Mateus 8.23-27

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor narra a demonstração de Cristo como senhor sobre a criação, acalmando a tempestade, fortalecendo a fé dos agentes do Reino fazendo-os confiar plenamente nele.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Após ter estruturado um parêntese na narrativa, a fim de exortar seus ouvintes/leitores quanto aos custos do discípulo, Mateus retorna ao ponto central desta seção de seu evangelho enfatizando a autoridade de Cristo e de seu Reino, listando novamente alguns milagres e sinais realizados pelo Senhor, a fim de confirmar seu messiado.
Na sequência da narrativa, o autor destaca os fatos que demonstram o poder de Jesus sobre a própria criação, ao acalmar uma tempestade. Levando em consideração as narrativas anteriores, é notável que a intenção do evangelista é progredir sua temática enfatizando aspectos cada vez maiores da autoridade do Reino em Cristo. Assim, a cada novo episódio em que são expostos os milagres que o Senhor Jesus está realizando, mais ampla se torna a visão dos ouvintes/leitores sobre a identidade e caráter do Reino dos céus inaugurado na pessoa de Cristo.
Dessa forma, a ideia central que envolve a seção de Mateus 8.23-27 é a autoridade de Cristo sobre a criação.
Elucidação
De acordo com a estrutura que Mateus vem construindo até este ponto de seu evangelho, sua intenção consiste em exortar todos aqueles que terão contato com seu texto sobre a inequívoca identidade de Cristo, para que a partir dessa compreensão possam ter assegurada sua fé, isto é, tendo em vista que o público para quem Mateus está escrevendo era um misto de judeus e gentios, a didática do autor então é elaborada de modo a expor as evidências que apontam para Cristo como sendo o messias enviado da parte do Pai para publicar seu Reino neste mundo, promovendo a salvação de seus eleitos.
Entretanto, tal imagem vai sendo aos poucos substanciada com informações cuidadosamente destacadas, de modo que não somente percebam tais verdade, mas que por meio delas sejam pastoreados e exortados a continuarem suportando quaisquer lutas e perseguições que estejam enfrentando, pois, como agentes do Reino, nada há que possa reverter ou anular sua posição diante do SENHOR.
Os milagres realizados por Jesus, tal como demonstrado, constroem a imagem do Senhor como o Rei prometido. O arranjo feito por cada evangelista ao demonstrar os sinais realizados, dedica-se a expor verdades específicas, levando em consideração o público para o qual escrevem e o objetivo de seu escrito.
No caso de Mateus, como já analisado, os milagres anteriores exibem o poder de Cristo sobre as enfermidades, sendo ele o Servo do SENHOR, enviado para carregar as enfermidades e doenças de seu povo, uma clara referência a obra redentiva que cura o maior de todos os males dos eleitos de Deus: o pecado.
Da mesma forma, o milagre que ocorre nesta seção, elucida a posição de Cristo sobre a criação, sendo Senhor sobre a mesma: somente aquele que a domina, a pode repreender, subjulgando-a à sua vontade. Assim, Cristo é não somente o servo sofredor, humilhado devido sua obra excruciante de purificação de seu povo, é também o Rei, que detém o cetro de governo sobre tudo e todos.
Frente agito do mar e das violentas ondas que inundam o barco, os discípulo mostram que sua fé e frágil. Mesmo tendo visto os sinais de cura que Jesus executou, parecem não ter noção da extensão do poder do Mestre.
Por outro lado, a expressão usada por Cristo para referir-se aos discípulos que o acordaram por estarem desesperados, é usada por Mateus como um contraste com o momento em que eles observam o poder e a autoridade de Cristo acalmando a tempestade. A timidez (gr. "δειλοί" (adj) = "medroso") dá lugar ao êxtase ou maravilha (gr. "ἐθαύμασαν" (verbo) = maravilharam-se).
Essa mudança no estado dos discípulos conecta-se a intenção do autor em termos do impacto que deseja causar em sua audiência. Diante de uma tempestade, quando todos estão temerosos por suas vidas, o Senhor lhe demonstra que possuí autoridade até mesmo sobre a criação, o que causa espanto nos discípulo; , pois como tido, eles não tinham compreendido ainda a vastidão do poder de Jesus. Da mesma forma, Mateus está usando este relato para expor aos irmãos em Roma, que aquele em depositaram sua fé, reconhecendo-o como o Filho de Deus, é o Senhor que reina sobre todas as coisas, e assim, todo o medo que possam sentir é dissipado por essa revelação, assim como aconteceu com os doze no barco.
