Teologia da Alegria - 1
Estudo do livro Teologia da Alegria, do Piper.
A Felicidade de Deus
Você consegue imaginar como seria se o Deus que governa o mundo não fosse feliz? Como seria se Deus tivesse a tendência de reclamar, ficar com tédio e deprimido, como algum gigante de João e o pé de feijão no céu? Como seria se Deus ficasse frustrado, desanimado, mal-humorado, sinistro, descontente e abatido? Poderíamos por acaso nos juntar a Davi e dizer: "Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água" (Sl 63.1)?
Por isso, se Deus não é feliz, o prazer cristão não tem alicerce, porque o objetivo daquele que busca o prazer cristão é ser feliz em Deus para deliciar-se nele, cultivar e ter prazer em sua comunhão e boa vontade. Crianças não podem ter comunhão alegre com seu pai ele é infeliz. Por essa razão, a base do prazer cristão é a felicidade de Deus.
A base da felicidade de Deus, por sua vez, é a sua soberania: "O nosso Deus está nos céus: faz tudo o que lhe apraz". Se Deus não fosse soberano, se o mundo que ele fez estivesse fora de controle, frustrando seus desígnios vez após vez, Deus não seria feliz.
Assim como nossa alegria se baseia na promessa de que Deus é suficientemente forte e sábio para fazer todas as coisas cooperarem para o nosso bem, a alegria de Deus está baseada no mesmo controle soberano: ele faz todas as coisas cooperarem para a sua glória.
Olhando pela mais estreita,
ele fica triste e irado com pecado e sofrimento.
Pela mais larga,
ele vê o mal em relação a seus propósitos eternos.
A realidade é como um mosaico.
As partes podem ser feias em si,
mas o todo é belo.
Quando Deus olha para um evento doloroso ou perverso através da sua lente estreita, ele vê a tragédia ou o pecado pelo que ela é em si mesma, e fica irado e triste. "Não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus" (Ez 18.32).
Mas quando Deus olha para um evento doloroso ou perverso através da sua lente de ângulo aberto, ele vê a tragédia ou o pecado em relação a tudo o que a causou e a tudo o que deriva dela. Ele a vê em relação a todas as ligações e efeitos que formam um padrão ou mosaico que se estende até a eternidade. Esse mosaico com todas as suas partes — boas e más— lhe apraz.4
Deus quis a crucificação do seu Filho.
O pecado e a dor,
ele abominou
(através da lente estreita).
Na obediência que cobriu o pecado e derrotou a morte,
ele se alegrou
(através da lente de ângulo aberto).
Assim é com toda dor e pecado:
Triste em si, ela não frustra seus planos
nem diminui sua mais profunda satisfação.
Deus usa sua soberania para mostrar
o grande objeto do seu prazer,
sua GLÓRIA,
a beleza das suas perfeições multiformes.
Ele faz tudo o que faz para exaltar o valor da sua glória.
Ele seria injusto se valorizasse qualquer coisa
além daquilo que tem valor supremo,
que é ele mesmo.
Não é fácil definir glória. É como a beleza. Como se definiria a beleza? Podemos apontar para algumas coisas, mas não defini-la. Permita-me, entretanto, uma tentativa. Ela pode referir-se ao brilho claro e terrível que às vezes irrompe em manifestações visíveis. Ou pode referir-se à grandeza moral infinita do seu caráter.
Portanto, o objetivo principal de Deus é preservar e manifestar sua grandeza e valor infinitos e terríveis, ou seja, sua glória.
Deus tem muitos outros objetivos no que faz. Nenhum deles, porém, e mais importante que esse. São
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todos subordinados. A paixão predominante e Deus é exaltar a grandiosidade da sua glória. Com esse fim ele procura manifestá-la, combater os que desfazem dela, e fazê-la prevalecer sobre todo desprezo. Ela claramente é a realidade suprema em suas afeições. Ele ama sua glória infinitamente.
As pessoas não gostam de ouvir que Deus é supremo em suas próprias afeições, ou que faz todas as coisas para sua própria glória, ou que exalta a Si mesmo e busca o louvor do ser humano.
Por quê? Há pelo menos duas razões. Primeira, não gostamos de pessoas assim. A outra é que a Bíblia nos ensina a não ser assim. Examinemos essas objeções e vejamos se elas podem ser aplicadas a Deus.
As regras de humildade pertinentes à criatura
não podem se aplicar igualmente ao Criador.
A autonegação total seria idolatria em Deus.
Ao preservar sua própria glória,
ele preserva a base da nossa alegria.
E isso é amor.
A felicidade de Deus em Deus
é a base da nossa felicidade em Deus.
Se Deus não exaltasse e manifestasse alegremente sua glória,
seríamos privados da base da nossa alegria.
Os fatos de Deus procurar nosso louvor
e de nele buscarmos prazer
estão em perfeita harmonia.
Porque Deus é mais glorificado em nós
quando estamos mais satisfeitos nele.