Mateus 9.1-8
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
0 ratings
· 19 viewsO evangelista demonstra a autoridade de Cristo para perdoar os pecados, mediante seu poder de curar.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Avançando ao longo desta terceira seção do Evangelho de Mateus, a narrativa do encontro de Cristo com um paralítico na cidade de Cafarnaum e a disputa com os fariseus, encenam o próximo episódio que se encarrega de descrever o desenvolvimento da argumentação do evangelista quanto a autoridade de Cristo.
Após ter exposto a chegada do Reino dos céus através da demonstração de que o Filho do Homem tem autoridade sobre os demônios, Mateus passa a retratar ao longo do capítulo 9, como a autoridade de Cristo é compreendida pelos homens, principalmente, pelos fariseus, com quem o Senhor debaterá mais ferrenhamente neste capítulo. Além disso, esse princípio de autoridade é demonstrado a partir dos questionamentos feitos: diálogos que tratam de expor princípios específicos que embasam o poder do Messias.
Especificamente, na seção em questão, Mateus elucida o princípio de que Cristo, sendo o Messias enviado da parte do Pai, tem poder para perdoar pecados, poder que por sua vez é reforçado pelos sinais de cura. O autor esclarece, mediante essa informação que, tanto as curas realizadas antes, quanto a que se sucederão deste ponto em diante, clarificam a noção de que as enfermidades do corpo e suas respectivas mazelas, são sanadas mediante o poder regenerador do Messias: aquele que "tem poder sobre a terra para perdoar pecados" (v.6).
Dessa forma, a ideia central do texto de Mateus 9.1-8 é expor a autoridade de Cristo sobre o pecado.
Elucidação
Como dito, a tensão registrada no texto a respeito da autoridade de Cristo, é propositalmente causada pela demonstração do Senhor quanto a ter poder sobre o pecado. Alguns homens, tendo trazido um paralítico deitado num leito, esperavam que Cristo manifestasse misericórdia, curando-o. Todavia, indo além da expectativa, Cristo, "vendo-lhes a fé" (v.2) declara o perdão dos pecados do mesmo.
Essa aparente "incoerência" da parte de Cristo em ter feito mais ou algo diferente do que lhe havia sido solicitado, é usada pelo autor no registro do episódio a fim de enfatizar e conectar a autoridade de Cristo ao perdão de pecados promovido por ele. Como demonstrativo de seu poder, assim como já comentado, Jesus realiza algo que vai além do esperado, fazendo com fique evidente que sua ação é referendada pelo próprio Deus. O comentário de Mateus quanto a reação das multidões, encerra essa noção: as multidões glorificaram a Deus "que dera tal autoridade aos homens" (v.8). O fato de a referência aparecer no plural (i.e. "homens" e não homem, como que se referindo apenas a Cristo), provavelmente é um adiantamento feito pelo autor quanto aquilo que será atribuído aos próprios apóstolos posteriormente: autoridade para publicar o perdão dos pecados, ou sua respectiva retenção (Mt 16.19). Essa capacidade, naturalmente, não foi concedida para fazer parte inerente do poder dos homens, mas em face daquela atribuição de Cristo. Assim, ao declarar que os homens têm autoridade para perdoar pecados, novamente Mateus está informando seus leitores sobre o evidente poder de Jesus Cristo sobre o pecado.
Ao declarar que os pecados do paralítico foram perdoados, a imposição da autoridade de Cristo encontra a resistência da incredulidade e rebelião dos fariseus; pois, não compreendendo a chegada do Reino dos céus na figura de Jesus, atribuem à sua fala, blasfêmia, isto é: na mente dos fariseus, o que ocorrera foi a usurpação de uma autoridade não confiada aos homens.
O conflito no texto ocorre entre a completa ignorância dos fariseus com relação a identidade de Cristo e, consequentemente, com a vastidão de seu poder e a realidade dos fatos. Ver um homem curar um paralítico foi menos impressionante, do que ouvir que o mesmo tem poder para perdoar pecados, embora para Cristo, a lógica é complementar: aquele que tem poder para curar um paralítico, o possui também para perdoar pecados.
A dinâmica da inauguração do Reino traria consigo a fusão de possibilidades: O Messias demonstraria sua procedência por meio de sinais de curas e outras capacidades - como as quem têm sido explicitadas pelo evangelista até este ponto - poder sobre enfermidades outras, criação, demônios etc -. Novamente, a incapacidade dos fariseus de entenderem essa noção de correlação entre poder miraculoso e expiatório, os coloca à margem do Reino e da compreensão de quem é Cristo, por isso afirmam: "Este [Cristo] blasfema" (v.3).