Os paralelos à passagem de Mateus 8.23-27 em Lucas e Marcos propõem objetivos diferentes, porém todas enfatizam o mesmo ponto. Em Marcos, a partir do final do capítulo 4, a sequências de eventos também sugerem que o foco do autor é demonstrar o senhorio e autoridade de Cristo sobre elementos específicos que clarificam sua identidade como o Filho de Deus.
Após uma sequência de parábolas, Marcos começa a traçar o percurso didático que encaminha a atenção dos ouvintes/leitores a entenderem que Cristo é aquele que promove o Reino dos céus, possuindo autoridade sobre a criação (Mc 4.35-41); sobre os demônios (5.1-20), enfermidades (5.21-34), e por fim sobre a própria morte (5.35-43).
Tendo intenção parecida, Lucas narra o evento da tempestade logo após Cristo ter se identificado com todo "aquele que ouve a palavra de Deus e a pratica" (Lc 8.21). A ênfase de Lucas é aproximar seus leitores de Cristo, fazendo-os perceber a poderosa ligação entre os que pela fé foram salvos e fazem parte do Reino com o próprio Jesus.
Assim, o foco central da passagem em que Cristo acalma a tempestade é expor a realidade perene de Cristo ter poder sobre os elementos da natureza, o que é informação mais do que suficiente para que os agentes do Reino o sigam confiantes e a nada temam.
Transição
Mateus 8.23-27 registra a exortação franca à confiança na autoridade de Cristo sobre todas as cosias, incluindo a própria criação. O argumento do autor chama a atenção para que os agentes do Reino observem que, se o Messias tem autoridade sobre a própria natureza, não serão os infortúnios que porventura poderão sofrer nesse mundo, originados inclusive pelas perseguições e afrontas que sofrem por servirem a Cristo, que os vencerá.
A partir disso, o princípios direto do texto para nossa vida, coaduna-se ao objetivo da passagem. Qual seja: somos encorajados e fortalecidos pela autoridade de Cristo sobre a criação.
Aplicação
Somos encorajados pelo reconhecimento da autoridade de Cristo sobre a criação.
Ao verem os ventos e as ondas dobrarem-se perante Jesus, os discípulos perguntam: Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem? (v. 27). Certamente a única resposta possível para essa pergunta, é exatamente aquela tencionada pelo evangelista para consolar o coração de seus ouvintes/leitores, quanto a identidade do Messias.
Entretanto, a fragilidade de nossa fé, muitas vezes nos impede de contemplar com clareza essa verdade. J. C. Ryle, comentando a passagem em questão, salienta a pequenez de nossa fé e o conforto registrado por Mateus recebido por aqueles que descansam, sabendo que Cristo controla todas as coisas, nas seguintes palavras:
Temos aqui um retrato bastante nítido do coração de milhares de crentes! Há tantos que, mesmo possuindo fé e amor suficientes para abandonar tudo por causa de Cristo, e segui-lo aonde quer que vá, ainda assim, estão cheios de temor na hora da provação! Quantos têm graça suficiente para se voltar a Jesus em cada dificuldade, clamando: “Senhor, salva-nos”, e ainda não têm graça suficiente para ficar quietos na hora difícil e confiar que tudo está bem? Verdadeiramente, o crente tem razão de estar sempre cingido de humildade (1Pe 5.5). Que a oração: “Senhor, aumenta-nos a fé”, sempre faça parte de nossas petições diárias. Talvez nunca venhamos a conhecer a fraqueza de nossa fé enquanto não formos postos na fornalha da tribulação e da ansiedade (RYLE, 2018, p.86).
Tendo controlado as doenças e enfermidades como o servo sofredor, Mateus emparelha a imagem de Cristo, à do Rei enviado por Deus, que será reconhecido por todos, quando retornar em sua glória no dia final. O servo humilhado que nos cura através de seu sacrifício, é o Rei majestoso, que nos guia para as águas tranquilas de seu reino eterno; é essa é a imagem que Mateus transmite aos agentes do Reino. Certamente, aquele que governa absoluto sobre a criação, estabeleceu seu trono acima dos perseguidores e detratores da igreja, donde socorrerá seu povo, acalmando as tempestades.
Conclusão
William Cowper, exprime em um poema a convicção que os discípulos de Cristo devem ter, mediante a fé em seu controle soberano sobre todas as coisas:
Deus tem um modo misterioso
De suas maravilhas realizar;
Ele traça seus caminhos no mar
Para a tormenta cavalgar.
Tomem alento, santos temerosos:
As nuvens que tanto lhes metem medo Transbordam misericórdia
E derramarão bênçãos sobre suas cabeças (HENDRIKSEN, 2010, p.509).
As tempestades que enfrentamos nessa vida, são meios através dos quais o Senhor aumenta nossa fé.
Cristo triunfa!
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