12-15; Ez 28.12-19; Jo 8.44), porque jamais se firmou na verdade. Mas Jesus se manifestou para destruir (extirpar) as obras que o diabo fez e faz, para que, através dele, os homens fossem livres da escravidão do pecado e o servissem em novidade de vida (1Jo 3.8). A divina semente que permanece dentro dos que creem é a palavra de Deus que foi semeada pela pregação do Evangelho (Mt 13.1-9, 18-23), por isso é que o salmista escreveu:
Salmo 119.11: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti”. i.e., para não viver mais habituadamente pecando.
Por fim, “sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado, antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não lhe toca”. (1Jo 5.18). A nossa obediência vem do Senhor Jesus que nos guarda e que nos mantem firmes em sua presença, pois “assim como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram transgressores, agora também pela obediência de um só muitos se fizeram justo” (Rm 5.19).
A segunda característica de um filho de Deus é o amor que este demonstra para com seu próximo. Pois assim lemos nas Escrituras:
1João 4.7: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”.
- Amor fraternal é o amor que temos para com os irmãos; é o amor mútuo dos cristãos, por serem todos filhos do mesmo Pai em um sentido especial, não em um sentido natural como já vimos.
Jesus certa vez disse a seus discípulos:
Jo 13.34-35: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, também que vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.
Observe que Jesus disse: “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos”. Uma característica que evidência o novo nascimento, a filiação de um cristão com Deus é o amor fraternal. Amor este que não se resume a palavras, mas que, verdadeiramente se mostra por atitudes, de fato e de verdade.
Pois assim João já registrara:
1João 3.18: “Filhinhos, não amemos de palavras, nem de língua, mas de fato e de verdade”.
As palavras podem dizer muita coisa, mas poucas coisas demonstram, visto que, as atitudes mostram verdadeiramente se o que dizemos é a verdade sobre o que sentimos. Porque, dizer que amamos é muito fácil, porquanto, qualquer pessoa diz. Mas, no entanto, demonstrar através de ações que expressem esse amor, somente os que verdadeiramente amam.
Por conseguinte João continua:
1Jo 4.20: “Se alguém disser: amo a Deus, e odiar a seu irmão é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê”.
1Jo 3.15: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si”.
É impossível alguém amar a Deus sem amar o seu irmão. João deu um enfoque muito grande na questão do amor fraternal, e mostrou a importância extrema e evidente deste amor estar presente na vida dos filhos de Deus.
O que caracteriza uma pessoa como filho de Deus é o que ela demonstra em sua vida diária. Se a maneira de uma pessoa viver condiz com o ensino apregoado no evangelho é um testemunho evidente da sua filiação com o Senhor. João chamou de assassino, àqueles que odiassem a seu irmão, mostrando assim a gravidade deste erro. É impossível que alguém que tenha qualquer sentimento de rancor, ódio, ira, ciúmes e rivalidades de seu irmão e tenha a salvação de Cristo Jesus em sua vida.
Portanto, como escreveu João: “Amemo-nos uns aos outros porque este amor procede de Deus e não do mundo” (1Jo 4.7).
Precisamos refletir seriamente nisto: “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). Pois estar disposto a dar a vida, é estar disposto a dar o seu melhor em prol daqueles que precisam de você.
O terceiro aspecto da filiação é a vitória sobre o mundo. E isto pode ser visto em:
1Jo 5.4: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo; a nossa fé”.
Vencer o mundo implica dizer, superar as tentações do mundo através da força e do poder do Espírito, mediante a Santa e Infalível, Palavra de Deus. Porquanto, João já escrevera:
1Jo 2.15-16: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele; porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procedem do Pai, mas do mundo”.
Os verdadeiros filhos de Deus vencem o mundanismo através da fé em Jesus Cristo, de modo que, não vivem mais movidos pelas suas concupiscências, e nem pela sua soberba.
A concupiscência é um desejo forte e desenfreado pelo que é proibido; é a luxuria carnal, as quais, o cristão pode resistir e vencer através do poder do Espírito Santo.
Por isso, a carne com suas paixões e concupiscências, devem ser crucificadas, como está escrito:
Gl 5.24: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências”.
Por esse motivo, devemos ter a convicção que Paulo teve quando escreveu:
Gl 6.14b: “o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo”.
O mundo só execerá domínio sobre aqueles que ainda vivem para ele, mas os que já morreram e estão vivos diante de Deus não sucumbirão as suas paixões e desejos.
A quarta evidência que vejo é ser guiado pelo Espírito Santo. Como claramente pode ser lido em:
Rm 8.14: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”.
Ser guiado é ser orientado, dirigido, conduzido. Portanto, o Espírito Santo é quem guia os filhos de Deus a verdade (Jo 16.13), por isso vivem praticando a verdade, que é a Palavra de Deus (Jo 17.17). E todo aquele que é guiado pelo Espírito da verdade, não vive debaixo da lei (Gl 5.18), antes produz os frutos do Espírito (Gl 5.22-23). Visto que, não recebemos o espírito de escravidão, para vivermos outra vez atemorizados, mas recebemos o espírito de adoção baseados no qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8.15).