A ênfase pastoral de Mateus volta-se aos ouvintes/leitores de seu texto, em termos de mais um reforço e consolo para sua fé: a autoridade de Cristo sobre o pecado, os liberta do maior poder opressor que existe. Nem mesmo os demônios puderam se colocar contra Cristo, e agora, até o pecado - aquilo que os condenava aos olhos de Deus - tem seu poder retirado e destruído. Se nada os pode condenar ou separar de Deus (Rm 8.33-35), o que poderiam temer a tal ponto de diminuir sua confiança em Cristo Jesus, o Messias?
Nos relatos paralelos, tanto Marcos quanto Lucas buscam demonstrar quem é Cristo. Ambos registram a pergunta dos fariseus, mediante o milagre realizado e as palavras proferidas por Jesus: "Quem é este que diz blasfêmias? quem pode perdoar pecados, senão Deus? (Mc 2.7; Lc 5.21).
Mateus é mais específico quanto a sua intenção. O autor está não somente interessado em declarar a identidade de Jesus como o Filho de Deus, mas em registrar, como dito, sua autoridade sobre o pecado, demarcando para seu público essa verdade. A submissão dos demônios e da criação exibem o controle absoluto do Messias; a cura das enfermidades aponta para seu ministério sacrificial e purificador, por sua vez, o milagre registrado em 9.1-8 encerra a compreensão que os agentes do Reino precisam ter quanto a quem é Cristo: tendo ele perdoado os pecados do paralítico, fica claro que não há limites para seu poder, numa que, como explicitado pela pergunta retórica de Cristo, certamente é mais fácil dizer à um paralítico: levanta e anda.
Assim, o Senhor exibe que o que foi realizado na vida dos agentes do Reino, foi algo, definitivamente, muito além da capacidade dos homens, pois, curar as enfermidades do corpo sem resolver o problema da alma, é até possível aos homens, mas decretar qual será seu destino eterno é algo cabido somente ao próprio Deus, feito que acabara de ser realizado pela Segunda Pessoa da Trindade, o Deus-homem: Cristo Jesus.
Transição
O texto de Mateus 9.1-8 esclarece a perspectiva de que Cristo possui autoridade sobre o pecado: como enviado da parte de Deus a fim de inaugurar seu Reino, Jesus recebeu não somente a incumbência de executar a redenção mediante seu sacrifício, mas foi estabelecido como centro o e a base de tal ação divina.
É Cristo quem confere o perdão de pecados, pois é somente por meio de seu sangue que somos curados desse mal. O que nos leva ao princípio exporto por Mateus nesta seção de seu evangelho.
Aplicações
Em Cristo, obtemos a cura e o perdão para nossos pecados.
Explicando a relação entre o milagre e o perdão de pecados, Hendriksen encerra:
"[...] Na esfera do visível Jesus realizou um milagre que simultaneamente provou que também no universo do invisível ele exercia seu divino poder e amor. Ele deu àquele homem um corpo saudável, mas também, e o que é sobretudo melhor, uma alma saudável (“Seus pecados estão perdoados”) (HENDRIKSEN, 2010, p. 520)".
Tendo já contemplado o poder de Cristo para nos curar do pecado (cf. Mateus 8.1-17), agora somos expostos à perspectiva de que tal autoridade é inerente e exclusiva da deidade, conferindo aos homens apenas a publicação daquela obra realizada pelo próprio Deus Triuno em Cristo Jesus.
Somente Deus dá ou retém o perdão. A absolvição ou condenação é uma prerrogativa conferida exclusivamente à Cristo, pois “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12).
O paralítico levantou-se não somente porque o Senhor Jesus tinha o poder de restaurar sua saúde, cuidado de seu corpo, mas porque ele tinha a autoridade de trazê-lo de volta à presença de Deus, donde estava alienado, perdoando seus pecados, e pelo poder do Espírito que havia gerado fé em seu coração para crer no Filho de Deus como o Messias, teve sua redenção publicada.
Nossos corpos hoje sofrem as mazelas causadas por estarmo vivendo em mundo caído e numa condição de miséria, ambos legados pelo pecado. Porém, se a doença é real, a cura também é: nossos pecados já foram perdoados pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário, e estamos apenas aguardando a publicação da mesma sentença: ABSOLVIDO!
Conclusão
Ao termos as chagas do pecado curadas, todo o povo de Deus é levado a contemplar a glória de Cristo: glória daquele que nos perdoou, e que nos restaurou à presença de Deus, nosso Pai, e nos concede a entrada em seu Reino.
Antes, éramos paralíticos, enfermos, doentes, agora, curados e redimidos para glória de Deus.