Sendo assim, “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). Isto significa que sabemos através dele que, “se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17). Somos herdeiros das promessas, das bênçãos de Deus e herdeiros juntamente com Cristo do seu reino e glória para sempre. Amém.
Então, aqueles que são guiados pelo Espírito vivem segundo a vontade do Espírito, obedecendo tudo consoante à Palavra de Cristo, pois é desta forma que mostramos sermos herdeiros de Deus e filhos de Deus. Lembrando que esta não é uma capacidade nossa, mas sim adquirida.
A quinta característica mostra que os filho de Deus são Irrepreensíveis, sinceros e inculpáveis.
Fp 2.14-16a: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos tonéis irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida”.
Um verdadeiro filho de Deus não vive murmurando. Murmuração é uma conversa maldosa e perniciosa cujo objetivo é prejudicar ou destruir outra pessoa. É reclamar excessivamente.
Um autêntico filho de Deus, também não contende (2Tm 2.24-26), ou seja, não vive em discussões, disputas e controvérsias com outras pessoas. É irrepreensível, ou seja, não há nada na sua vida que comprometa a sua moral e o seu caráte além de ser sincero, não propagando mentiras, antes fala somente a verdade; pois ainda é inculpável, em outras palavras, não há nada em suas atitudes e palavras que o torne transgressor da Palavra de Deus pois é como um luzeiro no mundo (Mt 5.14-16), ou seja, o seu testemunho de vida é um exemplo para todos quanto vivam na perversão e na corrupção do pecado.
Além disso é um preservador da palavra da vida, não distorcendo e nem deturpando aquilo que está exarado na Bíblia, mas, entretanto, mantém as tradições que foram ensinadas em forma de doutrina (2Ts 2.15), conservando assim os padrões (1Tm 4.12) e valores bíblicos autênticos, mantendo a identidade de um cristão verdadeiro que não se deixa dobrar pelas obras da carne e nem as do diabo, nem se contamina com este mundo, mas, antes, permanece firme e inabalável sobre o verdadeiro fundamento que é Jesus Cristo, sendo um apologista fiel da fé.
A sexta evidência mostra alguém que é pacificador.
Mt 5.9: “Bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.
Uma pessoa que nasceu de Deus deve viver em paz, se possível com todos (Rm 12.18; 2Co 13.11; Hb 12.14), porquanto, Deus tem nos chamado para vivermos em paz (1Co 7.15a).
Jesus disse:
João 14.27: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.
Jesus mesmo nos deixou a paz, paz esta que difere da do mundo, pois a paz que o mundo dá é incerta e passageira, porém a paz que Jesus dá garante tranquilidade até mesmo diante das intempéries da vida. Esta paz excede todo entendimento humano (Fp 4.7), pois por meios humanos não se pode explicá-la. A paz vem da certeza de que o Senhor está conosco em todo o tempo das nossas vidas.
Ainda temos a sétima caractérística que é o amor e a oração pelos inimigos e perseguidores. Talvez este seja a que menos desejamos possuir. Observe:
Mt 5.44, 45: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos de vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”.
Veja que, a expressão “para que”, refere-se a uma condição evidente da filiação de alguém com Deus. Para tornar-se um filho de Deus autêntico é preciso demonstrar até mesmo amor pelos inimigos, tomando uma atitude de orar por aqueles que nos perseguem. Esta é uma condição difícil para aqueles que não possuem o Espírito Santo em suas vidas, Espírito este que é capaz de modificar toda a estrutura de um homem pecador e arrogante, em um homem cheio de amor, paz, paciência, humildade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23). Portanto, esta não é uma característica impossível de ser evidenciada, visto que, é o Espírito Santo que faz com que estas características apareçam na vida dos que entregaram e confiaram suas almas a Cristo e guardam a sua confissão da salvação. Porquanto, ser um filho de Deus é fazer o bem a quem quer que seja e principalmente aos da família da fé (Gl 6.10).
Conclusão
Entendemos que todo aquele que é filho de Deus tem que apresentar estas características essenciais e necessárias na sua vida, evidenciando assim a sua filiação com Deus por meio da adoção. Viver em santidade, livre da escravidão do pecado, detestando o mal, não praticando a prostituição, a impureza, a sensualidade, a idolatria, as feitiçarias, as inimizades, as discussões e disputas. Também evitando os ciúmes, as iras, as discórdias, as divergências, as divisões, as invejas, as bebedices, as glutonarias, o homossexualismo e coisas semelhantes. Não vivendo em hipocrisia, vencendo o mundo pela fé, vencendo as tentações e as concupiscências, sendo guiado pelo Espírito Santo, não negligenciando a obra de Deus, vivendo uma vida regrada, salva, livre do pecado, irrepreensível, sincera, inculpável, sendo um referencial de humildade, santidade e comunhão com Deus, com a sua Palavra e com a sua Igreja, são distinguibilidades de um autêntico filho do Deus Altíssimo.
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e de fato somos filhos de Deus. Por essa razão o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo”. (1Jo 3.1)
Bibliografia
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